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História Minds - 1. Minds


Escrita por: LessHuman

Capítulo 1 - 1. Minds


Sentado, com as costas encostadas no meu guarda roupa, e com a cabeça entre as pernas, esse sou eu Coeh Byers, em apenas mais um dia comum.

" É só mais um dia, eu vou superar isso, eu consigo. "

Repito as mesmas palavras diversas vezes em minha cabeça, como se isso pudesse fazer com que eu me sentisse melhor.

Estou mergulhado na maior depressão da minha vida, a qual eu nem sei como se originou, acho que apenas me senti triste, sozinho, decepcionado com o mundo e comigo mesmo.

" Por favor Deus, me mata, só te peço isso, eu sou muito fraco para esse mundo. " 

Em meio a tanta frustração bato com a minha cabeça na porta do guarda roupa diversas vezes.

" 592402 "

Uma voz masculina sussurra essas palavras na minha mente, estou ouvindo esses mesmos números na minha cabeça durante meses, acho que começou a 5 meses para ser mais exato, em Janeiro. Gosto de assumir que é Deus falando comigo, tentando me passar uma mensagem, me faz me sentir especial, mesmo que isso não faça sentido algum.

" 592402 "

A voz repete os números uma segunda vez, ela faz isso as vezes, é como se Deus se esquecesse dos números, e os estivesse confirmando, ou ele simplesmente quer ter certeza que estou ouvindo sua mensagem.

" Deus, se você realmente existe, me ajuda, é você que está falando comigo? Me ajuda, me dá um sinal, por favor, só te peço isso. "

Encaro a parede do meu quarto a espera de um sinal, mas nada acontece, bato com a cabeça no guarda roupa novamente.

Os números voltam a girar na minha mente, já tentei diversas vezes encontrar um significado pra eles, mas nenhuma das tentativas deu certo. A última delas foi quando passei semanas mergulhado em livros históricos e jornais antigos da biblioteca, que não me renderam resultado algum.

" Tente de novo Coeh. "

Impulsiono minhas costas para a frente e fico de quatro, esticando meus braços para tentar alcançar a minha mochila, que está encostada na parede, ao lado de uma cômoda, onde guardo alguns livros e coisas fúteis.

" Merda, vamos você consegue. "

Após um grande esforço, consigo agarrar minha mochila com a ponta dos dedos e arrasta-la até a mim, desço meus dedos até o zíper de seu bolso maior, mas antes que eu possa alcança-lo uma enorme ardência atinge minha garganta, o que faz com que eu desista do zíper e aperte minha garganta com força, esperando que a ardência passe.

Abro minha boca como uma tentativa falha de diminuir a ardência, e sinto meus lábios grudando com saliva, sinto vontade de vomitar.

Respiro fundo e volto minha atenção a mochila, abro o zíper da mochila, e de lá de dentro retiro um caderno que uso para fazer anotações da escola. Começo a revirar suas páginas em busca de um espaço em branco, e reparo que há poucas páginas sobrando para minhas anotações.

Anoto os números na folha em branco e os encaro durante alguns minutos, esperando ter alguma ideia brilhante, que acabou por não surgir.

" Pense de outro modo, vamos, você consegue. "

Volto à minha mochila novamente, em busca de um lápis, descobri ele no fundo de minha mochila, ao lado de uma borracha, retiro os dois de lá e começo minhas anotações.

Primeiro tento inverter a ordem dos números, mas não chego a nenhum resultado, então tento reorganiza-los, formo uma data.

- Dia 24/02/59. - Repito essas palavras em voz alta, minha voz soa rouca e fraca.

Vasculho o interior da minha mochila por alguns jornais que peguei da biblioteca no mês passado, e que nunca devolvi, os encontro alojados de forma desorganizada no meio de um caderno, os retiro de lá e começo a analisá-los, um por um. Depois de uns 20 minutos chego a data formada pelos números, mas não encontro nada a não ser mais decepção, o jornal contém apenas algumas notícias sobre socialistas, fuzilamentos em Cuba e confrontos entre tribos na República do Congo.

Cansado e decepcionado, jogo os jornais para o lado, junto com meu caderno e a mochila, escorrego do guarda roupa para o chão, e por alguns minutos apenas observo o chão, pensando em como eu me odeio, em como gostaria de estar morto, isso antes de eu cair em um sono profundo.

