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História Meu Paizinho, Naraku - E a família aumentou


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.

Demorou, mas apareci aqui também, rs. Meu tempo tem estado mínimo, por isso os atrasos. Este capítulo pode conter alguns eventuais erros, já que estou postando às pressas.

Boa leitura!

Capítulo 13 - E a família aumentou


Fanfic / Fanfiction Meu Paizinho, Naraku - E a família aumentou

Algumas horas antes

 

Vendo os raios de sol iluminando o quarto, Kanna abriu os olhos; gritavam dentro do castelo. Ela se ergueu rapidamente, indo até o quarto que dividia com Kagura e parando perto da porta, sem saber se adentrava o cômodo ou não.

— Você não sai por aquela janela hoje! — berrava seu mestre, ao que a Mestra dos Ventos retrucava no mesmo furor:

— Quem você pensa que é para mandar em mim, seu desgraçado?!

— EU SOU... SEU... SEU PAI! — gritou Naraku, segurando a youkai pelo braço.

— NÃO! VOCÊ É MEU MALDITO MESTRE INTROMETIDO! E ME SOLTE!

— DE JEITO NENHUM! AINDA DAREI CABO DAQUELE MALDITO CACHORRO METIDO A DIVO! — esbravejou o hanyou. Evidentemente, Kagura não entendeu o significado daquela palavra nova.

— VOCÊ NÃO SE ATREVERIA!

— ME ATREVO! É O QUE ESTOU TENTANDO FAZER HÁ MESES, SUA ESTÚPIDA!

— Ei... Pessoal... — chamou Kanna, timidamente, da porta, atraindo de imediato a atenção dos brigões. — Por favor, não briguem...

— Não se meta, pirralha — foi a resposta mal humorada de Kagura. O aperto de Naraku em seu braço se intensificou.

— Não fale assim com ela, insolente... Kanna, filhinha, você...

— Quer que eu ria e bata palmas para todo esse circo que vocês armaram?! — interrompeu-o Kagura, fazendo com que Kanna arregalasse os olhos vazios. — Paizinho, filhinha... Família... Quanta idiotice! Não somos uma família!

— Como pode dizer isso, Kagura?! — rebateu Naraku.

— Deixe de hipocrisia, maldito Naraku! Você roubou o meu direito de ter um coração e, de Kanna, o de ter uma alma! — esbravejou ela, com os olhos marejados. O hanyou ficou mortificado. — ISSO NÃO É PAPEL DE UM PAI!

— Kagura... — murmurou Kanna, espantada.

— Quer mesmo ter esse desgraçado como pai, Kanna?!

— Kagura, não aceito que... — comentou o vilão, sendo interrompido.

— Eu NÃO ligo para o que você aceita ou não, hanyou Naraku! EU ODEIO VOCÊ! ODEIO! PREFERIRIA NÃO EXISTIR A TER SIDO GERADA POR VOCÊ!

O hanyou parecia bastante chocado. Kanna deu alguns passos em direção aos dois e tocou no braço do seu mestre, dizendo inexpressiva:

— Papai, solte Kagura. Deixe-a ir.

Os dedos se abriram, soltando o braço de uma Kagura de rosto molhado, que, sacando sua pena, se foi do castelo tão ligeira como um facho de luz, chorando. A pequena youkai permaneceu ao lado de Naraku, que não se movera um milímetro, enquanto sentia sua cabeça doer horrivelmente.

— Ela só precisa de um tempo, mais tarde ela volta...

— Por favor, Kanna — murmurou ele, olhando fixamente para a janela do quarto. — Não diga nada... Apenas não saia de perto de mim.

Sentaram-se sobre o tapete; o hanyou colocou a menina youkai em seu colo e a abraçou, tristonho. Kanna não conseguiu entender o porquê da amargura de seu mestre.

— Kagura me odeia — murmurou ele, depois de longos minutos em silêncio.

— Mas todo mundo te odeia, chichi-ue.

— Eu sei disso — replicou Naraku, impaciente. — Mas ouvir Kagura dizer isso foi... Ruim. Muito ruim. E eu não sei por que me sinto tão mal agora...

— Você gosta dela?

