4° dia da família no orfanato...
Os meus dedos doíam. Olhei para a pilha de lençóis que ainda havia sobre o chão. Já tinha anoitecido e todas as crianças do orfanato já foram dormir. Uma das madres ainda me encarava, de pé, analisando cada movimento meu.
Fez um dia desde que Christopher e eu nos beijamos, desde então levamos punições e tivemos que assistir as aulas da madres sobre os princípios de Deus todas as noites. Mal nos vimos. Não tínhamos tempo. Levantávamos e íamos fazer as tarefas para poder ir dormir.
- Está tudo bem, Victorie – Edite falou, me assustando – Terminarás teu trabalho amanhã. Vá dormir.
- Sim, madre – Murmurei e beijei uma de suas mãos, antes de ir em direção a porta – Com sua Licença.
Fechei a porta atrás de mim. Coloquei as mãos sobre o rosto, dolorida. Subi as escadas para o meu quarto e assim que virei o corredor pouco iluminado, pude escutar vozes de pessoas. Meus pés parar de andar e eu voltei rapidamente.
- Ela não está aqui! – Uma voz alterada dizia.
- Eu tenho certeza de que é a garota que precisamos – Aquelas voz familiar calma soou pelo corredor.
Inclinei o meu corpo para ver melhor o que acontecia, mas não conseguia ver nada. Tudo estava muito escuro. Mas aquelas vozes, tão familiares.
- Escute, Damen – As batidas do meu coração simplesmente aumentaram em segundos em apenas escutar esse nome – Estamos perdendo tempo aqui, Se outras bruxas a acharem, ela poderá não ter mais os seus pod...
- É ela – Damen a interrompeu – A cada vida ela está mais linda. Não tenho dúvidas que é a herdeira...
Apoiei o meu corpo sobre a fria parede de pedra, trêmula. Passei as mãos sobre os meus cabelos e quando estava prestes a sair, senti meu corpo ser puxado para trás, tampando a minha boca logo em seguida.
- Sou eu. – A voz baixa de Christopher em meu ouvido fez com que eu parasse de me debater. Seus braços fortes que antes me seguravam, agora me soltam devagar, ignorei o estado de choque eu estava e o puxei para um abraço demorado. Demorou alguns segundos para as mãos dele circularem a minha cintura, me abraçando com carinho. –Desculpe te assustar..
Um meio sorriso apareceu em meus lábios e então eu o encarei, de perto, como eu sentia falta disso.
- Vamos sair daqui – disse, ao acariciar o meu rosto. Eu concordei sem pensar duas vezes.
Christopher segurou em minha mão, me guiando para descer as escadas. Por segundos perguntei-me como ainda conseguia fazer aquilo, pois meu corpo ainda tremia. Enfim quando os degraus acabaram, ele me empurrou contra a parede, selando os nossos lábios rapidamente.
Tentei corresponder da mesma forma, mas a falta de me fez empurra-lo.
- Christopher, podem nos ver...
- Eu não me importo – disse, antes de beijar a minha boca novamente.
Passei as mãos em torno do seu pescoço, sentindo que cada vez mais ele me empurrava contra a parede. Não que eu me importasse com isso, eu gosto de sentir o corpo dele, assim, colado no meu. E eu nunca vou me cansar de gostar disso.
***
Abri os olhos assim que o Sol nasceu. Encarei o teto de meu quarto, lembrando do momento em que Christopher apareceu nas escadas. Sem que eu pudesse segurar, um sorriso estampou o meu rosto.
Levantei da cama, percebendo que Melliane acabou de acordar.
- Acordou cedo – Ela disse, esfregando os olhos. – Eu sempre acordo antes que você.
Eu ri, pulando para a cama da minha amiga e a abraçando.
- Christopher e eu nos beijamos de novo ontem a noite – falei, percebendo o seu sorriso sumir em questão de segundos.
