Os segundos se arrastavam como horas, os minutos como anos. Renata estava parada ao pé da escada enquanto o silêncio no foyer se tornava cada vez mais pesado eopressivo. Dann não estava ficando mais leve, também. Mudando-o para o outro braço, ela começou a se sentar no degrau acarpetado, mas Jerónimo aproximou-se para impedi-la.
- Deixe-me segurá-lo - disse ele, estendendo os braços.
Por um momento, ela hesitou o pensamento de que se deixasse ele segurar o bebê, talvez nunca o tivesse de volta, passando por sua cabeça. Mas se lhe negasse Dann agora, então sua declaração de que não tentaria impedi-lo de ver o filho seria mentira, não seria?
Esperando que Jerónimo não notasse sua incerteza, ela entregou-lhe Dann, rolando os ombros e estendendo os braços para relaxar.
- Ele está ficando grande, não está? - comentou ele, um sorriso curvando os lábios. O primeiro que lhe oferecia desde que vira sua bagagem no hall de entrada.
- Sim, está.
Ela estava prestes a sugerir que eles fossem esperar Carlos em um dos salões próximos, mas naquele momento o barulho de um carro chegando veio de fora, e um minuto depois, a porta se abriu.
Carlos Lima era alto e magro, e mais desengonçado do que atlético. Ele parou dentro do foyer, os cabelos escuros desalinhados e a respiração ofegante, como se tivesse ido correndo da Corporação Linhares até lá.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Jerónimo devolveu Dann para Renata e voltou-se para seu assistente, qualquer sinal de gentileza ausente em sua fisionomia. Erguendo uma das mãos praticamente no rosto de Carlos, ele falou numa voz baixa:
- Eu lhe farei algumas perguntas, e quero respostas honestas. Que Deus o ajude se você mentir para mim entendeu?
Carlos empalideceu. Sem dúvida, ele pensara que tinha sido chamado para cumprir alguma tarefa especial ou para receber uma promoção.
- S-sim, senhor - gaguejou ele, esforçando-se para recobrar a compostura.
- Renata ligou no escritório o ano passado, logo depois que nos divorciamos e pediu para falar comigo?
Os olhos de Carlos foram para onde Renata estava de pé, balançando levemente o bebê.
- Sim ou não, Carlos? demandou com autoridade.
- S-sim, senhor - replicou ele, retornando a atenção para seu chefe infeliz. - Acredito que ela ligou.
- E você disse-lhe que eu não queria ouvir nada que ela tivesse a dizer?
Com isso, os olhos de Carlos Lima se arregalaram.
- Eu... Eu...
Ele fechou a boca, lambeu os lábios nervosamente. Então pareceu assumir uma postura de derrota, os ombros parecendo baixos sob a camisa preta e colete bege.
- Sim, senhor - respondeu ele. - Eu disse.
Mesmo de sua posição perto da escadaria, Renata viu as sobrancelhas de Jerónimo se arqueando em perplexidade. Até aquele momento, ela sabia que ele não acreditara nela.
- Por quê? - perguntou ele, choque e confusão evidentes em seu tom de voz.
- Eu... Eu... - A boca de Carlos se abriu e se fechou, e a cor voltou ao rosto dele em duas manchas vermelhas de embaraço.
- Porque eu o mandei dizer isso.
A voz de Eleanor, vinda de lugar nenhum, causou um sobressalto em Renata. O movimento abrupto fez Dann começar a se agitar em seus braços. Ela o embalou para acalmá-lo, mas a maior parte de sua atenção estava em sua ex-sogra, e na bomba que ela acabara de jogar no meio do foyer cavernoso.
- Mãe. - Jerónimo virou-se na direção dela. — Do que você está falando?
Eleanor saiu do salão mais próximo ao foyer, os saltos de seus sapatos causando um ruído baixinho sobre o piso de parquete.
- Após sua separação, eu instruí o Sr. Lima a atender todas as ligações da Sra. Monterrubio que chegassem ao escritório e informá-la que você não queria falar novamente com ela, por nenhuma razão.
Jerónimo olhou incrédulo, de sua mãe para Carlos, e para Eleanor novamente. O coração de Renata estava disparado no peito, emoção fechando sua garganta. Durante todo aquele tempo, ela ficara tão zangada com Jerónimo.
Tão magoada por ele ter sido cruel com a mulher que um dia declarara amar... E que estava,
inesperadamente, carregando um filho seu. Sabia, também, que ele devia ter ficado igualmente zangado e, ferido pela maneira que acreditara que ela havia agido após a separação, nunca mais ligando ou entrando em contato. Agora, ela percebia que os dois tinham sido enganados.
- Mas... Por quê? - perguntou Jerónimo.
Os lábios de Eleanor se comprimiram.
- Ela é escória, Jerónimo. Ruim o bastante você ter se casado com ela e a trazido para casa, em primeiro lugar. Tê-la contatando-o depois que você finalmente tomou a atitude sábia e divorciou-se seria inaceitável. Eu não suportaria vê-la aplicar seus truques para que você a aceitasse de volta.
- Então, você ordenou que meu assistente bloqueasse as tentativas de minha esposa para me contatar. -
Foi uma afirmação, não umapergunta.
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