•×•×•×•×•×

Abro os olhos com uma certa dificuldade, eles parecem estar grudados.
Estico minhas pernas como de costume, apenas para ter o prazer de as ouvir estralar, não sei porque eu gosto disso, só gosto.
Com um grande esforço levanto do chão, e uma enorme dor de cabeça me atinge.

" Merda. "

Tento parar de pensar em qualquer coisa, para tentar diminuir a dor, como se parar de pensar fosse possível para mim.

Levo a mão a cabeça, ela está quente, aos poucos vou descendo as mãos para os olhos, eu os coço com as mãos dobradas, e em pouco segundos eles estão ardendo e vermelhos, mas ao menos, as remelas que habitavam o meu olho já não existem mais.

Viro meu pescoço para o lado e o sinto estralar, faço o mesmo com os dedos dos pés, algum dia irei descobrir o porquê dessa minha obsessão com o estralar do meu corpo.

Fecho meus olhos por um momento, a dor de cabeça está forte, o que me faz querer ir para a cama e ficar deitado lá para sempre, mas tenho que ir a escola.

Viro meu rosto para um relógio pendurado acima de minha cama, são 6:27, tenho que sair de casa pelo menos até às 7:00, isso para não chegar atrasado na escola.

Solto um enorme bocejo, meus lábios ainda grudados.

Desço minhas mãos até minha camisa e a levanto até meu pescoço, sinto minha pele macia por debaixo da camisa, percebo que os pelos estão crescendo de novo. Retiro a camisa, e agora vou em direção a calça, desço ela até meus pés, e com calma vou deslizando ela para fora de meu corpo.

Agora, apenas de cueca e meias, caminho devagar em direção ao banheiro, abro a porta com preguiça, minhas mãos parecem escorregar pela maçaneta. Adentro no banheiro, ligo o interruptor, e por um momento apenas encaro a parede de ladrilhos brancos, me sinto em uma câmara de ladrilhos, pois o chão também está coberto com os mesmos.

" Hitler vai surgir do ralo, e vai ordenar que eu entre debaixo do chuveiro, na temperatura mais quente possível. "

Rio com minha própria estupidez, enquanto isso retiro minhas meias pretas, e me posiciono abaixo do chuveiro, apenas de cueca.

Ligo o registro do chuveiro e fecho os olhos mais uma vez, dessa vez para encarar a água caindo sobre meus ombros, pra mim sempre é uma sensação estranha, sentir a água cair sobre seu corpo, o tornando de seco para molhado.

Passo minhas mãos sobre minha cueca preta, essa é uma mania estranha minha, tomar banho de cueca, faço isso desde pequeno. Aos poucos vou alisando minhas nádegas por cima da cueca, e depois minha virilha, faço isso tudo de modo um tanto mecânico, sem muito esforço acabo ficando excitado com meus próprios movimentos, sinto meu pênis pulsando dentro da cueca, mas não tenho tempo pra isso, preciso terminar meu banho rápido para ir pra escola.

Alcanço a bucha que repousava em um armário de plástico suspenso ao meu lado, e começo a passa-la por todo o meu corpo, dos pés à cabeça, e por dentro da cueca. Depois disso retiro a espuma e começo os cuidados com meus cabelos negros. Meu cabelo é parcialmente liso, quero dizer, ele é liso, mas ele é ao mesmo tempo meio grosso, eu não sei como explicar.

Finalizo o banho, desligo o registro e desço minha cueca até o chão, pego uma toalha pendurada a um prego na porta e passo ela por todo o meu corpo, por fim, prendendo ela na minha cintura. Banho finalizado.

•×•×•×•×•×

Me seco rápido após o banho, e no meu quarto, retiro, do mesmo guarda-roupa onde repousei a tarde inteira, uma calça de moletom cinza, uma camisa preta, e das gavetas, tiro uma cueca boxer e um par de meia cinzas.

Me visto o mais rápido possível, pego minha mochila e parto para fora do meu quarto, e do meu quarto para o lado de fora de meu apartamento.

•×•×•×•×•×

Do lado de fora do meu apartamento, fora da minha cúpula de conforto, respiro fundo, vai ser uma caminhada difícil.

Ando em direção as escadas mais próximas, nunca uso os elevadores, primeiro porque eu não confio neles, segundo porque eu não quero acabar tendo um encontro desagradável com algum vizinho, ninguém nunca usa as escadas.

Como previsto, não encontrei ninguém descendo pelas escadas, o que me fez me sentir mais calmo, não por muito tempo, pois daqui a pouco estaria nas ruas, a caminho da escola.

