Sim, havia adotado o pseudônimo de Mel Sousa, uma vez que minha primeira estória no site havia sido divulgada com esse nome.
- Vamos? Vai começar – Magali me chamou abrindo espaço por um corredorzinho que nos levava a entrada atrás da bancada onde eu sentaria.
Levantei-me, respirei fundo e caminhei decidida, assim que entramos meu medo se esvaiu, a recepção foi a melhor possível, e jamais conseguiria descrever o quão maravilhosa foi a sensação, discursei alguns minutos, expliquei um pouco sobre os livros, tanto o já publicado quanto os dois que ainda sairiam naquele ano e por fim comecei com os autógrafos, um a um, pegando e fazendo dedicatórias. Eu não tinha duvidas nenhuma de que estava no lugar certo, fazendo o que amava.
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POV Cebola
Olhei meu relógio pela quarta vez seguida um tanto quanto impaciente, a fila do estacionamento simplesmente não andava de jeito nenhum, coloquei a cabeça para fora do carro checando o que estava acontecendo, mas tudo indicava total normalidade.
Marquei de encontrar a Amanda para jantarmos no shopping, o restaurante preferido dela ficava lá e nesses dois meses juntos poderíamos ter virado sócios de tanto que fomos ao local, eu já era amigo do dono, do filho dele, dos garçons e de todo mundo que assim como eu, vivia por lá.
Conhecemos-nos ainda na faculdade, e na época já havia ficado com ela e não deu em nada, alguns anos, idade e decepções depois, nos reencontramos no aniversário de um amigo em comum, e resolvemos engatar em um relacionamento um pouco mais sério, até aquele momento estava dando certo, nada que me tirasse a paz ou minha liberdade.
E por falar em faculdade, no ano anterior fui convidado para lecionar na faculdade em que estudei, e aproximadamente seis meses depois fui promovido a coordenador do curso de Educação física, me encontrava lá desde então.
Já morava sozinho há um tempo, em um apartamento perto da faculdade, no começo foi muito difícil a adaptação, mas com o tempo fui pegando o jeito. Sem contar que quase nunca ficava sozinho, a Amanda, o Cascão, minha irmã e o Eduardo viviam lá comigo, para assistir filmes, ou comer pizza, ficavam tempo até demais para o meu gosto.
Entretido em meus pensamentos, consegui estacionar depois de aproximadamente meia hora parado, a Amanda já estava por lá participando de um evento no qual não consegui entender direito o que era, só me afirmou que tinha que ir cedo para pegar lugar na fila, então resolvi sair mais tarde de casa. Ela sempre inventava coisas desse tipo, e da última vez que me meti, fiquei cinco horas na fila de pré estréia de um filme.
Caminhei tranquilamente com as mãos no bolso, olhando as vitrines, e com um susto me deparei com uma muvuca de gente, com certeza esse era o motivo do congestionamento. A fila na qual ela tanto me avisou saia de uma das livrarias do segundo andar e invadia todo o corredor do lado direito do shoppping. Ergui os pés, e olha que eu sempre fui alto, tentando enxergar alguma coisa, mas sem sucesso tornei a caminhar pela fila na esperança de encontrá-la.
Um pouco mais de cinco minutos depois, a reconheci de costas e me aproximei encafifado.
- Amanda, o que é isso? – Perguntei agradecendo mentalmente por ela já estar perto do que quer que fosse o motivo da fila.
- Oi Ce – Me deu um selinho - Hoje é a primeira vez que minha escritora favorita está em São Paulo para autografar seu primeiro livro, lembra aquele que você começou a ler comigo? Que eu comentei sobre ela com você, a história é incrível – Ela contou me abraçando.
- Qual? Aquele de zumbies? – Questionei dando risada.
- Claro que não, aquele da história de amor, que dizem ser baseado na vida real – Amanda concluiu mais para si mesma do que pra mim.
- Ah, aquele chato, não curti não, alias nem sei quem escreveu, mas com certeza essa pessoa deve ser um porre, história mais melosa – Comentei lembrando do real motivo por ter parado de ler, mal havia começado e já me identifiquei com a história nas primeiras paginas, isso me fazia lembrar do passado, então decidi que não continuaria com a leitura, mas jamais contaria isso para a Amanda - Ela deve ter copiado de alguma desses contos de fadas, você não acredita né? – Perguntei rindo ao ver ela me dando um tapinha.
- Para de ser ridículo Cebolácio, esse livro é muito lindo, ela descreve com uma sensibilidade quase tocável cada palavrinha – Me respondeu em protesto.
