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História Mine Again - - O perdão.


Escrita por: superflysex

Notas do Autor


Boa leitura pessoal.

Capítulo 16 - - O perdão.


JANEIRO 1995 - NEVERLAND RANCH. 

 

Havia pouco tempo desde que terminaram a estádia por Nova Iorque, onde se estabeleceram após o casamento. Em seguida a primeira aparição pública juntos, viajaram alguns lugares da Europa visitando hospitais e se reunindo com pessoas importantes. 

Mas agora, tirariam uns meses de tranquilidade em Hidden Hill já que em breve o disco que Michael veio trabalhando seria lançado no verão e de novo as redes de promoção e viagem reiniciariam. 

Passariam aquele primeiro fim de semana da virada do ano em Neverland e foi quando deu uma sugestão de '' gênio'' : Não seria a chance perfeita de convidar seus pais para um jantar? Estava com aquela ideia fixa na cabeça. Apesar de rapidamente, Lisa já tinha conhecido Dona Kate e alguns de seus sobrinhos e duas irmãs. Mas tinha alguém que estava fortemente evitando que a apresentasse e esse alguém era seu pai. 

Mas a esposa estava persistente, por mais que tentasse escapar e uma hora ou outra isso teria que acontecer. Aceitou, mas estendeu o chamado apenas para os dois. O restante da família, deixaria para futuras ocasiões. 

De sua parte, Michael já havia se encontrado com os principais. Com Priscilla tudo ocorreu rapidamente e também tenso, de longe conseguiu enxergar os maus olhados dela e até mesmo Lisa queria evitar muitos encontros entre os dois. Não adiantaria, sua mãe não iria da a aprovação. Aprovação logicamente simbólica, pois se ela dissesse '' Escolha ele ou eu'', ficaria com quem se casou. 

Mas o esposo também deu sua regra: Se vamos chamar meus pais, chame sua mãe. 

Chegou a pensar que Michael tinha feito isso para fazê-la se arrepender de sua ideia o que causou uma breve briga. 

Na suíte principal do rancho, Lisa terminava de se aprontar. Como não queria parecer extravagante ou que estava se arrumando demais, optou por uma meia calça preta e uma saia, um pouco acima do joelho,  de veludo da mesma cor, completando com uma blusa branca de manga longa e uma bota cano curto e de salto pequeno marrom. Durante o dia, uma profissional lhe veio fazer uma escova nos cabelos e ela mesma de noite fez a maquiagem sozinha. 

A terminava quando Michael adentrou ao cômodo com uma expressão um tanto sôfrega. 

- Todo mundo confirmou. - Pela rápida discussão de mais cedo, o clima estava um tanto vergonhoso. Parou para a observar. - Você está bonita. 

Ela espirrou a última gota do perfume e virou-se já para a direção dele, abandonando o espelho. 

- Não vai se arrumar? 

- Estava esperando você terminar. - Aproveitou o meio tempo para fazer companhia aos filhos dela, que jantaram mais cedo tudo para estarem dormindo na hora da reunião dos adultos. Os acompanhou até pegarem no sono. - Quis dá um espaço pra pensar. Ainda está chateada? 

Negou primeiro com a cabeça. 

- Não. - Sua voz estava calma. - É que eu insisti por algo que você não queria porque não se sentiria confortável e então você convida a minha mãe porque sabe que eu não vou me sentir confortável. Não sei, pareceu que queria se vingar de mim e não gostei disso. 

Michael foi lentamente se aproximando. 

- Está certa, pode ter parecido isso mesmo. Tem razão. - Optou ceder, não queria passar a atmosfera de casal em discussão quando todos chegassem. - Me desculpa? - Pediu ao ficar rente à Lisa. 

Em resposta, ela o abraçou. 

- Tá tudo bem já. - Garantiu, em um sussurro. Separaram os corpos logo em seguida. - Vai se arrumar. - Disse, tentando caminhar para sair. 

Antes que fizesse, Michael, delicadamente, a trouxe para perto novamente. Dessa vez para um beijo digno de reconciliação. As apostas sob eles não eram as melhores nem para seus familiares, para passar uma boa impressão Michael sabia que desculpas e um abraço não eram o bastante. O bastante foi o sorriso e o brilho nos olhos dela ao se afastarem.

