História Meu bebê secreto - Capítulo 4

Jerónimo abriu a boca, prestes a responder e possivelmente tentar fazê-la mudar de idéia, quando Matias Lopes virou a esquina. Ele parou ao avistá-los, parecendo cansado e alarmado. Por um segundo, não se moveu, respirando com dificuldade, olhando de um para o outro. Então meneou a cabeça. 

- Sr. Linhares... Renata... - começou ele, ainda um pouco ofegante - não foi assim que planejei que esta reunião acontecesse - murmurou de modo apologético. - Se puderem voltar ao escritório... Vamos nos sentar e tentar chegar a um acordo. 

Renata sentiu uma ponta de culpa. Matias era um bom sujeito. Não merecia ser colocado no meio de uma situação amarga porque ela desprezava Jerónimo e se recusava a ter qualquer coisa a ver com ele. 

- Sinto muito, Lopes. Aprecio tudo que você tem feito por mim, mas esse tipo de sociedade em particular não vai dar certo. 

Por um minuto, Matias pareceu que ia argumentar. Mas então deu um suspiro resignado e assentiu. 

- Eu entendo. 

- Na verdade - disse Jerónimo —, ainda estou muito interessado em ouvir sobre a padaria. 

Os olhos de Matias brilharam com alívio, mas Renata ficou tensa. 

- Não, Jerónimo - disse ela com firmeza. 

- Parece que este pode ser um bom investimento, Rê - retorquiu ele, usando o apelido carinhoso que criara para ela no passado. Sem dúvida, para desequilibrá-la. - Dirigi três horas para chegar aqui, e prefiro não voltar imediatamente de mãos vazias. - Ele parou antes de acrescentar: - Pelo menos, deixe-me conhecer a padaria. 

Não. Oh, não. Renata definitivamente não podia deixá-lo entrar na padaria. Isso seria ainda mais perigoso do que simplesmente tê-lo na cidade, ciente de que ela morava lá agora, também.
Abriu a boca para negar, cruzando os braços contra o peito para informá-lo que não tinha intenção de mudar de idéia, quando Matias a deteve. Tocando-lhe o ombro, ele
inclinou a cabeça, sinalizando para que ela o seguisse alguns passos adiante, para longe do alcance dos ouvidos de Jerónimo.

- Srta. Monterrubio. Renata - disse ele abandonando as formalidades. - Pense sobre isso. Por favor. Sei que o Sr. Linhares é seu ex-marido... Embora eu não tivesse idéia quando marquei a reunião de hoje. Eu nunca o teria chamado aqui se soubesse... Mas se ele está disposto a investir em Doce Cabana, como seu conselheiro financeiro, eu recomendo que você considere a oferta seriamente. A padaria está indo bem no momento, mas você nunca será capaz de realizar seus planos de expansão sem o capital adicional de uma fonte externa, e se o pior acontecer, uma única temporada ruim pode causar a ruína total de seu empreendimento. 

Embora Renata não quisesse acreditar que Matias estivesse certo, sabia que estava.

Doce Cabana podia ser seu meio de vida, mas bom planejamento financeiro era o dele. Ela não teria começado a trabalhar com ele se não confiasse em Matias. Olhando para trás, a fim de se certificar que Jerónimo podia ouvir a conversa
deles, virou-se e sussurrou:

- Há mais em jogo aqui do que somente a padaria, Matias. - Muito mais. - Vou deixá-lo conhecer o estabelecimento. Deixar que vocês dois conversem. Mas independentemente da oferta que ele possa fazer, não prometo que estarei disposta a aceitar. Sinto muito.

Matias assentiu, aceitando que ela já cedera o quanto podia no que dizia respeito a Jerónimo Linhares .
Retomando paraJerónimo, Matias o informou da decisão de Renata, e eles seguiram em direção à entrada principal da padaria. 

Os aromas deliciosos de pão fresco, tortas e outros assados preencheram o ar quando eles se aproximaram. Como sempre, aqueles cheiros davam água na boca de Renata, deixando-a com vontade de comer um pão doce de canela ou cookies de chocolate. O que provavelmente explicava por que ainda não voltara ao peso que tinha antes da gravidez.Diante da porta, parou abruptamente, virando-se para os dois homens. 

- Esperem aqui - insistiu ela. - Preciso avisar a tia Helen que você está na cidade e explicar o que está acontecendo. Ela nunca gostou muito de você - adicionou para  Jerónimo -então não fique surpreso se ela se recusar a aparecer enquanto você estiver aqui. Ele lhe deu um sorriso sardônico.

- Manterei meus chifres e rabo escondidos se me deparar com ela. 

Renata não se incomodou em responder. Em vez disso, virou-se e entrou na padaria. Mantendo um sorriso no rosto e cumprimentando alegremente os clientes que tomavam café, chá ou chocolate quente, e apreciavam algumas das delícias assadas mais populares de sua tia, ela apressou-se para a cozinha. 

Como sempre, Helen estava se movendo ao redor, fazendo uma coisa aqui, outra al. Ela podia ter mais de 70 anos, mas possuía a energia de uma garota de 20. Acordando assim que o dia nascia todas as manhãs, ela começava a trabalhar imediatamente, reunindo ingredientes, misturando, enrolando, cortando... E conseguindo ficar de olho em três ou quatro itens diferentes nos fornos, todos ajustados em temperaturas distintas para várias quantidades de tempo.