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História Midori Maiko: Caçadores do submundo - Capítulo quatro


Escrita por: marinadiamandis_

Capítulo 4 - Capítulo quatro


   Tento ignorar a raiva dentro de mim, que transborda cada vez mais. Deixei meu pai no pátio de treinamento, e agora estou andando pelo jardim. Há um caminho feito com algumas pedras; meio rústico, foram posicionadas exatamente para dar um ar mais "natural", à pequena trilha. Ela dá a volta na mansão, e também leva para um banco branco, que está no meio de algumas roseiras, já secas.
   Pouco antes de entrar, vejo minha mãe encostada na árvore mãe- a chamo assim pois é a planta mais velha daqui, e talvez seja a coisa mais antiga nesse terreno- ela me observa, com uma inexpressão tremenda, e com um leque nas mãos. Ela não o move, é apenas um pequeno charme.
-Mãe!
   Vou em sua direção. Antes de lhe dar um abraço, reparo "acidentalmente" em seu anel; ele é igual ao de meu pai. Agora tenho algumas dúvidas na cabeça, evidentemente, mas a coisa que mais me surpreende é: Como nunca reparei nessas coisas antes? Eu moro com eles aqui, desde sempre, eles convivem comigo, e eu nunca percebi nada.
-Olá, Midori- percebo um sorriso meio forçado- como foi seu treinamento?
-Bem- abaixo a cabeça e olho para a grama- na verdade, muito bem. Acho que surpreendi meu pai hoje- em partes, isso é verdade.
-Surpreendeu? -ela arruma o saiote de seu vestido preto.
-Sim. E também me surpreendi. A senhora deveria ter visto- eu começo a me animar- sabe, hoje, eu desviei duas vezes dos ataques daquela bruxa de treinamento! E eu corri tão rápido que nem ela conseguiu me acompanhar! Foi tão rápido que o mundo ficou lento, quase parou para mim!
-Parou!? Como assim?
-Eu...
-Mãe- ouço Katsuo chamá-la, e quando me viro, vejo que ele ainda está distante de nós, chegando cada vez mais perto- meu pai está lhe chamando, no pátio.
-Sim, eu já vou- minha mãe coloca as mãos sobre meus ombros- depois você me conta o resto, Midori.
   A acompanho com meus olhos até onde posso, mas depois que ela entra na caixa cinza, é evidente que não a vejo.
-Katsuo- ainda olho para o pátio- você já reparou nos anéis dos nossos pais?
-Por quê?
-Eles têm anéis iguais... E são anéis estranhos.
-Midori, são só anéis- ele senta na grama, debaixo da sombra fresca que a árvore nos oferece- eles são casados, não é de se admirar que tenham anéis iguais.
-Eu sei, mas... Depois do que aconteceu, eu quero saber mais sobre a verdade, e eu posso estar errada, mas eu acho que eles estão escondendo mais alguma coisa- volto meu olhar para meu irmão, mas ele apenas dá de ombros.
   Eu reviro os olhos e o chuto, irritada.
-Idiota- sem nenhuma resposta dele, volto para o caminho de pedras e logo entro em casa.
O almoço foi como todos os outros dias. Minha mãe não perguntou mais sobre o treino, e até parecia evitar o assunto. Então eu apenas deixei assim, sem comentar mais nada.

   Enquanto ando pelo corredor dos dormitórios, diminuo cada vez mais o ritmo de meus passos, procurando um detalhe qualquer na vasta extensão de quartzo, recoberta por tapeçarias, que pudesse me entreter. Deslizo meus dedos pela parede, e, claro, ao observá-los novamente, percebo a poeira notável. Não culpo os empregados, pois como já disse, esta mansão já está aqui há mais de cem anos, é velha; e coisas velhas, por mais limpas e bem cuidadas que sejam, vão mostrar sua idade. A poeira, é apenas um dos detalhes, mas está aqui.
   Então, ouço Rija, uma das faxineiras, vindo pelo corredor. Ela está próxima, e está acompanhada. Tenho dificuldade para reconhecer a segunda voz, mas assim que as duas dobram o corredor, vejo que é Yumi. Elas conversam a meu respeito, e quero ouvir; rapidamente, entro na biblioteca à meu lado, e me escondo atrás da porta. Ainda posso ouvi-las, e bem, por sinal.
-Você não acha... Cruel? -Rija finge passar um simples espanador pela parede- Sabe, eu não sei se deveríamos...
-Não- Yumi interrompe rapidamente a faxineira, e deixa sua voz muito mais firme e expressiva do que de comum, pois normalmente ela se dirige a mim quase sussurrando- nossos patrões são os pais dela, para todos os efeitos- para todos os efeitos!?
-Sei disso, mas não parece justo. Mesmo ela sendo...
-Já chega. Pode até parecer cruel, mas é o melhor a se fazer. Além disso, não é da nossa conta.
   Tento me segurar em meu esconderijo, mas minha curiosidade e repentina raiva me impedem de apenas ouvir calada.
-O que é cruel?
-Midori!?
   As duas falam em uníssono, surpresas. Noto que Yumi lança um olhar furioso sobre Rija, que tenta se manter calma, e continua sua tarefa.
-Me respondam. O que é cruel?
-N-não falávamos sobre a senhorita.
-Yumi, por favor- cruzo meus braços- eu ouvi desde o início. Agora, sem rodeios. O que é cruel?
-... Eu dizia que... Parece cruel o que estão fazendo... Porque...
-Porque uma menina de apenas onze anos não deveria ser ensinada a matar- Rija salva a pele de Yumi. As duas trocam olhares aliviados.
-... E quanto aos meus pais? Por que "para todos os efeitos"? Há algo que queiram me dizer?
   Agora a expressão das duas empregadas parece mais assustada do que surpresa. Sabem que falaram algo que não deveriam.
-É apenas uma forma de falar, não quer dizer nada- Yumi dá de ombros, e tenta agir naturalmente, mas ainda está tensa. Percebo isso muito bem quando ela começa a estalar seus dedos- disse isso porque, até onde sei, eles são seus pais. Fasso isso sempre... É uma mania rude minha.
   Sei que esse nervosismo incomum é fruto de uma frase que foi solta imprudentemente, mas apenas finjo não me importar e retomo meu caminho, seguindo a trilha feupuda vermelha, que me levará até meu quarto.
   Imagino, enquanto ando, qual é o segredo que todos escondem tanto de mim. Meus pais dizem não ter mais nada a esconder, mas seu desconforto diz o contrário. O mesmo ocorre com Yumi e Rija, que de certo sabem de alguma coisa. Além disso, aquele cujo o lobisomem mencionou... Parece ter alguma relação com esse "segredo".
   Mesmo temendo o que pode ser minha realidade, sei que preciso de respostas. E eu as terei, não importa como.