Sem preciso mais palavras, Lisa o deu privacidade para se trocar. 

---

Como gentileza, Michael enviou dois de seus carros para buscarem Priscilla, Joseph e Katherine. Assim os três chegariam juntos e não haveria a necessidade de espera e possíveis momentos constrangedores. 

Lisa os aguardava sozinha na sala, quando os convidados passaram pela porta. Michael continuava no andar de cima, se arrumando. 

Trocou um olhar forte com a mãe, preferindo cumprimentar Katherine primeiro. 

- Senhora Jackson, que bom que veio. - Apanharam as mãos, carinhosamente e mantiveram juntas. 

- Meu filho disse que foi sua ideia dar esse jantar, muito obrigada. - Agradeceu um tanto tímida. - Fazia um tempo que eu queria tentar organizar algo assim, mas não sabia como você iria reagir. Poderia ficar incomodada não sei. 

- Tem a permissão pra organizar o que quiser. - Aos poucos, Lisa voltou-se para o homem ao lado da sogra. A expressão dele menos receptiva. - Senhor Jackson como vai? - Soou insegura. 

- Bem, bem. - Limitou-se na fala.  

Vendo que não conseguiria mais dele, partiu para sua mãe. Deram um beijo rápido no rosto e ela questionou como estava, Priscilla com seu olhar de canto de olho observava cada centímetro do cômodo enquanto a filha falava. Nesse meio tempo, a presença de Michael se revelou no topo da escadaria. 

- Boa noite. - Ele disse lá de cima. 

Tanto tempo se trocando para aparecer com o visual de sempre, com direito a camisa vermelha e tudo. 

- Boa noite. - O coro respondeu, paralelamente se aproximava. 

Priorizou a mãe, sendo carinhoso e trocando palavras doces, beijos e abraços 

'' Está tudo bem Joseph?'' Foi tudo que deu ao pai. 

- Senhora Presley finalmente veio conhecer Neverland. Seja bem vinda, caso queira passar a noite e visitar o restante amanhã pode fazer. Gosta de zoológicos? - Tentou uma conversa com Priscilla. 

- É que eu tenho um compromisso amanhã, mas podemos combinar outro dia. 

Mentirosa. O pensamento de Lisa gritou, sua mãe não tinha compromissos. Mas ao menos via o esforço para ser educada, apesar de não para aceitar o que a filha escolheu. 

- Senhores, boa noite. - A governanta adentrou ao ambiente. - Poderiam vir até a sala de jantar? A refeição será servida. 

Michael disse obrigado a empregada e junto de Lisa partiram na frente, como anfitriões para o cômodo ao lado. Priscilla foi atrás e Joseph e Katherine por último em uma distância considerável. 

- Que ótimo, jantar com duas Presley. - Joe murmurou repleto de sarcasmo e até um tanto inconformado. 

- Joe, comporte-se. Não faça essa vergonha pro nosso filho. 

- Vergonha? Vou te dizer o que é vergonha. É um homem negro ter que sentar em uma mesa que um Presley ou ainda ter que ver o filho se casando com uma. 

- Para de besteira, é a filha não é o pai. - Defendeu. - É com ela quem ele casou. 

-  Pois devia ter se casado com a filha do Little Richard.

- Little Richard não tem filha, Joseph. Chega. - Deu o basta ao ver que estavam a poucos passos dos outros. 

A comida foi posta e todos se sentaram. 

--

- Estão gostando da escolha? - Lisa questionou aos convidados, em especial aos pais de Michael. 

- Está tudo muito bom. - Katherine respondeu, após terminar outra mastigada. 

- É comida Indiana, mamãe. - Michael interviu. - Lisa quem escolheu. Não só a culinária, como também o restaurante, o chefe. Cuidou de tudo o dia inteiro. - Sorriu para a esposa, lhe depositando um beijo na mão em seguida. 

Ela riu de volta, realmente passou o dia coordenando tudo. A comida, os empregados, a limpeza. Estava nervosa e queria fazer bonito. Um lado seu também queria provar para o marido que poderia ser a dama com ares de cerimonialista que sabia que teria que ser durante aquele matrimônio. 

