História Meu melhor amigo não deveria se apaixonar por mim - Capítulo Único - What If...

Eu e Kyungsoo somos amigos. Apenas amigos.

Eu, Kim Jongin, repetia essa frase diversas vezes na minha cabeça, tentando me convencer de que a informação era verídica, mas depois de tudo que aconteceu, não sei se conseguiria acreditar mais nisso - era uma mentira, eu sempre soube que era.

- Filho? - Minha mãe abriu a porta do quarto e eu fechei parcialmente as pálpebras, tanto pelo problema de visão, tanto pela claridade que vinha do corredor e me machucava os olhos.

- Sim, mamãe?

- Você está conseguindo escrever no seu diário?

Pois é, minha mãe é uma pessoa meio louca que acha que porque, aos 16 anos, ela escrevia em um diário que eu tenho que escrever em um também.

- Mamãe, eu não consigo fazer isso!

- Pense em algo ou alguém que você gosta muito e escreva sobre. Não é difícil, você vai ver que quanto mais você escreve, mais as palavras irão fluir. - Conhecendo bem minha mãe, ela não vai desistir enquanto eu não disser que consegui, e eu não minto.

- Tudo bem, eu vou tentar. - Ela sorriu e beijou minha testa, saindo em seguida.

Peguei o diário que ela havia me dado e destranquei, vendo as folhas propositalmente envelhecidas em branco. Mamãe sabe que eu - agora - gosto de coisas com aspecto antigo, então sempre me dá coisas do tipo - discos de bandas antigas, vinis que eu uso na decoração e etc.

Kyungsoo me fez gostar de coisas assim.

Eu não começarei com essa de "querido diário", primeiro porque estou sendo forçado a escrever, segundo porque eu não estou em um bom momento para ser doce. Mamãe disse para falar sobre algo/alguém quer eu goste muito, então falarei sobre ambos.

E sou apaixonado por coisas antigas. As roupas, as músicas, os estilos, as danças, tudo. Eu mesmo sou um pouco antigo, gosto de agir como se não fôssemos pessoas "modernas" - o que é moderno hoje, será ultrapassado no futuro - e tudo isso é por causa do meu melhor amigo, Do Kyungsoo.

Conheci-o no ano passado, primeiro dia de ensino médio. Meus amigos mais antigos - Sehun, Baekhyun e Chanyeol - ficaram em outra sala, eu fui o único "isolado". Nesse mesmo dia a professora de português resolveu passar um pequeno trabalho em dupla, com a intenção de unir os novatos aos veteranos. Eu era um novato, Kyung um veterano.

Ele veio à minha casa para fazer o trabalho, mamãe se apaixonou por ele e o fez ficar para o jantar, e no fim eu tive que ir deixá-lo em casa - cinco ruas depois da minha - e nós conversamos bastante sobre sua vida.

Ele mora em uma casa não muito grande com o pai, a mãe e um irmão mais velho. A família é cristã, mas ele é ateu. Gosta de historias de anjos e demônios, coisas do tipo, e por ser fechado e andar sempre com um bonequinho cujo a boca e os olhos são costuradas as pessoas acabam dizendo que ele é uma espécie de "adorador do Satã", como se isso fizesse algum sentido.

O bonequinho é um brinquedo de infância que ele nunca aprendeu a largar, a tinta da boca saiu e os botões dos olhos caíram, então ele fez alguns pontos com linha preta pro rosto do boneco não ficar vazio. Ele nunca o largou porque, segundo ele, o brinquedo representa a sua pouca infância - ele sempre foi mais adulto do que deveria -, e ele não quer jamais perde-la.

Nós acabamos nos tornando grandes amigos, e, assim como Luhan - novo melhor amigo de Sehun - ele entrou para nosso grupinho e nós passamos de quatro para seis.

Um ano se passou e eu e Kyungsoo nos tornamos extremamente íntimos, mas eu jamais pensei que meu melhor amigo pudesse se confessar apaixonado por mim.

Larguei o lápis e o diário na mesinha e apaguei o abajur, lembrando do acontecido da noite passada.

Flashback on.

- Hyung, pare de trapacear! - Gritei e ri ao mesmo tempo, empurrando seu corpo na tentativa falha de conseguir passar dele no jogo de corrida que eu o havia ensinando a jogar.

- Ya, me respeite sua criança! Eu não estou trapaceando, só estou melhor que você.

No fim, ele ganhou de mim de qualquer forma. Ouvi seu pigarrear sem entender bem o motivo da vergonha - seu rosto estava vermelho igual a um tomate.

- O que foi Soo? - Ele continuou tocando e olhando os próprios dedos, gaguejando na hora de falar.

- É q-que... Bem, é que eu meio que... Eu gosto de você. Mais do que como amigo. Quando você se aproxima meu coração falha uma, duas, três batidas, o estômago embrulha e eu não sei o que falar, o que fazer. Você... Você me bagunçou todo, Jongin! Eu sou completamente apaixonado por você...

