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História Mi Otra Mitad - Uma outra metade, sobre rodas


Escrita por: ReaderAnonymous

Notas do Autor


Chegamos ao final dessa história... Chorei MUITO ao escrever esse último capítulo. Quem acompanha essa fic desde o início sabe o quanto aprimorei a minha escrita. Agradeço do fundo do meu coraçãozinho a todos que favoritaram e comentaram. Vocês me fizeram sorrir, chorar e amar ainda mais esse shipp. Enfim, agradeço a TODOS que leram. De verdade, muito obrigada. Em relação ao sonho da Luna... Aquele do Sol e da Lua... Enfim, interpretei de uma forma diferente. Espero que gostem.
P.S.: Meeeeeeeeeeooooooooo... Eu fui no Google... VOCÊS SABIAM QUE "MATTEO" É UM NOME ITALIANO?! Que loser sou eu... ELE É ITALIANO! Mas mesmo assim fiquei surpresa. '-'
Aaaaaaaahhh... Minha cabecinha louca estava tocando "Photograph" do Ed. Sheeran, na última cena do capítulo. Se souberem, espero que toque na cabeça de vocês também. Haha. Não que seja de minha preferência, afinal, não atende ao meu gosto. Prefiro o Rock Clássico dos anos 60 e 80. MAS ISSO NÃO VEM AO CASO...
P.S.: (de novo) Enquanto lia o último capítulo fiz meio que uma alusão, voltei para o dia em que eles se conheceram e pensei em tudo que eles passaram até ali. E, é claro...

Tenham uma excelente leitura!

Capítulo 17 - Uma outra metade, sobre rodas


Fanfic / Fanfiction Mi Otra Mitad - Uma outra metade, sobre rodas

Argentina. Buenos Aires. Mansão Balsano.

 

Matteo

Aquele tinha sido um longo dia. Já me sentia exausto. Fora um longo dia em muitos aspectos, e, no entanto, não senti alívio algum com seu fim. Era quase como se algo pior fosse acontecer naquela mesma noite. Era uma premonição boba – o que podia ser pior que aquele dia? Estava cansado e precisava urgentemente de uma cama. Mas enquanto caminhava para o meu quarto, ouvi os meus pais. Era impossível não ouvi-los. Parei em frente à porta, e aguardei que notassem a minha presença, mas isso não aconteceu.

- Outra vez, Giovanni?! – gritara minha mãe. Isso chamou minha atenção.

- Sabe que não depende de mim, querida... – respondera meu pai. Sua voz demonstrava cansaço. – Precisam de mim em Milão.

- Problemas com a imigração, aposto. – murmurou ela.

- Sim. – concordou ele.

- Logo agora... – continuou minha mãe. – Matteo está se saindo tão bem... Ele tem amigos, Giovanni! Amigos! Qual foi a última vez que o nosso filho demonstrou interesse por algo durante tanto tempo?! E aquela pista, o... – ela pareceu se esforçar para lembrar. – Jam and Roller... Esse o lugar o faz feliz, você não vê?!

- Acha que não percebo, Franccesca?! – disparou meu pai. – Acha que não noto o sorriso dele a cada vez que ele chega desse maledetto lugar?! È difficile per me... – ele estava começando a falar italiano. Isso ocorria com frequência quando se exaltava.

- Giovanni... – começou minha mãe assim que me viu.

- Franccesca, Matteo non è più un piccolo! – explodiu.

- Giovanni. – ela repetiu, entre dentes.

- O quê?! – retrucou no mesmo tom. Ele seguiu seu olhar e me encarou.

Apenas alguns segundos foram necessários para que eu entendesse a situação. Era algo que eu, de algum modo, esperava. Que eu sabia que aconteceria de novo, tanto quanto desejava que jamais acontecesse. Sacudi a cabeça, tonto. Isso nunca chegaria ao fim. Chegaria? Repetiria o mesmo padrão – ir e vir, ir e vir – até que um de nós explodisse... Eu voltaria para Itália.

- Bambino... – sussurrou minha mãe, dirigindo-se só a mim.

Olhei depressa para seu rosto – era calmo e paciente.

- Mamma. – retruquei.

******************

Luna

Ao chegar em casa, fui direto para meu quarto. Estava exausta e quando dormi, tive um sonho.

