História Meu querido diário - Abraço apertado

- Cheguei – Uma voz familiar me despertou do devaneio.

- Até que não se atrasou tanto hoje – Eu ri a cumprimentando. – Só dei três voltas no parque.

- Hey, nem me atraso tanto assim vai!  – Ela me respondeu sorrindo enquanto tirava um dos fios rebeldes de cabelo do meu rosto.

- Bom tirando a uma hora que te esperei ontem, realmente nem tanto. – Comentei a encarando em seus olhos verdes.

- Claro, queria ficar bem bonita pra você – Ela comentou prendendo os cabelos em um rabo de cavalo.

- Camila, você já é linda – Conclui a admirando.

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POV Monica

Passei impaciente as últimas respostas para o gabarito, a tempo de ver a Magali se levantando e entregando a prova dela. Olhei para o relógio, beirava as 17h00, lá fora o dia antes quente e claro, dava espaço para o frio do anoitecer. Terminei logo em seguida, tentei revisar tudo o mais calma que consegui, e somente depois de confirmar três vezes que todas as respostas extensas estavam preenchidas, me levantei para entregar ao responsável.

Respirei fundo ao sair da sala e um enjôo invadiu sorrateiramente meu estomago.

- Acho que estou com fome – Magali comentou enquanto descíamos para o térreo.

- Maga, to nervosa, se eu não passar nem sei o que farei, não quero mais prestar pra faculdade nenhuma, já pensou uma de nós passa e a outra não? – Tagarelei impaciente.

- Calma Mo, você sabe muito bem que sempre foi boa nas matérias, vai passar amiga, vamos passar – Ela me acalmou como sempre fazia. – Agora vamos comer alguma coisa?

- Ok – Conclui tentando me acalmar.

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Esperar um mês inteiro passar para saber o resultado não foi fácil, mas com todos os outros problemas e correrias acontecendo até que Novembro chegou voando.

A Maga voltou no dia seguinte para Ribeirão e minha saudade nem teve tempo de acostumar com a presença dela, sofremos juntas e a distancia a agonia das respostas da UOP.

Junto com o novo mês, vieram as tão esperadas últimas semanas de aulas, bem como os preparativos da formatura, que na verdade seria apenas uma colação de grau em Dezembro, por escolha dos próprios alunos.

- Então quer dizer que você não decidiu o que fará no seu aniversário? – Maria me perguntou enquanto saiamos depois de uma aula super cansativa de física.

- Não, na verdade queria saber primeiro a resposta da faculdade, eu não consigo dormir direito sabe? – Contei estralando os dedos.

- Não precisa ficar nervosa, certeza que vai passar Mo – Fabinho sorriu tentando me acalmar.

- Obrigada – Sorri em resposta.

- Mas miga, são 18 anos, não pode nem sonhar em deixar passar batido, é sua maioridade – Denise comentou andando ao nosso lado.

- Eu sei, quero comemorar, sério mesmo, mas tudo depende da resposta e ela chega essa semana – Conclui agoniada.

- Me fala uma coisa, quem inventou de não ter festa de formatura? – Dudu perguntou cortando a conversa.

- Ueh, foi decidido por votação em classe, não lembra não? A maioria dos meninos preferiram não fazer – Maria respondeu em desaprovação.

- Bom pelo menos vai ter a colação de grau, de lá podemos ir pra algum lugar comemorar – Denise comentou pensativa.

- É... Pode ser – Respondi um pouco tensa.

- Mo, fica calma amiga, você está com uma cara péssima, passou pelo menos uma base hoje? Prestei semana passada pra comunicação social e não estou nessa agonia, nem a Maria e o Fabinho, que prestaram M-A-T-E-M-A-T-I-C-A estão assim. – Ela riu ao pronunciar a matéria.

- Ainnn, meu rosto está tão ruim assim????? Meninas, sei que estou uma pilha, mas meu sonho é ir pra UOP, sabe, desde sempre – As abracei choramingando.

- É De, e as nossas faculdades são aqui em Sampa mesmo, pertinho de casa, a dela será mudança de vida total, sem contar que é Federal, uma das melhores na área – Maria complementou em minha defesa.

- Ela é bem longe daqui de São Paulo né? – Fabinho perguntou de repente.

