Um ano depois...
Jerónimo Linhares flexionou os dedos no couro momo do volante, seu elegante Mercedes preto abraçando a estrada enquanto ele fazia as curvas fechadas que levavam a Summerville numa velocidade maior do que provavelmente seria prudente.
A pequena cidade da Pensilvânia ficava a apenas três horas de sua própria casa em Pittsburgh, mas também podia ficar a um mundo de distância. Enquanto Pittsburgh era noventa por cento concreto e luzes da cidade, Summerville era composta de florestas, áreas verdes, casas singulares, e um pequeno centro que lembrava a Jerónimo uma versão moderna de Mayberry.
Ele diminuiu a velocidade, observando as fachadas das lojas pelas quais passava. Uma farmácia, um correio, uma churrascaria, uma loja de presentes... E uma padaria.O lugar parecia convidativo, o que era importante na indústria de serviços de alimentação. Ele ficou tentado a abrir o vidro do carro e ver se, podia sentir os aromas de pães, cookies e tortas no ar.
Mas era preciso mais do que um nome bonitinho e uma fachada atraente para tornar um empreendimento bem-sucedido, e se ele ia pôr dinheiro em Doce Cabana, queria saber se era um bom investimento.
Na esquina, virou à esquerda e continuou pela rua lateral, seguindo as instruções que tinha recebido para chegar aos escritórios de Matias e Lázaro, conselheiros financeiros. Ele trabalhara com Matias antes, embora nunca num investimento tão longe de casa, ou tão perto dos escritórios de Lopes.
Entretanto, o homem nunca errara em seus conselhos, o que tomaraJerónimo mais disposto a tirar folga do trabalho para fazer a longa viagem.
Ainda seguindo pela mão lateral, ele notou uma mulher andando rapidamente em saltos altos. Considerando o asfalto irregular e as pedrinhas na calçada, não estava sendo uma tarefa fácil. Também parecia distraída, mexendo dentro de uma bolsa enorme, em vez de manter a atenção onde estava indo.
Um estranho desconforto o percorreu. Ela o lembrava de sua ex-esposa. Um pouco mais cheinha e curvilínea, os cabelos castanhos curtos, em vez de cascateando pelas costas, mas ainda assim, muito parecida. Especialmente o jeito que ela andava e se vestia.
Esta mulher estava de blusa branca e saia preta, com uma abertura atrás, revelando pernas longas e adoráveis. Sem jaqueta ou acessórios, exatamente como era o estilo de Renata.Voltando o olhar para a estrada,Jerónimo reprimiu a emoção que comprimiu seu peito. Culpa? Arrependimento? Simples sentimentalismo? Não sabia ao certo, e não queria analisar os sentimentos inesperados.
Eles tinham se divorciado havia mais de um ano. Era melhor esquecer o passado e seguir em frente, como Renata certamente fizera. Avistando os escritórios de Matias e Lázaro , ele parou no pequeno estacionamento nos fundos do prédio, desligou o motor e saiu no dia quente de primavera.
Com sorte, essa reunião, e o subsequente tour por Doce Cabana, levaria apenas algumas horas, então poderia pegar a estrada e voltar para casa. Vida de cidade pequena podia ser boa para algumas pessoas, mas Jerónimo ficaria feliz em voltar para a agitação da cidade grande e para a vida que construíra para si mesmo lá.
Renata parou do lado de fora do escritório de Matias Lopes, levando um momento para endireitar sua saia e blusa, passar uma mão pelos cabelos castanhos curtos e um pouco de batom. Fazia muito tempo que não se arrumava assim, e estava sem prática.
Também não ajudava que todas as roupas boas que adquirira enquanto estivera casada com Jerónimo eram agora um número menor que o seu. Isso significava que a blusa estava apertada no peito, a saia mais curta do que gostaria e o cós da cintura prendendo sua circulação.
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