Jerónimo deu de ombros, fazendo-a se lembrar do havia embaixo daquela camisa branca, e o quanto ela apreciara saber que aqueles músculos poderosos pertenciam a ela e a mais ninguém.
- Pedi que algumas de minhas roupas sejam enviadas para cá. Quaisquer outras coisas que eu precisar, eu posso comprar aqui.
Ele pendurou o paletó num gancho perto da porta, onde Renata e Helen deixavam seus aventais quando não em uso, então atravessou para o moisés que ela tirara da despensa, depois que Jerónimo descobrira o que estava acontecendo. Dann estava dormindo dentro, deitado de bruços.
- A única questão agora - disse ele, estendendo um dedo para acariciar o rostinho do filho - é onde ficarei hospedado enquanto estiver na cidade.
Renata abriu a boca, nem mesmo sabendo o que ia dizer, apenas para ser interrompida por Helen:
- Bem, você não ficará na minha casa - sua tia anunciou com firmeza.
Embora o óbvio desgosto de sua tia por Jerónimo tivesse lhe causado uma ponta de culpa e uma súbita vontade de se desculpar, Renata estava grata que Helen tivera a
coragem de dizer o que ela sabia que precisava ter dito.
- Obrigado pelo convite amável - zombou ele com divertimento, - mas eu realmente não lhe daria esse trabalho.
Que típico ele tolerar a rudeza de Helen. Esse tipo de coisa nunca o
aborrecia, principalmente porque ele sabia quem era de onde vinha e o que podia fazer.
Ademais, tia Helen sempre o detestara. Ela não o detestava agora, na verdade, estava apenas irritada com ele e com o jeito que ele tratara Renata.
O que era, em parte, culpa de Renata. Ela aparecera arrasada, furiosa e carregando um bebê do ex-marido na porta de sua tia, desesperada por um lugar para
ficar.
Depois de contar a história de seu casamento instável, divórcio subsequente e gravidez inesperada, a opinião de sua tia sobre ele tinha caído ainda mais.
Desde então, o único objetivo de tia Helen era não ver a sobrinha ferida novamente. Renata ainda estava lutando contra a vontade de criar desculpas para Helen quando Jerónimo disse:
- Pensei que vocês pudessem recomendar um bom hotel na região.
Renata e Helen trocaram um olhar.
- Suponho que este seja a Hospedaria do Porto, a algumas ruas daqui - disse Helen. - Não é grande coisa, mas a outra opção é o Hotel Daisy, na Route 12.
- Hospedaria do Porto - murmurou ele, unindo as sobrancelhas. - Eu não sabia
que havia um porto aqui.
- Não há - replicou Renata. - O nome do hotel é uma daquelas esquisitices de cidade pequena que ninguém sabe explicar. Não há nem mesmo um rio ou riacho por aqui. Mas a Hospedaria do Porto é um dos hotéis mais antigos de Summerville, e é decorado com faróis, gaivotas, redes de pesca, estrelas do mar...
Ela balançou a cabeça, esperando que ele não pensasse muito mal da cidade ou de seus residentes. Embora Summerville fosse atrasada em alguns aspectos, era seu
lar agora, e ela era bastante protetora em relação à cidadezinha.
- Se nada mais, é um lugar interessante para ficar - adicionou-a ele não pareceu muito convencido, mas não falou nada.
Em vez disso, afastou-se
do moisés e começou a enrolar as mangas da camisa acima dos cotovelos.
- Contanto que tenha uma cama e um banheiro, tenho certeza que estará bom. Eu passarei a maior parte do tempo aqui, com vocês, de qualquer maneira. Renata arregalou os olhos.
- Passará?
Ele sorriu.
- É claro. É aqui que meu filho está. Ademais, se seu objetivo é expandir a padaria, e entrar no negócio de vendas por catálogo, temos muito que discutir, e
possivelmente muito que fazer.
- Espere um minuto. - Ela largou a espátula sobre o balcão, arfando. - Não concordei em deixar você ter alguma coisa a ver com Doce Cabana.
Jerónimo lhe deu um sorriso charmoso e confiante.
- Por isso, temos muito que discutir. Agora - ele abriu as palmas sobre a extremidade do balcão - irá me levar até esta Hospedaria do Porto, ou prefere apenas me explicar como chegar lá, de modo que você e sua tia possam falar sobre mim
após minha partida?
Oh, ela queria ficar e falar sobre ele. O problema era que ele sabia disso. E agora que descrevera exatamente o que aconteceria assim que ele virasse as costas, ela não tinha escolha senão acompanhá-lo.
Motivo pelo qual ele fizera aquilo.
Ela removeu o avental.
- Eu levo você - murmurou, então, virou-se para sua tia. — Ficará bem enquanto eu estiver fora?
A pergunta era apenas uma formalidade. Renata frequentemente deixava Helen cuidando da padaria enquanto fazia compras ou levava Dann ao pediatra. Entretanto, sua tia lhe lançou um olhar tão contemplativo que ela quase riu.
- Tudo bem. Eu voltarei logo.
Ela foi para a porta, dizendo para ele enquanto passava:
- Eu só vou buscar minha bolsa.
Ele a seguiu para fora, esperando à base da escada enquanto ela subia para pegar a bolsa e óculos escuros.
- E quanto ao bebê? - perguntou ele assim que ela retornou.
- Dann ficará bem.
-Tem certeza que sua tia pode cuidar dele e da padaria ao mesmo tempo? -
insistiu ele enquanto eles passavam pelas pequenas mesas redondas, indo em direção à porta.
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