- É... Um pouco – Respondi encafifada – Por que?

- Nada... Quatro anos... Bastante tempo – Ele pronunciou mais para si mesmo do que para nós.

- Passa rápido Fabinho, bem rápido, quando vermos já estarei de volta – Conclui sorrindo, mas parei no ato.

Tentei desviar o olhar, mas o Cebola vinha caminhando em passos largos na nossa direção, em suas mãos trazia papeis diversos e pastas, provavelmente dos relatórios. Por alguns segundos ele travou ao encarar meus olhos, mas rapidamente tornou a andar tão rápido que a única coisa que ficou foi o vento resultado de sua pressa.

Maria e Denise recaíram o olhar sobre mim, mas desviei imediatamente, voltei a falar de qualquer coisa com o Fabinho, e tratei de esquecer o mais rápido possível qualquer pensamento que fosse alimentar minha memória.

No último mês o Cebola tinha simplesmente sumido, não o via mais, e nem em casa com meu irmão ele aparecia, dificilmente nos víamos na escola, nada alem de um segundo no qual o outro sumia por entre os corredores, a única fonte de noticia dele que eu tinha era o jornal do colégio, quando ficava sabendo pelo editor da parte de esportes os resultados do campeonato, no qual ele tinha sido campeão. Alias a foto dele estampava a capa da edição de Novembro.

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Cheguei em casa mais tarde e eufórica, tomei um banho quente e a única coisa que queria naquele momento era descansar assistindo TV.

O Titi estava melhor, fazia duas semanas que não tinha crise, já estava em suas atividades normais novamente, o papai chegava tarde então eu poderia dormir até umas 21h00 sem problemas.

Peguei meu diário assim que me aconcheguei com o Monicão ao meu lado, e comecei a escrever sem parar, diversos dias estavam com folhas anexas pregadas, pois somente as disponíveis não comportavam tanta informação. Aos poucos e lentamente fui pegando no sono, e o que seriam apenas algumas horas, se tornaram uma noite inteira, quando abri o olho o despertador já estava cansado de apitar a hora para eu acordar. Era sexta feira, dia da reunião de final de ano com o comitê do jornal.

Dei um pulo da cama quando percebi que tinha dormido exatamente doze horas sem parar, meu pai provavelmente não quis me acordar acreditando que eu já tivesse jantado, mas na verdade minha barriga roncava violentamente naquele momento.

Corri para me arrumar, e em menos de uma hora, lá estava eu na escola novamente, assistindo a aula de Geografia sem focar em nada do que o professor falava, passou a de história, de química, intervalo, português, literatura, e finalmente o sinal da saída, caminhei preguiçosamente com o pessoal até a cantina, iria almoçar qualquer coisa por lá uma vez que teria a reunião a tarde.

Pedi um lanche e sentei em uma das mesas para esperar, Maria, Dudu e Fabinho fizeram o mesmo, entre conversas e risadas, mal percebi que o Cebola almoçava algumas mesas ao lado com vários professores ao seu redor.

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- Não queria treinar hoje não – Fabinho reclamou se espreguiçando logo que terminamos de comer.

- Eu tenho reunião do jornal, alias já estou com idéias ótimas para as noticias do final do ano – Comentei terminando minha limonada.

- Conta pra gente – Maria pediu curiosa.

- Faz uma matéria sobre seus super amigos – Dudu brincou sorrindo – Acho que faria o maior sucesso.

- Hahaha – Ouvi meu celular apitar e agachei para tira-lo da bolsa – Eu até faria, mas o assédio vai ser grande, prefiro manter vocês no anoni...  – Parei de falar repentinamente, vi o nome do e-mail que estampava a tela do meu celular e com meu coração disparado desbloqueei.

Abri a mensagem intitulada PARABÉNS, e assim que li soltei um grito.

- O que foi? – Fabinho se levantou de um pulo, percebi todos me olhando assustados.

- EU PASSEI – Comemorei correndo na direção dele que abriu os braços para me envolver.

Ele me levantou do chão e senti um a um os outros dois se envolverem no abraço, mesmo se eu fosse uma pessoa forte, não teria aguentado a emoção, desaguei em lágrimas de felicidade sob o olhar curioso de todos a volta, inclusive do professor de educação fisica que permaneceu estagnado.