- Tori, é meio arriscado, não? – ela murmurou, acariciando a minha mão – Quer dizer... você está...
- Eu sei – a interrompi – Mas ninguém nos viu. Está tudo bem...
Ela suspirou, mas logo sorriu.
- Como foi?
***
Melliane e eu descemos as escadas assim que nos vestimos com os uniformes. Entramos no salão de jantar, mas não havia ninguém. Nos encaramos e andamos até o Salão principal onde escutava-se a voz de Sr. Alvarez.
Ao chegarmos lá, todas as atenções foram dirigidas a nós, fazendo com que Melliane e eu nos apressássemos indo em uma das fileiras que estavam o resto das outras crianças do orfanato.
Uma das madres chama-nos por nosso nome, em sua chamada. Eu respondi “presente” assim que ela falou o meu. Voltei o meu olhar para as crianças que entravam no escritório de Sr. Alvarez.
- O que está acontecendo Royse*? – pergunto para a menina na minha frente.
- Os Wherlock estão nos chamando para conhecer cada um de nós... – fala, animada.
Suspirei.
- Não estas empolgada? – ela me analisa.
- É claro que sim – forcei um sorriso. – Estou apenas um pouco nervosa.
- Eu também estou – continuava a falar comigo, mas eu apenas dei de ombros, olhando para todos no salão.
- Ele não está aqui – Maria veio em minha direção – Ele saiu cedo.
Senti minhas bochechas queimarem.
- Eu... eu não estava procurando por ele – falei, desviando o olhar do seu.
Percebi que Maria abriu a boca para falar, mas foi interrompida quando foi chamada para entrar no escritório.
E não demorou muito para que todas as meninas que estavam presentes fossem chamadas, até restar apenas eu. Coloquei a mão sobre a barriga, percebendo que passou horas e eu não comi nenhuma das refeições. Estava morta de fome.
Passei as mãos sobre os meus braços descobertos e gelados, estava começando a ficar frio. Balancei as pernas, encarando os meus sapatos, meio perdida em meus pensamentos.
- Victorie! – Sr. Alvarez tocou em meu ombro, me fazendo dar um pulo de onde eu estava sentada, ajeitando o meu vestido. – Sua vez, querida.
Encarei a mulher que me criou e me cuidou com todo o carinho que alguém poderia merecer e assenti, andando até a porta. Logo a escutei sendo fechada, me fazendo respirar fundo. Todos me encaravam. Ele me encarava.
- Sente-se, Victorie – Katherine disse, séria.
Por algum motivo, vê-los não me intimidava ou me deixava com medo, como muitas crianças falaram. Sem empolgação, sentei-me em uma das cadeiras que estava de frente para a mulher que me encarava com curiosidade.
- O que achas deste orfanato? – ela perguntou, me pegando de surpresa. Era para isso que as crianças vieram aqui?
Pigarrei, tentando achar a minha voz, e respondi sem pensar duas vezes.
- É o meu lar. Gosto de morar aqui.
- Gosta? – Voltou a falar – Nos dê um motivo, Victorie, de por que deveríamos te adotar.
Pisquei, confusa.
- O que estás querendo dizer, senhora? – falei, educada.
Senhora? Eu não sou uma velha!
De repente, essas palavras ecoaram na minha mente. Por segundos, senti a minha cabeça doer, me fazendo pousar a mão sobre a testa. Pisquei algumas vezes assim que tudo voltou ao normal e levantei o rosto para encarar Katherine, que bufava.
- Um bom elogio seu – Falou o homem que estava de pé, com as mãos apoiadas sobre a mesa – Um dom, talvez? – sorriu, mas logo foi cutucado por Katherine.
- Por que adotaríamos você, Victorie? – ela fez sua postura novamente.
Engoli a seco.
- Há crianças maravilhosas aqui, que querem ter uma família mais do que eu – falei, atraindo a atenção de todos para mim, até mesmo aquela garota que estava sentada em uma das ultimas poltronas da sala, que parecia estar querendo sair logo dali. Algo que eu também queira. – E...