Eu estava estático. Meu melhor amigo apaixonado por mim?!

- Você... Você enlouqueceu, Kyungsoo? - Seu lábios entreabriram, ele fechou os olhos e eu pude ver algumas lágrimas descendo por seu rosto. - Você é meu melhor amigo. A-mi-go. E ainda por cima é homem, eu não gosto de homens, eu sou hétero! Onde você tava com a cabeça quando inventou isso?

- I-inventar? Mas Nini eu-

- Não me chame de "Nini"! - Eu acabei por perder o controle e gritei com ele, assustando-o um pouco. - Sai daqui! Sai da minha casa agora! 

Kyungsoo pegou suas coisas e saiu correndo do quarto, chorando.

Flashback off.

- O que foi que eu fiz?

[...]

A segunda havia chegado, e com ela veio também o medo de encontrar Kyungsoo novamente. Eu precisava pedir desculpas para ele, isso é óbvio, mas como? Será que ele aceitaria?

Com esse pensamento em mente sai de casa mais cedo, e ao chegar na escola fui direto para a sala. Nós teríamos o segundo tempo - a aula que temos em conjunto com os outros garotos - livre, e eu usaria esse tempo para falar com Kyung.

Quando a primeira aula acabou eu segui os passos do menor, que havia pego sua bolsa e se dirigido ao antigo banheiro masculino, que hoje estava enterditado. Esperei um tempo para entrar no banheiro também, e não me surpreendi ao vê-lo parado em frente ao espelho, me esperando.

É claro que ele notaria que eu estava o seguindo, talvez por isso ele se dirigiu ao banheiro não mais utilizado.

- Eu preciso conversar com você.

- Eu não quero falar com você. Não agora. - Ele abaixou a a cabeça e eu me senti ainda pior por ter dito aquelas coisas - Olha, eu preciso fazer uma coisa importante agora, então se você quiser me acompanhar fique de boca fechada e faça de tudo pra eu não perceber a sua existência.

Concordei e baixei a cabeça, envergonhado. Nós saímos do banheiro e seguimos para os fundos da escola, em direção ao riacho. Chegando lá ele subiu em cima de uma pedra de tamanho médio e abriu a mochila, tirando seu bonequinho de dentro. As lágrimas se formavam no canto de seus olhos, ele beijou o brinquedo, tomou impulso e jogou-o no riacho.

- Kyung, o que você fez? - Perguntei assustado, sem entender o sentido daquilo tudo.

- Esse boneco representava a minha infância Jongin. Eu não sou mais criança. - Eu ia contestar, mas preferi ficar calado. 

Nós sentamos encostados em algumas pedras grandes e ficamos observando a água se mover de acordo com o vento. Podia ver suas lagrimas escorrerem pelo canto dos olhos. Kyungsoo não estava bem, e eu tenho leves suspeitas de que eu também não estava. 

[...]

Na hora do lanche eu e Kyungsoo nem nos olhávamos, eu me sinto mal porque sei que pelo menos parte de sua tristeza é culpa minha.

- Gente eu volto já. - Ele saiu sem o lanche e eu fingi não me importar, não gosto de demonstar as coisas que sinto.

- Ok, eu não dei o que aconteceu mas vocês dois estão estranhos, o Kyung parece estar meio abalado e eu não gosto de ver meu amigo abalado, então eu acho bom você ir lá e desfazer o que quer que você tenha feito.

Baek hyung sempre foi muito próximo do SooSoo, e eu sei que ele me degolaria se soubesse que eu magoei o pinguinzinho. Então, mantendo a minha típica frieza (só que não, eu nunca nem desgrudo do Kyung), eu comi mais um pouco de salada e me levantei, saindo a procura do menor.

O sinal tocou e eu esperei ele chegar, mas ele nem apareceu. Ao invés de entrar na sala eu saí pelos corredores, agora seria mais facil achá-lo. Fui ao banheiro enterditado  e não me surpreendi ao vê-lo sentado na grande pia de mármore, mexendo nos próprios dedos e balançando as pernas pra frente e pra trás.

-Soo, eu preciso falar com você. - Ele olhou para mim, parando de balançar as pernas mas ainda mexendo nos dedos.

- Pode falar, Jongin. - Ele me deu um pequeno sorriso, como se dissesse "eu não tenho mais raiva de você."

- Nini. Pra você é apenas Nini. - Dessa vez seus dedos também pararam de mexer.

-Mas...

- Eu fui um idiota, Soo. Idiota por não perceber que eu sinto o mesmo que você, que eu só penso em você, que eu gosto de você. Eu não menti quando disse que não gosto de homens, mas menti quando disse que você é apenas meu amigo. - Sua boca e seus olhos abriram um pouco, e eu percebi o que tinha falado. - Q-quer dizer, você é, mas eu quero que seja mais que isso. - Ele se mostrou ainda mais surpreso e eu acabei dando um tapa na minha própria testa.

