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História Million Reasons (Scorbus) - Chapter One


Escrita por: malefiswent

Notas do Autor


"I've got a hundred million reasons to walk away
But baby, I just need one good one to stay"

Capítulo 1 - Chapter One



      A fumaça espessa na estação embaçava a visão de Albus em meio à teia de conversas altas, rodas metálicas de carrinhos correndo pelo chão, aves piando e sapatos de couro pisando em uníssono. O jovem deu um último abraço desconcertado em seu pai - algo inédito, mas eles vinham tentando ter uma relação mais calorosa - e em sua mãe antes de seguir, lado a lado com Lily, em direção ao Expresso de Hogwarts, na plataforma 9 ¾, que já apitava anunciando sua saída. 
       Acenou com a cabeça ao passar por seu tio Ron e por Hermione, que se despediam de Rose e Hugo com abraços e recomendações. Antes que precisasse forçar um momento desconfortável de simpatia com Rose, que vinha em sua direção empurrando seu carrinho de malas, Albus abriu um largo sorriso e saiu em disparada ao ver, a alguns metros de distância, uma figura de cabelos loiros muito claros e vestes com detalhes verde esmeralda que acenava alegremente para ele. 
    - Scorp! Eu senti tanto a sua falta! - ele disse, empurrando o carrinho do amigo para o lado para poder abraçá-lo, sentindo seu coração se aquecer enquanto a doninha na gaiola chiava. - Não acredito que sobrevivi a um verão inteiro sem te ver nenhuma vez. 
  - Eu sei, colega, minha ausência é insuportável - Scorpius respondeu de forma descontraída, retribuindo o abraço apertado do outro garoto. - Também senti sua falta. Nossos pais foram cruéis, não acha? Eu acho que literalmente morreria se passasse mais cinco minutos na fazenda do meu avô, pescando com ele e meu pai. Eu odeio peixe! Mas o coitado precisa de um pouco de companhia e apoio desde que mamãe morreu.
     Albus reagiu à característica tagarelice descontrolada da qual ele tanto sentira falta com um sorriso. 
 -  E você precisava de "tranquilidade para criar um pouco de juízo" - respondeu, imitando o tom de voz de Draco enquanto se desvencilhava do amigo. - Meu pai também repetiu a mesma baboseira desde julho. Um acampamento de trabalhadores da lei sobre disciplina e prudência com meu tio Percy não é exatamente o que eu chamaria de "férias ideais". 
    Scorpius não conseguiu conter uma gargalhada enquanto eles apanhavam seus carrinhos novamente e seguiam juntos em direção à porta do vagão de costume. Pessoas cochichavam e apontavam enquanto eles passavam, ainda mais do que nos anos anteriores - afinal, agora eles não eram apenas os filhos de Harry Potter e Draco Malfoy, mas dois jovens bruxos que haviam impedido a volta de Voldemort - mas, como de costume, eles simplesmente ignoraram.  
    - Qual é, Al, dê um desconto aos velhos. Nós fomos mesmo imprudentes ao pular do trem à caminho da escola. Nós tivemos sorte de um verão chato e um ano letivo inteiro com McGonagall respirando nas nossas nucas como um sargento terem sido o pior que nos aconteceu. Não os culpe, eles precisavam ter certeza de que nossa ousadia daria uma trégua. 
    Os dois garotos entraram no expresso e, enquanto se dirigiam ao compartimento usual, Albus sorriu e respondeu:
   - Isso é pedir demais de nós dois, não acha? Mas eu realmente não pretendo tentar reverter a morte de ninguém este ano. Onde está o seu pai, por falar nisso?
  - Meus avós voltaram de viagem hoje - ele explicou. Os dois abriram a porta deslizante da cabine e se sentaram lado a lado no banco à esquerda. - Ele estava apressado para voltar e continuar, você sabe, recepcionando. Deixar o vovô sozinho com os elfos domésticos nunca é uma boa ideia. 
   Albus assentiu.
  - Tem certeza de que é só isto? Está tudo bem entre vocês dois, certo? - indagou, levemente preocupado, enquanto o trem começava a partir.
  - Claro que está - ele respondeu, descontraído. - Eu banquei o filho exemplar em um nível quase militar o verão inteiro, não tem porque não estar.
