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História Meu Carma - A Praia


Escrita por: Lyv__

Notas do Autor


Ok, desculpem o capítulo bosta (de novo) e a demora pra atualizar. Não desistem de mim.

Capítulo 26 - A Praia


Dia 29 chegou no quarto em forma de um vento gélido, passando por meu corpo que evitara usar uma roupa confortável para dormir na noite passada. Após a conversa longa com Andrew, que quase resultou em um beijo vinda de uma aproximação estranha, de repente dormimos.

Na verdade, caímos no sono gradativamente enquanto estávamos envoltos em mais uma conversa sobre o passado. Não houve beijo ou quaisquer carícias. Andrew afastou-se com a desculpa de que por enquanto, queria um espaço entre nós, para que nos conhecêssemos melhor. E, apesar de que eu gostaria muito que tivéssemos nos beijado, afastei-me também, respeitando sua escolha.

Até porque, eu não poderia obrigá-lo a me beijar; jogando o meu "charme" ou coisa assim. Seria assédio, certo?

Se bem que, dormir na mesma cama não é exatamente dar um "espaço."

De qualquer forma, estamos assim. E isso é bom, muito bom. Nos respeitamos e isso é o importante.

Quando abri os olhos, Andrew ainda dormia ao meu lado. Pela claridade lá fora, podia-se dizer que estava próximo do 12h00, ou simplesmente já passava desse horário. 13h00, talvez?

Levantei-me abruptamente, correndo ao banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. O banho ficaria para mais tarde, quando eu estivesse cem por cento acordada e pronta para enfrentar o dia. Amarrei os cabelos voltando ao quarto, para reencontrar Andrew estirado sobre os lençóis. Sua respiração calma e compassada, dormia como um anjo... ou não. Ok, isso foi péssimo.

— Hey — cutuquei-o com o indicador — já está tarde. — nada. Simplesmente nada. Continuou parado, dormindo. — Hey! É tarde, é tarde! Muito tarde! — dessa vez gritei, balançando seu corpo com ambas as mãos.

— O que está fazendo? — perguntou, a voz soando sonolenta e abafada, devido o travesseiro próximo demais de sua boca — Deu para brincar de Alice no País das Maravilhas agora?

— Legal você ter pego a referência — respondi, dando dois tapinhas dramáticos em seu ombro — mas agora levanta. Há um dia lindo lá fora.

— Foda-se. — murmurou.

— Não seja tão preguiçoso. Vamos, levante! Está um pouco frio de qualquer maneira, mas isso não impede de nos divertimos, certo?

— Quer mesmo que eu responda?

Bufei, já um tanto irritada e prestes a desistir, decidindo mentalmente se iria explorar o hotel sozinha ou não.

— Andrew, por favor! Se levantar agora, vou deixá-lo fazer o que quiser.

— O que eu quiser? — indagou, apoiando o corpo sob os cotovelos e virando o rosto amassado para me olhar. Um sorriso presunçoso acompanhava seus olhos semicerrados e brincalhões — Está mesmo me propondo isso? O que eu quero envolve você. Nessa cama. Tem certeza que ainda quer manter essa proposta?

Senti meu rosto corar violentamente. Encolhi-me um pouco na cama com o uso de suas palavras. Ele certamente estava sendo ridículo, mas senti-me... derretida? Que palavra devo usar para definir minha emoção no momento? Meu Deus, só quero enterrar meu rosto na areia daquela praia.

— Estou brincando! — exclamou ele, repousando o rosto no travesseiro novamente, dessa vez seu olhar sobre mim — claro que eu estava falando sério em algumas partes, mas não se preocupe.

Revirei os olhos, segurando em uma almofada em seguida, jogando-a em seu rosto.

— Vai levantar ou não? Se quiser, posso pedir a ajuda de algum funcionário bonitão do hotel para me mostrar tudo.

Foi a vez de Andrew revirar os olhos.

— Isso é golpe baixo — retrucou — e hoje em dia, mais ninguém usa a palavra "bonitão."

— Bom, eu uso a palavra "bonitão" sempre.

— Claro que usa.

— Vai levantar ou...

— Me dê 5 minutos. Apenas tempo o suficiente para eu levantar e escovar os dentes. Ok?

Assenti, deitando-me novamente na cama e pegando o celular, esquecido sob a mesinha de cabeceira. Surpreendi-me com o horário: não passava das 09h00.