- Comida Indiana. - Joseph riu. - Não precisava disso, na verdade se nos apresentasse um frango de microondas qualquer e dissesse que é de sabe se lá onde nem perceberíamos. Na verdade, até preferia um frango de microondas, tem menos frescura. 

Apesar do tom bem humorado do patriarca, um constrangimento abateu o restante da mesa. Michael abaixou a cabeça envergonhado e se dirigiu para a esposa em seguida. Via a decepção, havia se esforçado ao máximo para tentar agradar a todo mundo. 

- Claro, eu deveria ter ligado e perguntado o que gostariam que fosse servido. Erro meu. - Lisa procurou se desculpar. 

- Ele só está brincando. - Katherine apressou em apaziguar. - Não é Joe? - O encarou de modo fulminante. 

- O que eu estou dizendo é que somos ricos que já foram pobres, então a frescura é menor. - Rolou os olhos, no tom ainda aquela leveza como se realmente não quisesse ofender. - Claro que é diferente com vocês duas. - Referiu-se a Lisa e Priscilla. - Nascidas em berço de ouro, devem ter um gosto bem mais refinado que o nosso. 

Sabia que seria uma péssima ideia. Michael pensava. 

- Bom, eu adoro frango de microondas também. - Lisa tentou descontrair. 

- Já eu não vou fazer a modesta, perdoem-me. - Priscilla anunciou com certo deboche. - Acho que há maravilhas demais no mundo e se temos condições, qual o problema em desfrutar? Pra isso serve o dinheiro. 

- Concordo pra isso serve o dinheiro. - Joe endossou. - Mas quando já se teve em situações precárias, como eu, como minha família, aprende a se satisfazer com pouco se precisar. Mas tudo bem, é diferente com vocês. - Explicava, mantendo-se sereno. - Nós conseguimos nosso dinheiro trabalhando e suando firme, vocês com uma herança. É diferente. 

- Ok, sobremesa. - Michael deu um basta. 

---

Exaustos pelo estresse do momento, regressaram ao quarto com o cansaço exposto na aparência. Não foi preciso correr uma maratona, apenas resistir ao fim daquele jantar regado pelo silêncio constrangedor dos dizeres de seu pai. Em sua imaginação, Lisa planejara uma agradável conversa com Katherine para poder criar algum laço com ela, mas o peso do momento fora tanto que ninguém conseguiu manifestar mais nada. Terminaram de comer e foram para a casa, os três. O plano de união familiar havia sido um fracasso. 

Sem nem ao menos dar o trabalho de retirar nem ao menos os sapatos, Lisa se jogou na cama e soltou um suspiro de fadiga. 

- Só não me fale '' Eu te avisei'' tudo menos isso. - Ela advertiu. 

Michael deitou-se ao seu lado. 

- Não vou. Já foi demais por hoje. - Mas que bom que ela sabia do erro da ideia. - Mal posso acreditar que o que aconteceu ali foi real. - Lisa se acomodou em seu peito, apertando forte pela cintura. - Até sua mãe tentou ser educada, até ela. E ele nem ao menos se deu o trabalho de um esforço, veio pra provocar mesmo. - Sentia-se enojado. 

- Mas você pelo visto não pensava que seria diferente, me avisou que seria uma péssima ideia e eu não dei ouvidos. 

- É, mas tive uma esperança quando ele disse sim pro convite. - Confessou decepcionado. - Fazia muito tempo que eu não criava expectativa de nada em relação há Joseph, já me conformei com quem ele é e também que nunca teremos nenhuma relação além do que a que temos agora. - Domado pela melancolia, Lisa sentiu o abraço de Michael ficar mais forte. 

Houve uma curta pausa, para desfrutarem da tranquilidade adquirida na qual no andar de baixo tanto faltou. 

- Olhe pra mim. - Ela pediu. Esperou o esposo acatar para prosseguir. - Iremos ter nossa família e você vai ter tudo que sempre sonhou, a família que sempre quis. 

- Mesmo sem a aprovação de ninguém? 

- Eu só preciso de você. Só e acabou. 

