História Meus Devaneios - Querida Vida

Enquanto a morte se senta confortavelmente ao meu lado, eu tombo minha cabeça para trás fechando os olhos e dando uma boa respirada. Mais uma tragada em meu cigarro e apenas relaxo, deixando o vento e a fumaça baterem contra meu rosto. Ela sorri pra mim de um jeito doce, do jeito que você nunca sorriu. Toca minha mão por um segundo, mas ainda parece ter receio. As lembranças sobre você invadem minha mente e a tristeza se senta em meu colo. Eu não a convidei, mas mesmo assim ela quis ficar e eu não sabia como manda-lá embora, então apenas fingi que ela não estava ali. A morte me olhou e falou um "oi" tímido, que não deixei de retribuir da mesma forma, eu não a conhecia direito mas parecia tão acolhedora... Eu te vi passar ao longe, tantas pessoas te seguindo e cheguei a pensar "será que realmente precisa de mim?".

Querida vida, você tem algum propósito?

A morte me olha de novo e dessa vez sorri. Me oferece mais um cigarro acompanhado de um copo de vodka, ela diz que uma dose não é suficiente.

Querida vida, acha que vale a pena recusar? 

Eu bebo e fumo com a morte, ela me olha de canto e depois me dá a mão. Sinto um frio percorrer minha espinha.

Querida vida, por que ainda me faz ter medo dela?

A tristeza já pesava em meu colo, e eu pedi para que ela saísse, mas fingiu que não me escutou. Estava doendo e me machucando. A morte disse que poderia me ajudar a tirar ela de lá. 

Querida vida, por que era tão tentador? 

Assenti devagar e fechei os olhos. Ela pegou em minha mão e deixei que me guiasse.

Aos poucos senti a tristeza deixar meu colo e a morte me levou para caminhar, ainda de olhos fechados, confiava nela. Não tinha mais medo em mim. Me senti cair ainda de mãos dadas com ela. Sussurrou no meu ouvido bem baixinho, quase inaudível. 

- Acabou, ela foi embora. 

Me senti leve, e adormeci. 

Querida vida, mesmo sem ela no meu colo, ainda sinto que a tristeza está por aqui. Então a quem a morte se referia, a tristeza ou você?