Afastei Alexandre um tanto assustado. Levei a mão até os lábios os sentido dormente com um simples selinho e meu rosto começou a aquecer e ficar vermelho. A pergunta que eu não sabia responder era: estou vermelho de vergonha ou raiva?
- O que está fazendo? - perguntei nervoso.
- Isso foi um beijo - Debochou - Não me diga que foi seu primeiro beijo. - rio sarcástico.
Com certeza é raiva.
Levantei a mão, concentrei toda força e raiva nos cinco dedos e a joguei contra seu rosto que recebeu a marca avermelhada de meus dedos.
- seu mimado estupido. Só por que tem essa aparência e dinheiro acha que pode fazer o que bem entende? - Ri sarcástico da mesma forma que ele - Você é digno de pena.
Sem ouvir sua resposta eu sai do armazém e fui em direção ao portão. Não olhei para trás, tive medo de ver aqueles olhos azuis me fitando de longe.
Entreguei a autorização e sai do colégio. O sabor daqueles lábios ainda estavam na minha boca, deslizei a língua para senti-los e me martirizei por querer mais daquele sabor.
Apesar de ter durado poucos minutos, seus lábios eram macios e sua mão em minha cintura era quente.
- O que estou pensando? - Balancei a cabeça negativamente e comecei a correr em direção a minha casa. Eu precisava esquecer esse problema com Alex. Na verdade, precisava me focar com outro problema: Mio.
Ela não pode está interessada em Len. Seria um enorme problema.
Assim que cheguei em casa tirei o celular do bolso e joguei a mochila na cama.
"Yamato: Preciso falar com você. Depois do trabalho vá até o playground"
Nos, desde pequenos vamos naquele brinquedo. Na verdade, desde pequenos vamos a todos os lugares juntos. É difícil lembrar de um dia que a Mio não esteja presente.
Não demorou e a resposta chegou.
"Mio: tudo bem. Algo aconteceu? Alex acabou de entrar na sala. Ele parece feliz..."
Feliz? Como assim feliz? Mesmo depois daquilo? O que esse cara tem na cabeça?
"Yamato: te conto a noite"
Joguei o celular para o lado e fiquei encarando o teto até que chegasse a hora de sair novamente.
Quando deu mais ou menos 20h, eu me levantei e me arrumei rápido. Depois da aula Mio trabalhava em um cafeteria para se sustentar e ela terminava mais ou menos esse horário. Coloquei o uma calça jeans preta, blusa de mangas compridas, um casaco grosso (devido a baixíssima temperatura que fazia) e um all star pra completar. Coloquei o Headphone azulado e sai de casa.
Assim que abri a porta minha mãe estava prestes a entrar.
- opa, vai sair? - ela perguntou com um sorriso doce. - Ja jantou?
- Não. Eu cochilei, estou indo me encontrar com a Mio. Janto quando chegar.
- "A Mio" - ela falou entrando na casa e colocando a bolsa sobre a mesa - será que um dia vou me acostumar com isso? - ela perguntava mais para si mesma do que para mim. Mas mesmo assim eu respondi.
- Claro que sim. De qualquer forma estou indo.
- × -
Eu não andei nem 10 minutos e ja tinha chegado ao local marcado. Sentei em uma barra de ferro que ficava na frente do balanço e esperei a chegada de Mio.
Vi de longe a menina se aproximar e em suas mãos algumas caixas de chocolates e flores. Provavelmente admiradores secretos.
Mio era a mulher perfeita para muitos homens. Dona de lindos e curtos cabelos rosas, um rostinho delicado de bebê e uma personalidade divertida, engraçada, espontânea, que gostava de qualquer filme desde comédias românticas a filmes nerds. Perfeita. Ela só tinha um pequeno problema.
- Aff... esses merdas não param de me encher. - ela falou jogando as coisas no canto e ficando de pé no balanço. - acredita que um dos filhos da puta passou a mão na minha bunda? Que cretino.
- Talvez você tenha dois problemas, um dele é essa sua boca suja. - Falei sorridente pegando uma das caixas de chocolate e os comendo.
