História Meus 1000 dias - Capitulo Único

Estava eu com uma calça moletom deitado em minha cama, com um travesseiro debaixo do meu tronco para que pudesse ver meu celular em um melhor ângulo, quando ouço uma porta abrindo. Sinto algo pequeno subindo em minhas costas nuas. Algo bem macio e felpudo, que encosta a cabeça no espaço entre meu ombro e meu pescoço. Podia dizer que era minha cadela, acho que faria mais sentido do que dizer que era minha namorada. Ela vestia um de seus pijamas de veludo com desenho de Pikachu. 

Não me lembro agora há quanto tempo namoramos, mas faz bastante. Mais ou menos. Faz pouco para mim, que quero minha vida inteira do lado dela, mas para outras pessoas faz bastante tempo. Somos tão confortáveis um com o outro que os coreanos acham estranho, mas eu agradeço toda vez que ela se troca minha frente e posso ver seus seios por alguns preciosos segundos. Sim, sou desses. 

- Com quem estais conversando? Hein senhor Hoshi? Quem é a mulher que vai levar um soco na cara? 

- Ta mais pra uma cabeçada no joelho, considerando tua altura. - Ri sozinho com meu comentário e sinto um soco em minha coluna. - AI! Isso doeu tá? 

- Que bom, to treinando pra sua amiguinha. 

- To falando com DK. Ciumenta. 

- Eu não, só protegendo. Mas pode parar de falar com o DK rapidão e me emprestar o cel? 

Entreguei meu celular e ela colocou no calendário. Ficou me mostrando por um tempo e quando perguntei o que tinha para ser visto ela só apontou para data. Merda. Nosso aniversário de 1000 dias é amanhã! E eu esqueci, e ela sabe que eu esqueci! Bom, foi uma boa vida, pelo menos morro pelas mãos do meu amor. 

Abaixei a cabeça e ela perguntou "esqueceu né?" Na verdade, isso foi mais uma afirmação. Disse que sim com a cabeça e disse "desculpa". Ela deu um risinho e um beijo em minha bochecha, estava estranhando esse carinho, até ela sussurrar em meu ouvido, "greve de sexo". 

- O que? Não, você não pode fazer isso! 

- Tanto posso como fiz. - Falou enquanto rolava para o espaço ao meu lado, sim, rolando. - Boa noite Soonyoung. 

Vaca! Morrer seria pior! Odeio greve, vou fazer greve de greve. Aff, ninguém merece. 

- Ta bem, eu desisto. O que você quer para acabar a greve? Eu faço qualquer coisa por você. - Disse eu distribuindo beijos por seu pescoço. 

- Eu queria que você lembrasse da data. 

É oficial, ela tá bolada. Respirei fundo e a abracei. Dei mais alguns beijos em sua nuca e a vi dormir. Eu preciso comprar o melhor presente para ela, certeza. 

Na manhã seguinte eu acordei e ela já não estava mais lá, era sempre assim, ela sempre acorda mais cedo e vai tomar café. Me arrumei e desci, precisava arranjar um presente ainda. Cheguei na cozinha, que era junto da sala, ela estava de pijama ainda sentada no sofá e comendo kimbap. 

- Bom dia amor! 

- Pra onde vai todo arrumado, posso saber? 

- Encontrar outra namorada pra te substituir. 

- Espero que ela goste de homens sem pinto, por que o seu vai ficar comigo. - Gargalhei 

- Eu vou comprar presente bem massa pra você, e você vai ficar tão feliz que vai suspender a greve. 

- Eu não sou comprada com chocolate e joias. 

- Como você sabia? - Ela riu! Ha! Comecei bem. - Enfim, tenho que sair agora, quando eu voltar a gente vai sair ok? Vai ficar bem sozinha?

- Vou sim, papai Kwon, vou ficar assistindo minha TV e não botar fogo na casa. 

Selei sua bochecha e saí. Nós não moramos juntos, a casa é minha, mas ela vem passar alguns fins de semana aqui, as vezes é na semana mesmo, mas depende da rotina, somos ocupados. 

Quando voltei algumas horas depois, ficamos no sofá assistindo TV e ela ficava me irritando, obviamente, ela sempre me irritava, mas logo me enchia de carinho. 

Quando a hora do jantar estava perto, mandei ela tomar seu banho, peguei a sacola no carro e coloquei o vestido que tinha comprado em cima da cama. Era um azul com branco com uma renda e alguns brilhantes em azul claro, bem simples e do jeito que ela gosta, e tenho certeza que vai ficar ainda mais linda. Troquei de roupa rapidamente e saí do quarto antes que ela terminasse o banho, queria a surpresa de vê-la vestida. 

Quando ela saiu, estava mais linda que nunca, o vestido caiu perfeitamente, segundo acerto de hoje. 