Eu estava rastejando no escuro, nas pedras frias de uma rua desconhecida, sob a neve que caía suave, deixando uma trilha para trás. Um anjo sombrio, de roupa longa e branca, observava meu progresso com os olhos ressentidos. Rastejei até um lago frio. Onde eu flutuava, sob a água escura, ouvi o som mais feliz que minha mente podia conjurar – tão lindo, tão enaltecedor quanto medonho. Era um choro. Do anjo. Mas o anjo não devia chorar, isso não está certo. Tentei encontrá-lo, dizer-lhe que estava tudo bem, mas a água era tão funda, me pressionava e eu não conseguia respirar. Estava sufocando. Até que o anjo estendeu a mão, e eu aceitei de bom grado. Ele brilhava, fulvo e áureo – reluzindo e exalando uma chama de calor que aquecia todo meu corpo. Depois, lentamente, minha agitação se aquietou enquanto minha cabeça ficava cada vez mais entorpecida. Mas o fogo do anjo cedia, concentrando em um ponto cada vez menor. Senti minha consciência me escapar enquanto a dor abrandava. Eu tinha medo de cair na água negra de novo, medo de perdê-lo na escuridão.

- Fique comigo. – sussurrou uma voz melódica e conhecida.

- Matteo. – tentei dizer, mas não consegui ouvir minha voz. Ele podia me ouvir, e sorriu.

- Eu te amo. – sussurrou. Sua voz era tensa, mas ao mesmo tempo triunfante.

- Eu também te... – e de repente, um clarão. – Não. – eu disse, mas minha voz falhava. Estava com medo do frio, da escuridão e da solidão.

Aos poucos, a imagem angelical e graciosa foi desaparecendo, e eu estava sozinha.

Meus olhos se abriram para uma luz branca e forte. Eu estava em um quarto desconhecido, um quarto rosa. A parede atrás de mim era coberta de persianas verticais; no alto, as luzes brilhantes me cegavam. Eu estava recostada numa cama dura e desigual. Havia um bipe irritante em algum lugar por perto. Você não está em Cancún, Luna...

- Pareceu tão real... – murmurei, maravilhada.

- O que pareceu real, querida? – questionou uma voz que vinha da porta do meu quarto. Dei um salto.

- Mamãe. – eu disse, assim que a vi. 

Ela sorriu em resposta.

- Que horas são? – perguntei com ansiedade.

- É cedo. – respondeu, sorrindo. – Mas você pediu para que eu lhe acordasse, lembra?

- Não. – respondi. – A verdade, mamãe, é que não me lembro de nada! Nada! Hoje é o dia da Competição Intercontinental, da gravação do clipe da Roller Band, e tenho que...

- Luna! – sua voz estava alarmada. – Acalme-se.

Eu ri. Mais uma vez sonhara com o Mauricinho...

- Mamãe... – comecei.

- Sim?

- Como soube que estava... – continuei.

- Desde a primeira vez que o vi. – respondeu, antes mesmo de eu concluir a pergunta. A encarei. – Como eu disse... Quase sempre sei o que se passa dentro dessa cabecinha. – ela sorriu. – Soube que estava apaixonada pelo seu pai desde a primeira vez que o vi. É diferente com cada pessoa, é claro. Isso é o que torna o amor tão especial... Ele não é convencional.

Eu ri, encantada.

- Mas... Você não ficou confusa? Insegura? – indaguei.

- Claro que sim. – disse, exasperada. – Mas... – continuou. – Isso faz parte. Quem ama, sofre. E a insegurança faz parte disso. Principalmente na sua idade. Mas, lembre-se... Quando o sentimento é verdadeiro, nós sabemos. Podemos fingir que não é real, mas sabemos.

- Entendo. – murmurei.

O que veio em seguida me surpreendeu.

- É pelo Simón? – perguntou.

- Não! – arfei. – É claro que não...

- Então, por quem é? – insistiu ela.

Suspirei, derrotada.

- É pelo Matteo. – baixei a cabeça.

- O “Mauricinho”? – perguntou ela, agora ansiosa.

Eu assenti.

- Mamãe, não sei o que fazer... – eu gemi. Ela me puxou para um abraço apertado e reconfortante. – Não sei o que dizer. – continuei. – Ou o que pensar de tudo isso... A única certeza que tenho é do que eu sinto quando estou com ele.

- E o que você sente? – perguntou. Pude ouvir um sorriso em sua voz.

- Sinto-me... – lutava contra as palavras. – Sinto-me livre. – sorri. – Matteo me faz sentir... Diferente. Única. Ele me faz questionar tudo e todos. – admiti.

