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História Metamorfose - Um novo sentimento chamado ciúme


Escrita por: leticiamendiola

Capítulo 7 - Um novo sentimento chamado ciúme


FERNANDO

 

Eu já estava perdendo totalmente a esperança de reconquistar Lety, três semanas haviam se passado desde que ela regressou a Conceitos e absolutamente nada tinha mudado entre nós. Eu queria uma mudança, qualquer que seja, nem que fosse para ela gritar comigo e me xingar, eu sabia que ela ainda estava engasgada com tudo e enquanto não colocasse toda sua raiva para fora, não iria mudar nada entre a gente, entretanto ela não perdia sua pose de superior. Se mantinha afastada, éramos apenas colegas de trabalho, não falávamos nem um ‘ai’ que fosse sobre algo fora da empresa.

Aquele dia eu não estava com a mínima cabeça para trabalhar, estava realmente cheio de nadar e morrer na praia quando o assunto em questão era Leticia Padilha Solis. Mandei um recado no celular de Lety falando que eu não tinha acordado bem e ficaria o dia em casa. Por um segundo tive a esperança que ela perguntaria o que eu tinha, se iria ao médico ou se tinha tomado algum remédio, porém sua resposta foi seca, apenas se limitou a falar ‘ok’ e eu respirei irritado. Minha paciência já estava se esgotando.

 

Tira o dia de folga foi estranho, eu não fazia ideia do que fazer, mas tão pouco iria aparecer na empresa e passar um dia ao lado da frieza de Leticia, mil vezes passar um dia de tédio em casa do que um dia sendo ignorado ao lado dela. A manhã passou de forma interminável, arrumei todo meu apartamento e ainda sobrou horas suficientes antes de chegar ao meio dia. Eu estava acostumado a rotina de trabalho, so descansava aos domingos e passava basicamente o domingo todo dormindo, mas hoje era quarta-feira e meu corpo não queria dormir, parecia entender que era dia de trabalho. Optei por tomar um banho e me livrar do estilo formal, coloquei uma calça até a altura dos joelhos cor bege e uma blusa de meia manga azul escura, um boné da cor da blusa virado com a aba para trás e tênis. Com um estilo despojado, sai para almoçar fora, não fazia ideia de onde comer, iria andar e andar, até encontra um lugar que me instigasse a parar e almoçar. Andei sem rumo e para minha total surpresa vi Danilo ao longe, dessa vez o menino não vendia chocolate e sim chiclete, como eu lhe reconheci, ele também me reconheceu e veio correndo ao meu encontro, provavelmente na esperança que eu lhe comprasse novamente todos os seus chicletes.

“Resolveu sair do ramo do chocolate e investir nas gomas de mastigar?” Perguntei brincando e ele me olhou com se eu falasse grego, tive que ri.

“Não vai querer um chiclete, tio?”

“Antes do almoço? Acho que minha mãe não me deixa comer doces antes do almoço” Brinquei e ele me olhou com um olhar triste “Por falar em almoço, você já almoçou?”

“Não”

“Aceita o convite para almoçar comigo?” Danilo me olhou desconfiado, mas era uma criança, não viu maldade no meu convite e o aceitou.

No restaurante o menino estava encantado, era notável que ele estava fora de seu ambiente natural, mas ninguém ousou falar nada ou demonstrar nenhuma recusa em um menino de rua está almoçando em um local tão formal. Sugeri que ele me deixasse escolher seu prato, optei pelo obvio, afinal ele era uma criança apenas e pedi uma picanha com fritas acompanhado apenas de arroz e feijão, indo na onda dele, pedi o mesmo para mim e ainda refrigerante para acompanhar nossa refeição. Após passar uma manhã depressiva em casa eu estava passando uma hora agradável ao lado daquele menino, ri verdadeiramente com seu jeito deslumbrado ao ver a comida, ele não comeu, devorou o alimento, me confessou que nunca antes tinha almoçado em um restaurante e me perguntou se todos eram tão gostosos assim. Nosso almoço terminou com uma sobremesa petit gateau e Danilo ficou maravilhado com a ideia de pode comer bolo e sorvete juntos. Ficamos no restaurante cerca de uma hora, me senti renovado, a energia e doçura dele era contagiante, foi como se ele tivesse passado para mim um pouco da sua vitalidade.

