História Metamorfose - Conversa

- Anita, podemos nos encontrar? - Eliot suspirava enquanto caminhava pela avenida totalmente branca devido a neve espessa que cairá na noite anterior. Quando ouviu a confirmação da moça do outro lado da linha, se lembrou da conversa que teve com Mikael logo depois da sua peça, como alguém poderia ser mais teimoso do que si? Outro suspiro inconformada.

- Então, não estamos namorando e mesmo assim você quer discutir nossa relação? - Mikael sorria maroto, sentando no sofá enquanto comia macarrão instantâneo, totalmente satisfeito com a peça de teatro, recebeu elogios e presentes.

- Você é idiota as vezes. - Eliot se jogou na poltrona ao lado do outro, o fitando como se quisesse enxergar além de todo aquele deboche ou brincadeira. - O que você sente pelo Gabriel?

- Ah? - Mika se fingiu de surpreso e voltou a enfiar mais macarrão na boca. - Talvez desejo, os lábios são macios e o corpo dele me atrai muito, de fato tenho vontade de devora - lo, mas te respeito então fico apenas no plano das idéias enquanto demoro tomando banho.

- Arg... - Eliot estreitava o olhar, ficando irritado com o jeito que o rapaz tratava o assunto que deveria ser teoricamente sério. - Sério Mika, estou tentando conversar.

- Eu também Eliot, se você continuar perdendo tempo querendo entender como minha mente funciona, nunca vai fazer o Gabi te aceitar de volta. - O rapaz dizia como se fosse a coisa mais sensata daquele diálogo.

- A questão não é essa. Somos amigos e quero entender o que você sente, desde que nos conhecemos, depois do Victor, não te vejo tão interessado em alguém, além dos casos extras que tu tens por aí. - Eliot dizia ainda tentando manter seu tom sério e menos irritado.

- Apenas curiosidade, não é todo dia que seu amigo, até então hetero, se assumi gay por causa de um garoto, não é? Só isso. Gabriel é o garoto mais fofo que conheci e você deve imaginar a vontade que da de protege - lo. - Mika terminou seu macarrão e foi na direção da lixeira, jogando a embalagem fora.

- Mika. Você está com medo de admitir que sente algo mais do que só desejo!? - Eliot compreendia o que era temer se envolver com alguém e ser enganado, por isso desconfiava que talvez fosse o mesmo com o amigo. Mesmo que não quisesse entregar Gabriel ao outro, ao menos não queria vê - lo negar - se tão veementemente daquela forma.

- Medo? Victor foi um ponto, nada demais, ele era carinhoso e bom, mas não tinha psicológico de enfrentar o mundo. Não tenho porque temer algo devido a alguém sem nenhuma coragem. - Pela primeira vez durante aquela conversa Mika estava sendo sério.

- O que você está esconde de você mesmo então? - Mas Eliot não levou adiante a conversa, o rapaz acabou indo na direção do quarto. Mika estava tentando fugir... Ao menos sentia isso.

Mika estava na frente da escola de Gabriel, com as mãos dentro do casaco por causa do frio, mesmo sem o cachecol parecia suficiente para tirar aquela sensação de frio, na verdade não sabia porque estava ali. A conversa que teve com Eliot mexeu consigo mais do que gostaria. Talvez visse o menor como seu remédio particular que toda vez que estava frustrado precisava de apenas um pouco para esquecer a dor e qualquer anseio. Aquilo não era paixão ou amor, apenas egoísmo. Não poderia se aproveitar do futuro namorado do seu melhor amigo, mas era impulsivo, quando percebeu Mika já estava indo até Gabriel que sorria feliz enquanto conversava com seus amigos.

- Mika, Oi. - O pequeno vinha na sua direção com seu sorriso sincero e suas bochechas vermelhas. Encantador.

- Tudo bem? Tem um tempo? - Mika indagou, na verdade, não sabia o que faria, mas se tivesse só um tempo...

- Claro. Até mais gente. - Se despediu da amiga e do amigo e foi caminhando do lado do maior, olhando para a frente enquanto seus pés ficavam marcados na neve. Não demoraria e o natal logo chegaria, gostava muito dessa época.

Foram caminhando em uma ponte, as árvores estavam sem folhas e o vento soava brando, não caia neve, mas por onde se olhasse havia o branco deixado pelo céu.

- Como você aguenta suas irmãs? - Mika indagava enquanto ficava pensando sobre todas as coisas que ocorreu com o Gabriel desde que se conheceram, então havia piores antes, o fato da situação ter sido difícil com Eliot foi por culpa das duas.

- Elas só querem me proteger e acham que fico melhor com roupas femininas. - Gabriel falava um pouco mais tímido.

- Você deveria ter o direito de escolher, não é? - Mika sorriu malicioso, pois pensava que realmente o outro ficava muito bem de roupas femininas.

- Acho que você tem razão. Não posso mais nem vestir cuecas. - Gabriel dizia de forma inocente e revoltada, o que deixava o rapaz fofo. Porém, Mika deixou de segui - lo por alguns segundos, se as irmãs dele eram maníacas por roupas femininas então possivelmente o rapaz estava usando calcinha!