- E quando pretende dizer a ele? – perguntou.

- Não sei. – admiti. – Não sei, porque ao que parece, não posso dizer ou fazer alguma coisa sem machucar alguém. – piscava freneticamente. – E o Simón... Não quero magoá-lo.

- Então, esqueça. – sugeriu com indiferença.

- O quê? – murmurei.

- Pelo menos uma vez em toda sua vida, Luna, faça o que é bom para ti. Faça o que achar correto fazer. Escolha aquilo que te faz feliz. Ou apenas... – ela suspirou. – Faça o que o seu coração mandar...

*****************

Matteo

Partiríamos após a competição. E, não, não havia nada que eu pudesse fazer para evitar isso. Estava ciente de que passaria minhas férias na Itália, e que corria um grande risco de não voltar para Argentina, mas não pensei que fosse tão prematuro. Ensaiaríamos antes das apresentações. Minha mãe, Franccesca, sugeriu que levasse minha mala para o Roller. Assim, iria direto para o aeroporto depois da apresentação. Ao chegar à pista, vi a equipe reunida e pus minha mala na arquibancada. Luna, que estava junto aos outros, veio ao meu encontro. Naquele momento, tive uma breve visão do que iria deixar para trás. Talvez nunca mais a visse, nunca mais a zombasse ou a abraçasse. Podia nunca mais ver o seu sorriso, escutar a sua risada nada discreta, ou me perder naquele olhar pio e crente. Senti o meu peito se abrir. Sufoquei um grito que se formava. Tinha que passar por aquilo em silêncio. De algum modo. Precisava evitar que ela notasse minha dor. Ela me encarava, atônita.

- Matteo, o que significa isso? – perguntou, apontando para mala.

- Saia da frente. – ordenei.

- O quê? – seus olhos refletiam sua dor. Droga. Não conseguia não magoá-la? Mas era necessário, esse era o único jeito de mantê-la afastada.

- Depois eu te conto. – suspirei e me afastei.

Ela me impediu, bloqueando meu caminho e capturando o meu braço.

- Como que “depois eu te conto”?! – disparou. – Quero que me conte agora. – ela suspirou. Sua mão deslizando pelo meu braço até encontrar a minha, entrelaçando seus dedos nos meus. – O que houve? – arfou.

Ela sondava minha carranca, como se pudesse encontrar todas as respostas num olhar. E, quase como se tivesse perdido o controle do meu corpo, me vi inclinando em sua direção.

- MENINOS, VENHAM! APROXIMEM-SE! – convocou Tamara.

Salvo pelo gongo. – hesitante, desviei o olhar de seu rosto e me concentrei-me no grupo de pessoas que estava em nossa frente. Desvencilhei meus dedos dos dela, e me desprendi da sua frustrada tentativa de bloquear minha saída. Luna me encarou, pasma.

- O que houve? – ouvi Ramiro perguntar.

- Estranho... – refletiu Tamara, olhando para o relógio. – A competição está para começar e o meu relógio está atrasado...

- Claro! – exclamou Jim, num tom um tanto suspeito. – E-eu tenho a mesma hora que o relógio da pista.

- Eu também. – concordou Ramiro.

Tamara voltou-se para pista.

- Desculpe-me! – gritou para uma garota que acabara de passar por nós. – Posso ver o seu relógio? – perguntou.

A garota assentiu.

Tamara se inclinou e estreitou os olhos. Dispensou a garota, voltou-se para nós e estreitou ainda mais os olhos.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou abruptamente. – Vocês mudaram o horário do relógio?

Pude sentir Luna ficar tensa ao meu lado.

- Tamara... – começou, receosa. – Perdão, mas se não começarmos antes, Simón e eu não chegaremos a tempo no show.

 - Pessoal! – arfou Tamara. – Somos cede da Competição Intercontinental. Não podemos mudar o horário ou as regras! Eu lhes prometi fazer o possível para que vocês cheguem, e farei. Agora, por favor, consertem o horário do relógio. E troquem-se!

- Não, não, não! – disparou Luna. – Podemos ensaiar outra vez?

- Temos que liberar a pista para que a preparem! – ela suspirou. – Escutem... Independente do que aconteça hoje, vocês têm que ir para pista unidos como uma equipe! Recordem-se sempre: essa é a sua maior força. Movam-se como se fossem um. Respeitando o que cada um necessita e olhando nos olhos do seu companheiro.