— Bom — meio que gritei, já que Andrew já encontrava-se no banheiro. A porta estava aberta, fazendo-me ouvir facilmente o barulho da água corrente na pia — ainda é relativamente cedo. Quer comer algo antes de descermos?

— Pode ser. — respondeu — O que você quiser.

***

O dia mantinha-se frio e andar pela praia em meio ao mês de Dezembro seria declarar suicídio. O dia continha um Sol que definitivamente, não estava ali para aquecer alguma coisa, por isso ficamos no quente e luxuoso hotel. Havia uma jacuzzi abandonada nos fundos do hotel, que segundo os funcionários, poderíamos usá-la sempre que quiséssemos.

Andrew insistiu apenas duas vezes, mas eu não estava com tanta vontade de ficar mergulhada em uma jacuzzi de um hotel em Dezembro. E nem mesmo roupa de banho eu tinha, por esses motivos, manter-me vestida o resto dia era uma oferta mais que tentadora.

O hotel era limitado, e percebemos tarde demais que o tour pela piscina, a jacuzzi e o restaurante era o que teríamos. Fomos à recepção, apenas para pedirmos alguma informação para saber onde ficava a loja mais próxima, até acharmos uma escondida e pequena livraria ali mesmo. Fomos até lá, mesmo que não tivéssemos pretensão alguma de comprar algum livro.

O lugar, assim como todas as livarias existentes por aí, cheirava a livros. Vários deles. E não há nada que mais me conforte do que o irreconhecível cheiro de livros. Era intorpecente.

Passei os dedos pelas lombadas dos livros perfeitamente postos nas prateleiras. Acabei encontrando um livro que eu já lera, várias e várias vezes. O Morro dos Ventos Uivantes.

Lembrei-me no mesmo instante do exemplar que tenho em casa. Roubei-o da biblioteca e no dia da entrega, simulei algumas lágrimas com a desculpa de que meu cachorro havia estraçalhado-o. Claro que Beth soube de imediato que era mentira, já que nunca tive um cachorro. De qualquer forma, Beth disse que eu poderia ficar com o livro, desde que eu parasse de dizer  mentiras, pois sou péssimas em dizê-las.

Isso aconteceu quando eu tinha apenas 12 anos. A partir daí, a biblioteca virou minha segunda casa.

Percebi o olhar de Andrew as minhas costas, já que eu ainda estava com o livro em mãos, admirando-o e imersa nas lembranças.

— Morro dos Ventos Uivantes? — indagou Andrew; sentia seu hálito quente bater contra minha pele da nuca exposta.

Assenti.

— Já leu?

— É, algumas vezes. — mesmo ainda de costas para ele, sabia que havia acabado de dar de ombros, com sua expressão que dizia "não é grande coisa."

— Mesmo? — virei o corpo nos calcanhares, trazendo o livro para perto do meu peito — qual sua parte preferida, então?

— Bem, você sabe... aquela parte.

— Não, não sei. Pode ser um pouco mais específico?

— Isso não importa agora. O que importa é que eu já li o livro.

— Claro. — reviro os olhos, devolvendo o livro para o seu antigo lugar.

— Então me conte a sua parte preferida. — ele disse, as sobrancelhas arqueadas e um sorriso torto nos lábios.

— Não! — exclamei — você não quer saber! É bobo e... argh.

— Por favor. — ele esticou o braço esquerdo, trazendo em sua mão novamente o livro, entregando-me em seguida — é apenas uma citação, certo?

— Ok, ok — cedi, abrindo o livro procurando pela página certa — apenas uma citação. — folheei o livro por alguns longos segundos e quase ao ponto de desistir, achei a página e o parágrafo certo. Pigarreei antes de começar: — "[...] por isso ele nunca há de saber o quanto o amo: e não porque ele seja belo, Nelly, mas por ele ser mais eu do que eu própria. Não sei do que são feitas as nossas almas, mas elas são iguais..."

— É isso? — indagou Andrew enfim, após alguns segundos em silêncio enquanto observava-me com atenção, o polegar sob os lábios — Frase de efeito, a última.

— É, acho que sim. — eu disse, sentindo-me estranhamente tristonha, sem motivo aparente. Devolvi o livro a pratelereira calmamente, suspirando em seguida.

