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História Metamorfose - Voltando para casa


Escrita por: leticiamendiola

Capítulo 2 - Voltando para casa


“Lety?” Imediatamente reconheci a voz do outro lado da linha, era a voz de seu Humberto, fiquei tensa e sem nem ao menos notar mudei minha postura na cadeira ficando rígida, com minha coluna alinhada, parecendo que o mundo estava sob minhas costas.

“Sim, seu Humberto, sou eu” Respondi deixando claro que eu sabia quem ele era e pude sentir que ele se surpreendeu com minha percepção por saber quem estava me ligando.

Eu não fazia a mínima ideia do motivo daquela ligação e tão pouco queria sabe-lo, por mim ele poderia desligar aquele maldito aparelho e nunca mais voltar a me ligar.

“Tudo bem, Lety?” Seu Humberto perguntou com o tom de voz simpático, mas eu sabia que aquela ligação significava muitas coisas. Afinal dez meses se passaram e ninguém da Conceitos nunca me procurou, não que fosse fácil deles me acharem, obviamente encontrariam dificuldades em achar meu novo número e endereço, mas tão pouco seria impossível. Por um breve segundo fiquei curiosa pensando o que tinha acontecido para o pai de seu Fernando me ligar, Será que só agora ele descobriu os problemas financeiros de sua empresa? Ou será que assim que eu sai a bomba tinha explodido e  desde então ele era o Presidente da companhia? Eu não fazia ideia do que tinha acontecido na Conceitos após minha saída, estava totalmente em desvantagem naquela ligação, pois eu estava as cegas.

“Seu Humberto, eu estou muito bem e espero que o senhor também esteja, porém não acho que o senhor me ligou para ternos uma ligação cordial entre amigos, então podemos pular essa parte de cumprimentos e ir direto ao ponto” Eu tinha sido grossa? Talvez sim, dependia do ponto de vista, entretanto eu estava tensa demais para prolongar a ligação com assuntos dispensáveis, naquele instante eu só queria saber o que levou ele a me ligar, eu queria poder desligar logo e voltar a respirar tranquila,  sem todo o peso do mundo sobre mim.

“Lety, eu fico feliz que esteja bem” Ele permaneceu simpático “Estou ligando porque ...” Ele fez uma pausa, provavelmente procurou a melhor forma para me falar sobre o assunto, a pausa foi breve e suficiente para me deixar mais tensa ainda, afinal, se ele estava buscando ponderações era porque o assunto era realmente muito importante “Faz uma semana que veio um Oficial de Justiça aqui na empresa entregar uma intimação e eles estão alegando que a Conceitos será processada por fraude, já que seu registro público encontrasse embargado por uma empresa que eles dizem ser uma empresa laranja e com uma dona ausente do país, a junta empresarial quer nos processar, Leticia, eles querem processar e fechar a Conceitos” Sem respirar seu Humberto tacou a bomba em minha mão e eu fiquei muda, levei cerca de uns trinta segundos para assimilar tudo que ele estava dizendo.

“Isso não é possível, eu revoguei o embargo e abri mão da divida da Conceitos com a Filmes e Imagens, isso deveria fazer a Conceitos voltar diretamente para a mão de vocês”

“Eu contatei um advogado e ele me disse que seu documento foi insuficiente, você precisaria assinar novos papeis e ir pessoalmente até a junta comercial, aos bancos e ter permanecido no país, desse modo corrido que você fez, todos seremos processados por fraude, desde a minha empresa até mesmo a sua pessoa, podemos todos acabarmos presos”

Eu nunca gostei e  nem entendi de leis, eu sempre fui da área de exatas, dos números e da administração, leis eram um objeto distante do meu mundo , eu realmente acreditei que eu tinha feito tudo o que era necessário para cessar o embargo, jamais pensei que meu ato era insuficiente e eu poderia ser processada ou a Conceitos fechada. Minha cabeça doeu e meu ombro baixou, agora minha postura não era mais rígida e sim desengonçada. Fiquei muda, afinal o que eu poderia falar perante aquilo?

“Lety, você ainda está ai?” Seu Humberto me chamou e eu não tive outra escolha a não ser lhe responder.

“Sim, estou aqui, estou apenas pensando em tudo que o senhor me falou”

“Lety, você tem alguma pretensão de voltar para o país?” Seu Humberto me perguntou.

“Sim” Respondi de imediato e só depois entendi sua pergunta e corrigi “Não” Talvez eu tivesse entendido errado novamente e tornei a dizer “Sim” Mas então eu fiquei mais confusa ainda e fui obrigada a respirar fundo e me controlar, pois eu já estava começando a soar patética demais “Sim, eu voltarei para o México dentro de dois dias, mas retorno para minha casa em três dias” Sim, eu tinha a pretensão de voltar para o país, era aniversário do meu pai naquela semana e eu não poderia passar aquela data longe dele, depois de dez meses longe eu enfim voltaria para o México, porém não tinha a pretensão de voltar a  morar lá, meu lugar era em Nova Iorque e eu não pretendia me mudar jamais.

