O que fazer? O que fazer? O que fazer?
O meu amor não poderia ser um mafioso. Ele era o meu Hannie, anjo, lindo, que me alimentava de cafés americanos e me fazia dividir sorvete. O que eu faria, com toda a informação? Eu queria encontra-lo, jogar na cara dele que era um enganador de uma figa. No entanto, ao mesmo tempo, meu lado mais que apaixonada, queria fingir que nunca tinha visto nada e que o Cheolie-coração-S.coups, nunca tinha acontecido.
O ditado de mamãe sempre foi claro, quem procura acha, e ela dizia no sentido, procure mesmo, entende? E eu, sempre segui ao pé da letra, procurando até onde não tinha, com meus ex's. Mas não com meu Han. Ele era meu amor, e nunca questionava quando eu perguntava onde ele iria e que horas iria voltar para sua casa. Muito menos, recusava minhas ligações ou me escondia com quem falava.
Maldita quinta feira!
Kwan resmungou olhando o celular. Descobri que ele tinha conseguido, a tão sonhada roupa cara, para seu Pou e agora tinha outro jogo favorito, PokemonGo.
— Bel não se mexa. — Ele gritou para mim. Mexeu em algo no celular e praguejou um palavrão baixo — eu perdi o meu Pokémon. Essa sua cara chorando espantou ele.
Olhei para ele com um bico gigante, enquanto ele me apontava uma vitrine de loja, e lá no fundo pude ver meu rosto. Mamãe insistiu tanto, que acabei passando lápis e rímel, e ambos estavam borrados pelo meu rosto, o que me fez parecer uma panda muito triste. Seokmim me apertou contra ele pelos ombros, na tentativa de controlar meu choro, que só pareceu aumentar, devido aos comentários que Kwan soltava rude para mim, e por estar me sentindo três vezes mais derrotada.
Logo depois de ver Jeonghan entrando no salão, carregando aquela maleta como se sua vida estivesse ali, levantei e andei um pouco sem rumo, chorando. Meu Hannie, não poderia estar fazendo coisas erradas. Não quando eu já havia o apresentado minha aliança, decoração e vestido favorito no Pinterest. E ele havia concordado comigo, que tudo era lindo. Ele não poderia frustrar meus sonhos de princesa, como o príncipe Hans frustrou a Anna, e só queria o dinheiro dela. O que Jeonghan queria de mim? No real, a história só poderia ser ao contrário, a família dele tinha muito mais condições que a minha. Então o que Yoon Jeonghan, queria de mim?
Estávamos andando a pé, no caminho do meu apartamento, porque no auge da choradeira, eu quis fazer meu próprio clipe triste e ir sofrendo noite a fora.
Minha casa era longe, e mesmo que o centro não fosse movimentado àquela hora da noite, eu preferia chorar parecendo uma embriagada nos ombros de Seokmim, do que ouvindo mamãe gritando comigo. Já os meninos, movido ao PokemonGo de Seungkwan, concordaram comigo que andar seria bom. Aproveitando intervalos do choro, onde ninguém falava o nome do meu namorado mafioso, pensei bem o que faria dali em diante. Só a ideia de passar o resto da minha vida, indo a encontros de mafiosos, me arrancaram o ar. Se bem que Jeonghan ficava ótimo de terno. E eu poderia me acostumar a isso.
Chorei um pouco mais alto, soluçando logo no fim, fazendo os meninos me encararem como se eu fosse louca, e em seguida, bater a mão para as pessoas na rua, informando que aquele ponto rosa choque ambulante, não faria mal na sociedade. Eu estava tão triste, que não me importava com o que iriam dizer. Queria chorar abraçada a minha louca interior, que chorava mais ainda.
— Mabel, isso tudo pode ser um grande mal-entendido — Soonyoung tentava me convencer. Enquanto Seokmim, no auge do seu próprio desespero, esfregava meu braço com tanta força, que poderia o esfolar.
— Hoshi você mesmo disse. Eu acho que... — Funguei, formando um bico.
— Acha, o que? — Hoshi insistiu.
— Que eu vou morrer. — Abaixei o rosto chorando, e Seokmim me apertou mais um pouco.