   - É por isso que já está com suas vestes da escola? - brincou Albus, tocando o tecido preto e macio do uniforme que revestia Scorpius e olhando para as próprias roupas; jeans surrados e uma camiseta velha e larga de malha onde lia-se "Do The Hypogriff". 
      Scorpius riu e abriu a boca para responder, mas antes que pudesse, Albus o interrompeu.
   - O que é isso? - perguntou, inclinando-se para apanhar uma das malas de Scorpius, próxima à janela. Colocou-a sobre o seu colo e observou o que havia chamado-lhe a atenção; grudado sobre o couro da mala, havia um pedaço de papel onde lia-se, em letras garrafais escritas com forte tinta preta: "Filhote do Inferno". 
   Albus franziu a testa. 
 - Provavelmente algum daqueles idiotas tentando ser engraçados. Deve ter sido quando estávamos abraçados com o meu carrinho de lado - Scorpius concluiu, dando um suspiro desanimado. Albus olhou para ele e seu coração se apertou. Ele sentiu seu rosto esquentar e seu estômago se revirar. 
   - Foi o babaca do Holland. Eu sei que foi. - ele se lembrava de Neil Holland, um aluno da Grifinória do 6º ano, usando aquele apelido em Scorpius com seus amigos durante as aulas no ano anterior. Não era certo. Ele não permitiria que ninguém tratasse Scorpius daquela forma. - Eu vou lhe ensinar uma lição. 
   Albus arrancou o papel e se levantou, fervendo de fúria. Scorpius o segurou pela cintura. 
  - Não, Albus! Não faça nada! Você nem sabe se foi ele, e eu não ligo! Além disso, você não pode se meter em encrenca esse ano! 
   Mas Albus se desvencilhou do amigo, ignorando-o, e abriu a porta da cabine. Andou por alguns segundos até ouvir a risada familiar que o deixou enojado. Abriu a cabine com brutalidade. 
 - Você acha que isso é engraçado, seu merda? - o jovem de cabelos claros e encaracolados mal teve tempo de interromper as gargalhadas que dava com seus dois amigos dentro da cabine quando Albus o puxou pela gola da camisa e pendurou o papel à frente de seu rosto. - Deixe Scorpius em paz! Ele não tem culpa de você ser um imbecil que precisa incomodar os outros para se sentir melhor sobre sua personalidade nojenta. 
    Os outros dois garotos, igualmente magricelas, se levantaram de seus assentos de forma ameaçadora, mas com uma expressão assustadora na face que os entregava. Albus soltou Neil, que pousou no chão de forma brusca.
   - Relaxem, rapazes! - disse ele aos outros dois, levantando as duas mãos em um tom arrogante que não ajudou a diminuir a ira de Albus. - Eu não fiz nada com o seu namorado, Vira-Tempo. Eu nem mesmo toquei nas minhas tintas e pergaminhos ainda, cara! Mas eu achei bem engraçado, me avise se descobrir quem foi. 
  Se Albus tivesse seguido os impulsos que tentavam dominá-lo naquele momento, teria socado Holland no nariz com toda a força. Quem ele pensava que era? Em vez disso, entretanto, ele sacou sua varinha e a posicionou no queixo dele. 
       - Whoa, whoa, whoa! Não há necessidade disso, colega - Neil disse, erguendo as duas mãos à altura das orelhas. Os outros dois também sacaram suas varinhas de seus bolsos, apontando-as para Albus ao mesmo tempo. Ele olhou de um para o outro, e disse a Neil:
    - Se eu descobrir que foi você, ou se eu vir alguma outra tentativa de piada sendo feita com Scorpius, você vai se ver comigo. Sozinho. Sem seus amiguinhos. 
    Em seguida, abaixou sua varinha, ainda encarando os jovens cautelosamente. Eles repetiram seu ato.
   - Você não devia culpar as pessoas por estarem se rebelando contra o dragãozinho, Potter.
   Albus, que tinha se virado para deixar a cabine, voltou-se para Neil novamente. 
   - Do que diabos você está falando? Desde quando bullying virou rebeldia? 