— Não sei, mas acho que gosto. Não... Tenho certeza: gosto sim, e muito... Como gosto de você — respondeu ele, segurando os ombros de Kanna e a encarando. — Fica difícil explicar o que é isso, é um sentimento complicado que eu não sentia desde que nasci na caverna... Desde que certa pessoa me rejeitou, nunca quis voltar a gostar de alguém nessa vida.

— Você já foi rejeitado?!

— Oh, não, digo, talvez, ou melhor... Sim, mas... É uma longa história — desconversou ele, incomodado, notando que falara demais. — Mas... Kanna...

— Sim? — fez ela, sustentando o olhar do vilão.

— Você gosta de mim?

— Eu o obedeço, papai. Não sei o que é gostar de alguém, pois você não me deu uma alma — disse ela, tentando se corrigir ao ver que sua resposta havia destruído ainda mais o coração do lívido Naraku. — Mas não estou me queixando, longe disso... Foi só um comentário...

— Ei, tudo bem, pequena Kanna. Você está certa. Agora, por que não vai ler um livro? Preciso sair agora.

— Mas foi por algo que eu disse? — indagou ela, inocentemente. — Se for, me perdoe...

— É claro que não. Olhe, vá ler um livro dos que estão em meu quarto. Trouxe alguns com uns nomes bem interessantes, como “Morte na Mesopotâmia”, “Morte nas nuvens”, “É fácil matar”, “Convide para um homicídio”...

— Esse último me interessou.

— Pois então aproveite, querida. Fique quietinha aqui, volto em breve... — fez ele, se erguendo com a criança no colo e a colocando no chão, após dar um beijo tímido em seu rosto; Naraku não era acostumado àquilo, e Kanna ainda menos. Criando sua barreira, o hanyou se foi pela janela, deixando Kanna imersa em muitos pensamentos.

— Au, au! — latiu o akita dentro da caixa colorida. A menina rapidamente se levantou e o destrancou dali, para alimentá-lo.

— Bom dia, Sui-chan — disse ela ao bichinho. — As coisas andam esquisitas aqui no castelo.

Ela não experimentava sentimento sequer ao ver seu paizinho e sua irmã brigados, mas deduzia que aquilo era péssimo. Afinal, família ou não, eles eram um grupo de youkais caçados e odiados por boa parte da população daquela região. Desunidos, seriam facilmente pegos.

Após dar água e ração ao akita, Kanna pegou-o nos braços e desceu devagar para o quintal do castelo.

— Ishiteimei, cadê você? — perguntou ela. Kagura o havia escondido. A voz soou do ponto mais próximo ao canto direito do muro.

— Aqui, criança. Aconteceu algo errado?

Havia um forte cheiro de azevinho no local. Caminhando até o youkai pedra, a criança fez sua queixa:

— Ishiteimei, o que você fez? Agora meu chichi-ue e minha aneue estão brigados. Estamos mais vulneráveis a um ataque.

— Minha pequena, isso é comum na convivência entre familiares.

— Mas eu não aceito — retrucou ela, inexpressiva. — Não lhe pedi uma situação dessas.

— Você me pediu um pai, criança, não uma família perfeita. E, mesmo se tivesse me pedido a família perfeita, eu não teria como lhe oferecer... Famílias perfeitas não existem!

Kanna baixou a cabeça, seu olhar sempre vazio fitando o filhote que se sentara ao lado de seus pezinhos. O youkai pedra poderia jurar que ela estava triste, mesmo sem ter uma alma. Usando um tom de voz mais cordial, ele disse:

— Enfim, o que você precisa aprender é que uma família forte não é a que não tem problemas, e sim aquela onde seus integrantes são unidos e sabem perdoar uns aos outros. O seu pai e a sua irmã sairão mais fortes desse conflito depois que fizerem as pazes e perceberem que o amor é mais forte do que essas questiúnculas.

A pequena se sentou ao lado de Ishiteimei e começou a pegar alguns ramos de azevinho espalhados por ali; colocando-os por cima dele, comentou:

— Eu não entendo Naraku. Ele parece se sentir sempre sozinho, mesmo comigo por perto. Por que será?

— Ele deve sentir falta de uma companheira, pequena Kanna.

— Mas eu sou a companhia constante dele.

— Não, querida — replicou o youkai, rindo, absorvendo as folhas e reluzindo. — Você é a menininha dele, ele a ama como a uma filha. Seu papai deve sentir falta de uma esposa. Você nunca pensou nisso?