— Ah Mabel, para de drama. — Seungkwan disse, quase em um grito. — Pelo menos ele não é gay, nem te trai. Trair pode ainda ser uma opção, mas gay, não!
— Seungkwan cala a boca — Hoshi gritou. O que era quase uma novidade, já que ele nunca gritava com os meninos, mesmo sendo mais velho — e peça desculpa a Bel!
— Ah hyung! Eu não disse nada demais. — Seungkwan pediu inconformado, usando o tratamento adequado. Ele odiava dar o braço a torcer — Desculpa Bel — Ele largou o telefone, o enfiando no bolso da jaqueta — Eu só não gosto de ver você chorando. Não é tão ruim assim. Vai... — e se aproximou de mim, me pegando pelo braço livre.
Continuamos caminhando assim, comigo ainda resmungando palavras frustradas e DK ainda tentando esfolar meu braço.
Quando subimos as escadas do meu apartamento, eu não me dei ao trabalho de secar as lágrimas. Estava chegando em casa e estar ali, me fazia lembrar de Hannie. E o quanto mafioso ele estava naquela noite. Todo mafioso. O cabelo preso sempre me lembrava a algo, e então, agora, tudo parecia fazer sentido. Até conseguia entender sua falta de interesse no dinheiro da mãe. Sua implicância com os meninos. Como não notei antes?
Chegando na frente do meu apartamento, bati na porta e depois chamei por minha mãe. Escorei mais no Seungkwan, que ainda segurava meu braço e deixei as lágrimas rolarem devagar. A minha surpresa foi quando minha mãe apareceu, vestida com meu pijama novo, com a cara de quem viu Arendel, passar do verão ao inverno. E talvez, eu pudesse mesmo transformar meu apartamento em um reino de gelo, já que estava mais triste que a Elsa presa no quarto.
— Bebel, onde estava? — Mamãe pois as mãos no meu rosto e me segurou pelas bochechas. — Porque está chorando? Já passou de uma da manhã, isso são horas.
— O Han...
Minha mãe arregalou os olhos num pedido mudo de "cala a boca", e então eu entendi ela, engolindo o nome do meu amor-mafioso. Ele terminava de sair do corredor, enfiando uma jaqueta às pressas, quando me viu e parou.
Jeonghan voou até mim, me abraçando, e meio que sem querer, empurrando os meninos sem se importar muito.
— Seu bastar...
— Seungkwan — Seok o repreendeu, antes que Kwan soltasse um de seus xingamentos favorito.
Han me puxou para dentro, ainda me abraçando e me encarou, notando toda aquela maquiagem borrada e meus olhos inchados do recente chororo.
— Onde estava Mabel? São quase duas da manhã. Porque estava tão tarde na rua com esses garotos? Sua mãe me ligou, desesperada!
O que eu diria a ele? O que faria? Uma nova tosse não seria a melhor opção. Encarei ele, que esperava uma boa resposta e mordi o lábio.
— Tecnicamente, quase duas, não é duas da manhã — respondi, contando a pequena numeração nos dedos, sem o olhar.
— Mabel, responde? — Ele disse meio gritado, sem qualquer pingo de paciência que meu Han tinha, me fazendo lembrar do fato que, ele era do time dos caras maus. Abracei meu próprio corpo e chorei tudo de novo.
— Bel. O que houve? — Jeonghan se aproximou, me puxando para seu abraço novamente.
— Um filhotinho morreu — Seungkwan falou, me salvando da pergunta.
— Bem aos pés dela.— Hoshi completou.
— Fomos comprar salgadinho de queijo, e tinha um cão parindo — falei, chorando e completando a mentira, enfiada na jaqueta dele.
— Não seria, cadela?— Seokmim disse pensativo
— Isso é sério? — Jeonghan arrumou o cabelo para trás, pensativo. Eu o agarrei e chorei contra seu peito, ainda mais.
— Foi horrível. Ele estava faminto. — Hoshi disse cheio de pesar na voz.
— Mas, não tinha acabado de nascer?— Han falou, em meio aquele choro e história sem pé nem cabeça.
— Jeonghan — gritei, desesperada de verdade, me prendendo a ele que resolveu me dar atenção.
