Felizmente, a pequena cidade de Summerville não exigia que ela se arrumasse com freqüência. Do contrário, precisaria ter investido num novo guarda-roupa, e, considerando a dificuldade que estava tendo de manter seu negócio e ganhar seu sustento básico, essa era uma despesa com a qual definitivamente não podia arcar.
Respirando fundo, Renata abriu a porta. A recepcionista de Matias e Lázaro cumprimentou-a com um sorriso amplo, informando-a que Matias e o investidor em potencial a esperavam na sala dele.
Antes de entrar,Renata fez uma breve prece para que o investidor rico que Matias encontrara considerasse Doce Cabana digna de seu apoio financeiro.
A primeira coisa que ela viu foi Matias sentado atrás da mesa, sorrindo enquanto conversava com o visitante, que estava sentado de costas para ela. O homem tinha cabelos escuros que mal tocavam a parte traseira do paletó cinza-chumbo, e tamborilava um dedo longo bronzeado na cadeira, como se estivesse impaciente. Assim que Matias a viu, sorriu-lhe e levantou-se.
- Renata, você chegou pontualmente. Quero lhe apresentar ao homem que- Nós nos conhecemos.
A voz de Jerónimo a fez tremer, mas este foi apenas um dos muitos choques que seu sistema nervoso sofreu. Ao ouvir o nome de seu ex-marido, um nó se formara em seu estômago, e quando Jerónimo se levantou e virou-se para encará-la, o coração de
Renata disparou violentamente contra as costelas. Ela o viu parado à sua frente, os cabelos loiro brilhando na luz do sol que se infiltrava pejas janelas da sala, os olhos azuis reluzindo com travessura.
- Olá, Renata - murmurou ele suavemente.
Jerónimo pôs uma das mãos no bolso, adotando uma postura negligente. Ele parecia tão à vontade e divertido enquanto ela sentia como se um exército de formigas estivesse rastejando sob sua pele.
Como, por Deus, isso podia ter acontecido? Como ela pudera não saber que ele era o investidor em potencial? Como Matias podia não ter percebido que Jerónimo era seu ex-marido? Rengata censurou-se por não ter feito mais perguntas ou insistido em mais detalhes sobre a reunião de hoje.
Mas, então, não tinha se importado com quem era o investidor misterioso de Matias, tinha? Importara-se apenas que ele era rico e parecia disposto a ser sócio de pequenos empreendedores, na esperança de obter bom lucro dos negócios.
Convencera a si mesma que estava desesperada e precisava de uma rápida infusão de dinheiro para manter as portas de Doce Cabana abertas. Mas nunca estaria desesperada o bastante para aceitar caridade de um homem que partira seu coração, e lhe virara as costas quando ela mais precisava dele Ignorando Jerónimo, ela olhou para Matias.
- Lamento, mas isso não vai dar certo - disse então se virou e marchou para fora o prédio de escritórios.
Estava na metade do primeiro quarteirão quando ouviu seu nome.
- Renata! Renata espere!
Os sapatos de salto que ela usava, porque quisera causar uma boa impressão, machucavam seus pés enquanto Renata quase corria ao longo da calçada irregular, em
direção à Doce Cabana. Tudo que queria era fugir de Jerónimo, daqueles olhos brilhantes e daquele queixo arrogante. Não importava que ele estivesse chamando seu nome, ou que podia ouvir os passos apressados atrás de si.
- Renata !
Virando a esquina a apenas uma curta distância de Doce Cabana, ela hesitou seu coração bombeando freneticamente.
Oh, não. Estivera tão zangada, tão ansiosa para escapar de seu ex-marido, e ir para a segurança da padaria, que tinha esquecido onde Dann estava. E se havia alguma
coisa que precisava proteger mais do que sua própria sanidade era seu filho.
Subitamente, não podia dar mais nem um passo, parando a poucos metros da porta da padaria. Jerónimo rodeou a esquina um momento depois, parando abruptamente
ao vê-la ali, imóvel como uma estátua.
Ele estava levemente ofegante, Renata achou aquilo satisfatório. Era uma boa mudança do jeito sempre calmo e controlado de Jerónimo. E nada menos do que ele merecia, considerando pelo que a estava fazendo passar agora.
- Finalmente - murmurou ele. - Por que fugiu? Podemos estar divorciados, mas isso não significa que não possamos ter uma conversa civilizada.
- Não tenho nada a lhe dizer - replicou Renata.
E não havia nada que ela tivesse a dizer que ele quisesse ouvir. A declaração cruel repetiu-se em sua mente, lembrando-a de como era importante mantê-lo longe de seu filho.
- E quanto a este seu negócio? - perguntou ele, passando uma das mãos pelos cabelos loiros. - Parece que você poderia usar o capital, e eu estou sempre à procura de bons investimentos.
- Não quero seu dinheiro.
Jerónimo inclinou a cabeça, reconhecendo a sinceridade das palavras dela.
- Mas precisa? - perguntou ele, o tom de voz sincero dizendo que estava disposto a ajudá-la se ela necessitasse.
Oh, Renata precisava de ajuda, mas não da ajuda de seu ex-marido frio e insensível.
Lutando contra a vontade de agarrar qualquer valor que ele lhe desse e fugir, ela endireitou os ombros e lembrou a si mesma que estava bem sozinha. Não precisava que um homem... Nenhum homem... Á salvasse.
- A padaria está indo muito bem, obrigada - replicou ela, a voz tensa. - E mesmo se não estivesse eu não aceitaria nada de você.
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