- Ele é meu filho também, Renata.
- Sim - concordou ela, assentindo com a cabeça. - Motivo pelo qual você deveria querer protegê-lo, também. De tudo e de todos.
Soltando o rolo de massas, ela abriu uma das mãos sobre a ilha, posicionando a outra no quadril, parecendo uma mãe ursa disposta a defender sua cria a qualquer custo.
- Dann é inocente. Não vou permitir que alguém o faça se sentir menos que perfeito, menos que maravilhoso. Nunca. Nem mesmo a avó dele.
Jerónimo pôs as mãos nos quadris e inclinou a cabeça.
- Eu não tinha idéia de que você a odiava tanto.
- Ela foi horrível comigo - retorquiu ela. - Sua mãe transformou minha vida num inferno enquanto estávamos casados.
Por um minuto, ele não disse nada, tentando avaliar a verdade daquelas palavras.
Sua mãe realmente tinha sido tão horrível com ela ou Renata estava exagerando?
Ele sabia que mulheres nem sempre se davam bem com as famílias de seus maridos, e que relacionamentos entre sogra e nora podiam ser amargos.
Deus sabia que sua mãe não era exatamente a pessoa mais calorosa do mundo, mesmo com os próprios filhos, mas ela havia sido tão cruel com Renata quando ele não
estivera por perto?
- Lamento que se sinta assim - murmurou ele cuidadosamente - mas eu preciso voltar. Não por muito tempo... Apenas alguns dias, talvez uma semana. E eu gostaria de levar Dann comigo.
Com isso, Renata abriu a boca e ele soube que outro argumento estava vindo.
- Não pode me impedir de levá-lo - disse ele. - Dann é meu filho, e você o
manteve escondido de mim... E de minha família... Por todo esse tempo. Acho que eu mereço levá-lo para casa por um tempo.
Inclinando a cabeça, ele a olhou com intensidade.
- E ambos sabemos que não preciso de sua permissão.
- Você está ameaçando tirar meu filho de mim? - perguntou ela numa voz baixa.
- Eu preciso fazer isso? - respondeu ele com a mesma suavidade.
Ele podia ver a pulsação batendo freneticamente no pescoço de Renata, e os olhos verdes brilhando com emoção.
- É apenas por alguns dias - ele assegurou outra vez, sentindo a estranha necessidade de tirar-lhe o medo e as lágrimas dos olhos. - No máximo uma semana. E você é mais do que bem-vinda para nos acompanhar, ficar de olho em nós dois. Por que acha que eu a convidei em primeiro lugar?
Ela umedeceu os lábios, engolindo em seco.
- Você vai me obrigar a fazer isso, não vai?
- Eu irei fazer isso, com ou sem você. Que papel quer representar na situação, e quão de perto quer ficar de olho em Dann, depende inteiramente de você.
Ela lhe lançou um olhar que dizia que não acreditava estar tendo escolha, mas Jerónimo não voltaria para casa mesmo para uma curta estadia sem seu filho.Tinha acabado de descobrir que era pai; não se afastaria do filho assim tão facilmente.
Além disso, acostumara-se tanto a ver seu filho todos os dias, a passar tempo de qualidade com ele, que 24 horas longe pareceria uma vida. O mesmo podia ser dito sobre estar longe de Renata, ele supôs, mas então sua atração por ela nunca estivera em questionamento.
Não, seus pensamentos agora tinham de ser para seu filho. E embora não quisesse aborrecer sua ex-esposa intencionalmente, não podia ter certeza que ela não pegaria Dann e fugiria no minuto que ele saísse da cidade. Isso significaria deixar tia Helen, a padaria e a vida que ela construíra em Summerville, mas ela mantivera a existência de Dann em segredo antes.
Quem garantia que não tentaria roubar o bebê dele dessa vez? Havia também a questão da condição física atual de Renata. Gostasse ou não, existia uma chance de que ela estivesse grávida novamente, e até que Jerónimo tivesse certeza de uma coisa ou de outra, não pretendia deixá-la escapar ou esconder outra criança dele por mais um ano ou coisa assim.
O que significava que, se não podia ficar em Summerville, vigiando Renata e seu ffilho tempo inteiro, então teria de levar Dann para Pittsburgh. Renata podia ir junto ou não, mas uma coisa era certa: se Dann estive com ele, ela não fugiria para lugar algum. Com lábios comprimidos, Renata murmurou:
- Isso é extorsão, sabia?
Jerónimo arqueou uma sobrancelha e resistiu à vontade de rir.- Eu dificilmente chamaria assim.
- Como você chamaria isso, então?
- Paternidade - replicou ele. - Estou apenas exercendo meus direitos de pai. Lembra-se de quais são eles, certo? Aqueles que você me negou durante o último ano, enquanto mantinha Dann só para si.
Ele não pretendera soar tão amargo, mas pela expressão no rosto de Renata, podia dizer que ela ouvira a amargura em sua voz.
- Eu não o deixarei levar Dann para lugar algum sem mim - disse ela com teimosia.
Estava implícito naquela declaração que, se ele insistisse em levar Dann para visitar sua família, ela iria junto, mesmo que com relutância.
- Se você puder estar pronta até amanhã, partiremos por volta do meio-dia.
- Não tenho certeza se posso estar pronta tão cedo.
Jerónimo inclinou a cabeça e assentiu.
- Tudo bem, nós partiremos à 13h, então.
A ultima coisa que Renata queria fazer era sair de Summerville e deixar a vida tranquila e organizada que tinha construído para si mesma, a fim de retornar à jaula dos leões que era a Mansão Linhares. Aquilo podia ser temporário, muito temporário se a promessa de Jerónimo fosse verdadeira, mas cinco dias ou um dia, cada minuto pareceria uma eternidade.
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