Luna me sobressaltou, pegando minha mão de repente, apertando a palma em seu rosto e inspirando profundamente. Depois a soltou.  

- Os amo muito. – continuou Tamara. – E para mim, já ganharam. – ela estendeu a mão para o espaço vazio entre nós. – JAM AND ROLLER?!

 - JAM AND ROLLER! – gritamos em resposta.

******************

Luna

A competição era muito importante para mim, talvez mais para mim do que para os demais, mas estávamos todos abandonando alguma coisa ali. Foi tudo muito rápido. Parecia que eu tinha apertado o botão de avançar. Era para andarmos tão depressa assim? E depois o apresentador nos chamou. Tudo saíra como o esperado, estava muito nervosa, é claro, mas a apresentação foi espetacular. Em nenhum momento Matteo desviou os olhos dos meus. E, no fim, foi como disse a Tamara... Nós havíamos nos tornado um só. Meu coração martelava freneticamente. Nós vencemos, e não podíamos dizer que não esperávamos pelo resultado. Todos se abraçavam e parabenizavam. Matteo conversava com Gastón, que não parecia nada contente. Quase perdi o equilíbrio quando uma ruiva avançou para cima de mim.

- Ah, Luna! – tagarelou Jim mais alto que o repentino rugido de conversas. – Nem acredito que ganhamos! Nem acredito que tudo terminou!

 - Er, também mal posso acreditar. – murmurei.

Ela atirou os braços em meu pescoço.

- Tem que me prometer que não vamos perder contato durante as férias.

Retribuí o abraço, com uma sensação estranha enquanto me esquivava de seu pedido. Então, foi a vez de Simón.

- Luna! – Simón gritou com alegria, abrindo caminho por entre as pessoas. – Nós ganhamos! – ainda gritava, embora estivesse bem ao meu lado. Ele me abraçou, mesmo tendo que empurrar Jim um pouco para fazer isso. Ela foi embora. Mal tive tempo de murmurar um pedido de desculpas. Ele me guiou até o camarim.

- Er, ganhamos... – murmurei, ainda preocupada com a expressão do Gastón. O que Matteo teria dito a ele?

Estiquei o pescoço, procurando por eles.

- Parabéns! Você está linda! – continuou.

- Hmmm, obrigada.

- Você não parece mais calma. – observou ele.

- Ainda não.

- O que resta para se preocupar? O show? Ainda tempos tempo...

- Você deve ter razão.

- Ei. – ele disse, seguindo meu olhar. – Quem está procurando?

Minha busca não era tão sutil como eu pensava. Suspirei. Tinha chegado a hora de termos aquela conversa...

- Simón... – comecei. Aquilo ia ser mais difícil que esperava.

- Você é incrível. – ele disse, de repente. – Não precisa me dizer quem está procurando. – ele sorriu.

- O que houve naquele dia... – suspirei. – O beijo... O que você disse... – lutava contra as palavras. – Simón, o que está sentindo? E não quero que minta, quero que me diga a verdade.

Ele riu e depois suspirou. Quando falou, sua voz era tranqüila.

- Luna... – começou. – Parece que eu não consigo te esconder nada, não é? – brincou. – Olha... A verdade é que... É que... Meus sentimentos por você não mudaram. E nunca vão mudar. Mas o que acontece é que você não me quer como eu te quero... Seria egoísta demais da minha parte se eu te forçasse a sentir algo que não sente. Seria egoísta demais ter você só para mim, ser feliz com isso e te ver infeliz. – ele tomou fôlego. – Você merece ser feliz, Luna. E que se não seja comigo, seja com outra pessoa, então. – olhei para o meu amigo com admiração. Quando ele havia se tornado tão maduro? – Por falar nisso... – continuou. – O Matteo não está aqui.

Aquilo chamou minha atenção.

- Não? – perguntei. Com uma pontada de dor se formando em meu peito.

- Você não sabe, não é? – refletiu. – Ele não te contou quando partirá para Itália?

Meu coração parou. No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se encaixaram, numa explosão de intuição.

Havia algo que Matteo não queria que eu soubesse.

Algo que deixara Gastón daquele jeito.

Algo que todos pareciam saber, menos eu.

Algo que, de algum modo, eu já esperava.

A mala...

Levei a mão à boca, para sufocar um grito que quisera liberar-se.