Ele não parecia acreditar em mim. Poxa, era um cachorrinho. E quem não se comove com cachorrinhos?
Quando o choro cessou, os meninos já haviam ido, mesmo com minha mãe insistindo para que ficassem. Han estava dormindo no sofá, e eu rolava para todos os lados da cama por dois motivos: havia pegado uma gripe, de verdade, por andar no sereno, e por ter sonhado que Jeonghan era sequestrado pela Elsa-Pocahontas.
Levantei da cama e corri descalça para a sala, com passos ritmados a minha tosse. Ele ainda estava ali, esparramado e até...babando um pouco. Jeonghan parecia um pouco cansado, fazia um tempo. E eu gostava de trazê-lo para casa e o mimar, apesar desses últimos dias não estarem sendo fáceis.
Fazia tanto tempo que estávamos juntos, quase compartilhando as mesmas coisas, que já não olhava mais para a frente e me via sem meu Han. Mafioso e tudo mais. Por mais que a ideia de ajudar a polir, a futura coleção de armas que ele teria, me entristece bastante, eu ainda o queria, e passava a pensar na ideia de viver essa vida perigosa ao lado dele.
— Não consegue dormi? — Ouvi a voz sonolenta dele e me assustei, dando um pulinho.
— Jeonghan, quase me matou. Eu só vim buscar água, estava apenas passando. — Disfarcei apontando para a cozinha.
— Faz minutos que está aí parada. — Ele sorriu de lado — Sua tosse te entregou.
— Não estava olhando você! — Disparei.
— Consegue dormir, ou não?
— A tosse não deixa — confessei, omitindo a parte desnecessária do sonho.
Jeonghan coçou os olhos, pegou minha mão, puxando meu corpo até estar sentado ao seu lado que acabava de sentar no sofá. Passou a sua coberta por meu ombro e me puxou para perto, abaixando e pegando o controle no chão, que fora deixado por lá. Ele colocou em um canal de variedades, que reprisava um programa qualquer.
Naquela noite, a louca fechou o blank Space, retirou a roupa de investigação e sentou, curtindo aquele momento.
Meu Han estava comigo...
— Porque ontem mesmo, estava chorando como se o mundo fosse acabar, e hoje parece ter visto a aurora boreal de perto? — Mamãe questionou, enfiando um grande pedaço de torrada na boca. Ela tinha preguiça de cozinhar o café da manhã.
— Ah mãe, as coisas mudam. — Disse tossindo e tomando o chá quente que ela me fez.
— Me diz o que aconteceu ontem? — Perguntou, concentrada em passar geleia em sua torrada, como se não estivesse muito curiosa.
— Meu Han é de alguma máfia e tal, nada muito chocante. — Dei de ombros. Eu havia me convencido pela noite que poderia conviver com isso.
— O que? — Gritou esganiçado, largando a faca de geleia e a torrada caírem na mesa — Seu namorado? Máfia?
— Ah mãe, — revirei os olhos— quem não é da máfia hoje? Por favor.
Mamãe arregalou os olhos, como se não acreditasse. Não era tão ruim quanto ver o Olaf sem nariz, era?
— Quem não é da máfia? Eu, Você? Qualquer pessoa do bem?
— Ei, ei, ei. — Sacudi a mão em negação. — Meu Han é do bem, só não tem uma boa profissão.
— Por acaso Mabel, você sabe, o que um mafioso faz?
Mamãe começou um aparente jogo de perguntas e respostas, e eu estava disposta a vencer. Minha Louca, colocou a mão na cintura, num símbolo de enfrentamento, que eu não poderia fazer pessoalmente - não se quisesse estar viva até o amanhecer - e disse atrevida, em minha mente, o que eu disse sem força alguma na voz.
— Entregam maletas pretas com documentos. — Peguei uma torrada e joguei na boca, quase podendo ver as letras "Winner", aparecendo acima da minha cabeça.
Mamãe levantou, parecendo bem maior do que o normal, colocou as mãos na cintura e com uma cara questionadora, disse.
— E você sabe que tipo de documentos maníacos eles levam nas "maletas" pretas? — Mamãe jogou o pano de prato por cima do ombro e saiu para a sala, como quem dizia "pense bem Mabel", enquanto eu assistia as letras brilhando acima da cabeça dela.
