1. Spirit Fanfics >
  2. Meu Carma >
  3. Meia-noite

História Meu Carma - Meia-noite


Escrita por: Lyv__

Notas do Autor


Desculpem se tiver algum erro.

Capítulo 27 - Meia-noite


Era a noite do luau. 31 de Dezembro. Vesti um vestido branco com alças finas. Roubei de Margot no ano passado. Era um vestido bonito, mas não o tipo que eu usaria. De qualquer forma, resolvi usá-lo por ser dia 31, ir a um luau e claro, estar em uma praia.

Eu estava trancada no banheiro do quarto. Na saleta, sabia que Andrew estava lá devido a música que soava relativamente baixa. Já estava dentro daquele cubículo um tanto abafado por mais ou menos 30 minutos. Tentei arriscar-me a usar maquiagem, mas não havia dado certo. Em meio a tantas desistências, optei apenas por um batom.

Sequei os cabelos e consegui prendê-lo de uma forma bonita e adequada, que combinasse com o vestido. Quando finalmente senti-me pronta, abri a porta e saí, sentindo o clima frio, se comparado à temperatura do banheiro.

Passava das 19h00. Olhei de relance pela portinha da varanda e vi um céu escuro, sem nuvens. Uma noite perfeita. Talvez Andrew tivesse usado suas vantagens de ser metade anjo e realmente interferiu no clima da noite. Não estava quente nem frio, apenas uma temperatura agradável o suficiente para estar em uma praia.

Antes de adentrar a saleta, bati meu pé com as sandálias no piso encerado e pigarreei, esperando que a atenção de Andrew estivesse em mim. Ele estava sentado em uma poltrona, os olhos fechados e o queixo apoiado sobre a mão direita; sua cabeça balançava levemente com o ritmo da música — um rock. Talvez punk.

— Acho que podemos ir. — eu disse, já que Andrew não havia notado minha presença.

Seus olhos finalmente abriram-se e permaceram em mim por alguns segundos. Silêncio.

— Ahn... — murmurou, pondo-se de pé — ok, vamos.

Por um breve momento, achei ter visto um resquício de rubor em seu rosto, mas não pude comprovar tal fato já que Andrew encontrava-se de costas quase no mesmo instante em que levantou-se, abrindo a porta rapidamente.

O segui porta afora. Andrew deixou o som do quarto ligado, mas quanto a isso, decidi não indagar sobre. A viagem curta do elevador até ao térreo foi silenciosa, exceto pela musiquinha irritante que tocava lá dentro. Continuamos em silêncio por todo o caminho em direção à praia, que parecia agora tão próxima do hotel.

O silêncio que nos pairava não era acolhedor ou reconfortante. Era totalmente o oposto. Parecia haver uma certa pressão e, uma hora ou outra, previa que iria nos esmagar.

Tirei as sandálias dos pés antes de pisarmos na areia. Com as tiras envoltas aos meus dedos, aproximei-me instintivamente de Andrew ao ver uma fogueira com pessoas em volta. Achei que tínhamos chegado cedo, mas enganei-me ao ver o grupo vestido em roupas de estampas havaianas dançando.

— Está tudo bem? — indaguei, quebrando o silêncio.

— Sim, está. — sua resposta quase foi impossível de ser ouvida, já que quanto mais avançavamos, mais a música ficava alta.

Antes de estarmos perto da fogueira, uma mulher loira nos parou. Seus olhos claro eram doces, juntamente com seu sorriso caloroso. Em seus braços, pendiam vários colares de flores.

— Bem vindos ao luau! — exclamou ela — querem um colar?

Olhei em volta e percebi que todos usavam os colares coloridos e extravagantes. Certamente não era algo que eu gostaria de usar.

— Bom, há algo além dos colares? — indaguei, um tanto tímida.

— Que tal uma coroa? — ela tirou uma coroa de flores da bolsa que carregava, que até então eu não havia notado a presença. Antes que eu tivesse chance da resposta, ela colocou a coroa em minha cabeça sem qualquer cerimônia — ficou linda em você!

— Tudo bem, eu fico com ela.

— Um dólar. — de repente, seu sorriso caloroso não parecia mais ser tão caloroso assim.

— Eu pago. — manifestou-se Andrew, tirando uma nota do bolso de sua calça jeans escura.

— Que cavalheiro! — observou a mulher — desculpem a pergunta, mas vocês são britânicos?

Assenti sentindo-me amuada.

— Ah — exclamou ela mais uma vez — seu sotaque é tão adorável! É a primeira vez de vocês em Jacksonville?

— Sim. — respondeu Andrew — estamos de férias, já estive nos Estados Unidos algumas vezes, então achei que seria interessante trazer minha namorada para conhecer a Flórida.

