Big Sandy – Maio 1983
Eu sou Montana, o que me faz ter que aguentar a piadinha Montana de Montana, quase todos os dias de minha vida. Fazer o que se meus pais não foram muito originais para criar meu nome e me deram o mesmo nome do Estado.
- Ei Tampinha você vai nos atrasar – escuto Jeff me chamando pela janela da cozinha.
E quem me chama pela janela todos os dias, é Jeffrey Ament, meu melhor amigo de toda a vida. Somos amigos desde a barriga de nossas mães e somos vizinhos. Ele sempre esteve presente na minha vida, já que ele é mais velho do que eu dois anos, mas com uma diferença de apenas dois dias entre nossos aniversários, eu de 08 de Março e ele de 10 de Março. Ele e Clara são meus melhores amigos, e eu confesso que de uns tempos para cá meu coração dá uma aceleradinha quando ele está por perto.
Mas eu tento disfarçar ao máximo, e não importa muito também, ele está indo embora no fim do próximo mês assim que as aulas acabarem. E eu ainda tenho mais dois anos de escola pela frente antes de pensar em deixar Big Sandy.
- Pronta para as provas finais? - ele me pergunta com o sorriso sempre aberto e os olhos espremidos.
- Claro, aí de mim se não tirar as notas boas.
- Você vai para uma boa universidade Tampinha, e eu vou ter sempre orgulho de você.
- Lá de Seattle... – falo meio baixo
- Ei o que foi? - ele para me olhando.
- Promete que não vai me esquecer, Jeff?
- Como que vou me esquecer de Montana de Montana, a Tampinha da minha vida?! – ele fala me empurrando de leve, e logo depois passando o braço por meus ombros me puxando para um abraço. O fato dele ter 1,89 de altura e eu meus míseros 1,60 só me fazia gostar ainda mais dos seus abraços de urso e ali eu sempre me sentia protegida.
...
Assim que cheguei a sala, Clara me olhou já maliciosa
- E aí, beijou o sapo para virar príncipe?
-Do que você está falando?
-Você pensa que me engana, mas só aquele tonto do Jeff para não ver que a Tampinha está caída por ele.
- Shh para de falar isso, alguém vai te ouvir e vai acreditar nas suas besteiras.
- Besteiras, sei... aproveita que ele vai embora, e você provavelmente nunca mais vai vê-lo, para colocar isso aí para fora.
- Não tem nada para colocar para fora, e eu vou vê-lo sim. Ele prometeu vir sempre que der.
- ok, ok! Não está mais aqui quem falou.
Eu virei para frente na minha carteira querendo acreditar que ele cumpriria sua palavra.
...
Dois dias antes da partida de Jeff
- Eu estou contando as horas para partir Tampinha – ele me fala com os olhos brilhando, enquanto estamos sentados no meio da pista de skate já vazia por causa do horário.
- Eu imagino, é tudo o que você fala desde que decidiu que iria mesmo. – falo tentando segurar as lágrimas.
- Hey! O que foi? – ele segura meu rosto, em uma tentativa de me fazer olhar para ele.
- Eu estou muito feliz que você vai atrás dos seus sonhos, não fique bravo comigo mas eu estou um pouco triste também, ok? – falo enquanto sinto algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto – talvez você não volte e eu vou ficar aqui, e eu nunca fiquei aqui sem você.
Ele me abraça forte
- Eu vou voltar tá bem? Você é minha irmã, eu nunca vou me esquecer de você.
E foi ali que chorei mais ainda, por saber que provavelmente ele não voltaria e, mesmo se voltasse, eu era apenas sua irmãzinha.
...
Dia da partida
A gente estava no ponto do ônibus que levaria Jeff embora. Nossa cidade é bem pequena, pouco mais de 7.000 habitantes, andávamos a pé para todo lado.
Seus pais e seu irmão, Barry, despediram em casa, logo após o almoço que a mãe dele fez de despedida e, nós dois seguimos para o ponto de parada do ônibus. Ele teria uma longa viagem pela frente e eu torcia para que ela ainda demorasse, nem que fosse mais alguns minutos para acontecer.
Quando chegamos a parada, ele colocou a mala no chão junto com o skate e me abraçou.
- Eu vou sentir muito sua falta Montana de Montana.
Eu não consegui responder, as lágrimas já tomavam conta de mim, e o abracei o mais apertado que conseguia. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas o ônibus não demorou a chegar.
- Cuide-se tá?
- Pode deixar Tampinha, eu te ligo assim que puder. – me deixou um beijo na testa e entrou no ônibus.
Não demorou muito para o mesmo sair, e eu fiquei olhando parte do meu coração partir.
- Eu te amo Jeff – falei baixinho, torcendo para que o vento levasse minhas palavras até seus ouvidos e começando uma contagem regressiva até a sua primeira ligação.
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