Minha mãe ir para a sala com um pano de prato, fazia bem mais sentido do que eu, sentada no chão da sala da minha chefe, arrumando os documentos do armário baixo. O que tinha, na maleta preta? E como essa mulher, conseguia bagunçar arquivos em ordem alfabética? Era simples, A no A e Z no Z. Tossi seco, sentindo os pulmões arderem, e voltei ao meu trabalho de procurar arquivos na letra J, que não deveriam estar lá. Ainda pensando, que raios tinha na mala preta!
Mamãe tinha razão, mafiosos não faziam trabalhos fofos, como atravessar idosas na rua. Eles eram os caras maus, aqueles que tiravam doces de crianças. Eu não sabia qual era o trabalho, ao certo de um mafioso, e muito menos, o que tinha na mala preta deles. Porém o olhar da minha mãe, me fazia temer o que pudesse estar lá dentro. E eram esses motivos, que também me faziam odiar minha mãe por perto, apesar de a amar muito. Ela questionava tudo até estar certa, e me deixar com um baita pepino na mão.
— Bel, Bel, larga isso aí, e vamos cantar! — Dona Margo, minha chefe, entrou na sala como um furacão, me quebrando a linha de raciocínio.
— Cantar? Sabe que sou super desafinada Dona Margo. E minha garganta não está para brincadeiras. — Disse, com a maior sinceridade.
Ela gargalhou alto, me deixando confusa e irritada. Eu não era uma cantora de ópera, mas minha voz não poderia ser essa comédia toda, né?
— Não, Bel — ela negou, parando a sessão de risadas e disse, enquanto ajeitava algo em sua mesa — sua mãe me convidou para o karaokê. Não faria sentido, deixar você trabalhando e ir me diverti. Levanta deste chão gelado e vamos logo. SeungRi me espera!
Sim, Dona Margo era louca e obcecada, por Big Bang. E apesar de ter o dobro da idade do SeungRi, tinha total certeza que um dia eles se casariam. Se ela já não fosse casada, claro! E para completar o pacote, mamãe compartilhava do mesmo fanatismo, mas acreditava que G-Dragon era sua alma gêmea.
Dona Margo, antes de sair da sala, chamou um funcionário da limpeza e disse que se ausentaria por algumas horas, mas que depois do almoço estaria de volta, já que este, espalhava fofocas bem rápido. O funcionário da limpeza era tão bom em espalhar fofocas, que Dona Margo parou de o repreender, e até achava engraçada, a forma como as histórias que ela mesmo havia contado, voltava para ela de um jeito totalmente diferente.
Naquela manhã, sem forças para fazer muito, por causa do resfriado - e das minhas últimas esperanças de saber o que tinha na maleta preta - fui vestida a conta gosto, com um moletom de fã comprado por dona Margo, afirmando que eu amaria Taeyeang. Ele possuía um capuz com o urso do Big Bang, e orelhas para cima. Também descobri tarde demais, que aquele karaokê faria um promocional da boygroup. Aquele lugar, havia sido escolhido a dedo pela minha mãe.
Enquanto eu me mantinha deitada nos bancos acolchoados, usando um urso do GD de travesseiro, pensei em tudo que conhecia sobre meu namorado mafioso, e ficava imaginando um pequeno Jeonghan, se dedicando ao canto, dança e escola, sem tempo para qualquer outra atividade. Ele era orgulhoso, precisava ser bom sempre. E talvez por isso, amasse minha loucura. Sempre era tão perfeito para mim, que nem a Louca questionava nada. Hannie estava sempre na minha cabeça e isso me pirava, porque eu sentia abstinência de Jeonghan. Eu poderia morrer sem ele, de verdade!
Tossi duas vezes, mais forte que o normal, tendo os olhos da minha mãe voltados para mim. Meu corpo estava um trapo, sentia que meus olhos não pareciam diferentes.
— Credo Mabel, sua cara está horrível! — Mamãe sentou ao meu lado, encostando a mãe no meu pescoço, rosto e por fim puxando o capuz para a minha cabeça e apertando o laço — Vá na farmácia, compre remédios para essa tosse e sua garganta.