— Uma esposa para Naraku? — repetiu Kanna, olhando para o céu azul. — Ela vai tomar Naraku de mim. Não quero.

— Não seja boba, criança. São sentimentos totalmente diferentes. E tenho certeza de que, se seu pai pudesse ter uma esposa, se sentiria muito mais feliz. E seu zelo por você e sua irmã aumentariam sobremaneira. Afinal, o amor transforma a vida de um homem, seja ele um humano, um youkai ou mesmo um híbrido.

— Não sei o que é o amor e não entendo nada disso. Mas não quero, Ishiteimei. Naraku é meu papai e eu não o divido com ninguém que não seja Kagura.

Ishiteimei deu uma breve risada.

— Você é uma criança bem ciumenta, hein?

— Eu? Não sei... Sou? — replicou Kanna, sem entender.

A resposta foi outra risada.

 

***

 

Naraku saiu andando sem direção certa, angustiado, preocupado com sua menina mais velha. O sol ainda estava com uma temperatura agradável, de forma que o hanyou pôde seguir por mais de uma hora sem se fatigar. Embrenhou-se em um bosque; sua cabeça doía bastante e ele não quis mais andar. Sentou-se debaixo de um pé de tangerinas, realmente cansado, sentindo que seu youki estava diminuindo. No entanto, ele estava tão magoado que sequer deu atenção a tal fato.

Não tinha como Naraku adivinhar que Kikyou deixaria Kohaku no vilarejo e voltaria para procurar mais um fragmento de youkai pedra por ali. No momento, ela estava sentada sobre um dos galhos do mesmo pé de tangerinas onde o hanyou havia acabado de se recostar. A energia de um extinguia a do outro.

A moça levou um susto ao ver o cocuruto da cabeça dele bem ali, abaixo dela. As folhas de azevinho, que só ela e Kagome enxergavam, estavam ali misturadas aos cachos negros. Kikyou manteve-se quieta, imaginando que aquilo seria uma armadilha. Afinal, um ser como Naraku a perceberia de longe, tanto pelo cheiro quando pelos seus poderes. Mas o hanyou parecia muito concentrado em cantarolar baixinho algumas sílabas desconexas com a melodia de Liberian Girl. A moça abriu ligeiramente os lábios, hipnotizada. “Desde quando ele canta? Que voz gostosa de se ouvir”...

Entretanto, Kikyou meneou a cabeça, perturbada. Inferno, o dono daquela voz era o maldito Onigumo, bem ali, abaixo dela, pedindo para ser morto... Ela, então, decidiu atacar. Pôs-se de pé sobre o galho e empunhou o arco. O farfalhar das folhas alertou Naraku, que olhou para cima e se deparou com a sacerdotisa prestes a acertá-lo; ele fez cara de bravo.

— Não me perturbe, Kikyou, eu quero ficar sozinho!

— Vai ficar sozinho no inferno! — retrucou ela, preparada para disparar a flecha. Viu os olhos do vilão se arregalarem e se sentiu satisfeita, por vê-lo receoso.

— Pare com essa palhaçada e desça daí, sua louca! — gritou ele. O galho estava prestes a se partir e a moça não havia percebido.

— Não acha que vai me intimidAAAAAAAAAAAAAAHHH! — o galho se quebrou.

— KIKYOU!

Usando o pouco poder que lhe restava, Naraku saltou em sua direção livrando-a da feia queda; ambos rolaram juntos pelo chão enquanto o galho caía ruidosamente. O hanyou, meio zonzo com o impacto, agradeceu internamente ao ver que ela estava segura, agarrada a ele, talvez por reflexo. A sacerdotisa, contudo, o largou rapidamente e, de joelhos sobre o vilão, empunhou o arco mais uma vez. Um breve sorriso sarcástico passou pelo rosto de Naraku, enquanto este dizia:

— Uma pergunta me veio à mente, depois de ver aquele galho quebrando, Kikyou.

— O que seria? — indagou ela.

— Como você conseguiu engordar depois de morta?

Furiosa, a moça disparou a flecha; entretanto, os reflexos do hanyou ainda eram mais rápidos e ele pôde bater em seu braço, fazendo com que a flecha atingisse apenas uma mecha de cabelo. Kikyou levou as mãos à aljava, mas constatou decepcionada que não havia mais flechas ali. Sua raiva foi tanta que esbofeteou o vilão, cujos olhos agora estavam castanhos. Ele, irado, segurou o braço da sacerdotisa com força, enquanto dizia em voz baixa e perigosa:

— Dê-me outro tapa desses e eu a matarei de novo, sua gorda.