No final de tudo comprei apenas um chiclete seu e dessa vez paguei pelo preço justo, não iria acostuma-lo a lhe dar dinheiro e confesso que acho que ele preferiu muito mais sair de sua pobre rotina e ter ido almoçar em um restaurante do que receber qualquer quantia que fosse.

Me despedi de Danilo e enquanto ele foi rumo a praça tentar vender seus chicletes eu fui rumo ao supermercado, era meio da semana e inicio da tarde, o mercado estava vazio, fiz minhas compras e fui direto para casa. Se há um ano atrás alguém me falasse que eu iria  um supermercado fazer compras eu chamaria a pessoa de louca e se ela fosse além e falasse que eu tinha ido fazer compras para eu mesmo cozinhar, eu teria uma crise de riso, porém hoje essa era minha realidade, agora eu era o tipo de homem que ia a mercado e fazia minhas próprias refeições, descobri o prazer de cozinhar e como isso me relaxava. Desde que a insônia começou a se fazer presente em minha vida, todos os dias eu gastava boa parte da noite cozinhando meu almoço do dia seguinte, arrumava no prato térmico e ia dormir quase uma da manhã, já caia na cama cansado e relaxado, acabava dormindo e só acordava com o despertador da manhã.

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Cheguei na empresa com um ótimo humor, foi bom ter tirado um dia de folga, eu estava pronto para uma longa jornada de trabalho. Estacionei meu carro, travei-o e passei pela moto de Leticia, aquela moto era um contraste brutal com os carros ali estacionados. Acabei rindo e falando em voz alta “Doidinha, doidinha” Com um sorriso no rosto entrei na presidência e lá estava ela, a doidinha mais doidinha da minha vida. Cada vez mais linda, como podia? Se eu tinha me apaixonado por ela feia e a desejava tanto, era uma verdadeira tortura vê-la linda e tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

“Bom dia, senhorita Padilha” Optei por usar o sobrenome apenas para irrita-la, meu humor estava ótimo e eu estava disposto a ter uns minutos de brincadeira e a única brincadeira que eu poderia ter ali era irritar Leticia.

Ela estava sentada em sua mesa, levantou a cabeça e me olhou surpresa por eu ter utilizado seu sobrenome.

“Bom dia” Ela respondeu de má vontade.

“Senhorita Padilha, está ciente que nos próximos dias estará chegando o outono?” Coloquei minha pasta no sofá e fui me encaminhando para a mesa, estranhamente eu nunca usei a salinha, acabou que Lety e eu ficamos dividindo a sala da presidência e a gente trabalhava tão bem em conjunto que nem sequer havia duas mesas ali, dividíamos até mesmo a mesa, ela ficava com a parte da mesa certa, sentada virada para a porta e eu ficava com o espaço contrário, sentado de costa para a porta. A mesa era grande e cabia ambos ali, era mais fácil desse modo, afinal todos os papeis tinham que ser analisado por nós dois.

“Seu Fernando, sua conversa tem algum proposito ou você apenas veio trabalhar bêbado?” Ela tinha usado o termo seu Fernando e claramente já mostrava que estava irritada, do contrário me chamaria apenas de Fernando.

“Já vai fazer quase um ano que não bebo, mas isso não vem ao caso, quero saber se você está sabendo se estamos chegando no outono” Leticia pousou o lápis sobre a mesa e me olhou afim de entender o que eu estava querendo falar “Está?” Insisti em perguntar ao ver que ela não iria me responder.

“Não estava, mas agora que você disse lembrei, o que isso tem a ver com qualquer coisa que seja?” Ela já estava começando a perder a paciência e me segurei para não ri.

“O que significa que logo o tempo vai esfriar, vai começar as chuvas e ficar andando de moto não parece inteligente” Leticia revirou os olhos.

“Agradeço pela sua preocupação, mas você não tem nada a ver com isso” Ela já estava irritada, eu tinha descoberto recentemente que vê-la irritada era adorável, ela ficava mais linda que o normal.

“Claro que tenho, por acaso não pensa que se você pegar chuva e ficar gripada irá me passar gripe, afinal a gente divide a mesma sala”

“Não se preocupe, Fernando. Se eu ficar gripada eu fico aqui na sala e você vai para sua mesa de secretário lá fora ou fica na salinha que era minha antes” Ela falou para tentar me irritar, mas não conseguiu, meu humor estava ótimo e eu apenas comecei a ri. O fato que de eu ter rido lhe irritou mais ainda e ela se levantou da sua cadeira.

