História Meu gatinho - Segundo

Félix sentou-se no sofá, desfrutava do seu suco de maçã enquanto tinha alguns segundos sem o grude de Bridgette. O rabo de Adrien abanava freneticamente demonstrando sua felicidade por estar entre aquelas pessoas. Ainda na forma de gato, as patinhas seguravam um pedaço de pizza que Marinette havia lhe dado junto de um pratinho, tudo cortado em pequenos quadrados. Era educado, não queria sujar o sofá e acabar levando uma bronca, estava fazendo tudo direitinho para que pudesse cativar as meninas.

— Pelo que entendi da história, agora terão de cuidar de um gato. — suspirou aliviado — Que problemático hein? Achei que fosse um cara.

— Não reclame que tu vais nos levar amanhã para fazer compras. — cantarolou a morena.

— Eu o que?  Sério isso? Bridgette não me envolva nos seus planos, por favor. Eu tenho mais o que fazer.

— Achei que tivesse uma dívida comigo. Que pena! — sorriu vitoriosa enquanto fingia dar atenção às suas unhas.

Félix pegou uma almofada e bateu na sua própria cara querendo saber se conseguia se sufocar. Ela tinha razão, maldita hora para se pedir um favor. Resmungou alguns palavrões e virou a cara, tentando terminar seu suco e poder, enfim,  ir embora. Queria poder dormir em paz aquela noite, recarregar a bateria emocional e corporal para o possível banho de loja que a louca preparava.

— Então, como eu estava dizendo. — virou-se para a irmã que apareceu com um copo de água — Félix vai nos levar amanhã para fazer compras para Adrien. — ela o fuzilou com o olhar, sabia que acabara de dobrar o indomável Agreste — Já que seu pai é dono da empresa de roupas mais famosa de Paris.

— Só acho que está tirando proveito do meu status para o que quiser, não? — resmungou irritado, ainda não entendera quem era Adrien, se era o gato ou um possível cara que elas botaram dentro de casa e até agora ainda não havia visto.

— Exato. — passou o dedo no queixo dele — Aproveitar também para termos um encontro descente, já que a senhorita Marinette estragou o outro. — alfinetou-a.

Mari se encolheu envergonhada ao lembrar-se do fiasco do que seria o possível encontro da irmã com Félix. Fora na semana anterior, sua irmã havia arrastado o coitado para uma sorveteria. Marinette estava passando ali no momento e acabou por tropeçar no vento e cair em cima do loiro, com sorvete e tudo. E lá se foi ao chão a chance de Bridgette, já que Félix, irritado, foi embora e passou dois dias sem dar notícias às duas.

— Por favor, sem detalhes. — riu nervosa, Félix só faltou mata-la no dia — Então, que horas poderemos sair? Eu tenho que adiantar um trabalho para segunda. — suspirou, já estava cansada só de se imaginar fazendo o bendito do trabalho.

— Depois do almoço, creio eu.

— Tá, por mim tudo bem. — resmungou o outro. Levantou-se e foi até a cozinha pegar mais suco. Bridgette o seguiu.

Marinette sorriu, era engraçado como eles formavam um casal, mesmo não sendo oficial só na cabeça da irmã mesmo. Sentiu o rabo negro de Adrien enroscar em sua canela, pegou-o no colo e o fez carinho na cabeça. O ronronar dele a fez sorrir mais.

— Por que tu não voltas ao normal? — perguntou.

As orelhas do felino captaram a pergunta. Adrien pulou do seu colo para o chão, e um brilho esverdeado o encobriu, cegando a garota por alguns segundos. Os cabelos loiros dele pareciam um pouco mais secos, levou a mão esquerda até a própria bochecha, coçando-a como um gato faz. Estava de joelhos no tapete, observando tudo ao redor.