- Mas não é o sonho de todos deste orfanato: ser adotados por uma família? – a mulher me interrompeu.
- Eu já tenho uma família aqui – respondi, nervosa ao sentir que as minhas mãos começaram a suar – Então, por que preferia outra?
- Interessante – ela sorriu – Diga-nos, então, qual é o seu sonho?
Pisquei, tentando pensar em qual é o meu sonho, já que o meu sonho de infância morreu.
- Eu acho que não tenho um. Não perco o meu tempo pensando em sonhos... – eles não passam de mentiras. Completei em meus pensamentos.
- Realmente muito interessante – Katherine sorriu ainda mais – És a única criança deste orfanato que nos responde diferente.
Tentei com todas as minhas forças sorrir, mas não consegui. Queria sair logo dali. Apertei com força as minhas mãos sobre o meu colo, ao mesmo tempo em que um turbilhão de coisas passavam pela minha cabeça.
- Você é a garota que estava tocando piano – a voz de Damen me fez encará-lo – Poderia tocar um pouco de música para nós.
- Tocar? – murmurei, tentando entender porquê fiquei trêmula de repente.
Respirei fundo, tentando me acalmar. Sem sucesso, puxei o meu colar do meu pescoço, que estava escondido em baixo das minhas roupas, e o segurei. Aquilo, sem que eu soubesse bem, sempre me deixava mais tranquila.
- Seria esplendido! – Katherine exclamou, ao levantar-se, me assustando – Você poderia to... – Parou de falar, ao olhar de olhos arregalados para o meu colar. – O colar! – gritou, assustando-me pela segunda vez, ela tentou andar até mim, mas foi impedida pela mesa entre nós – Como conseguiu este colar?
- Katherine – o homem a puxou para si, sussurrando algo em seu ouvido que a fez se acalmar.
Levantei da cadeira em que eu estava sentada, tremendo.
- Talvez seja melhor eu...
- Damen, Ruckia – cortou-me – Levem Victorie para o seu quarto. Acabamos por hoje.
Em fração de segundos, sem que eu tivesse tempo para falar alguma coisa, os dois obedeceram o homem, me arrastando para fora do escritório. Confusa, eu apenas os segui, ignorando seus olhares sobre mim.
- És muito bonita – Ruckia falou, quebrando o silêncio, afastando todas as perguntas que eu queria fazer dos meus pensamentos.
- Obrigada – sorri fraco para ela, que também sorriu, tão meiga. Abaixei o rosto depois de olhar discretamente para Damen que continuava sério, olhando para frente.
Suspirei, casada, e parei de andar assim que a minha barriga me dedurou dizendo que eu estava com fome. Os dois pararam de andar no mesmo instante, me encarando. Eu ri por dentro, sentindo todo o calor do meu corpo subir para as minhas bochechas.
- Está com fome? – Damen perguntou, levantando uma sobrancelha.
- Bem... – apertei com força as minhas mãos.
O loiro se virou, andando para o caminho contrário de estávamos indo. Mas parou de andar assim que viu que Ruckia e eu não nos movemos.
- Por quê estão paradas? – perguntou, cruzando os braços – Vamos para a cozinha.
- Não é permitido as crianças do orfanato irem à cozinha a noi...- tentei falar, mas logo fui puxada por Ruckia, que sua mão gelada segurou a minha.
Logo estávamos na cozinha, onde eu fui logo pegar algo para comer, onde a primeira coisa que achei foi uma maça. Fechei os olhos, saboreando o pedaço que mordi. Então olhei para os dois, que encaravam.
- Vocês aceitam? – perguntei, de boca cheia, fazendo-os rir, mas negaram.
_____________________________________________________________________________________________________________ Royse*= nome Rosa, usado nos tempos antigos.
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