Cobria meu peitoral com os cobertores, ainda me sentindo envergonhado. A única parte do meu corpo que eu, realmente, sempre gostei, foram minhas asas. Em relação ao meu rosto, pernas, cabelo, peitoral, e essas coisas, nunca me senti belo.
Jungkook entra no quarto novamente segurando uma muda de roupas nas mãos.
- Eu espero que minhas roupas sirvam em você!- ele riu.
- Obrigado...- eu agradeço, pegando a muda de roupa com uma das mãos.
- Está com frio?- pergunta ele.
- N-Não! E-Eu só...
- Não precisa ter vergonha de ficar sem camisa na minha frente!- diz Jungkook, sorrindo- Nós dois somos homens e sabemos o que temos, não é?
- B-Bem...sim- eu coro intensamente.
- Pode se trocar a vontade- Jungkook saiu do quarto.
Me levantei da cama e me espreguicei. Minhas costas doeram novamente.
Retirei a calça velha e vermelha que estava vestindo e peguei uma calça azul que tinha uma testura bem estranha. Eu a visto. Ela ficou bem colada em minhas coxas. Nunca havia visto uma calça assim! A blusa era vermelho-vinho. Eu a vesti, e ela ficou bem justa, definindo minha cintura.
Comecei a andar pelo quarto, me sentindo diferente e ao mesmo tempo bem com aquelas roupas. Me assusto ao ver meu reflexo em um objeto pendurado na parede. O que é isso?!! Essa coisa não é água para me refletir. Toco a superfície do objeto com a ponta dos dedos. O objeto não só reflete a mim como também reflete outras coisas do quarto.
Olho para trás e vejo uma pintura na parede. É a pintura de uma floresta. O céu está nublado e a copa das árvores estão cheias de neve. Consigo ver montanhas pintadas de forma discreta e suave ao fundo e os flocos de neve caem.
Sorrio para a pintura, me lembrando de Arquemis no inverno. É exatamente assim. Me lembro de quando eu e professor Hoseok íamos até a floresta com Jimin e Yoongi, e brincávamos de guerra com bolas de neve. Eu ganhava quase sempre, pois eu abria e fechava minhas asas para revidar e me proteger os ataques. Yoongi sempre me acusava de roubar por causa disso.
Alguém bate na porta e entra.
- As roupas serviram?- é a voz de Jungkook- Ficou apertado, não é?
Eu me viro para ele.
- Um pouco, mas eu gostei. Como se chama isso?- eu pergunto apontando para o objeto que me refletiu.
- É um espelho!- respondeu Jungkook ficando em frente ao objeto.
- Espelho?- eu digo para mim mesmo ficando ao lado de Jungkook.
Jungkook começou a arrumar os cabelos castanhos da franja em frente ao espe...es...espelho! Eu olhava para o reflexo dele, admirado com a capacidade desse objeto não precisar de águas para refletir alguém.
- Vou te mostar a casa- Jungkook segurou meu pulso e me puxou para fora do quarto.
Um arrepio percorreu meu corpo e senti as bochechas corarem. Não gosto muito de ser tocado. Mas o toque gentil e inocente de Jungkook, de alguma forma, me deixou a vontade nesse ambiente em que me sinto estranho e animado ao mesmo tempo.
Saindo do quarto, olho para a esquerda e para a direita, percebendo que estou em um corredor. Do lado direito, vejo mais uma porta e do lado esquerdo também.
- O banheiro fica a esquerda e tem mais um outro quarto a direita- explica Jungkook. Mas percebo que seu tom de voz se torna mais triste ao falar do outro quarto que tem à direita.
Ele me puxa e chegamos em um outro cômodo. Vejo dois sofás grandes, estantes com livros, uma pequena mesa entre um sofá e outro, além de um outro objeto grande, quadrado e preto que está voltado para os sofá.
- Aqui é a sala, pode assistir TV se quiser- explica Jungkook apontando para o objeto quadrado.
- TV? O que ela faz?
- Dá pra ver o que acontece no mundo através dela. Bem...é mais ou menos isso.
- É incrível!!- eu exclamo.
Ouço um barulho agudo e Jungkook retira um objeto muito parecido com a TV, mas bem menor.
- Esse é meu celular, se precisar fazer uma ligação, é só avisar- diz Jungkook.
- É uma célula?!!! Minha nossa!!! Eu nunca tinha visto uma desse jeito!- eu corro até Jungkook, tirando o objeto de suas mãos e o analisando.
Jungkook ri altamente.
- Não é uma célula! É um ce-lu-lar!- ele explica Jungkook- Com ele, você pode se comunicar com outras pessoas.
Meus olhos brilhavam diante do objeto. Os humanos pensam em tudo! Em Arquemis, dependemos de pombos correio!
- Vocês, humanos, são incríveis!!!- eu penso em voz alta.
- Ééé...somos mesmo...- Jungkook me olha, sorrindo.
Me sinto um idiota! Mas estou feliz!!
Eu olho para a mesinha entre os sofás. Vejo uma imagem de Jungkook ao lado de uma mulher muito parecida com ele que aparentar ter 60 anos. Ele parece feliz.
- Quem é ela? Ela é uma humana bonita! E se parece muito com você!- eu pergunto apontando para a imagem.
- É...todos dizem isso...é minha mãe.
Eu estendo as mãos e pego a imagem para analisá-la mais de perto. Eu sorrio.
- Sua mãe parece feliz!- eu elogio, sorrindo.
- Sim...ela era mesmo- ele diz em um tom triste.
Eu olho para Jungkook.
- "Era"?- eu digo em um tom baixo e colocando a imagem no lugar em que estava.
- Ela morreu- Jungkook olhou para baixo de modo triste- Eu estava voltando do enterro dela quando te achei na rodovia.
Eu arregalo meus olhos e mordo meu lábio inferior. Pobre Jungkook. Acabou de perder uma pessoa querida e recebeu outra para "cuidar".
- Eu sinto muito...- eu digo me aproximando de Jungkook- Eu também perdi meus pais...logo quando nasci.
Jungkook levantou a cabeça. Seus olhos estão brilhando por conta das lágrimas que se formam.
- S-Sério?- ele pergunta, fungando.
- Sim...fui criado pelo meu professor, Jung Hoseok. Eu te entendo. Adoraria ter conhecido meus pais...- eu lamento.
Jungkook me olha de forma triste, imagino que sentindo pena de mim.
- Quer um abraço?- eu pergunto abrindo meus braços.
- Acho que sim...- ele sussurrou.
Jungkook abriu os braços. Eu envolvi meus braços em seu corpo. Ele me abraçou de volta. É estranha a sensação de alguém me abraçar de forma tão fácil. Nunca ninguém conseguiu me abraçar direito por causa das minhas asas. Sinceramente, estou gostando de ter meu corpo envolvido por completo.
- Vai dar tudo certo- eu sussurro.
Sinto o molhado das lágrimas do choro silencioso de Jungkook sobre minhas costas.
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