— Mas o que…

Marinette ficou muda, as bochechas ficaram tão vermelhas que ela achou que pudesse explodir de tanta vergonha. Adrien inclinou a cabeça, estava olhando-a curioso, tentando descobrir porque todo aquele silêncio dela. O coitado estava mais que acostumado a andar na sua forma animal, então não se preocupava muito com roupas. Quando estava no frio, não conseguiu mais segurar a sua própria transformação, o que o levou a se enrolar na capa. Agora estava ali, nu na sala da sua salvadora.

— AAAAAH! SE VISTA! — jogou a mochila de Félix nele e virou-se bruscamente para trás, esquecendo que ainda estava no sofá. Acabou caindo com tudo no chão — MERDA!

Adrien se desesperou, olhava para a mochila e para ela. Resolveu correr para o banheiro e se vestir antes que Bridgette e Félix o vissem nu em pelo.

Marinette mal podia esperar pelo que viveria com aquele gatinho.

.x.

O dia passava lentamente. Bridgette havia deixado que a irmã dormisse mais que o costume, já que parecia bem cansada da noite anterior. Depois do escândalo, Bridgette e Félix correram da cozinha para saber o que houve, mas Marinette já havia se trancado no quarto. O loiro suspirou e resolveu que era melhor ir para a casa antes que aquelas duas o levassem à loucura.

Bridgette havia arrumado Adrien, assim que este saiu do banheiro, já que não conseguira se vestir direito.

Marinette não saíra do quarto desde a noite anterior, pois acabara dormindo. Agora, ela estava agarrada em seus lençóis imaginando que tudo que vivera fora apenas um sonho.

— MARINETTE! — gritou Bridgette.

A garota levantou de repente apalpando o colchão a procura de algo que não sabia o que era, acabou se desequilibrando e caindo no chão. Ela ficou uns segundos deitada em uma posição engraçada, vendo a irmã de pé vestindo uma blusa azul calmamente.

— E se eu te dissesse que eu não sinto meu pescoço? Devo ligar para a ambulância?

— Não, apenas se levante antes que mate o coitado do Adrien. — riu.

Um miado esganiçado soou em baixo da garota, com um gritinho agudo ela levantou-se rapidamente, já puxando o felino no colo pedindo desculpas.

Bridgette balançou a cabeça e foi até a sala, onde um Félix emburrado estava.

— E? — ele disse. Estava sentado no sofá com os braços cruzados, odiava ter que desperdiçar seu dia para ir comprar roupas, ainda mais com aquelas duas.

— Ela acabou de acordar. — sentou-se ao lado dele.

— Não acredito. Se não fosse por essa dívida maldita eu estaria em casa dormindo.

— Para de reclamar.

Ela ligou a tv e deitou-se no colo de Félix, este nem reclamou, tentando focar em algum programa qualquer. Teriam de esperar para que Mari se arrumasse e ajudasse Adrien, que parecia estar meio desnorteado com as roupas que recebera.

— Pronto. — ela disse assim que terminou de enxugar os cabelos loiros dele. Adrien estava vestindo apenas uma calça preta, faltava enxugar seu peitoral que ainda tinham algumas gotas escorrendo, mas ela preferiu que ele o fizesse sozinho. O garoto não soube por que — Eu vou ver o que Bibi fez para o almoço e logo eu volto, ok?

O loiro acenou e voltou a olhar a toalha que estava em suas mãos. Estava mais do que agradecido pelo carinho e hospitalidade com que era recebido naquela casa. Marinette o ajudou demais e ainda fazia questão de cuidar dos mínimos detalhes para ele. Não queria atrapalhar ela, mas também não queria ir embora. Ele não sabia até que ponto estava sendo egocêntrico.

Suspirou, ela até mesmo fez questão de ajudar a cuidar de um hematoma que achou nas costas do garoto. Ela tinha uma caixinha de primeiros socorros no banheiro com diversas pomadas, usara uma delas para passar no local afetado. Ele estava grato, não sentia mais aquela pontada que o vinha incomodando tanto na forma humana.

— Venha, Bibi preparou macarronada com legumes. Tem suco de morango também. — abriu a porta do quarto — Espero que coma, tu estás pálido e precisa ingerir bastante vitamina.