— E eu seria capaz de reviver só para te bater mais vezes, maldito! — foi a resposta de Kikyou, que tentou batê-lo com a outra mão, mas foi firmemente segurada. O agora humano Naraku a olhava intensamente, parecendo furioso e fascinado ao mesmo tempo. — VOU MATAR VOCÊ, ONIGUMO!

— Tente! — zombou ele, percebendo então que estava totalmente sem youki, mas sem se deixar abater; algo na jovem também estava errado, ele percebia. Tão próximos um do outro como estavam, era só ela pegar a flecha no chão e acertá-lo, o que não aconteceu. — O que houve com seus braços? Estão macios. O calor amoleceu você, Kikyou? Hum... Você continua muito bonita.

Usando toda a força que possuía, a jovem se lançou para o lado, na tentativa de se desvencilhar daquele aperto nos braços. O que conseguiu, porém, foi girar o corpo do hanyou para cima dela. A extrema proximidade fez com que ambos ficassem vermelhos, mas Naraku não resistiu à vontade de prosseguir com as provocações, principalmente ao ver que ela não estava se esforçando para purificá-lo.

— Kikyou!? Isso lá são modos de uma donzela?

— Desgraçado...! Eu faria qualquer coisa para destruí-lo! — replicou Kikyou, se debatendo debaixo do corpo dele. Era inusitada toda aquela situação; ela sentia raiva de si mesma por ter cometido os erros que a colocaram subjugada por seu inimigo e, estranhamente, não conseguia parar de olhar para o rosto daquele vilão, cujos cachos caíam ao lado de seu rosto. O aroma agradável e desconhecido que emanava dos cabelos de Naraku (oriundo do redutor de volume capilar) fez com que ela se traísse, perdendo a vontade de se afastar dele, que havia diminuído a força em seus braços.

Encafifadíssimo, Naraku enfim reparou na área próxima ao pescoço de Kikyou e percebeu que seu miasma, de roxo escurecido, estava de uma tonalidade esverdeada, quase transparente, sendo emanado da ferida quase sarada. A pele dela estava macia e quente; era possível inclusive ver gotículas de suor umedecendo a franja da sacerdotisa.

— Faria qualquer coisa para me destruir? — indagou ele, arqueando a sobrancelha.

— F-faria. Faço!

— Então, vou oferecer a você, Kikyou, uma grande oportunidade — e o hanyou a beijou.

A princípio, a sacerdotisa ficou estática e sem reação; depois, acabou por corresponder ao beijo por alguns instantes antes de se dar conta do que estava fazendo e morder o lábio de Naraku com força. Aproveitando a distração dele e a liberdade de seus braços, empurrou-o para o lado, erguendo-se do chão e o olhando com antipatia. Ainda com a mão sobre o lábio dolorido, o hanyou parecia confuso.

— Seu corpo deixou de ser de barro... — comentou ele, estudando o rosto corado de Kikyou, que respondeu da mesma forma:

— Sim, e você... Virou um humano. Como vai se defender?

Tais palavras fizeram o hanyou ficar alerta; lembrou-se de que, sem poderes, não poderia ordenar aos seus insetos para proteger Kagura. Precisava encontrá-la; provavelmente, ele perdeu o youki devido à proximidade com a sacerdotisa, assim como aconteceu quando fora atrás de Kagome. Virou-se bruscamente e se pôs a correr; Kikyou, totalmente confusa, chamou-o:

— O que deu em você?! Qual o propósito de termos nos encontrado?!

— Não sei! Não planejei nada disso! — rebateu ele, parando e olhando para ela aborrecido. Estar fragilizado diante de Kikyou era algo que Naraku não gostava de vivenciar. — Minha filha precisa de mim!

Filha?! — fez ela, estranhando.

— Sim! Filha! — respondeu Naraku, recomeçando a correr pelo bosque adentro. Olhou uma última vez para a jovem, irônico: — Não tenho tempo para brincar de rolar no chão com você, Kikyou. Vá procurar um cachorro para isso... Menos o InuYasha, já que ele arranjou outra dona. Até outra vez... Sua gorda.