“Não vejo a graça, você é um idiota” Irritada ela passou direto por mim e saiu da sala, me deixou sozinho e rindo.

Quando Leticia voltou, minutos depois, eu já estava sentado e analisando uns papeis, ela me ignorou e sentou-se em sua cadeira, olhei para ela, mas ela continuou me ignorando. Dessa vez fiquei calado e passamos a manhã toda trabalhando.

Era quase meio dia quando ela ligou para recepção e falou com Paula Maria

 

“Amiga, eu estou com um pouco de dor de cabeça, será que pode trazer meu almoço e uma aspirina? Não vou sair para comer hoje” Algumas palavras mais e ela desligou a ligação.

“Por que não falou antes que estava com dor de cabeça? Eu tenho aspirina na minha pasta” Levantei e fui até minha pasta, peguei o remédio e lhe entreguei “Você é muito teimosa” Sem falar nada ela pegou o comprimido e tomou sem agua, não falou um obrigada sequer, realmente eu tinha lhe deixado de mau humor.

 

Não tardou para Paula Maria trazer o almoço de Lety e os remédios, desejou melhoras para a amiga e Lety lhe pediu para ela ligar para alguns fornecedores e marcar uns dias de entrega de produtos, ela rapidamente pegou os números e fez, estava ficando comum Paula Maria vir fazendo esses favores para Leticia.

 

Quando ela abriu sua comida, tomei a liberdade de abrir a minha também, no primeiro garfo que ela levou até a boca resmungou.

“Ótimo dia para a comida vir queimada”

“To começando a achar que hoje não é seu dia de sorte” Falei

“Nenhum dia ao seu lado é meu dia de sorte” Respirei impaciente e não falei nada, eu estava acostumado com suas indiretas constantes.

“Para sua sorte minha comida não está queimada e eu posso dividir com você” Ofereci e ela me encarou por alguns segundos, provavelmente ponderando se iria ou não aceitar aquele meu gesto. Ela não tinha outra escolha e acabou tendo que dá o braço a torcer e me agradecendo por dividir o almoço com ela.

 

Com certa dificuldade consegui um prato emprestado na empresa e voltei para minha sala, dividimos a comida, eu estava feliz, era a primeira vez dentro de quase um mês que ela aceitava alguma coisa vinda de mim, se fosse antes, ela iria me falar alguma grosseria e iria preferir passar fome ou pedi que alguém lhe trouxesse uma nova refeição, mas por algum motivo ela aceitou dividir a minha e uma faísca de esperança me preencheu.

 

A esperança aumentou quando pela primeira vez não almoçamos em silêncio, não que tivéssemos falado algo sobre a gente ou qualquer coisa que não fosse a empresa, mas ainda assim o almoço transcorreu em meio a palavras.

 

“Leticia, já percebeu como Paula Maria te ajuda?” Fui eu quem iniciou a conversa e ela não me cortou.

“Ela é minha amiga, amigos se ajudam,  você não sabia?” Obvio que ela não podia deixar de lado seus comentários ácidos, eu já estava especialista em ignora-los.

“Não digo te ajudar como amiga, ela faz coisas além da amizade, eu acho que deveríamos começar a cogitar tira-la da recepção e subir o cargo dela, por que não puxamos ela para ser a secretária da presidência?” Leticia me olhou calada, eu estava preparado para ela fazer algum comentário acido e me xingar, mas para minha total surpresa ela me sorriu.

Eu só podia está ficando louco, como assim ela tinha sorrido para mim? Fiquei abobalhado olhando para ela, a tanto tempo não lhe via sorri, ainda mais sorri para mim, quando ela notou que estava sorrindo tratou de fechar a cara, já era tarde, eu já tinha ganhado meu dia.

“Você está certo, vou pedi para o Lopes agilizar isso, é justo”

“Repete” Pedi

“É justo Paula Maria assumir esse cargo, já está mais do que na hora dela sair da recepção”

“Não, quero que você  repita que eu estou certo” Leticia revirou os olhos e de bom humor, tacou o guardanapo em mim, eu ri e pude vê ela sorrir novamente.

 

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas estava muito feliz por essas pequenas mudanças.

 

“A comida estava uma delicia, pode dá os parabéns a cozinheira por mim” Eu não disse nada, apenas sorri e fiquei pensando que um dia eu iria surpreende-la quando ela visse quem era a cozinheira.

 

A parte da tarde a Conceitos iria gravar um comercial ao ar livre, como os diretores da empresa que nos contratou estaria no local, optamos por participar também da gravação, eram bons clientes e tudo tinha que sair perfeito.