   Neil deu um sorriso travesso, como se estivesse esperando que ele fizesse aquela pergunta. Ele se inclinou para apanhar um jornal pousado sobre seu assento, e entregou a edição d'O Profeta Diário a Albus, que pôs-se a ler a primeira página. 
       - Seu bichinho de estimação iniciou uma onda, Albus. Comensais da Morte estão se rebelando em Azkaban. Levantes e tentativas de tomada da prisão por toda a semana. Dificilmente conseguirão, é claro, mas eles estão inspirados, e isso é perigoso. Ele os inspirou. 
    Albus ouvia enquanto passava os olhos pela matéria e confirmava tudo o que Neil estava informando-lhe; "Rebeldia e Tentativas de Levante continuam se espalhando por Azkaban" era a manchete. Lendo o texto, ele se chocou; aparentemente, quando eles haviam tido de impedir Delphi no ano anterior, boatos absurdos começaram a correr. Alguém deduzira que Scorpius - sendo, como acreditava-se popularmente, o filho de Voldemort - havia ajudado Delphi a enganar Albus e a conseguir o vira-tempo secretamente; no entanto, quando ela demonstrou querer toda a glória para si mesma, ele decidira eliminá-la e prosseguir por conta própria. Tal teoria da conspiração se espalhara, e agora diversos Comensais da Morte se sentiam convidados a lutar, acreditando que o herdeiro de Voldemort estava por aí pronto para continuar seu legado. 
    Tudo aquilo era tão absurdo que Albus se sentiu tonto. Atirou o jornal ao chão e disse:
  - Scorpius salvou o mundo bruxo. Se não fosse pela coragem e lealdade dele, eu não teria conseguido. Voldemort estaria vivo. Essa teoria é a coisa mais absurda que já li, e se Comensais da Morte em Azkaban são desequilibrados o suficiente para acreditar nela, não é culpa dele. Esses doentes sempre usarão qualquer desculpa para acreditar em um futuro que os favoreça. 
   - Talvez. Mas eu ainda acho que qualquer Malfoy é uma ameaça em potencial que deve ser contida. Talvez devamos jogá-lo para fora do trem... Ou será que é melhor esperar que cheguemos a Hogwarts para atirá-lo da torre de astronomia? - provocou Holland, com um sorriso sarcástico desprezível. Albus cerrou os punhos e se aproximou dele de forma ameaçadora, face a face, suas sobrancelhas franzidas a um ponto que quase doía. 
  - O único jeito de você algum dia tocar em um mísero fio de cabelo dele é sobre o meu cadáver. Nunca mais o ameace, a não ser que queira acordar em cima do Salgueiro Lutador com todos os aurores do Ministério na sua cola. – falou, com os dentes cerrados.
   - Merlin, será que você não consegue aceitar uma piada sequer? Eu sou um pacifista. Não machuco ninguém. Isso é coisa de vocês, cobrinhas verdes. 
    Albus olhou para trás e lançou um último olhar de desprezo. 
  - Você foi avisado. 
Dizendo isto, abaixou-se para apanhar o jornal levemente amassado do chão e deixou a cabine, fechando-a com força atrás de si. Aquilo precisava ir para o lixo antes que Scorpius ficasse sabendo. 
   - Que droga, hã? 
 Albus sentiu seu peito doer ao concluir, olhando para um Scorpius que o esperava desanimado do lado de fora com a doninha Jack em seu ombro, que era tarde demais. 
- Você ouviu?
 Ele assentiu timidamente.
- Estou feliz que você não tenha feito nada – ele pontuou. – Não vale a pena.
- Mas eu fiz – Albus respondeu, amassando o jornal até formar uma bola. – Deixei claro para aquele boçal que é melhor ele te deixar em paz. Venha.
    Albus tocou o ombro do outro garoto, conduzindo-o de volta à cabine onde estavam. 
- Não vai adiantar. – Scorpius respondeu, sentando-se desanimadamente eu seu assento novamente. Albus sentou-se ao lado dele, pegando Jack e colocando-o no colo. – E mesmo que adiante, outros boçais vão fazer o mesmo. Você o ouviu. Eu sou uma ameaça em potencial. 