Senti meu coração bater um pouco mais rápido em meu peito. Namorada. Foi isso mesmo que ele disse?

— Ótimo. — disse a mulher com um o rosto iluminado pela resposta de Andrew — Espero que gostem da estadia de vocês e também, claro, do luau.

Andrew assentiu enquanto sentia sua mão em minhas costas, conduzindo-me para longe da mulher. Com um aceno rápido, fomos em direção à uma rocha alta, sendo na verdade, bastante afastada da fogueira, das tochas e das pessoas que ainda dançavam.

Nos sentamos na areia, um ao lado do outro, as costas recostadas sobre uma palmeira. Mais algumas pessoas chegavam e continuamos ali, observando.

— Você está estranho. — eu disse baixinho. 

— Eu sou assim.

— Quis dizer que está mais estranho que o normal.

— Impressão sua.

Suspirei.

— Então sou sua namorada? — não pude conter o sorriso. — Quero um pedido adequado.

— Não espere atitudes normais vindas de mim.

— Decepção. — murmurei.

Andrew sorriu, aproximando-se mais um pouco.

— Mas haverá um pedido? — insisti.

— Que tal mudarmos de assunto?

— Ok — respondi, amuada — então que tal conversarmos sobre o assunto que vem evitando?

— Qual assunto?

— Sobre o qual você estava conversando com Noah, na minha casa.

Foi a vez de Andrew suspirar.

— Você é irritante. — sua mão pousou em meu joelho exposto.

— E você é um idiota, mas não reclamo.

— Eu sou um idiota?

— Não mude de assunto.

— Foi você que me chamou de idiota.

— Do que você estava falando com Noah, Andrew?

— Ok, ok — revirou os olhos — o assunto que estávamos conversando era o mesmo que conversei com Asher.

Lembrei-me da noite na estufa, quando conheci Asher e ouvi boa parte da conversa.

— O assunto tratava-se de você — continuou — os anjos da morte suspeitam a sua localização. Suspeitam que você esteja comigo.

Respirei fundo.

— É por isso que estamos aqui?

Andrew assentiu.

— Eu estava planejando a viagem já havia alguns dias — apertou levemente meu joelho — apenas adiantei a data.

— Claro. — aproximei-me mais um pouco, recostando minha cabeça em seu ombro em seguida.

— Apenas não se preocupe.

Assenti em silêncio, observando seus dedos sob minha pele.

***

Uma bandinha tocava músicas lentas enquanto casais bêbados dançavam aos tropeços na areia branca. Andrew e eu ríamos das tentativas falhas dos casais. Uma garrafa de destilado que Andrew havia conseguido roubar de uma das mesas repletas de comida, estava ao nosso lado.

Ainda estávamos sentados, mas começava a sentir-me desconfortável. Precisava andar um pouco, esticar as pernas. Caso contrário, logo elas estariam formigando.

Levantei-me meio zonza, trazendo a garrafa quase vazia em minha mão. Passei minha outra mão vaga sobre o tecido branco do vestido já amarrotado, tentando retirar os resquícios de grãos de areia.

— Onde vai? — indagou Andrew, em meio a um sorriso.

— Caminhar. Estou precisando. — respondi fazendo uma careta ao sentir a dor momentânea nas minhas pernas.

— Você por acaso é hiperativa?

— Pode continuar aí se quiser.

— Eu vou com você. — levantou-se, ignorando a areia presa em sua calça.

Contornamos a rocha alta, caminhando pelo o restante da praia, dessa vez completamente vazia do outro lado. A maré estava alta. O barulho das ondas chocando-se contra a areia da praia era recofortante.

Um vento batia contra nosso corpo. Ainda estávamos ao lado um do outro, caminhando calmamente. Meus pés afundavam na areia branca a cada passo.

— Ainda não acredito que essa coroa custou um dólar. — ele disse, direcionando o olhar para a coroa ainda sobre minha cabeça.

— Bom, posso devolvê-la.

— De jeito nenhum! — exclamou — estou querendo dizer que não deveriam cobrar por um objeto simples.

— Isso se chama capitalismo — eu disse, fazendo Andrew revirar os olhos em seguida — claro que, se eu fizesse cordões e coroas de flores, também saíria por aí vendendo.

— Humanos. — murmurou — Sempre tão engraçados.

Empurrei-o de leve, fazendo-o sorrir.

— Eu diria que somos fascinantes.

— Alguns de vocês, certamente.

— Claro. — concordei — Alguns.

— Acho engraçado a mania de vocês darem apelidos as outras.

— Apelidos? Você nunca teve um?

— Não sei. E você?

— Nunca. — respondi convicta. E era verdade. — E o seu "não sei"? Qual era seu apelido?