— Uau, estou com fome.

— Isso é ruim. — murmurei.

— Quer subir? Podemos chamar o serviço de quarto.

Assenti, seguindo silenciosamente em direção à entrada da vazia e silenciosa livraria. Andrew caminhava logo atrás de mim, estava em silêncio também.

— "[...] Os grandes desgostos que tive foram os desgostos de Heathcliff — disse Andrew de repente às minhas costas, fazendo-me parar de forma abrupta; sem virar-me, apenas disposta a continuar a ouvi-lo — e eu senti cada um deles desde o início: o que me faz viver é ele. Se tudo o mais acabasse e ele permanecesse, eu continuaria a existir; e, se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, eu não me sentiria mais parte do universo..."

— O que... — comecei enquanto virava o corpo lentamente para olhá-lo.

— É isso. — interrompeu-me — essa é minha parte preferida.

***

Passava das 21h00 quando um funcionário do hotel veio ao nosso quarto com um panfleto na mão. O que estava impresso ali era apenas um convite para um luau que ocorreria no último dia do ano, para comemorar a virada do ano.

Meu Deus, pensei, quem seria louco o suficiente para ir à praia em pleno Dezembro?

Após um sorriso e um breve "obrigada", Andrew roubou o panfleto de mim, analisando-o cuidadosamente. Quando seus olhos voltaram-se ao meu rosto, eu sabia o que estava planejando.

— Que tal? — ele levantou o panfleto, mostrando-me as palavras impressas em amarelo escritas "luau" — areia, fogueira, biquínis, pessoas desconhecidas... vai ser legal.

— Não, não vai. — repliquei, envolvendo mais uma vez o cobertor sobre meus ombros.

— Cadê a garota com espírito aventureiro desta manhã?

— Espírito aventureiro? Nem podemos sair do hotel. Deve estar pelo menos dezessete graus lá fora.

— Não é assim tão frio. — retrucou.

— Mas não é uma temperatura adequada quando se planeja ir a um luau, concorda?

— Em relação a temperatura, eu dou um jeito.

— Claro. — eu disse, voltando rapidamente para a cama, direcionando minha atenção à TV mais uma vez. Passava episódios da minha mais nova série preferida: Friends.

— Estou falando sério, posso resolver essas coisas facilmente.

Lembrei-me de uma conversa que tive com Jacob há um tempo atrás. Ele disse que anjos podem controlar o que querem. Nesse caso, Andrew é um demônio... metade anjo, mas ainda assim.

— Ok, então — eu disse, suspirando em seguida — se quer tanto ir, nós vamos.

— Ótimo. — Andrew disse, como se já soubesse qual seria a resposta.

Andrew deitou-se ao meu lado em um movimento súbito, fazendo-me assustar-me com o ato. Logo estava ao meu lado na cama, enquanto eu permanecia ali: sentada, compenetrada na TV e tentando manter-se aquecida, ainda com o cobertor sobre os ombros.

— O que isso? — indagou — Friends?

Assenti em silêncio.

— É uma série legal — murmurou — qual é mesmo o episódio em que Ross e Rachel se beijam?

Virei o rosto no mesmo momento para encará-lo.

— Eles se beijam? — perguntei.

— Você não sabia? — meneei a cabeça discordando, em seguida, Andrew assumiu um sorriso cínico e debochado no rosto e levando as mãos à boca disse: — opa!

Joguei-lhe a almofada no rosto, enquanto ouvia sua risada preencher o cômodo.

***

Na manhã seguinte, a temperatura já estava um pouco melhor. Talvez uns vinte graus. Com o clima, podíamos ir finalmente à praia. Acordamos cedo, mas ficamos deitados por quase uma hora na cama, observando o teto e conversando. Ultimamente, era isso que fazíamos o tempo inteiro: conversar. E era bom. Conhecê-lo mais e mais estava sendo interessante.

Levantamos por volta das 09h00 e comemos um pouco no restaurante. Em seguida, finalmente fomos à praia, onde achamos um vendedor ambulante vendendo biquínis. Andrew insistiu para que comprasse um e de qualquer maneira, não seria conveniente se eu continuasse de shorts e regata.

A areia estava quente embaixo dos meus pés. Recusei em ficar mais próxima do mar. Não estava com vontade de mergulhar, então ficamos caminhando por algum tempo, enquanto Andrew ajudava-me na procura de conchas.