 - Para as bibliotecas, hospitais e qualquer lugar que exija silêncio, talvez – brincou Albus. Ao ver que o desapontamento não deixara os olhos azuis de Scorpius, sua expressão se fechou. – Qual é, Scorpius. Idiotas sempre foram idiotas e continuarão sendo. Você é muito maior do que isso.
  - Eu não estou chateado por causa do bullying – ele respondeu, olhando para o chão enquanto esfregava uma de suas mãos macias e desengonçadas na outra. – É que antes eu era apenas o filho de Voldemort. Agora eu sou... O Voldemort versão 2.0. Que droga. 
    Albus suspirou, tristonho, acariciando o pelo de um sonolento Jack enquanto tentava pensar em algo para dizer que pudesse reconfortar seu amigo. Ele odiava tanto ver algo chateando Scorpius. Era quase pior do que ter algo chateando a ele mesmo – não, era definitivamente pior. Ele queria que pudesse vê-lo alegre o tempo todo, tagarelando empolgadamente sobre algo que o interessava, o brilho em seus olhos claros que nunca falhava em dar a Albus um pouco mais de ânimo. Mas ele sabia que não era possível. Não em Hogwarts. Não naquele momento. Scorpius precisava que ele fosse forte. 
   - Acho que vai ser mais um ano complicado – concluiu o loiro, olhando pela janela, para as paisagens campestres que passavam velozmente por seus olhos.
  - Não – Albus respondeu, com firmeza, apertando a mão dele. – Não vai. E sabe por quê? Porque eu vou estar com você o tempo todo. E não deixarei que ninguém ouse te chatear por um segundo sequer. Eu juro. Além do mais... Eu sei que você vai conseguir passar por mais um ano sem se deixar abalar por essas idiotices. Você tem uma luz, Scorpius, que ilumina tudo ao seu redor. Eu não sei explicar, mas é como uma... Uma aura de positividade tão forte que bloqueia a tudo negativo. Eu a vi antes, e ainda a vejo sempre que olho para você. Use isso a seu favor. Você é um ser humano tão, tão especial, eu acredito que você consegue ser forte e se manter inatingido por tudo isso. 
   Ele se sentiu indescritivelmente satisfeito ao ver que aquilo conseguiu arrancar um sorriso do rosto de Scorpius. Um sorriso tímido que cresceu quando Albus sorriu de volta, tornando-se um sorriso de bochecha a bochecha e, depois, um pequeno riso. 
- Muito obrigado - ele disse, soltando a mão de Albus cedo demais. – Você sabia que papai costumava dizer o mesmo sobre minha mãe? 
   Albus arqueou as sobrancelhas em resposta, sorrindo com a mão direita sob o queixo, e o amigo continuou, empolgado:
 - Você acha que eu puxei isso dela? Quero dizer, eu não sei se isso é algo genético, é claro, mas você sabia que alguns autores acreditam que a magia pode transmitir algumas outras características indetectáveis de forma hereditária? É só uma teoria, é claro, mas segundo os estudos de Hagsted... 
 - Viu só? – interrompeu Albus. – É disso que estou falando. Uma luz que consegue transformar tudo em positividade. Isso e uma compulsão assustadora por falar, é claro. 
   Ele riu ao sentir um tapa em seu ombro.
- Cala a boca! Eu gostava mais de você um minuto atrás, quando estava sendo sensível. 
   Os dois garotos puseram-se a rir ainda mais alto, acordando Jack no colo de Albus. 
- Eu suponho que este ano também possa ser bom para você por causa da nossa grade – ele disse, depois que pararam de rir e ficaram alguns segundos em silêncio. – Dizem que a História da Magia do Quinto Ano é a mais interessante. 
  - Eu sei! Eu mal posso esperar. Eu estive esperando por isso ansiosamente, Albus! Deixe-me te mostrar - ele exclamou, abrindo sua mala para procurar o livro de História que usariam aquele ano. A forma com que Scorpius passou os próximos minutos divagando sobre as partes mais interessantes dos capítulos que lera nas férias como quem fala de uma viagem muito incrível que só fez uma vez na vida aqueceu o coração de Albus e o fez desejar, em silêncio, que os dois permanecessem juntos para sempre. 