A última frase proferida pelo vilão fez com que toda a raiva esquecida de Kikyou retornasse a toda; ela, ultrajada, abaixou-se e pegou de volta a flecha caída no chão, empunhando-a. Os poderes de Naraku não haviam voltado ainda, ao contrário dos dela; por mais que ele corresse, a vegetação do bosque impedia que ele se locomovesse mais depressa. Kikyou mirou; ela era dona de uma excelente pontaria, e a flecha purificadora se deslocava por muitos mais metros no ar do que uma flecha comum, depois de lançada.

O que ninguém esperava é que, assim que a flecha fosse disparada, uma silhueta pequenina aparecesse de supetão no local, entre o casal, segurando um espelho. A intuição de Naraku fez com que ele, então, olhasse para trás e visse a flecha da mulher que nunca havia saído de seus pensamentos indo contra a sua pequena Kanna. Apavorado, gritou pela criança, enquanto se voltava para ela:

— KANNA!!!

A pequena albina, contudo, havia conseguido absorver a flecha com seu espelho, que se partiu. Com alguma dificuldade, já que ela não tinha prática nisso, criou uma barreira e se aproximou de seu mestre rapidamente, protegendo-o. Olhando para uma embasbacada Kikyou, Kanna disse:

— Tente algo contra meu papai mais uma vez, miko, e eu a destruo... Não se meta com ele.

Dentro da barreira, o hanyou arfante conseguiu, então, reaver parte de sua energia e abraçar Kanna.

— Filhinha! Nunca imaginei que soubesse criar barreiras. Estou muito orgulhoso de você! — exclamava ele, beijando o topo da cabeça da criança e já se elevando nos ares. Sentindo-se seguro, olhou ostensivamente para Kikyou uma última vez, zangado por ela ter atacado sua menina mais nova e, ao mesmo tempo, deslumbrado pelo beijo correspondido. Um toque de Kanna em sua mão o fez voltar à realidade:

— Você está melhor agora, chichi-ue?

— Sim, minha querida. Vamos para o castelo e depois irei atrás de sua irmã. Sabe, eu estive pensando...

E os dois youkais se foram, conversando, enquanto a sacerdotisa, com os braços caídos, os observava, estupefata. Depois, levou as mãos à boca, pensando naquele confronto seguido de beijo e fuga.

O que fora tudo aquilo, afinal?!

 

***

 

Parecendo resoluto, Naraku, já no castelo com a pequena youkai, abria o alçapão.

— Filhinha, espere-me aqui.

— O que você vai fazer lá embaixo, papai? Hoje não é o seu dia de híbrido...

— Vou fazer algo bem interessante, querida. Logo depois, vou atrás de Kagura mais uma vez — afirmou ele, sorrindo para a criança e indo ao porão do castelo.

Kanna se sentou ao lado do alçapão. Sua curiosidade infantil a fazia se remoer, mas, obediente, não foi espiar o vilão. Pegou o exemplar de “Convite para um homicídio” e se pôs a lê-lo.

E, no porão, despido, o hanyou, de semblante pensativo, infligia mutações diversas no seu corpo. Braços, chifres, olhos, cabeças e pés se agitavam dentro de seu abdome. Ainda estava bastante impressionado pelo fato de ter conseguido roubar um beijo da sacerdotisa — o beijo cobiçado há mais de cinquenta anos —, mas deixaria para refletir sobre isso mais tarde.

Meia hora depois, Naraku pôs as mãos na barriga agitada e de lá extraiu um amontoado disforme de carne. Sorriu, enquanto usava seu youki para dar forma humana àquela massa viva.

— Um youkai jovem, maduro e responsável, que não me desobedeça em hipótese alguma e que seja devotado a mim e a minhas filhas... Desta vez, sem nada que o force a me servir. Quero que tenha a lealdade de Kanna e a intrepidez de Kagura. E que reverencie o grande youkai Malcolm Jetson como eu.

Não demorou para que surgisse ali a silhueta esguia de um rapaz magro e branco que abria os olhos devagar, de cabelos lisos e negros, lábios vermelhos e um estigma em forma de aranha nas costas. O hanyou estendeu-lhe a mão, ao que o rapaz, ainda um pouco confuso, apertou, perguntando timidamente:

— O que sou eu?

— Seja bem-vindo ao mundo, Byakuya. Você é o youkai dos sonhos e das ilusões.