Ótimo, agora além de idiota é louco também!

-Aish Kyung, eu sou completamente apaixonado por você. Por favor, esquece a minha fase de negação e aceita namorar comigo. - Mais uma vez eu vi seus olhos umedecerem, mas creio que dessa vez tenho sido de emoção/alegria.

- Kim Jongin, você acaba com meus sentimentos, vem dizer que estava em estado de negação e ainda me pede em namoro? - Senti meu rosto esquentar e de repente eu parecia um criança assustada, todo encolhido e envergonhado.

-Desculpa SooSoo... - Pude ouvir sua risada baixinha e um sorriso involuntário nasceu em meu rosto.

- Idiota, vem cá. - Eu fui até ele e me encaixei entre suas pernas, sorrindo ao sentir o cheiro de morango do hidratante labial. - É claro que eu aceito ser seu namorado, seu cabeça dura.

Nós estávamos tão perto...

Senti sua mão em minha nuca e diminui o espaço entre nós, o cheiro de morango ficando mais forte até se transformar em gosto. Seus lábios tinham um gosto bom de morango e eram macios, me deixavam tão confortável que nosso beijo simplesmente fluiu, as línguas se tocavam muito vagarosamente e foi exatamente nesse momento que eu percebi que meu melhor amigo havia sim se apaixonado por mim e que não há nada no mundo que seja melhor que isso.

[...]

No decorrer da semana as coisas entre eu e Kyungsoo haviam voltado ao normal, mas dessa vez com algumas coisas a mais - essas que nós decidimos revelar apenas no dia do aniversário de Chanyeol.

Chegado o dia, eu não poderia estar mais empolgado. Passamos o dia em sua casa, jogando vídeo-game, comendo porcaria e rindo muito. Mas como sempre, alguém tem que ter a famosa ideia de jogar verdade ou desafio - isso só tinha de vir do Senhor Baekhyun mesmo....

Depois de várias rodadas eu já estava seminu, Luhan já tinha  beijado Baekhyun e Sehun - o beijo deles dois foi meio suspeito, mas preferi deixar isso pra lá - e agora Chanyeol fez a pergunta perfeita.

- Hmmm... Nos conte o último segredo que você prometeu guardar. - Eu e Kyung nos olhamos, era agora ou nunca.

- Eu e Jongin estamos namorando. - As bocas de Sehun e Chanyeol caíram, mas Baek e Luhan não se mostraram nada surpresos.

- Nós dois nos descobrimos apaixonados e resolvemos namorar, isso já tem uma semana mas preferimos esperar o dia de hoje pra contar. Surpresa! - Falei e sorri grande, batendo palmas em animação. Há algo mais excitante do que anunciar para seus amigos que você está namorando alguém que você gosta?

- Ah Baek, nunca mais olhe para o meu namorado daquele jeito, está me ouvindo? - Soo apontou o dedo para Baekhyun, olhando-o como se fosse puxar seu pé de madrugada.

- Credo Kyung, parece a Pomba Gira. - Todos rimos da comparação no mínimo estranha de Baekhyun. Esse menino é todo marmotoso, eoem...

Nós continuamos a brincadeira até percebermos que já estava tarde e que precisávamos ir para casa - menos Baek, que decidiu dormir na casa de Chanyeol. Nos despedimos e Sehun e Luhan foram em uma direção e eu e Kyungsoo em outra, primeiro eu lhe deixaria em casa e depois iria para a minha.

- Nini, não fique chateado com o que eu vou lhe perguntar, mas você realmente gosta de mim? - Olhei em seus olhos, entendendo o motivo da pergunta, tudo foi muito rápido e repentino.

- Eu sei que a princípio eu falei muita merda pra você Soo, mas eu só fiz isso porque não queria admitir pra mim mesmo que também gostava de você, por ter medo de fazer algo errado e acabar a nossa amizade. Mas depois que você disse que gostava de mim, eu não consegui me imaginar sendo menos do que seu namorado. Eu realmente gosto de você.

Seu sorriso é o sorriso mais lindo que alguém já pôde ver. Nada no mundo é mais bonito e perfeito que Kyungsoo, na descrição da palavra "perfeição" no dicionário deveria ter escrito o nome "Do Kyungsoo" - eu sou um jovem apaixonado, deixa eu ser meloso em paz.

A verdade é que eu sempre fui apaixonado por Kyungsoo. Tudo nele é sinônimo de beleza pra mim. E eu queria dizer que lá no começo eu disse que meu melhor amigo não poderia se apaixonar por mim, mas a verdade verdadeira é que ele não só pode, como deve. O amor de melhores amigos não é o mais perfeito, mas com certeza é um dos mais puros que você jamais conhecerá.

Meu melhor amigo se apaixonou por mim, eu também me apaixonei por ele, e eu sou imensamente grato por isso.