— Mãe - disse em meio a tosse, vendo ela pegar dinheiro na bolsa — não precisa.
— Vai logo — ela colocou o dinheiro na minha mão — anda, anda. — E praticamente me empurrou para fora.
Depois de ser expulsa da sala, andei pelos corredores vendo garotas com artigos do Big Bang na mão. Como poderiam ser tão fanáticas? Eu não entendia. Parei na fila do balcão de conveniências, pronta para comprar um saco de balas, e logo duas meninas pararam atrás de mim.
— Ah você viu — uma dizia com a voz chorosa — resgataram quarenta cachorrinhos que seriam traficados. — Ouvi e me concentrei mais na conversa. Pobres cachorrinhos.
— Oh - a outra exclamou indignada — esses homens maus. Acham que tem o poder do mundo? Esses mafiosos!
Mafiosos! MAFIA! O que?
Sai da fila. Não queria ouvir mais uma palavra sobre cachorrinhos. Então era esse tipo de documento que mamãe falava? Eu realmente não poderia ser da máfia, muito menos mamãe, ela não colocava nem veneno de formiga na casa. Ninguém do bem poderia ser, mas mafiosos não eram traficantes. Eram? Eu queria chorar, não gostaria de viver com um traficante de cachorrinhos. Notei que tudo iria bem além do polimento, das festas com tango e coleção de pistolas. Mas não conseguia crer que, Jeonghan, levava documentos na maleta preta para mandar animaizinhos para longe.
A minha louca estava desesperada, e parecia procurar tantas provas quanto eu. Ela passou a rodar um filme da noite anterior, me fazendo enxergar os olhos frios de Jeonghan, para o filhotinho que morreu aos meus pés. Ah... não! Céus, Jeonghan realmente não pareceu ligar para a história comovente daquele pobre animalzinho.
Entrei na farmácia, com os olhos tão abertos que o atendente grisalho, recuou um pouco e perguntou a uma distância segura de mim: — No que posso ajudar?
— Qualquer remédio para resfriado e garganta. — Ele assentiu e saiu para o pequeno corredor de remédios.
— Também está no festival do Big Bang? — Perguntou sorrindo, enquanto voltava com meus remédios.
— O senhor acha... — debrucei na bancada, chegando próximo a ele como se dissesse um segredo e mudei a frase — Mafiosos não se comovem com histórias de cachorrinhos?
— Do que você está falando? — Ele voltou com uma cara confusa. — Está alucinando de febre?
— Ah — resmunguei — o senhor nunca entenderia.
— Menina estranha! - Ele disse humorado e eu sorri amarelo pagando pelos remédios, agradecendo e saindo.
Eu não era estranha, só tinha um grande problema. Jeonghan não era bem afetuoso a animais, no entanto, nunca havíamos ido a um zoológico. E ele sabia que minha infância havia sido feita em zoológicos e acampamentos. Ele não parecia ligar também, quando eu dizia que as florestas estavam sendo desmatadas. Ou quando eu chorava, por terem descoberto uma nova flor. Han nunca tirava um tempo para plantar uma árvore comigo, mesmo que eu dissesse que era a meta da minha vida plantar uma cerejeira, e ver ela florescer todo ano. Ah aquele insensível.
E tudo isso culpa do Cheolie, Elsa-Pocahontas, aquele velho gordo e sua maleta preta. Meu namorado estava aprontando umas das grandes, e eu precisava impedi-lo de se transformar em um traficante-mafioso de filhotes, matador de árvores.
Eu iria falar com ele!
Quando pisei na porta da academia, depois do almoço, voei pelos corredores direto para a sala de Han. Agora ele iria ver a minha fúria.
Antes mesmo de chegar lá, avistei os cabelos negros do meu namorado-ante-florestas-mafioso, passar para o corredor dos banheiros e acelerei os passos, vendo fumaça saírem dos meus pés. Agarrei o braço dele, e Hannie se virou para mim assustado, mas sorriu ao me notar.
— Você...vai…m...e — parei de tentar falar, notando que minha voz estava sumindo com a tosse. Maldita tosse!