Andrew assumiu uma expressão sombria, fazendo-me prender a respiração por alguns segundos.

— Quando eu era um anjo — respondeu, calmamente — meus irmãos chamavam-me de Andy.

Andy. Bem no fundo, onde minhas memórias da minha vida passada ainda viviam, eu soube que esse apelido havia sido proferido por mim. Muitas vezes. Tentei recordar-me pelo menos uma cena vívida, mas parecia tão difícil no momento.

— Se quiser — prosseguiu — pode me chamar assim.

— Tem certeza? — assentiu. Consegui sorrir — tudo bem. Andy.

***

Estava próximo da meia-noite. Faltava apenas alguns segundos para os fogos. Continuávamos um tanto afastados do luau, do lado oposto da rocha, onde não havia ninguém, apenas eu e ele. Ainda podíamos ouvir as risadas, a música e a contagem para os fogos.

Olhei de relance para Andrew, que estava sentado próximo à rocha. Sua expressão mostrava o quanto estava entediado, mas resolvi ignorá-lo. Tornei meus olhos ao céu, esperando ansiosamente para finalmente ver os fogos coloridos.

Ouvi os gritos animados das pessoas do outro lado: 5, 4, 3, 2, 1...

E aconteceu. Os fogos apareceram. Coloridos, iluminando o céu escuro. Pareciam sumir no horizonte. Era lindo vê-los.

Com um aperto repentino no peito, lembrei-me da minha mãe, Lucy, Beth e dos meus amigos. Era a primeira virada do ano que eu não estava com eles, abraçando-os e dizendo aquela frase alegre "feliz ano novo." Meu celular estava no hotel e xinguei-me mentalmente por isso. Era para eu estar mandando inúmera mensagens a Margot, Lucy e Chris. Depois, eu ligaria para Lucy para saber notícias da minha mãe e minha avó.

Segurei as lágrimas. Com certeza, não é agora eu vou sentir-me triste e nostálgica, apesar que a dor da saudade esteja sufocando-me no momento. Vou manter-me forte e despreocupada, até que esse pesadelo chegue ao fim.

Mal percebi que a sessão dos fogos havia cessado. Durara tão pouco tempo e em seguida, veio a decepção. Virei o corpo lentamente e sentei-me novamente ao lado de Andrew, assumindo também a famosa expressão de tédio.

Com as pernas cruzadas, apoiei meu cotovelo sobre meu joelho e o queixo sobre minha mão. Suspirei, de forma áspera e audível. Acho que era o momento exato para voltarmos ao hotel e com certeza Andrew irá concordar.

— Então... — comecei — vamos?

— Não quer ficar mais um pouco?

— Não. Os fogos acabaram.

— Fogos? — vi a confusão em seu rosto — porque vocês soltam fogos no final do ano?

— Eu não sei. — admiti — Apenas uma comemoração. Um ano termina, enquanto outro se inicia, por isso os fogos.

— Confuso — disse ele, levando o dedos indicador e polegar ao queixo — e estranho. Até mesmo desnecessário. De qualquer forma, vocês humanos são engraçados por tudo que fazem.

— Por favor — choraminguei — não comece com suas falas estranhas sobre os — fiz aspas com os dedos no ar — "humanos." Fala como se fosse um alien visitando a Terra pela primeira vez.

— Tudo bem — levantou-se em seguida — vamos logo. Preciso dormir.

Enquanto levantava, olhei para suas calças negras ainda repleta de areia branca. Tive que conter uma risada. Andrew começou a afastar-se e o segui, pronta para começar com minhas perguntas.

— Por que veio usando uma calça para a praia?

— Porque não quero mostrar minhas pernas exageradamente brancas para as outras pessoas. Pelo menos de novo não. — respondeu.

Lembrei-me da primeira vez que saímos do hotel. No dia, Andrew estava vestido em um short claro de tecido fino. Foi engraçado vê-lo assim.

— Ok. — eu disse, percebendo em seguida que minhas perguntas sobre suas pernas haviam evaporado-se.

Andrew parou abruptamente, olhando a enorme rocha ao nosso lado. Sem qualquer palavra, retornou seus passos à rocha, sumindo atrás dela.

— Andrew? — gritei preocupada — onde você vai?

— Preciso fazer algo libertador. — gritou de volta, sem explicar, como se isso fosse o bastante para acalmar-me.

Em poucos segundos, vi Andrew em pé sobre a rocha. Seus cabelos mexiam-se sem parar devido o vento que não cessava. Seus passos eram firmes e decididos. Mais e mais estava próximo da beirada.

— Andrew — gritei exasperada — o que vai fazer?