Desci o último degrau da enorme escadaria, moro no quinto andar, então sim, a descida é longa.

A zeladora estava dormindo na bancada, bem, mais ou menos na verdade, ela estava sentada com as costas na cadeira, com a cabeça pendendo para o lado, mas com os olhos abertos, como se estivesse em uma espécie de transe, admito, isso me assustou um pouco.

Caminhei pela bancada e sai o mais rápido que pude daquele lugar, por um momento pensei ter ouvido a zeladora cantarolar uma música, mas provavelmente foi apenas minha imaginação.

•×•×•×•×•×

Do meu quarto para o apartamento, do apartamento para a rua, agora aquela bolha não existe mais, não adianta tentar evitar as pessoas, agora elas estão em todos lugares.

Quero fechar meus olhos, mas não posso, não quero ser julgado pelas pessoas presentes na rua, todas parecem um tanto apressadas, provavelmente estão indo para o trabalho, ou para a escola.

Caminho em direção ao ponto mais próximo do apartamento, que por sorte está a apenas 3 quarteirões.

Enquanto caminho observo o ambiente a minha volta, quase não há árvores aqui, mas há muitas se compararmos a cidade grande, bom eu não vivo exatamente no campo, vivo em uma cidade pacata chamada de Novo Bosque, mas não há nenhum bosque aqui. Novo Bosque é como um intermediário entre a cidade grande e o campo, algumas pessoas chamariam esse lugar de confortável, mas eu prefiro chama-lo de inferno.

No segundo quarteirão paro por alguns segundos para observar alguns pássaros, e acabo me perdendo nos meus próprios pensamentos, pensamentos sobre como eu gostaria de ser um deles, e apenas voar, fugir de um lugar ou de uma situação quando ela não fosse agradável.

Chego ao ponto e espero o ônibus chegar, felizmente não há ninguém no ponto.

" Agora só tenho que esperar, vou sobreviver. "

•×•×•×•×•×

Desço em frente à escola, o ônibus estava vazio, só havia eu e mais uma garota nele, ela agiu de forma muito estranha lá, falando coisas sem nexo algum, e para o vento, me identifiquei.

Caminho pelo gramado da escola, que precisa urgentemente ser aparado, quase me sinto em uma floresta, quase.

Logo que adentro a escola encontro várias pessoas, automaticamente minha boca parece secar, e meu estômago da dezenas de voltas, essa é a razão por eu nunca comer nada de manhã, se comesse provavelmente iria vomitar tudo.

" O estranho chegou. "
" Ele não tem amigos. "
" Tenho dó dele. "

" Eles não percebem que eu estou aqui, que estou ouvindo tudo o que eles dizem? "

Tenho vontade de agachar no chão e chorar, mas respiro profundamente e sigo. Abro a porta que leva até o corredor, corredor que dá acesso as salas, e onde os armários estão localizados, e encontro um enorme aglomerado de pessoas, todas elas viram seu rosto pra mim quando entro, algo está acontecendo.

" Quem é ele mesmo? "
" Ele não deve saber o que aconteceu."
" Ele é tão medíocre. "
" Tenho nojo dele. "

Tento segurar, mas não aguento mais, corro porta afora com a mão no rosto, tentando conter as lágrimas que começam a escorrer por todo o meu rosto. Corro em direção à um beco atrás da escola, onde me sento encostado a uma árvore, e com os olhos fechados sinto as lágrimas escorrerem.

Então, me dou conta de algo, ninguém disse nada, lembrei do rosto de cada pessoa, todas elas com suas bocas fechadas.

" O que está acontecendo comigo? Estou enlouquecendo? "

Uma sombra se aproxima de mim, de trás de um arbusto o meu professor de história Eliot se aproxima.

- Coeh? Você está bem?

Eu apenas encaro ele, com as lágrimas ainda escorrendo.

" Não ele não está bem. "

O professor anuncia, mas não vejo sua boca se mecher.

" Talvez tenham sido movimentos muito sutis. " - Penso.

Então ouço a voz do professor novamente, soando tão clara como se ele estivesse ao meu lado.

" Vou oferecer uma carona a ele, ele não vai querer ter uma aula nesse estado. "

- Você quer uma carona para o apartamento?

Meus olhos se arregalam, e eu gaguejo na confirmação de meus pensamentos.

" Ele não está falando nada disso, eu... Eu... Eu estou lendo a mente dele! "



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