— Bel, esse seu resfriado está piorando — ele me segurou pelas bochechas formando um bico — Também está com febre?
Os olhos dele me fitaram curiosos. Eu queria falar, mas seus olhos preocupados me tiraram o ar por um segundo. Retirei minha mão do braço dele, deixando ela jogada ao lado do meu corpo.
— Hannie, o que você acha de um dia....nós dois termos um cachorrinho?
O que eu estava fazendo mesmo? Era para perguntar se ele mataria um cachorrinho, não se adotaria um. Jeonghan me olhou confuso. Parecia encontrar as palavras certas, para assimilar aquele pedido estranho.
— Mabel... — a voz doce me atingiu os ouvidos, e eu vi um sorriso indecifrável se formar no canto superior do lábio dele. Eu estava preparada para aceitar até se ele dissesse, que odiava cachorrinhos. — Isso seria como ter um filho. Sim?
Eu virei um tomate naquele momento. Nunca tínhamos tocado no assunto filho, e não era bem ali que eu queria chegar. Um filho do Jeonghan envolvia muitas coisas. E só em pensar meu rosto ardia. Meu coração acelerou tanto, que eu jurei que iria desmaiar.
Mas a Louca desmaiou.
E sem ela, eu não sabia como sair daquela situação ou inventar qualquer que fosse a desculpa. Eu já havia mostrado coisas de casamento para ele, mas nada sério. Apesar de que o anel de compromisso, era algo a ser tratado no futuro. Eu pensei no filhotinho, não no filho. E filho não era a questão. Com a louca respirando devagar, quase parando, eu fiz o que meus pés me mandaram fazer quando a palavra filho zuniu num eco, virei de costas e sai dali. Andando o mais rápido que eu pude.
É, eu estava fugindo mesmo. E fui mais rápida que o relâmpago Mcqueen, quando ouvi Jeonghan rindo, lá no final do corredor. Aquele cretino! O que ele pensava estar fazendo?
Entrei na sala da minha chefe como um foguete. Jeonghan havia entrado em um assunto delicado. Mesmo que eu tivesse vinte anos, não achava que aquilo estava apropriado para mim. E me esconder com Margo me pareceu apropriado.
— O que aconteceu Bel? — Dona Margo, assustada com minha entrada, me apontou a cadeira a sua frente. Ela tomava café pacientemente.
— Hannie, falou sobre filhos. — Soltei com o ar que prendia e nem sequer notei.
— Vocês namoram a quase dois anos, não faz mal falar sobre isso. — Ela deu de ombros, olhando do café para o meu rosto e no fim sorrindo.
— O que? Não, não! — Dona Margo sorriu, mas abertamente. Ela havia acabado de entender meu drama.
— Entendo. Isso se ajeita com o tempo Mabel. Jeonghan é um menino bom. Ele ainda pode te surpreender muito.
— É que... — senti todo o meu rosto esquentar, sem conseguir completar a frase, ouvindo duas batidas fracas na porta.
— Entre, por favor. — Dona Margo gritou.
Jeonghan apareceu ajeitando os cabelos soltos para trás da orelha, e sorriu para minha chefe, como se ela guardasse seus segredos.
— Boa tarde Jeonghan! O que te trouxe a minha sala? - Ela tinha um sorriso contido.
— Boa tarde, diretora — ele sorriu novamente, e parou atrás da cadeira que eu me sentava — Preciso falar alguns minutos com sua secretaria. A senhora me cederia esse momento?
Olhei para dona Margo, suplicante, para que não permitisse tal blasfêmia com nossa amizade. Mas aquela mulher de quase meia idade, sorriu para Jeonghan e assentiu, para que me levasse dali, enquanto eu amaldiçoava qualquer futura relação que ela poderia ter com SeungRi. Oras, eu estava escondida, e mesmo que ela não soubesse, eu gostaria que ela colaborações comigo.
Jeonghan me levou para a minha sala-almoxarifado-saladocafé. Assim que ele fechou a porta, o menino me puxou para seus braços, me apertando ali, depois se afastou e me encarou sério. Céus, o que ele estava fazendo agora? Me observou por longos minutos e voltou a se aproximar. Num impulso mais forte que eu, me joguei para trás, escorando em um dos armários de arquivos. Ele apoiou um dos braços ali, desta vez, vindo em direção da minha boca, enquanto eu me encolhia.