- Alguém tem um gosto melhor que imaginei. - Ela falou mostrando uma caixa que escondia atrás de seu corpo - Eu duvidei um pouco quando você escolheu esse tênis. 

Ela me entregou meu presente, já tinha uma ideia do que seria. Fazia alguns meses que eu procurava esse tênis especifico, mas ele nunca tinha meu tamanho ou a cor que queria, ou era caro demais. Semana passada foi a única vez que eu encontrei o sapato perfeito. Estávamos no shopping e ela cismou que o tênis era feio e caro demais, eu usei todos os meus argumentos, mas ela não me deixou comprar. Um dia depois eu voltei para comprar e tinha acabado estoque. Aparentemente ela comprou. Abri a caixa e quase dei pulinhos de felicidade. Me senti ainda mais culpado por ela lembrar de algo tão banal e eu não. Escondi um pouco minha felicidade e a levei para jantar.

Chegamos no restaurante, ele era à luz de velas e bem rústico. A comida tinha gosto de comida caseira e todos que trabalhavam lá eram super amigáveis. Me sentia em casa quando ia jantar ali e sabia que para ela, esse era seu local preferido.

- Como você arranjou uma reserva hoje Hoshi? Dia de domingo fica extremamente lotado!

- Simples. Eu vim pela manhã logo depois de ele abrirem para o café e me coloquei de joelhos para a senhora Kim, disse que precisava de uma reserva para hoje à noite, já que tinha que fazer umas surpresas para minha namorada.

- Surpresas? Tem mais? Você já me deu um vestido lindo e me trouxe pro meu lugar preferido e ainda vai ter mais?

- Exatamente.

- É muito esforço para uma pessoa só.

- Vai valer a pena no final, eu espero.

Pedimos nossos pratos e ficamos relembrando todas as vezes que fomos aquele restaurante, todas foram bem especiais. Foi nosso primeiro encontro, o primeiro aniversário, quando conhecemos os pais um do outro e por aí vai.  

Negando sua vontade, não a deixei pedir nenhuma sobremesa, tinha outros planos em mente. Depois do jantar, passamos em uma loja de conveniência e compramos um potinho de sorvete de flocos e logo fui em direção a uma pequena serra que tinha na periferia da cidade. Lá no alto, era possível ver algumas estrelas. Sentamos no capô do carro, abraçados por causa dos ventos frios da noite e comemos o pote inteiro ali mesmo. Ainda me lembro da primeira que a trouxe. Ela estava bem chateada por não ter passado em algum teste que ela realmente queria passar, então trouxe-a aqui, pois aqui era bem calmo e não tinha ninguém por perto.

Já era tarde da noite quando voltamos e até ali a noite fora ótima e bem calma, mas a noite não tinha acabado. Chegando em casa a chamei para sentar na cama comigo. E a coloquei do meu lado. 

- E aí? Gostou da noite? 

- Não 

- Não? Por que não, o que eu fiz de errado? 

- Só porque eu amei mesmo. 

- Quer me matar do coração? Enfim… Do que você gostou mais? 

- De tudo. Você lembrou de tudo, dos encontros, do meu gosto, da minha cor preferida. Tudo que a maioria das pessoas esqueceria, você lembrou. Nem ligo mais de ter esquecido uma data, isso é o menos importante. 

- Pra mim a gente tá junto desde sempre. Não existe antes e o depois, apenas nós dois juntos. 

- Eu te amo sabia? 

- Eu também te amo. Mas sabe que não acabou né? 

- Tá falando da greve? 

- Nope. - Levantei e peguei um buquê que tinha escondido mais cedo. Entreguei e peguei meu par de alianças e me ajoelhei. - Quer casar comigo? 

- Sim… sim! SIM! 

Ela se levantou e me abraçou. Começamos um selar lento e calmo, com puro amor e carinho. 

- Acho que você levou a Beyoncé muito a sério, não precisava botar um anel ainda. 

- Quer me devolver? 

- Nunca. 

- Sabia que vai ter que se mudar comigo, né? 

- Fico mais que feliz, morar juntos era um sonho. 

- Amor? 

- Eu. 

- A greve acabou? 

Ela se virou e me olhou maliciosamente. 

- Se você rasgar meu vestido, eu te mato. 

- Pode deixar que eu sou cuidadoso. 

E assim terminamos a noite. Com muito carinho, amor. Aquela com certeza era a melhor decisão da minha vida e eu sou conhecido por agir por impulso, então acabo me metendo em encrencas. Mas com ela era diferente, com ela, por ela, tudo era o certo a se fazer. Éramos um só e tinha a certeza de que seriamos para sempre, ou até que a morte nos separe; ou o que vier primeiro.