- É hoje, não é? – falei, com a voz embargada. – Ele partirá hoje, não é?

Droga. Eu sabia! Droga, droga, droga... Senti vontade de chorar, mas algo me impedia.

- Seus olhos... – ele sussurrou. – Luna, conte para ele. – aconselhou-me. – Ainda temos tempo de...

Terriimmmmmmmmmm...

Terriimmmmmmmmmm...

- Simón, o seu telefone. – alertei.

- Ah. – ele sorriu e atendeu.

Respirava com dificuldade. A agonia se espalhava pelo meu corpo, deixando-me letárgica. Segurei a cabeça entre as mãos, tentando evitar que ela explodisse. Simón estava sério ao telefone. Respondendo apenas “está bem” e “okay”, quando necessário. Quando desligou o telefone, olhou-me bestificado.

- O que houve? – perguntei.

- Acabaram de adiantar a apresentação da Roller Band. – ele disse.

- O quê?!

- Tenho que ir agora, Luna. – continuou. – E você... Tem algo a dizer para alguém.

- Simón, eu prometi a você que ia...

- Luna... – me interrompeu. – Vá! – ordenou sorrindo.

E eu fui.

Não olhei para trás para ver Simón se misturar às sombras. Não parei para fechar a porta do camarim. Empurrei uma mulher pesadona para fora do caminho e patinei, de cabeça baixa, prestando pouca atenção a qualquer coisa que não fosse o chão. Até me chocar com Gastón.

- GASTÓN! – praticamente gritei. – Graças a Deus! – ele riu. – Onde está o Matteo?! Você o viu?!

- Sim, sim. Eu o vi. Ele estava te procurando. – ele disse.

- Onde ele está?!

- Acho que ele já foi. – ele arregalou os olhos. – Você sabe, não é? Quem te contou? Ah, ele vai me matar...

- GASTÓN! – gritei. – Por favor... – sussurrei. Ele me encarou. – Eu preciso falar com ele... Dizer que... Dizer que eu o amo...

- Que saber... – começou. – Que se dane o que o Matteo acha que é bom para ele. Ele não consegue ver o que está perdendo... Sem ofensas. – se desculpou.

- Não ofendeu, não. – sorri timidamente.

- Pode me estender o telefone? – pediu. Eu assenti e o entreguei. – Ele está... – foi para o meu GPS. – Aqui. – apontou para o ponto marcado.

Aeroporto Internacional de Ezeiza.

- Obrigada, Gastón! – disse, numa alegria incontida. Comecei a me afastar. – BOA SORTE COM A NINA!

- É ASSIM QUE SE FALA! – retrucou sorrindo.

Assumi uma corrida lépida. Ao sair da rua escura, o sol forte batia na praça principal ofuscou minha visão. O vento sibilou em mim, fazendo meu cabelo voar para os olhos me cegando ainda mais. Não havia caminho, nenhuma fresta entre os corpos espremidos. Empurrei-os furiosamente, lutando contra as mãos que me empurravam para trás. Levou muito mais tempo do que eu pensava – todo o pavor, o desespero, meu coração estilhaçando-se. Os minutos passavam mais lentamente do que de costume. Finalmente cheguei ao aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse só o acaso. Segundo Gastón, o avião de Matteo partiria às 15h40min. O terminal era grande e confuso. Olhei para o relógio e ele marcava 15:45. Era tarde demais. Eu o havia perdido.

******************

Argentina. Buenos Aires. Aeroporto Internacional de Ezeiza.

Matteo

Durante todo o caminho para o aeroporto, não conseguia para de pensar em Luna. Simplesmente não conseguia acreditar que esse seria o nosso fim. Segurava com firmeza a sua medalhinha que encontrara nos armários. Sempre tão distraída...

- Bambino, che cosa succede? – disse minha mãe, pela centésima vez, antes de entrármos no aeroporto.

- Estou bem. – menti.

- Não, não está. – retrucou. – Conheço muito bem o único filho que tenho, e posso lhe garantir que sei que você não está bem. – suspirou. – Sei que é cansativo. Foi besteira minha pensar que depois de todo esse tempo, você já estivesse acostumado. Sei que é difícil amar algo e ter que deixá-lo. – ela desabou, derrotada. – A culpa é minha. Não devia ter permitido que sua infância fosse desse jeito. Não sabe o quanto rasga o meu coração vê-te desse jeito...

- A culpa não é sua, mamma. – observei. – Não te culpo por nada disso.