Jeonghan parecia sombrio e bonito. Como um belo Vampiro. Conseguia ver toda a cena, como em um filme de terror romântico, onde Jeonghan pediria para dizer o que ele era. Mas não queria dize alto e claro, que Han era da máfia e perseguia filhotinhos. Também não queria ver ele me mostrar o quão assustador poderia ser. Conseguia ouvir meu coração pular, e a Louca, recuperada do desmaio, trazer o aparelho desfibrilador pronta para me ressuscitar do choque. Se Jeonghan fosse me mostrar o quão mafioso-vampiro, ele fosse, que pelos céus, não fosse no almoxarifado.
— Ter um filhotinho é uma grande responsabilidade — Han disse próximo a minha boca, baixinho — não creio ser uma ideia boa. Se ficar na minha casa, ele sentiria tanta falta de você, quanto eu sinto — e antes que eu pudesse ter uma parada respiratória, Jeonghan desviou dos meus lábios e me deixou um beijo na testa.
— Eu, há, é.... O que? — Olhei para a ponta de seus cabelos tentando entender o que havia acontecido. Ele não iria fazer mais nada? Quer dizer, esperava mais deste momento revelador.
— Sua boba você se impressionou com o filhotinho que morreu aos seus pés, não é mesmo?
Jeonghan colocou meu cabelo curto atrás da orelha, e eu me perguntei do que ele estava falando. Na verdade, nem sabia direito onde estávamos.
— Do que está falando? — Sussurrei, trêmula.
— Ué, do filhotinho da noite passa...
— Ah sim. — Quase me desmenti — Você sabe que não posso ver nenhum animal sendo maltratado não é mesmo. Eu me sinto mal por eles. Sofro muito. — Reforcei o quanto machucar animais me deixava mal.
— Eu sei — ele sorriu — você nem mesmo aceitou ir naquele pesque e pague comigo. Seu coração mole!
— Não diga isso. Aquilo parece uma chacina. Matar minhocas para depois machucar peixes e jogar na água? — Formei um bico de estranheza — Nunquinha boto meus pés lá. — Jeonghan me abraçou me confortando.
Não sei como esse Jeonghan poderia ser da máfia. Ele era doce, gentil. Sua voz quando cantava, poderia ser comparada a de um anjo bom. Então onde ele era mau? Jeonghan me soltou, e procurou nos bolsos seu celular que tocava. Atendeu, com uma cara nada boa e se afastou uns dois passos.
— Alô — ele disse ao atender. Me escorei mais nos armários. — Não, eu não posso ir agora. Não tem como sair daqui, tenho ensaio solo. — Han pareceu se exaltar um pouco. Ele se virou de costas para mim e disse num fio de voz: — Como isso chega com erros? Amanhã eu resolvo isso. Tudo bem! — E encerrou a ligação. Jeonghan jogou os cabelos para trás, e se voltou para mim
— Vamos, Margo deve estar procurando você.
— Han quem... — ele me puxou, circulou os braços na minha cintura e me beijou com calma. E na mesma velocidade, segurou na minha mão e me puxou para fora. Eu me conformei que Han sempre conseguia me dar cala bocas muito bons. E funcionavam!
— Então ele estava preocupado com uma nova encomenda? — Hoshi pulou no meu sofá, com uma garrafa de refrigerante na mão.
— Deve ser emocionante ser da máfia — Seokmim sorriu, enquanto rolava pelo chão da sala, fazendo uma arma com os dedos. — Não se mexa Boo, ou você já era! — Seungkwan revirou os olhos e olhou para a TV. Ele havia desistido do PokemonGo, quando descobriu que não era fácil achar os bichinhos.
— Han disse algo sobre entregar alguma coisa direito. E disse que amanhã resolveria. — Sentei ao lado deles, com a bacia de pipoca, que havia feito com Soonyoung na cozinha.
— Podem ser joias. — Seungkwan falou de olhos concentrados na TV, logo depois virou para mim, pegando a pipoca da bacia — Mafiosos trabalham com isso.