         

******


      Apesar da promessa de Albus, o primeiro dia não foi nada fácil; durante todas as aulas e refeições, alunos da Grifinória – e até de outras casas – continuavam provocando Scorpius. A mais nova teoria da conspiração do mundo bruxo, por mais ilógica que fosse, se espalhara como pólvora, e conquistara muitos adeptos.
   Durante a aula de Transfiguração, enquanto McGonagall discursava sobre as transformações que aprenderiam naquele ano, Nicholas Morgan, do quarto ano, inclinou-se para dizer a Scorpius, sussurrando, que ele certamente se sairia muito bem, já que havia conseguido transformar um lufano em um Comensal da Morte. Antes que Albus pudesse xingá-lo ali mesmo em voz alta, como teve vontade, McGonagall puniu Morgan com vinte pontos a menos para a Grifinória, e exigiu que nenhum estudante fosse incomodado em suas aulas ou em qualquer outro momento – o que foi ótimo, mas não resolveu muita coisa. Por onde quer que os dois passassem pelo resto do dia, as pessoas cochichavam assustadas, e os burburinhos quase sempre envolviam coisas como “Malfoy duas caras”, “Potter não devia confiar nele” e “como eles ainda estão andando juntos?”. Albus respondia aos cochichos com cara feia e eventualmente com exclamações revoltadas, mas sempre acabava tendo que se conter a pedido de Scorpius, que detestava tensões. 
      Mas a gota d'água para Albus foi quando Michelle Green, uma sonserina do ano deles, perguntou-lhe, enquanto ele ia sozinho ao Corujal para mandar a seus pais a costumeira carta de “chegamos bem a Hogwarts”, se ele gostaria de andar com ela e seus amigos. O garoto prontamente perguntou se Scorpius poderia também, e quando a resposta dela foi negativa (acompanhada de um “na verdade, achamos que ele é perigoso e ameaça toda a redenção esforçada da Sonserina, e você devia se afastar dele”), Albus prontamente pediu que ela fosse se ferrar. 
    Nem mesmo Pirraça, cujas brincadeiras não costumavam ser muito pesadas, estava imune àquela onda ridícula de implicância com Scorpius; sempre que os dois garotos topavam com o poltergeist pelos corredores, tinham que ouvir algo como “Lá vem Potter com seu Comensal de Estimação” ou “Potter e Voldemort são namorados agora? Os anos realmente mudam as coisas!”.
   Mas nem todos olhavam para Scorpius com repulsa; no Salão Comunal nas masmorras, alguns sonserinos do sétimo ano perguntaram ao jovem, empolgados, quais eram os planos dele para “continuar a missão do Lorde das Trevas” e “limpar o mundo bruxo dessa bagunça impura”. Scorpius não respondeu; apenas ignorou-os e procurou Albus no dormitório para contar a ele imediatamente. Saber que ainda haviam pessoas entre eles que pensavam como Voldemort não era exatamente uma surpresa, mas Scorpius nunca deixava de se assustar com aquilo. Talvez por ter crescido em uma família onde quase todos possuíam uma Marca Negra no braço, aquele era um assunto especialmente delicado para ele, que tremia a qualquer sinal de pensamento suprematista.
     Fora isso, entretanto, Scorpius fazia questão de garantir ao amigo que estava tudo bem, e que ele não precisava se estressar. Albus sabia, porém, ao encarar os olhos azuis do amigo que pareciam ficar mais fundos e menos brilhantes a cada aula, que aquilo estava sendo terrível para ele. Isto fazia com que Albus quisesse chorar e lançar um Estupefaça em todos que o tratavam mal. 
    Depois de mais algumas aulas cansativas, um banho e um apressado jantar no Salão Principal, Albus e Scorpius estavam sozinhos na Sala Comunal da Sonserina, o som da ponta de suas penas arranhando pergaminhos sendo a única coisa que se ouvia. Seus três colegas sonserinos do quinto ano riam alto no dormitório, e Albus fazia o dever de poções sobre a mesa de centro da sala, sentado no carpete no chão – ainda inconformado que Slughorn já tivesse passado dever no primeiro dia de aula – e Scorpius desenhava coisas aleatórias em um pergaminho avulso apoiado sobre suas pernas, sentado no sofá verde atrás dele. 