Ela olhou para medalhinha em minha mão.

- O que é isso? – perguntou. Eu sorri. – É de alguma garota? – perguntou, ansiosa. – É da Luna! – exclamou. Arregalei os olhos. Só havíamos falado sobre ela uma vez. – Matteo Balsano, está corando?!

- Podemos, por favor, não falar dela? – doía muito.

Ela me encarou, boquiaberta.

- É por causa dela, não é? – observou. – É, sim... Bambino, pode me contar. 

- Não vamos falar sobre isso, okay? – alertei. O buraco em meu peito se abria lenta e dolorosamente.

- Olha, quando eu conheci seu pai...

- Mãe, não. – disse num tom severo.

- É em momentos como esse que vejo o quão parecido é com o Giovanni. – retrucou.

Ela pareceu magoada. Droga. Minha mãe não tinha culpa.

- Tenho medo de... – comecei.

- Não precisa me contar se não quiser, querido. – pôs uma mão em meu ombro.

- Eu quero te contar. – eu disse. Ela sorriu. – Tenho medo... – continuei. – Tenho medo de que nunca mais a veja. De que nunca mais sinta por outra pessoa o que sinto por ela. Medo de que ela encontre outra pessoa, eu sei, é egoísmo meu, mas não consigo evitar. – despejava um ano de palavras não ditas. – E não consigo encontrar lógica nisso.

- O amor não é lógico, Matteo. – disparou. – Não é exato. Não tente encontrar respostas dentro das perguntas, e sim dentro de você. É diferente com todas as pessoas, entende? Pode ser instantâneo ou pode tardar a chegar. – ela suspirou. – Tem que entregar a medalhinha para essa garota.

- Mas o avião já vai deco...

- Matteo! – disparou. – Vá! Pegamos o próximo vôo. Não tenho pressa.

- Mas... – comecei.

- Vá!

Não precisou falar outra vez.

Disparei pela porta do salão de embarque. Meus pulmões imploravam por um pouco de ar, mas não havia tempo para isso. Podia sentir a esperança – fluía em meu corpo com fervor. Chegara até a frente do aeroporto. Estava cada vez mais próximo. Conseguia ver o seu rosto. Ouvir sua voz. Conseguia imaginá-la no Roller, no prédio aonde iriam se apresentar, ou bem... Na minha frente...

- Luna? – perguntei, confuso.

Ela olhou para cima, assustada. Seus olhos estavam tristes, mas ela continuava linda.

E foi então que eu me dei conta de que minha mãe estava certa. O meu amor não tinha sido como um raio caído do céu. Começara com um sorriso, com uma palavra, com um olhar zombeteiro. A cada segundo que passara na companhia dela, crescera até chegarmos àquele momento, e de repente eu soube.

Eu a amava.

******************

Luna

Assistia, atônita, aviões decolarem e sumirem dentre as nuvens. E em um deles estava o meu Mauricinho. Não pude conter as lágrimas que teimavam em dimanar dos meus olhos e fluir pelo meu rosto.

Vejo-te nos meus sonhos, Mauricinho.

- Luna? – pronunciou uma voz. Não precisava olhar para saber quem era. Mas não era possível...

- Matteo, o que está fazendo aqui?! – perguntei, bestificada. – Pensei que... Pensei que já tinha ido.

- É... – murmurou. – Eu estava indo. Mas não podia ir sem antes me despedir da “Menina Delivery”. – nós rimos. – Se bem que... Acho que agora o “Menino Delivery” sou eu... – o encarei, confusa. – Vim te trazer isso...

Então, ele estendeu a minha medalhinha – que até então – não sabia que tinha perdido. Girei os calcanhares para que ele pusesse a medalhinha no meu pescoço. Não consegui evitar lembrar do dia em que conhecemos. Eu ri.

- O que houve? – perguntou. Pude ouvir o sorriso na sua voz.

- Matteo, não consigo acreditar... – disse, ainda perplexa. – Sempre que eu preciso, você está aqui. Me ajudando. – não conseguia parar de sorrir. – Sabe... Não podia te deixar ir embora, sem antes eu te dizer que...

- Me dizer o quê? – perguntou rapidamente.

Havia chegado à hora. Acariciei sua face, delicadamente afaguei sua pálpebra. Acompanhei o formato de seu nariz perfeito e depois, com muito cuidado, seus lábios impecáveis. Os lábios se separaram em minha mão e eu pude sentir o hálito quente na ponta de meus dedos. Ele abriu os olhos e eram famintos.