Andrew não respondeu e, dando mais um passo, se jogou. Fechei os olhos no mesmo instante, esperando pelo o pior. Em vez disso, ouvi um barulho de tecido rasgando-se. Abri os olhos lentamente, imaginando o corpo de Andrew estirado sobre as pedras potiagudas no solo, mas ele não estava ali.

Olhei para o céu e estranhei nuvens escuras cobrindo a praia. Antes elas não estavam ali. E, em um piscar de olhos, ele estava na minha frente. Suas asas negras eram simplesmente enormes. Pareciam reluzir sobre a luz escassa da lua. Andrew encontrava-se sem sua camisa, que fora rasgada por suas asas.

— Isso é muito bom! — exclamou ele, olhando para sua asa esquerda — elas precisavam de um exercício.

Boquiaberta, aproximei-me sem cerimônia e sem qualquer consentimento, toquei na sua asa direita. Precisava dizer a mim mesma que elas eram reais. As penas eram macias e aquilo assustou-me um pouco. Toquei mais uma vez, sentindo-a encolher de repente.

— Vai com calma. — disse Andrew, olhando atentamente para sua asa — elas são sensíveis.

— Isso é estranho. Meu Deus, isso é muito estranho.

— Porque?

— Você tem duas asas enormes!

— Nunca as escondi de você.

— Eu sei, eu sei. Já as tinha visto em meu quarto quando nos encontramos pela primeira vez. Mas vê-las agora... é estranho.

— Estranho ruim?

— Um estranho bom. Mas ainda assim, aparentam serem amedrontadoras.

Andrew sorriu, dando um passo à frente.

— Katherine reagiu bem quando as viu. — ele disse, ainda sorrindo.

— Bom, talvez haja aí um erro. Talvez eu não seja a Katherine... quero dizer... — respirei fundo, tentando reorganizar minhas ideias — talvez eu não seja a Katherine por não sermos iguais.

Andrew inclinou a cabeça para o lado. Sobrancelhas juntas e os olhos levemente semicerrados, indicava que estava confuso.

— Não sabe o que está dizendo. — ele disse, dando um passo atrás — Você é idêntica a ela. Não muito na aparência, claro. Mas a personalidade é a mesma. A mesma personalidade e essência que fizeram-me apaixonar por você há anos atrás.

Meu Deus, pensei, porque mesmo estamos discutindo isso agora?

— Andy — eu disse, dando um passo a frente e percebendo o quão estranho era seu apelido sair da minha boca — acho que vai ser um pouco difícil de entender... — segurei suas mãos fortemente nas minhas — é claro que eu ainda sou a Katherine. É estranho para mim, porém eu tenho as memórias dela e carrego um sentimento confuso por você, o que pode ser uma grande coisa. Ainda há uma Katherine dentro de mim, mas acima de tudo, eu sou a Amy. A estranha e sarcástica Amy. — Andrew sorriu — estamos em um outro contexto aqui. Outra história. Está tudo diferente e você sabe disso. Então, me prometa, que nunca mais irá me comparar a Katherine. Quero que goste de mim pelo o que eu sou agora: a Amy. Apenas isso, ok?

Amuado, Andrew assentiu, aproximando-se mais um pouco.

— Ótimo. — eu disse. — agora esconda suas asas, precisamos voltar.

Sem dizer nada, Andrew puxou-me para si. Nossos corpos estavam extremamente juntos. Sem avisar-me, suas asas mexeram-se rapidamente e em segundos, eu não sentia mais meus pés na areia da praia. Olhei de relance para baixo, ignorando meu medo de altura, e vi a enorme rocha diminuindo à medida que subíamos.

— O ponto é — Andrew sussurrou próximo ao meu ouvido — eu amo você exatamente como é agora, sendo apenas a Amy.

Envolvi meus braços em sua nuca fortemente, suprindo meu medo de cair.

— Espera. — eu disse atônita — O que você disse?

— Eu amo você. — tornou a dizer. — Eu amo você, Amy Mayhew.

Respirei fundo, deixando que o sorriso bobo viesse à tona e ocupasse meus lábios. Seus olhos brilhavam e mesmo que fosse impossível, sentia que estávamos em um lugar apenas nosso: próximos a lua. Próximos aos anjos.

— Sabe o que nós humanos fazemos no ano-novo? — indaguei e Andrew meneou a cabeça, discordando — nos beijamos. Dizem que se beijarmos alguém na virada do ano, ficamos com sorte durante todo o resto do ano que se inicia.

— Você sabe que não precisa inventar tudo isso para me beijar, certo? — replicou sorrindo.

E sem dizer mais alguma palavra, nos beijamos. Um beijo lento e compassado, que dizia em silêncio todas as palavras antes não ditas. E qualquer insegurança ou medo findaram ali.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...