   - Se você já terminou, podia me emprestar – sugeriu Albus olhando para ele, que não moveu os olhos, concentrado de forma adorável em seu desenho. – Eu sou péssimo em falar sobre misturas de raízes. 
     Scorpius olhou de volta para ele e fez cara feia. 
- E como é que você pretende aprender assim? Nossos N.O.M.s são esse ano, Albus!  – respondeu, mas tirou seu livro de poções de dentro da mochila encostada no sofá e o atirou à mesa de centro mesmo assim. – Meu dever está dobrado aí dentro. Mas prometa que vai tentar entender o que está copiando!
 - É claro que vou – Albus disse sorrindo, e deu uma piscadela para o amigo. Ao mesmo tempo em que anotava tentava compreender o máximo que conseguisse das anotações caprichosas de Scorpius sobre as propriedades mágicas das raízes de Valeriana, ele dava pequenas pausas para jogar pedacinhos de carne crua de um pote de metal em seu bolso para Jack, que estava deitado no tapete a alguns metros de distância. Quando estava na metade do pote e na metade de seu dever, ele ouviu Scorpius guardando seu pedaço de pergaminho na mochila e dando um alto suspiro. 
 - Algo errado? – ele perguntou, interrompendo suas anotações para olhar para o outro garoto. Quando percebeu a expressão desanimada do loiro, soltou a pena e virou-se para ele, apoiando as costas na mesa de centro. – O que foi, Scorp?
- Nada – Scorpius respondeu, balançando a cabeça. – Eu só estava... Pensando em algo.
Albus arqueou as sobrancelhas, esperando que ele dissesse mais. 
- Albus... – ele continuou, franzindo a testa em uma expressão de curiosidade. – Você nunca pensou em ir para outro lugar? Tipo, longe daqui? Uma nova vida?
 Albus sentiu-se triste.
- Você está falando isso por causa dos nossos colegas babacas? – indagou.
- Não! Quero dizer, não é só por isso. É só que... Você não tem vontade de conhecer pessoas novas? Ir a novos lugares? Talvez um lugar onde as pessoas não saibam quem você é? Explorar o mundo sem rótulos te limitando? Encontrar sua alma gêmea?
 Albus respondeu com um risinho.
- Eu pensei que você tivesse desistido disso depois que não deu certo com Rose? Scorpius, você é minha alma gêmea – ele respondeu. Scorpius arregalou os olhos, e só então ele percebeu que talvez tivesse ido um pouco longe demais; por isso, completou: - Quero dizer, é, seria legal conhecer gente nova, mas eu me sinto mais do que satisfeito com você e nossa amizade, Scorpius. Se você estiver comigo, eu estou completo. 
Scorpius deu um sorriso tímido.
- Isso é... Muito legal de se dizer, Al. E eu também estou satisfeito em ter você. Mas... Eu não sei, você nunca quis experimentar...
- Espere um minuto – Albus interrompeu. – Por que eu tenho a impressão de que isso não é sobre mim? 
O loiro mordeu o lábio, parecendo apreensivo, como se estivesse escondendo algo.
- Scorp... Você tem alguma coisa sobre a qual gostaria de conversar?
Por algum motivo, Scorpius estava suando, e Albus ficava mais preocupado a cada segundo. 
- Não foi fácil – ele disse, cuidadosamente, como se qualquer palavra errada pudesse ativar uma bomba. – mas meu pai quase sempre consegue o que quer. Quando eu disse que Hogwarts estava se tornando mais difícil para mim a cada ano, ele ficou mais determinado do que eu jamais tinha visto. Então... Eu vou sair daqui depois dos meus N.O.M.s. Vou concluir meu ensino e me preparar para os meus N.I.E.M.s em Durmstrang.
     O coração de Albus acelerou, como se as paredes estivessem se fechando ao seu redor e ameaçando esmagá-lo. Ele engoliu em seco, começando a tremer e sentindo que sua voz desaparecera. 
      Aquilo não podia ser verdade. Tinha que ser um pesadelo. 


Notas Finais


Não se esqueçam de comentar se gostarem. Li The Cursed Child e fiquei tão absurdado deles não ficarem juntos que precisei escrever essa continuação. Enjoy <3


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