- Matteo, eu não quero te perder...

******************

Matteo

Ela fechou os olhos, perdida em sua confissão angustiada. Eu a ouvi, com mais ansiedade do que era racional, pronunciar as palavras que eu esperava que saíssem de sua boca desde a primeira vez que nos vimos. E lá estávamos nós... Desde a primeira vez que a vi, soube que era diferente. Luna Valente chegou à minha vida com um “Cuidado!”, e eu devia tê-la escutado. Quando nos trombamos, senti como uma explosão que mudou tudo, que mudou a mim. Ela me ajudou a não ter medo de ser eu mesmo, a não ter medo de mostrar meus sentimentos. Me fez experimentar novos sentimentos, novas sensações...

Por fim fui capaz de falar, embora minha voz fosse fraca.

- Eu também não quero te perder, Luna. – confidenciei. – Você chegou à minha vida como um furacão e revolucionou tudo. Você é a Luna, mas brilha como o Sol...

Luna sorria, maravilhada.

- Quando segue seu coração... – ela falou. – Tudo se ilumina. Você não vê? – ela sorriu. – Quando estamos juntos, sinto-me envolvida pela luz de mil estrelas. É você, Matteo. Sempre foi e sempre vai ser você. Eu te amo. – sussurrou. – Nossa, como é bom falar isso... EU TE AMO! – gritou. Não conseguia parar de sorrir. – Eu te amo. E não distância capaz de mudar o que sinto por você. – murmurou.

Tremia de uma alegria incontida, e de tristeza também...

- Vou sentir sua falta, Menina Delivery. – sussurrei.

- Eu também, Mauricinho. – retrucou.

******************

Luna

Ficamos nos olhando por um longo momento. A mão dele queimava em minha pele. Em meu rosto, eu sabia que não havia nada além de uma tristeza suplicante – eu não queria ter de dizer adeus agora. No início seu rosto refletiu o meu, mas depois, como nenhum de nós desviou os olhos, sua expressão mudou. Fiquei completamente imóvel – os olhos fechados, os dedos enrolados nos punhos ao lado do corpo – enquanto as mãos dele pegavam meu rosto e seus lábios encontravam os meus. Eu podia sentir seus dedos tremerem.

Seus lábios desistiram dos meus por um momento. Depois os dois braços de Matteo estavam fechados em minha cintura. Eu tremi ao sentir seus dentes roçarem no lóbulo da minha orelha.

- Come lo spazio é infinito, lo è anche il mio amore per te. – sussurrou ele com uma voz rouca.

Com um fervor intenso, ele voltou a colocar a boca na minha. Meu cérebro desconectou-se de meu corpo e eu estava retribuindo seu beijo. Ele estava em toda parte. O meu sol estava em toda parte... Eu não conseguia ver nem sentir nada que não fosse Matteo. Ele afastou os lábios dos meus.

- Tenho de ir. – sussurrou ele.

E então, com clareza, senti a fissura em meu coração se estilhaçar.

- Não. – murmurei, tentando esconder a agonia de minha voz.

- Voltarei para você. – prometeu ele.

- Não pode me prometer isso. – retruquei. – Não me deixe. – implorei numa voz entrecortada.

- Não vou. – prometeu. – Ti porterò nel mio cuore.

******************

Matteo

Não nos restava muito tempo. Não sei quanto tempo ficamos em pé sem nos mexer. Podem ter sido horas. Por fim o batimento de minha pulsação se aquietou. Parecia que eu nascera para abraçá-la e ela nascera para repousar em meus braços. E naquele momento eu sabia que havia encontrado...

******************

Luna

Eu o amava e nada mais importava. E não o amava por saber que ele podia ser melhor, e sim pelo que ele era. Eu não escolhera me apaixonar por Matteo Balsano... Simplesmente aconteceu. Ele me salvou de todas as formas possíveis. E eu sabia que havia encontrado....

******************

Luna & Matteo

Minha outra metade...


Notas Finais


O que acharam deste último capítulo? O final foi um pouco diferente. Por que, sinceramente, depois de todo esse tempo, era a vez da Luna correr atrás do Matteo. Para quem pergunta... Sim, haverá uma segunda temporada. Aguardo ansiosamente as críticas e comentários. Não é por nada, não, mas... Mais alguém chorou com esse final?


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