“Podemos nos encontrar enquanto estiver aqui?” Seu Humberto perguntou, eu queria dizer não, mas sabia da gravidade da situação e concordei, desligamos a ligação e combinei que quando eu chegasse no México iria ligar para ele e marcaríamos um encontro.

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Após a ligação de seu Humberto eu não tinha mais cabeça para nada, por sorte, agora eu era autônoma e tinha minha própria empresa de negociações na bolsa, a empresa era pequena e contava com um total de uma funcionária, ou seja, apenas eu, porém em curto prazo eu tinha me consolidado e fazia bons investimentos, minha casa era confortável, eu morava em um sobrado alugado, com amplo espaço interno onde meu cão ocupava cada centímetro de espaço correndo e gastando energia. Nova Iorque não é uma cidade para carros e eu acabei adquirindo uma moto, a moto virou minha paixão e nada me libertava mais do que correr na estrada e senti o vento soprar em meu rosto. Sim, não é recomendado andar sem capacete, eu jamais abria mão dele no transito, porém na estrada, nela sim eu me libertava, deixava a moto acelerar e o vento gélido me congelar o rosto, todos os problemas sumiam e minha alma parecia se renovar com a adrenalina. Por isso, após a ligação eu resolvi não mais ir trabalha naquele dia e peguei minha moto e fui correr, senti-me viva e pensar no que eu iria fazer para sair de toda aquela confusão.

Quando enfim cheguei em casa eu estava mais tranquila, ainda não sabia como resolver o problema do processo, entretanto já não me sentia mais pesada. Abri a porta de casa e Taik veio correndo para meu encontro e pulou em cima de mim. Embora com apenas um ano e ainda sendo considerado um filhote pelo veterinário, Taik ultrapassava minha altura, um belo dobermann que empunha respeito e matava os outro de medo, ninguém ousava se aproximar de mim quando Taik estava ao meu lado em um passeio pelas ruas, todos tinham medo dele e confesso que eu só não o temia porque tinha lhe ganhado filhote e o visto crescer, fora que Taik era um doce de cão, o que tinha de tamanho tinha de doçura e seria incapaz de fazer mal a alguém. Seu único defeito era destruir sapatos, meus sapatos tinham que ficar escondidos, caso contrario ele destruiria um a um, pobre Gabriel, viu seu sapato favorito e carteira serem devorados por Taik enquanto eu morria de ri e ele apenas se lamentava de ter me dado um cão tão grande quanto um dobermann.

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Era noite quanto vi a porta do meu apartamento ser aberta, continuei exprimida embaixo das cobertas, estava frio demais e nem o aquecedor equilibrava a temperatura. Não me mexi, pois sabia que era  Gabriel, ele era o único que tinha a chave de minha casa e estava apenas  chegando para uma visita, na verdade, uma breve despedida, pois no dia seguinte, cedo cedo, eu partiria para o México, dois dias tinham se passado desde a ligação de seu Humberto e a cada segundo eu ficava mais tensa, primeiro por voltar para casa após tanto tempo, afinal eu tinha saído fugida, me despedi de meus pais com uma carta e sai de casa sem ser vista, fiquei dez meses longe, sai do pais, mudei todo meu jeito de ser e voltaria para casa de forma cínica, como se não tivesse acontecido.

Ao longo dos dez meses liguei todos os dias para minha casa, minha mãe sempre se mostrou compreensiva e carinhosa, nunca deixou de falar comigo e se preocupar, meu pai por sua vez levou quatro meses até aceitar falar comigo no telefone e até hoje ele segue arredio, a verdade é que sei bem que ele nunca aceitou minha escolha de sair de casa como fiz, porém o que ele nunca soube e provavelmente nunca saberá, é que aquela não foi uma escolha e sim uma necessidade, eu necessitava fugir e me reinventar.

Eu estava tensa e não pude deixar de ficar feliz quando vi Gabriel se aproximar de mim com um engradado de Corona em suas mãos e mais uma caixa de pizza. A pizza eu nem comi direito, mais bebi rapidamente duas cervejas enquanto eu lhe confessava meus medos e ele como sempre  me encorajava a seguir.

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Nunca cinco horas passou tão rápido quanto as cinco horas de voo que levei de Nova Iorque ao México, quando o piloto pousou o avião e anunciou o fim do voo, me senti frágil e percebi que eu não tinha a mínima coragem para enfrentar tudo que eu sabia que estava por vir.

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