- Mika? - Só ouviu ele chamar, porque não foi apenas uma vez. Se tivessem sozinhos não saberia se conseguiria se controlar, acabaria atacando o garoto indefeso. Respirou fundo, tentando inibir o próprio libido.

- Desculpa, estava pensando em coisas que ninguém normal deveria. - Mika suspirou excitado, ao menos o frio ajudava a apaziguar o calor. Gabriel acabou rindo, achava o maior engraçado de certa forma.

- E a sua família? - Gabriel tinha curiosidade sobre a vida do outro. 
- Eles vivem mais no centro, mas não importa, meu pai é cirurgião, minha mãe é dona de casa e religiosa fanática, apesar de antes ser uma enfermeira e largar o emprego pra cuidar sei lá do que. Fui expulso de casa por ser gay. - Deu de ombros, não adiantava forçar uma idéia para pessoas que eram cheias de descriminação e preconceito. 
- Nossa, sinto muito. Deve ter sido muito difícil. - Gabriel não conseguia imaginar, apesar de ser intimidado pelas irmãs, poderia expressar sua orientação sexual, apesar de que se duvidasse que mesmo apaixonado por uma garota elas deixariam ele ter um relacionamento, começando a pensar que talvez seu caso fosse bem mais complexo.

- Eu nem esquento com isso. Pelo menos fora de casa posso fazer da minha vida o que eu desejar. Tipo, ser um escritor famoso. - A voz soava mais prepotente, por que tinha total confiança em sua vocação. 
- Que legal, combina com você, eu acho... - Gabriel queria poder ler algo escrito por ele. - ter o sonho realizado deve ser a melhor coisa do mundo! Quando escrever algo me mostre.

- Tenho alguns manuscritos, se quiser ver. - Mika tentou não soar arrogante, mas tinha muita confiança no seu talento. - Qual seu sonho Gabriel?

- Ah, eu... Não sei direito, na verdade quero poder entrar na faculdade de artes, mas queria que meus desenhos pudessem fazer as pessoas felizes. Quero viver meu próprio estilo e viver um romance que nem o dos livros. - Levou as mãos enluvadas até o rosto ficando bem corado, aquilo parecia algo que alguma menina falaria. 
- Acho lindo... E se um dia você se frustrasse com sua arte e acabasse tendo que ensinar crianças em algum lugar restrito? - Mika não sabia porque estava indagando isso, mas se sentiu compelido a fazê - lo. 
- Se elas ficassem feliz e aprendessem eu não me incomodaria em nada! Apesar de que não sei se consigo ensinar alguém. - Para Gabriel ensinar era algo complicado que tinha que tocar o coração das pessoas.

- Eu realmente poderia me apaixonar por você. - Mika dizia de forma a surpreender Gabriel que o encarou, sem saber o que dizer.

- O que você está falando?! - O menino desviou o olhar totalmente vermelho. Aquilo parecia uma declaração, mas ficou estranha, não é como se o maior estivesse de fato apaixonado. O coração acelerou de repente, mais forte do que deveria.

- Estou brincando. - O maior sorri de forma zombeteira, ver a reação do pequeno Gabriel valeu seu dia, ainda mais o menino ficando emburrado. - Eliot gosta muito de você Gabi. Deveria lhe dar mais uma chance.

- Eu ainda não sei. - Gabriel ainda se sentia irritado, na verdade estava em dúvida do que poderia fazer.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até o celular de Mika começar a tocar, o rapaz olhou o visor achando que poderia ser algum dos seus ficas antigos aos quais não estava mais comendo no momento, porém na tela aparecia o nome do Eliot. "Será que ele tem algum sexto sentindo que identifica quando estou com o Gabriel?" Mika estreitou o olhar, mas atendeu.

- Não, eu não estou aliciando seu namorado. - Falou antes de ouvir a voz feminina do outro lado da linha. Essa frase rendeu a vermelhidão no rosto do menor.

- Mikael? Sou eu, a Anita. - A voz doce da garota lhe fez arregalar os olhos, não esperava por isso. Na verdade não sabia que o amigo tinha algum contato com essa garota, ele havia saído muito machucado do relacionamento.

- O que houve? - Mika ajeitou a postura começando a ficar preocupado.

O que ouviu a seguir fez seu rosto ficar totalmente sem cor. "estou indo." foi a única coisa que conseguiu dizer quando se levantou rapidamente chegando a esquecer que Gabriel estava do seu lado.

- Mika, o que houve com com o Eliot? - O pequeno se ergueu no mesmo momento totalmente confuso. 
- Ele sofreu um acidente, parece que tentou salvar uma criança que brincava no lago congelado que tem no parque perto de casa, mas o gelo começou a quebrar e quem caiu foi ele. - Mika nem acreditava, de alguma forma se sentia culpado, deveria ter estado do lado do amigo, apesar de não saber o que poderia ter feito.

Gabriel começou a andar, seus passos curtos e determinados lhe despertavam dos seus pensamentos negativos. 
- O que está esperando? Vamos vê - lo. - O garoto dizia totalmente preocupado com Eliot. Sentia o coração aflito e apertado, no final era ele, ainda gostava muito do outro para deixá - lo de lado. Mesmo que naquele momento seu coração por alguns segundos tivesse batido mais rápido por Mika.