 

Leticia foi de moto, nem quis ouvir meu convite de carona e eu segui de carro, me arrepiei cada vez que um caminhão passou por ela, a moto parecia tão insegura, ela fez a curva junto de um ônibus e eu só não fechei os olhos para não ver a cena, porque se não eu que iria bater com o carro. Dei graças a Deus quando ela estacionou a maldita moto e desceu, parei ao seu lado e passei por ela direto, eu estava irritado demais, odiava ela pilotando, ela não conseguia ver o perigo?

Cumprimentamos os diretores da empresa que fechou conosco o comercial, os dois homens obviamente estavam encantados demais com Leticia, mas ela ignorava suas investidas e eu fiquei o tempo todo o mais próximo dela possivel e dessa vez ela me deixou ficar ao seu lado, obviamente me usou como proteção e eu fiquei feliz por isso. Já estávamos há duas horas lá, eu precisava de água, olhei em volta procurando um local para comprar agua e para minha total surpresa vi Danilo com um isopor, na hora que eu lhe vi, ele também me viu e veio correndo até mim.

“Oi, tio” Ele me cumprimentou.

“Oi, figurinha” Ameacei tirar o seu boné e ele deu um pulo para trás quase caindo no chão.

“Para com isso tio, vê se cresce” Danilo me deu a língua e ouvi a risada de Leticia ao meu lado.

“Até o menino é mais maduro que você Fernando, para de implicar com ele”

“Ele não é maduro, me deu a língua, você não viu?” Me defendi para Leticia que me deu um sorriso. Aquele dia poderia ficar mais perfeito? Era a terceira vez que ela sorria para mim.

“Por acaso é agua que você tem ai?” Perguntei a Danilo que me disse que sim “Esse menino é um empresário nato, no frio vende chocolate, na hora do almoço vende chiclete e no calor vende água, por Deus, eu preciso de você na minha empresa” Brinquei e ele me olhou orgulhoso.

“Então me contrata, tio”

“Estou pensando seriamente nisso” Comprei todas as águas de Danilo, dessa vez nem foi para agradar o menino e sim por necessidade, dei uma para cada um da equipe e Leticia e eu ficamos com uma garrafa também.

“O que vocês estão fazendo?” Ele perguntou olhando atentamente ao trabalho da equipe de criação.

“Gravando um comercial”

“Então isso ai vai aparecer na televisão?”

“Exatamente”

“Uau”

 

Danilo passou o tempo todo com a gente, xeretando e perguntando tudo, quando começou a escurecer ele se despediu e foi embora, provavelmente foi para casa. Leticia e eu voltamos para a Conceitos, dessa vez ela pareceu pilotar a moto com mais calma e quando parou na garagem, por algum motivo me esperou fechar o carro e fomos caminhando juntos para dentro da empresa.

“Esse menino ... qual mesmo o nome dele?” Ela me perguntou e eu não pude evita de sorrir. Pela primeira vez Leticia estava quebrando sua própria regra e me perguntando algo alheio a empresa, se um dia eu encontrar com Danilo novamente terei de lembrar de agradece-lo.

“Danilo”

“Exato, você sabe onde ele mora? Fiquei preocupada com ele”

“Eu não sei, essa é a]terceira vez que encontro ele, a primeira foi aquele dia do chocolate, a segunda ele estava vendendo chiclete e eu o chamei para almoçar e hoje foi a terceira”

“Você almoçou com ele?” Leticia me perguntou surpresa, estávamos já na porta da Conceitos e antes que eu tivesse a chance de responder, um homem surgiu do nada e agarrou ela. Literalmente ele lhe agarrou, tirou a do chão e lhe tomou em seus braços, eu já estava preparado para gritar e socar ele, salvar ela daquele louco, mas para minha surpresa ela começou a ri e falou que estava com saudade dele.

Saudade dele? Quem era aquele homem? A única coisa que eu sei é que ela o chamou de Gabriel e ele  tinha lhe  agarrado junto ao seu corpo, não me importei se eu estava fazendo papel de idiota ou qualquer outro tipo, fiquei parado, de cara fechada olhando para os dois e pronto para a qualquer momento partir a cara dele em mil pedaços.

O sentimento que eu estava sentindo agora eu nunca havia sentido antes e tão pouco sabia o nome que dá para aquela coisa que parecia me possuir.



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