— Byakuya é o meu nome? — perguntou ele, enquanto Naraku lhe dava um quimono azul de tecido nobre e assentia com um gesto de cabeça. — E você, quem é?

— Eu sou Naraku, o seu criador e mestre... E irmão mais velho.

Ambos começaram a se vestir, enquanto se observavam com curiosidade. O porte físico do jovem youkai Byakuya diferia do de Naraku apenas em altura — era um palmo mais baixo. Agora trazia no rosto uma expressão zombeteira, que seria sua marca registrada.

— Imaginei que fosse meu pai — disse Byakuya, vestido. Naraku resolveu testá-lo:

— Bem, você foi gerado por mim, mas com o propósito de ser meu otōto, que me ouça de vez em quando sem se sentir sobrecarregado — o rapaz o ouvia atentamente. — Em suma, diferentemente de minhas meninas, você é um youkai totalmente adulto. Prenda os cabelos.

Instantaneamente, Byakuya levou as mãos aos cabelos lisos; o hanyou lhe ofereceu uma fita e ele fez um rabo-de-cavalo alto. Naraku parecia satisfeito com o resultado; a cria nova era bonita e dócil.

— Vamos, Byakuya, você vai conhecer minha filha Kanna. Quero que cuide dela e da outra, Kagura, como se sua vida dependesse disso.

— Sim, senhor.

Os dois saíram do porão. Ouvindo o ruído abaixo de si, Kanna rapidamente se pôs de pé e abriu o alçapão, piscando um pouco ao ver o segundo youkai acompanhando seu pai.

— Ele é meu irmão, papai? — indagou ela.

— Não. Ele é meu irmão, querida, este é Byakuya das ilusões. Byakuya, esta é a youkai do espelho, minha filhinha Kanna.

— Prazer em conhecê-lo, Byakuya — respondeu ela, inexpressiva.

Simpático, o youkai das ilusões fez surgir um miosótis idêntico aos que enfeitavam os cabelos de Kanna entre seus dedos e o ofereceu para ela, que o pegou surpresa.

— Prazer em conhecê-la, Kanna. Este miosótis pode fazer com que eu ouça sua voz, quando você quiser falar comigo, mesmo que apenas em pensamento.

Sem pestanejar, a menina levou a mão ao lado direito da cabeça e substituiu a flor pela dada por Byakuya. Naraku sorriu mais uma vez, satisfeitíssimo. Torcia para que Kagura também aceitasse o novo integrante da família.

— Byakuya — chamou ele. — Estrale os dedos continuamente seguindo um ritmo rápido.

— Assim? — respondeu o rapaz, fazendo o que lhe fora pedido.

— Um pouco mais devagar.

— Assim?

— Isso! — fez o hanyou, enquanto dava um giro repentino e cantarolava um “na-na-na-na-na” referente a Black or White, dançando desinibido. — Como estou?

— Vez por outra, seus passos ficam inseguros, principalmente quando levanta a perna, Naraku — afirmou Byakuya, surpreendendo seu mestre, que propositadamente não estava executando direito os passos da dança. Naraku planejara fazer aquele youkai bem observador e analítico, de forma que não era preciso conhecer a coreografia para ele notar que, ocasionalmente, o vilão parecia hesitar em alguns passos.

— Papai, que dança bizarra e interessante — comentou Kanna. — Quero ver de novo.

— Sim, querida, mas mais tarde — respondeu Naraku, já olhando significativamente para Byakuya, que, sacando um tsuru de papel de um dos bolsos, ampliou-o e subiu no mesmo, sendo seguido pelo hanyou. — Vamos atrás de Kagura. Você ficará bem aí, não é?

— Sim, eu vou ficar bem. Não sabia que Byakuya também pode voar...

— Acabei de descobrir isso, Kanna — respondeu o youkai das ilusões, sorrindo, se encaminhando para a porta do salão dentro do pássaro de papel. — Quando tudo estiver tranquilo, vou te levar para passear comigo, quer?

— Se Naraku deixar, eu vou.

— Deixo, é claro — respondeu Naraku, das alturas, se afastando devagar. — Byakuya terá por você e Kagura o mesmo cuidado e zelo que eu, meu bem. Já voltamos.

 

***

 

Tarde no quintal de Kaede; a casa estava vazia, já que Kagome tinha voltado ao vilarejo com Shippou, deixando apenas os dois inuyoukais e Rin.