- Do que está falando?
- Não é nada. Estão dando em cima de você novamente?
- Claro que sim. Eles não tem qualquer tipo de controle hormonal. Qual seria a cara que eles fizessem ao saber da verdade? - Brincou.
Eu guardei os chocolates e cruzei os braços a fitando serio.
- provavelmente idêntica a se Len.
Ela parou de brincar e se sentou no brinquedo, sei rosto era triste. Me partiu o coração ve-la daquela forma.
- Ele pode ser diferente... - tive dificuldade em ouvir graças ao seu tom baixo e ao forte vento.
- Ele não será... ele será como todos os outros Mio. Ele brinca com as meninas da escola, transa com ela. Você realmente acha que com você seria diferente? - respirei fundo e continuei - Mio me prometa que não vai se aproximar dele. Mesmo que você queira. Mesmo que ele queira. Você não pode se dar o luxo de cair nessa novamente.
Ele apertou as saia e mordeu os lábios.
- Você não precisa ser tão duro Yamato...
- Mio... Prometa! Disse firme e ela confirmou com a cabeça baixa.
- prometo.
- Eu só não quero te ver triste. - ela não me respondeu deixando o silêncio dominar.
O único som que se podia ouvir era o ranger do balanço. Meu coração estremeceu com aquele silêncio ensurdecedor e o ar tristonho da rosada.
- Alexandre me beijou... - soltei em uma tentativa desesperadora de mudar o assunto e quebrar o silêncio - Eu pensei que ele iria me bater. Mas ao inves disso, ele me beijou.
Ela me encarava com aqueles olhos cor de mel e a boca semi aberta. Um sorriso foi tomando conta do seu rosto e eu posicionei os indicadores no meu ouvido.
- 1..2..3..e... - assim que terminei o Playground foi tomado por um grito extremamente alto. Mio deu saltos na minha frente e parou apenas quando perdeu o ar.
- M..me... me conte em detalhes... - ela falava rápido, mas entre pausas tentando pegar o máximo de oxigênio possível.
- Não interessa isso agora. Mio, o meu primeiro beijo foi com um homem. - a rosada rio e deu um tapa no meu braço.
- E que homem, um Deus Grego, literalmente. E não venha reclamar, se você tivesse me beijado naquela festa, ano passado, isso não seria probelama. Seu primeiro beijo ia ser com uma linda mulher. - ela jogou os cabelos para o lado.
Em um momento serio desses ela ta tirando sarro da minha cara?
- Beijar você e beijar Alex não iria mudar nada, afinal de contas.... - parei de falar assim que notei a burrada que fiz.
Ela continuou a me olhar, seria, triste.
- Continue com o que estava dizendo, Yamato.... afinal de contas o que?
- M..M.Mio, me desculpe, não foi minha intenção.
A garota então se virou e pegou sua bolsa jogado por cima do ombro, deixando as flores e os chocolates.
- Eu vou pra casa. Pode ficar com os chocolates...
Se afastou do parquinho a passos largos e eu me senti o cara mais estúpido do mundo. Corri até ela e a puxei pelo braço.
O rosto que tanto me causa inveja por sempre estar sorridente, agora estava encharcado de lágrimas. E por culpa minha.
Segurei o queixo de Mio e aproximei nossos lábios os selando rapidamente. Ela me encarou com os olhos arregalados e ainda cheio de lágrimas, as enxuguei delicadamente e sorri.
- Você é a mulher mais perfeita que eu ja conheci. Seria uma honra ter meu primeiro beijo com você.
Mio me fitou por alguns instantes e enterrou o rosto no meu peito me abraçando com força.
- SEU CRETINO!! - ela falava sendo interrompida pelas lágrimas. Acariciei seus fios e apenas ouvi seu dicionário infinito de palavrões e insultos.
Mio era linda, sua personalidade invejável, o sorriso de uma criança. Engraçada espontânea. Mio era uma garota quase perfeita. Apenas duas coisas a tiravam desse posto. Primeiro: a boca suja. Segundo: O fato dela ser uma mulher trans.
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