-Então, além de inglês, você sabe francês e latim? – John perguntou.
Ele e Cassandra estavam andando pela nova escola. O pai dele havia “mexido uns pauzinhos” e conseguiu com que entrassem no meio do período letivo sem problema algum. Como os primeiros horários eram vagos, Cassandra chamou John para dar uma volta e conhecerem melhor a escola.
-Minha mãe acha útil. - suspirou.
-Mas é. – contestou.
-Não se você não vai pra França ou é cientista.
-Você poderia ser uma bruxa.
-Tipo a rainha má da Branca de Neve? – arqueou uma sobrancelha.
-Não, tipo Harry Potter.
-Mas eu sou garota e o Harry é menino.
-Hermione Granger então. – sugeriu.
-Não acho que sou tão inteligente quanto ela. – chutou uma pedrinha que estava no caminho.
-Hm... Gina Wesley? Vocês duas são ruivas.
-É, pode ser. Mas eu não namoraria o Harry, garotos famosos não são a minha praia. Eles são irritantes pra falar a verdade. – soou estranhamente pensativa.
-Entendo. – olhou para o caminho.
Eles ficaram em silêncio. De qualquer maneira não daria para conversar, pois estavam passando ao lado da quadra e um grupo mais do que barulhento de garotos estavam jogando uma espécie de vôlei misturado com basquete.
-Você conhece aquele esporte? – Cassandra perguntou, observando os garotos.
-Não faço a mínima ideia do que seja. – parou de caminhar e cruzou os braços – Nós deveríamos ir lá perguntar.
-E correr o risco de nos acertarem uma bolada? Nem que me paguem. – revirou os olhos.
-Se te acertarem é só acertar eles de volta. – riu.
-Ah, é mesmo? Você não tem força suficiente pra acertar a bola em um deles. Duvido até que conseguisse ficar de pé se te acertassem. – riu também.
-CUIDADO! – os dois ouviram um grito e quando John virou a cabeça para ver quem gritara recebeu uma bolada bem no centro do rosto, tão forte e acabou caindo sentado no chão.
Ele se sentia zonzo e com o nariz úmido. Alguém, Cassandra provavelmente, o ajudou a se levantar e depois levou-o até a arquibancada para sentar novamente. Ele pôs a mão no nariz por um segundo, retirou-a e, assim que sua visão estava focada, percebeu que estava um pouco suja de sangue.
-Não quebrou, só foi um corte. – um garoto à sua frente lhe entregou uma toalha.
John franziu a testa para o garoto e olhou ao redor.
-Cadê a Cassandra? – perguntou.
-Quem?
-A garota que me trouxe aqui, a ruiva.
-Eu te trouxe aqui, mas se for aquela ruiva escandalosa que estava do seu lado, eu mandei ela atrás da enfermeira da escola. – colocou a toalha na mão de John – Acho bom você secar esse sangue antes que suje seu uniforme.
-O uniforme não é tão importante assim. – pôs a toalha com cuidado no local onde achava que estava o corte, a parte mais dolorida.
-Verdade, mas se respingar sangue nele os professores podem achar que você se envolveu numa briga. Eles levam esse lance de briga a sério por aqui. Semana passada expulsaram um garoto do segundo ano por quebrar o nariz de um dos amigos dele.
-Qual a lógica disso? Quero dizer, eles eram amigos, não?
-É aquela velha história de ciúme obsessivo, sabe? – bateu o pé distraidamente.
-Hm...
O momento de silêncio se prolongou por alguns minutos até que o garoto desconhecido decidiu falar novamente.
-Você não vai dedurar a gente né?
-Foi só uma bolada. Eu não vou morrer por causa desse corte. – riu.
-Ah... Valeu. É que de vez em quando aparecem uns pirralhos mimados que correm pra diretoria se olhamos na direção deles.
-Você está insinuando que eu sou um pirralho?
-Eu não disse isso.
-Mas pensou.
-Você é telepata?
-Então eu acertei.
-Ei, quer parar de colocar palavras na minha boca?
-É você quem está se entregando. – deu de ombros. Estava realmente se divertindo com a situação.
Mais um momento de silêncio se seguiu e John aproveitou-o para avaliar melhor o garoto. Ele tinha a pele muito clara, quase albina; cabelos loiros que desciam até seu pescoço, alguns fios molhados de suor grudando no mesmo; corpo esguio e alto, talvez 1,80 de altura; olhos verde-escuro com cílios longos e sobrancelhas relativamente grossas; usava uma calça aparentemente grossa cinza e uma camisa com capuz do mesmo tecido.
-E aí, qual o seu nome? – o garoto chamou sua atenção.
-Oi?
-Seu nome.
-Ah. John. E o seu?
-Henrique. – estendeu a mão – Prazer em te conhecer.
-Igualmente. – apertou a mão dele.
-Espero que não tenha terminado de quebrar o nariz dele. – Cassandra se aproximou dos dois com a enfermeira ao seu lado.
-Eu estava me desculpando. – Henrique se afastou com as mãos para cima.
-Você não pediu desculpas em momento algum. – John o contradisse e Henrique o olhou incrédulo – Que foi? É a verdade.
-Verdade ou não, deixe-me ver o seu nariz. – a enfermeira tirou a toalha do nariz de John, que já parara de sangrar há algum tempo – Vai ficar roxo e muito dolorido, talvez inchado, mas nada com o que se preocupar. Venha comigo até a enfermaria.
-Se não é nada pra se preocupar por que está levando ele até a enfermaria? – Henrique enfiou as mãos nos bolsos da calça.
-Primeiro pra explicar ao diretor o que houve e evitar um suspensão ou expulsão por acharem que ele estava brigando. Segundo, dispensá-lo das aulas. Isso vai incomodar bastante hoje e ele não vai se concentrar. E terceiro, confiscar a bola do primeiro ano. É a segunda vez essa semana que vocês acertam um pobre coitado. – segurou no braço de John com cuidado e o guiou para longe da quadra.
-Não poderiam simplesmente dá uma bola que não seja tão dura pra eles? – questionou a mulher assim que chegaram à porta da enfermaria.
-Se é mole demais ela acaba furando, se é dura demais acaba machucando alguém. E dessa vez foi você. – entraram e ela fechou a porta.
[...]
Uma hora mais tarde, depois de Edna, a enfermeira, ter resolvido todas as questões, John pegou sua mochila na sala, se despediu de Cassandra e foi para a saída escola. Edna tinha razão. O machucado já estava começando a incomodá-lo seriamente.
Quando estava se aproximando do portão, onde Lara o esperava com uma expressão bastante preocupada, alguém agarrou seu ombro.
-Eu queria pedir desculpas. – Henrique corou e isso ficou bem notável graças ao seu tom de pele – Você disse que eu não pedi antes, então vim pedir agora.
-Sem problemas. Já disse que não vou morrer por causa desse corte.
-É, mas mesmo assim. Só pra desencargo de consciência, desculpe por ter te acertado uma bolada no nariz.
-Então foi você que jogou?
-É. – desviou o olhar – Mas juro que não foi intencional.
-Sei não, acho que vou demorar pra me recuperar disso.
-Mas você falou que...
-Tchau Henrique. – sorriu e se virou, caminhando em direção à saída, não só deixando Henrique, mas também Lara confusa.
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