— Batatinha, um, dois, três! — dizia Rin, virando-se para trás e fazendo com que InuYasha pisasse de mau jeito e caísse no chão. Sesshoumaru, sentado à sombra das árvores, disfarçou uma risada. A menina, contudo, gargalhava sem a mínima reserva, olhando para a carranca do hanyou.

— Isso não vale, pirralha! — esbravejava ele. — Você não me dá tempo de te alcançar!

— Mas é esse o desafio da batatinha, idiota... — comentou o youkai branco. — Você deve tocar em Rin antes que ela se vire para trás.

— Eu sou rápido! Só que tenho medo de ir muito rapidamente e feri-la com uma trombada!

— Mas o senhor Sesshoumaru nunca trombou em mim, InuYasha — afirmou Rin, serenamente, enquanto seu protetor agitava as orelhas, constrangido. Seu segredo da batatinha estava muito exposto. — A propósito, senhor Sesshoumaru, venha também. InuYasha, brinque de batatinha com ele...

— NUNCA! — foi a resposta em uníssono.

A pequena arregalou os olhos e levantou as mãos em sinal de rendição; era melhor não insistir. Se sentou ao lado de Sesshoumaru, enquanto InuYasha permaneceu meio arredio ali por perto, aproveitando para coçar a orelha com o pé.

— E de trava-línguas, o senhor brinca comigo?

— Você não consegue acompanhar a minha velocidade, Rin — objetou ele. Seu irmão o encarou, desafiador:

— Keh! Óbvio... Ela é apenas uma pirralhinha, Sesshoumaru. Mas EU consigo!

Sesshoumaru arqueou uma das sobrancelhas e deu um sorrisinho que era a imagem viva do desdém.

—Crocodilo come coco, bem tranquilo, pouco a pouco, e já prepara um pouquinho para o seu crocodilinho! — disse o hanyou. Rin, empolgada, declarou logo em seguida:

— Corre, cotia, na casa da tia! Corre, cipó, na casa da avó!

— Isso não é um trava-línguas, Rin — objetou o youkai branco. A essas alturas, estavam sentados os três em roda.

— Eu sei, mas tem uma rima legal... Senhor Sesshoumaru, diga aquele do monge de... de... — Rin se atrapalhou; InuYasha achou graça. Empertigando-se, o youkai branco exclamou:

— O monge de Constantinopla é um bom desconstantinopolitanizador. Quem o desconstantinopolitanizar, um bom desconstantinopolitanizador será.

O hanyou ficou confuso enquanto Rin batia palmas, contente. Satisfeito, Sesshoumaru prosseguiu:

— O original não se desoriginaliza! O original não se desoriginaliza! O original não se desoriginaliza! Se desoriginalizássemo-lo original não seria.

— Keh! Esse é complicado demais — resmungou o caçula. — Mas eu também sei, Rin! Ouça: há quatro quadros três e três quadros quatro, sendo que quatro destes quadros são quadrados, um dos quadros quatro e três dos quadros três. Os três quadros que não são quadrados, são dois dos quadros quatro e um dos quadros três.

— Uau! — fez a menina, impressionada. Sesshoumaru apenas fez um muxoxo desdenhoso; o hanyou, indignado, começou mais uma vez.

— Esse aqui foi a Kagome que me ensinou. Escutem: disseram que na minha rua tem paralelepípedo feito de paralelogramos. Seis paralelogramos têm um paralelepípedo. Mil paralelepípedos têm uma paralelepipedovia. Uma paralelepipedovia tem mil paralero... Palarelo... Palalero... Keh! — fez ele, com raiva por ter se atrapalhado enquanto Rin gargalhava. — PA-RA-LE-LO-GRA-MOS! Pode parar de rir, pirralhinha! Eu consegui dizer!

— Conseguiu mesmo? — indagou Sesshoumaru, sarcástico, com uma expressão vitoriosa. — Não é o que nos fez perceber. Não é, minha Rin?

— Keh! — fez ela no meio do riso. — Você perdeu, InuYasha!

— Ei! Esse “keh” é meu! — protestou ele. O youkai branco também não havia gostado.

— Rin! Não aprenda essas idiotices do InuYasha!

— Eu não sou idiota, maldito Sesshoumaru!