— Isso, verdade! — Os olhos de Soon se transformaram em dois riscos, com sua expressão abismada. — Ele pode ser um ladrão internacional de joias.
— Hoshi! - Seokmim gritou e fez um barulho, representando um tiro e Soonyoung fingiu morrer, se jogando do sofá para o chão.
— Nunca irá levar minha joia — Soon agarrou o litro de refrigerante com força, quando Seokmim tentou o arrancar de suas mãos. Os dois começaram um cabo de guerra no chão com o litro.
— Vocês vão estourar a garrafa — Kwan entrou na briga, indo para o chão também.
Levantei os pés do chão, permitindo que as três crianças rolassem por ali, e sem eles notarem, peguei a garrafa deixada de lado na briga e a abri observando a TV.
Agora que sabia que, mafiosos eram ladrões, que havia muitos tipos de documentos para serem carregados nas maletas pretas e que Jeonghan poderia ser um ladrão de joias, eu havia me acalmado. Em partes sim! Saber que ele não machucaria filhotinhos era aliviador. E eu até poderia achar que meu Hannie havia voltado a ser o kristoff, mas ao invés de gelo levava diamantes.
Meu único problema era aquela ligação. Ele poderia ser o garoto dos disfarces, que me passava a perna muito bem quando o assunto era mudar a conversa, mas seu beijo ainda não havia me dado amnésia. Meu lado apaixonada dizia em letras garrafais " deixa para lá", mas a curiosidade insistia no " vai fundo". A minha louca se recusava a deixar isso tudo quieto, por mais que eu soubesse, que não me meter, era a jogada certa. Que tipo de encomenda chegaria errado?
Mamãe ainda não tinha voltado para casa. E as coisas por ali estavam uma bagunça por culpa dos três, que corriam se atacavam com pipoca, e depois comiam elas, mesmo do chão.
Observei DK derrubar Kwan, e Soonyoung ir para cima dele. Eles nunca davam a devida atenção ao meu problema.
— Hoshi desce daí — Gritei para o menino que estava prestes a subir nas costas de Seungkwan e fazer, sabe se lá o que.
— Ah noona — fez bico, tentando me convencer de sua proeza.
— Nem venha com Noona. Vocês iriam se machucar. — Resmunguei brava, tossindo pelo esforço na voz. Seungkwan praguejou enquanto levantava e sentava do meu lado.
Notei que estava ficando ranzinza. E pelo bico formado na boca das três crianças, eu estava chata e eles, surpresos pelo meu tom de voz. Eu queria Hannie perto, do mesmo jeito que era antes da quinta feira. Estava triste novamente e proibida de comer sorvete. Tossi com um bico infantil, e lágrimas se formando no canto dos meus olhos. Não queria ter sido rude com os meninos. Os três me encararam de volta e sorriram, me confortando.
— Bel, — Hoshi se sentou aos meus pés, me olhando com aquela feição de gatinho, e sorriu fofo — o que quer fazer?
— É Bel. — Até Kwan tinha a voz macia — Nós vamos ajudar você. Uh, uh?
— Ainda quer amassar ele? - DK socou o punho na mão, e eu neguei.
Entre brigar comigo mesma ou com Hannie, eu preferia a primeira opção. Toda aquela história só me dava dor de cabeça, e até gritar com meus amigos eu havia gritado. Engoli o ego, prendi a minha parte Louca de volta no cativeiro e depois de ver a parte da minha mente Apaixonada, dançar em volta de uma fogueira que exalava corações, ao invés de fumaça, tomei uma grande decisão.
— Chega. Eu não quero mais a Louca agindo, nem saber sobre a vida Mafiosa de Jeonghan. Chega de Cheolie, Elsa-Pocahontas e todas essas pessoas que me fizeram esquecer o quanto gosto do Han. Eu amo ele, e estou — eu falei, subindo até estar de pé no sofá — definitivamente — e olhando para a janela que ficava logo atrás da TV, gritei com a mão para cima — Parando!
— Parem com o barulho aí em cima. Maluca!
Realmente teria sido mais emocionante, se o vizinho debaixo não tivesse reagido, fazendo os meninos rirem escandalosamente.
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