- Ah é? Vem cá então, vai ficar com essa carinha de bravinha? - Provoquei dando vários beijinhos em sua boca a segurando perto de mim – Prefiro viver o romance ao invés de escreve-lo.
- Assim não vale, não consigo ficar brava com você – Ela se rendeu aos beijos.
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POV Monica
Não tinha como descrever o quão incrível estava aquele evento, a cada minuto o local enchia mais e cheguei a acreditar que viraríamos a noite ali se a loja não fechasse as 22h00. Magali observava tudo com um sorriso e braços cruzados, encostada estrategicamente em um canto para melhor visualização dos acontecimentos.
- Qual é seu nome querida? – Perguntei pegando o livro da próxima pessoa da fila, sem reparar muito em quem me entregava.
- Amanda... Nem acredito que você veio pra São Paulo, sou sua fã – Ela comentou me emocionando - Pode colocar o nome do meu namorado também? É que a história é tão romantica, é um amor tão intenso, que queria que dedicasse para nós dois.
- Claro linda, muito obrigada pelo carinho. Vou fazer uma dedicatória especial pra vocês, qual é o nome dele? – Perguntei continuando a escrever palavras de afeição e carinho sem tirar os olhos do livro.
- O nome dele é Cebolácio... É eu sei que é engraçado, mas fazer o que... – Ela respondeu sorridente fazendo meu coração parar de bater no mesmo segundo.
Levantei a cabeça rapidamente, e num susto derrubei toda a água da garrafinha recém aberta que se encontrava na mesa em cima dos papeis ali colocados. Encharquei o livro da menina, mas meu único foco, o qual me fez engasgar, foi exatamente ele, parado me olhando com a mesma cara de espanto. Cinco anos mais velho, com uma barba por fazer, com um pouco mais de músculos do que anteriormente, mas os cabelos e os olhos continuavam idênticos, eram inconfundíveis. Os reconheceria de qualquer lugar que eu estivesse.
Rapidamente a Magali que via tudo de longe, se aproximou e notavelmente levou as mãos à boca assustada. O Cebola estava branco da cor do papel, nossos olhos se cruzaram, e a Amanda, olhava confusa, sem entender absolutamente nada, lamentando seu livro agora molhado.
- Você molhou o livro – Ela choramingou me tirando do transe.
- Eu... Desculpa... Não sei o que aconteceu... – Lamentei me levantando rapidamente – Maga, providencia por favor um livro novo para ela – Pedi observando a equipe limpando rapidamente o estrago que a água derramada havia feito.
- Aqui Mel – Magali me entregou tão surpresa quanto eu.
Letra por letra escrevi o que a menina me pediu, e como brinde pelo estrago, lhe dei mais um livro de presente.
- Está aqui Amanda, me desculpa pelo ocorrido, engasguei e me deu um desespero – Contei dando risada – Um para você e um para presentear alguém que ame.
- Não acredito Mel, está me dando mais um? – Ela perguntou olhando feliz para os dois exemplares.
- Sim, afinal, estraguei o seu original não é? – Conclui chamando o próximo da fila sem mais olhar para ele, que permaneceu incrédulo.
- Hey, esse colar, é a capa do seu livro não é? – Ela me perguntou antes de dar lugar a pessoa de trás.
- Ah... – Levei a mão ao pescoço um pouco sem jeito vendo de canto de olho que o Cebola havia reparado na mesma coisa – Sim, ele é.
- Você é a melhor autora que já conheci, parabéns pelo livro, eu o amo – Ela agradeceu tentando tirar a força o Cebola dali.
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Chegamos em casa exaustas, passava da meia noite, como não tínhamos programado o evento acabou ultrapassando as horas esperadas, e meu jantar com o DC foi para o brejo, o avisei e ele como sempre permaneceu compreensivo.
Tirei minhas botas de salto, as joguei longe e deitei na cama como a roupa de corpo mesmo olhando para o teto.
Magali encostou-se ao para-peito do meu quarto e me observou atenta, sem pronunciar uma única palavra. Eu a notei preocupada desde a hora em que ele apareceu, mas como não toquei no assunto ela respeitou o meu silencio, porém eu a conhecia o suficiente para saber que queria falar alguma coisa. Pedi mentalmente para que ela não tomasse essa coragem, e assim aconteceu.
Fechei os olhos cansada dando sinal de sono, então a única coisa que ela fez, foi apagar a luz e sair, acho que entendeu pelo menos naquele momento, que aquele assunto poderia ficar para outro dia.
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