Em algum momento, nos sentamos sob um pano que trouxemos do hotel. Ficamos debaixo de uma palmeira, saboreando a escassa sombra que ela proporcionava. Por sorte, o vendedor também nos vendeu um protetor solar e, eu não queria ficar queimada na primeira vez em que eu saía do hotel.

Após passar por quase todo o meu corpo, inclusive no rosto, pedi que Andrew passasse o resto de protetor nas minhas costas. Vi certo desconforto em seu rosto quando entreguei-lhe o frasco do protetor solar.

— Está tudo bem? — indaguei — bom, se não quiser, posso tentar fazer um pouco de contorcionismo, mas...

— Não — interrompeu-me — não é isso. Sente-se logo aqui. — pediu, apontando para a frente dele.

Obedeci. Andrew abriu um pouco as pernas e assim, sentei-me em meio a elas. Um pouco distante, mas perto o suficiente para que ele fizesse o trabalho.

— Não quer que eu faça o mesmo em você? — indaguei.

— Não — respondeu — fico bronzeado apenas se eu quiser.

— Já sei: vantagem de ser metade anjo?

— Exatamente. — após alguns segundos, suas mãos voltaram às minhas omoplatas, permanecendo ali por algum tempo; seus polegares faziam círculos calmos e modestos ali mesmo, na minha pele, quase como uma massagem — ok, seu suéter está pronto.

Suas mãos continuaram ali por mais alguns longos segundos, até finalmente afastar-se abruptamente. De relance, vi que havia deitado-se sob o tecido colorido. Afastei-me de suas pernas, sentando-me ao seu lado, permitindo-me em seguida a observá-lo. Seus olhos estavam fechados, então não saberia se eu estava mesmo observando-o ou não.

Estava sem camiseta, então olhei atentamente suas confusas tatuagens. Em seguida, fitei sua barriga e vi a falta de um detalhe. Bizarro, se visto da primeira vez.

— Você não tem umbigo! — exclamei, um pouco alto demais, levando meus dedos de encontro à sua pele da barriga.

— É — murmurou, indiferente.

— Por que?

— Porque não fui gerado em um ventre.

Em silêncio e ainda digerindo sua resposta um tanto curta, encarei as minhas pegadas ainda visíveis na areia. Percebi também que, Andrew não deixou pegadas. Nenhuma.

— Você também não deixa pegadas? — perguntei, virando o rosto para olhá-lo, mesmo sabendo que ele continuaria com os olhos fechados.

— É. Dessa vez, não sei explicar o porquê.

Meneei a cabeça, fazendo-a repousar sob o peito de Andrew. Meu queixo estava sobre minha mão e meu rosto ainda estava com a total atenção nele. Sabia que era um ato um tanto arriscado ou quem sabe, íntimo, mas simplesmente não importei-me. Se formos para lidarmos com problemas, que seja depois.

— Você não sangra, não deixa pegadas e não tem umbigo — eu disse, lembrando-me da promessa maluca que Andrew me fez há um tempo atrás: levar-me aos 9 círculos no submundo. Lembro-me de ter dito para fazermos um juramento de sangue, mas Andrew estragou o momento dizendo que não tinha sangue. Então, fizemos o juramento usando saliva.

— É — ele disse, a voz soando sonolenta — Isso me faz perder o charme?

— Não — respondi — é peculiar. De qualquer forma, melhor esconder a sua bizarrice falta de umbigo. Imagine se outra pessoa passe por perto e perceba?

— Não há ninguém por perto — respondeu. Olhei em volta, apenas para certificar e ele estava certo; estávamos em uma área afastada, apenas algumas pessoas estavam na praia, ao longe — e não há como alguém reparar na minha falta de umbigo, já que você está relativamente em cima de mim.

— É um problema para você?

— Não. Continue onde está.

Sorri, tornando a observar as tatuagens em seus braços, no pescoço, nos seus dedos... o silêncio nos pairava, apesar de que eu não quisesse que permanecessemos assim.

— Quer falar sobre o quê? — Andrew indagou, como se adivinhasse meus pensamentos.

Pensei por um momento.

— Literatura?

Andrew abriu os olhos brevemente, olhou rapidamente antes de responder com um sorrisinho prestes a surgir:

— Está bem. Literatura.



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