Ela continuou a rir como se não houvesse amanhã, continuando a dizer “keh” o tempo todo. Antes que Sesshoumaru pudesse impedir, o hanyou se atirou contra a menina, fazendo-lhe cócegas.

— Você me paga, molequinha! — gritou ele, já rindo também. — O “keh” é meu!

— Keh! — gritou ela de volta, enquanto os dois rolavam pelo chão. Sesshoumaru, ali ao lado, arregalou os olhos, ultrajado.

— Rin, o que significa isso?!

— Keh! Estou brincando com o InuYasha, senhor Sesshoumaru!

— Isto é ridículo... É coisa de criança — resmungou ele, visivelmente enciumado. — E... Você nunca fez isso comigo.

— O senhor nunca deixooou! — riu a menina.

— O que acha que Rin é, seu retardado? Ela é uma criança, precisa disso! — retrucou InuYasha, se erguendo e colocando Rin sobre seus ombros. Começou a correr e a rir com ela pelo quintal de Kaede.

— Uuuuuu! Eu sou Ryūkotsusei! — fez o hanyou, engrossando a voz. — Rin, vamos pegar esse feioso filho mais velho de Inu no Taishō... Para continuarmos a batalha! GRAWR!

— Uuuuuu! Senhor Sesshoumaru, nós vamos te pegar! — gritou Rin, já vermelha de tanto rir. O youkai branco parecia aturdido e, enfim, indignado:

— Oras... Mas que palhaçada! InuYasha, pare de ser infantil e coloque Rin no chão AGORA! — tonitruou ele, furioso. O hanyou, entretanto, pulou contra Sesshoumaru, que sabia não poder se afastar para evitar que Rin se machucasse. Os três tombaram no chão de terra; em cima de um Sesshoumaru raivoso, Rin e InuYasha pareciam incapazes de parar de gargalhar. A menina, contudo, acabou se levantando:

— Keh! Você não me pega!

— Keh! Volta aqui, molequinha! — berrou o hanyou, saltando atrás dela. Sesshoumaru, ainda estatelado no chão, pensava atônito: “como assim ela está brincando com ele e não comigo?!”, morto de ciúmes. Ergueu-se e iria acabar com a brincadeira, se seu olfato apurado não houvesse percebido o cheiro sutil de Kagura se aproximando a muitos metros, à direita. Preparou-se para alçar voo, quando sua protegida, trepada nos ombros de seu irmão mais uma vez, indagou:

— Senhor Sesshoumaru, onde vai?

— Resolver assuntos de adultos — rosnou ele. Os dois recomeçaram a rir; o youkai branco exibiu os caninos, já bem irritado.

— Posso saber qual é o motivo da graça?!

— Sesshoumaru, tem... — ia dizendo InuYasha, arfante, mas não conseguia concluir a frase. — Um pedaço de pirulito...

— ... enrolado no seu cabelo... — explodiram em risos.

— Hein?! — questionou Sesshoumaru, levando a única mão à cabeça e encontrando o doce, que deixara uma área dos cabelos prateados grudados. Bufou, mais do que irado. Contudo, a hilaridade das duas ‘crianças’ não cessava; ele, injuriado, deu as costas e se foi, deixando a menininha e o hanyou, que recomeçaram a correr pelo quintal.

— Meio-dia, macaca Sofia — gritava InuYasha, ao que Rin completava:

— Panela no fogo, barriga vazia! Corre, cotia, na casa da tia...

— Corre, cipó, na casa da avó!

Não vou fazer papel de palhaço, pensava o youkai. Mas Rin... Parece tão feliz no meio da palhaçada daquele idiota... Será que, se eu rolasse no chão com ela... Não, isso jamais. Este Sesshoumaru tem classe e reputação para zelar! Humano algum me fará mudar os conceitos que tenho...


Notas Finais


Kagura, minha filha, teu pai é ciumento... Vai dizer que você não sabia?

O Kohaku sabe das coisas, avisou a Kikyou, mas ela não deu ouvidos... Tanto é que Naraku perdeu o BV! \o/ kkkkkkkkk

Sesshoumaru, se eu fosse você, iria brincar com a Rin do jeito que ela gosta, visse? Senão ela vai eleger o Inu pra ser o companheiro de brincadeiras dela!

Abraço e obrigada a vocês, leitores lindos.

~Okaasan


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