Ele já vestira a blusa cinza com estampa negra de um dragão nas costas. Passou a mão nos cabelos para arrumar as mechas loiras e seguiu a morena até a cozinha.

— Quem é ele?

Félix disse em tom de surpresa e confusão ao ver Mari puxar o rapaz. Havia visto apenas um gato na noite anterior, e não um jovem de aproximadamente a mesma idade de Marinette. Certo que estava confuso ainda com a história que Bridgette havia lhe dito, mas parece que agora estava ainda mais desnorteado. Bridgette resmungou algo, tinha esquecido se de relatar aquele detalhe ao outro.

— É o Adrien, aquele gato de ontem. De alguma forma ele pode se transformar. — puxou-o de volta ao sofá — Depois eu te explico melhor, aliás, nem eu sei sobre como ele faz isso.

— Bridgette! É sério que estás me falando? Tem um cara na sua casa e tu vais o deixar dormir aqui? Com duas garotas? Ele se transforma em gato! Quem me garante que não vai ataca-las quando estiverem dormindo?

— Félix, para de nóia! Sério que está dizendo isso para mim? Poupe-me, poupe-se, poupe-nos. Eu sei me cuidar e tu sabes muito bem disso. Ou quem acha que quebrou seu braço depois da última gracinha que Vossa senhoria arriscou para cima de mim? — disse ela com um sorriso vitorioso — Ele é um humano, mas também um gatinho, e sabe muito bem se comportar, diferente de certas pessoas escandalosas.

Bridgette o fez ficar calado, era um dom somente dela de poder domar o grande e famoso Félix Agreste. Adrien ao ouvir o discurso dela para defendê-lo, inflou o peito todo orgulhoso. Sabia que agir com cavalheirismo iria cativa-las rapidamente.

— Ele não tem para onde ir, Mari está fazendo uma boa ação, não consegue ver isso? — deu um peteleco na testa dele, que ficou resmungando algo baixinho — E quem sabe essa história toda acaba com ele sendo meu cunhado? — disse baixinho.

— Acho muito difícil. Pare de imaginar besteiras, garota.

— Que seja. Eu aposto minhas cartas nessa ideia. — falou mais para si mesma do que para Félix — Se de alguma forma tu te voltares contra nosso Adrienzinho, eu vou tatuar minha mão na sua bochecha caríssima de modelo de capa de revista.

Félix a olhava incrédulo. Ver Bridgette defender um estranho com poderes sobrenaturais era totalmente fora do comum. Era para ela estar do seu lado e pôr na cabeça de Marinette que abrigar aquele… coiso era perigoso. Mas lógico que não queria por em risco a sua bochecha caríssima de modelo de capa de revista. Por mais que fizesse aulas de esgrima, krav maga e manjasse tudo de golpes de defesa pessoal, ele nunca estaria preparado para levar uma tapa dela.

Sabia por experiência própria.

— E como eu vou saber se estará tudo bem? — resmungou tentando controlar a voz irritada.

— Visitando-me todo dia? — sorriu ela toda sonhadora.

— Visitando as duas, quis dizer, não?

— Aff, tu és muito difícil.

— Sou apenas eu.

Marinette estava ali atrás deles, ouvindo metade da conversa. Aquelas briguinhas deles entediava-a muito. Será que eles nunca se tocariam que ambos sentiam ciúmes? Às vezes a vontade de amarra-los juntos e sozinhos era tentadora, e muita.

— Parecem duas crianças, sinto que por aqui eu sou a mais madura. — disse.

— Falou a garota madura que trouxe um garoto do nada para dentro de casa e sem me comunicar se poderia morar conosco. — disse calmamente a irmã.

A conversa morreu assim que Adrien apareceu na sala já vestido. Bridgette sorriu e levantou-se para arrumar o cabelo dele. Félix apertou os olhos, ainda estava irritado e tinha a leve impressão de que iria se irritar mais ainda com aquele gato-humano.