   Apoiada no batente da janela, observo o vasto campo que cerca toda a mansão. É uma construção isolada, no alto de um morro, que dispõe de uma vista magnífica. Isso já me fez pensar inúmeras vezes de onde veio todo esse dinheiro; meus pais sempre mantiveram a discrição, e sempre que são indagados a respeito desse terreno, eles dizem a mesma coisa: A herança da família Maiko, resultado de muito trabalho, o trabalho de meu avô.
   Mentiras, é claro. Lógico que boa parte de nossa fortuna realmente faz parte dessa herança, mas eu agora posso apostar que isso deve ter a ver com os caçadores. "Maiko"; pelo jeito como o lobo falou, esse nome deve ter peso para as criaturas e os caçadores do submundo.
-Midori.
   Meus pensamentos são interrompidos por Katsuo, que entra como um sopro em meu quarto. Garanto que não teria percebido-o se ele não tivesse me chamado.
-Katsuo?- me viro para olhar nos olhos de meu irmão, que já está bem perto. Ele, sempre com sua mesma mania, de maneira rude joga seu cabelo para o lado, e lança um sorriso confiante.
-Eu vim lhe fazer uma proposta.
-Uma proposta?- volto a me apoiar no batente, e deixo a brisa delicada acariciar meu rosto- Ok. Seja direto.
-Eu imagino que você tenha notado algo estranho em Amaika. E pelo que me disse, parece interessada nas histórias do submundo, não?
   Uma luz ilumina minhas ideias, e é como se Katsuo ouvisse meus pensamentos, com a resposta para minhas dúvidas.
-Pode me ajudar?
-Mais do que isso- ele se aproxima, e fixa seus olhos nos meus- posso lhe mostrar toda a história.
-O quê? Mostrar? Como?- pareço me impolgar por um instante, mas logo lembro-me que é com meu e irmão que estou falando- Livros- reviro os olhos.
-Exatamente- um breve riso e outra jogada de cabelo para o lado me fazem voltar a sentir a mesma irritação que sempre senti por meu irmão- mas, se quiser, eu posso lhe mostrar algo a mais que isso.
   Sei que seu silêncio é na verdade uma pergunta: Concorda?
-Então aceito. Aceito sua proposta... No entanto- saio da frente da janela e me dirijo para frente da porta, como se impedisse a saída de Katsuo- eu sei que isso não pode ser de graça, correto?
-E por que essa desconfiança?
-Katsuo- cruzo os braços- nós somos irmãos.
-Isso foi um insulto a mim- mentira- Mesmo assim, não está totalmente errada. Eu quero algo em troca, mas não muito. E não agora.
-Não agora?
  Imagino o que pagarei para Katsuo em troca da verdade. Mas, o que quer que seja, sei que não tem maior importância do que sair dessa rede de mentiras que tem me prendido há muito tempo.
-Bom- ele vem em minha direção, e passa reto, até parar com a porta entreaberta- hoje à noite, depois que todos estiverem na cama, me encontre no escritório. Tudo a respeito de nós, que está nessa mansão, está guardado lá.
   Ainda com a mão na maçaneta de cristal, ele muda sua expressão, como se agora quisesse me passar algum "medo". E mesmo comigo esperando alguma resposta, ele apenas contraiu o canto de sua boca em um meio sorriso, e saiu, deixando a porta aberta.
   Eu fecho a porta lentamente. Será que Katsuo realmente sabe algo? Ou ele apenas vai me mostrar alguma sala "escondida" dentro do escritório. De qualquer forma, isso vai me ajudar em pelo menos metade do caminho, e depois sei que posso achar o resto por minha conta.
   Olho no relógio: São quatro e meia. Desço meu olhar para a cortina, ainda suja e rasgada, pelo que aconteceu noite passada. Lembro muito bem da voz marcante e tenebrosa da criatura. De fato, Katsuo tem que me ajudar.



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