---x---- 

 

Os filhos continuavam tão medrosos para avião quanto Michael lembrava, por isso passaram o percusso cochilando. Apesar de seu tratamento de insônia proibir cochilos, acabou imitando as crianças por breves vinte minutos. Tomara que não prejudique o sono mais tarde. Pensou. Alugou jatinho um particular, como sempre. Não queria ter de ir nessa viagem, mas Ayana havia aconselhado persistentemente na última consulta. Estava indo bem, sentia que estava. Apesar que havia assuntos delicados demais ainda para conseguir falar, tentava ao máximo que podia não mentir pois, mesmo não querendo admitir, aquelas consultas o estavam fazendo bem. 

Passou pelo primeiro exame toxicológico e pela primeira visita da assistente social de maneira exemplar.

Las Vegas havia sido sua última morada antes de regressar a Los Angeles, onde toda a linha de sua vida se embaralhou. Perguntava-se se era por essa razão que Joseph teria escolhida Las Vegas para viver nesses últimos tempos, na verdade essa foi uma teoria de Ayana que ultimamente refletiu. Ela estava insistindo em o convencer a criar um laço com seu pai, que era o tema que mais tocaram nas últimas idas. Coincidentemente, Joseph convidou os netos para passarem o ação de graças com ele. '' Você tem que ir'' a psicologa dizia. Não queria deixar a mãe sozinha por não comemorar datas, mas ela estaria bem com os cuidadores que contratou, mas não poderia negar o quanto queria passar aquele dia com seus filhos. 

Chegaram ao destino pela noite, um carro já os esperava pronto para  os levarem a casa onde o pai agora vivia. Preferia um hotel, mas não queria ficar sozinho já que os três obviamente escolheriam ficar com o avô. 

Adentraram a residência. Luxuosa como toda mansão exigia, já na entrada uma área limpa e clara onde possuía apenas uma escadaria gigante para o andar de cima. Do lado esquerdo, uma soleira que dava direto em uma sala de visitas e a uma outra porta dentro dela, segundo Paris, era um escritório. 

Esperava que o pai estivesse ali dentro, mas ao contrário do que supôs, ele desceu as escadarias revelando que estaria no andar de cima. 

- Joseph, onde está todo mundo? -  Referiu-se a seus sobrinhos. Ele havia chamado todos os netos. 

- Chegam amanhã pela manhã. - Disse enquanto descia as escadas. Ação de graças era amanhã e fariam um jantar, mas Michael pelo visto tinha se antecipado e chego um dia antes. - Vocês vieram cedo. Estão com fome?

No relógio eram já dez da noite. 

- Comemos no avião. - Disse Michael. Os filhos como sempre efusivos foram cumprimentar o avô. 

- Pelo menos chegando cedo, a gente pega os melhores quartos. - Blanket reparou. 

- Vão fazer o que? Vão dormir? Vão sair pela cidade? - Joseph questionou. 

- Vamos sair amanhã depois do jantar, provavelmente a maioria dos lugares vai está vazio pelo feriado então vai ser melhor. - Michael explicava quase que decoradamente. - Mas agora, acho que vamos ver um filme e dormir mesmo. Estão com sono? - Perguntou para os filhos. 

Os três negaram com a cabeça. 

- Podem usar a sala, eu vou passar a noite no escritório mesmo. - Joseph disse antes de sair.   

---x--- 

É, realmente os breves vinte minutos no avião impediu todo seu ciclo de acontecer. Duas e meia da manhã e nada. Não podia ter se deixado dormir, algo parecido havia ocorrido outras duas vezes. Quando sucedeu, telefonou para Vivian e ela o soube ocupar bem com algumas conversas a seu estilo. Mas agora o ponto final já havia sido dado, no início daquela semana. Última fisioterapia e última noite. 

Viu pela expressão, na qual tentou disfarçar, que não gostou de quando lhe deu o contrato de confidencialidade para assinar. 

'' Arruinou meus planos de escrever um livro sobre nós''. Soltou a última ironia daquele senso de humor afiado que gostou tanto e que, por que não, sentiria falta. Na verdade, começava a esclarecer que sentiria mais falta de uma companhia do que da companhia dela em particular. 

No quarto que estava havia mais outras duas camas de solteiro na qual Paris dormia em uma e Prince em outra com Blanket. Apesar de uma quantidade boa de quarto de hospedes, viriam muitos de seus sobrinhos então teriam todos que dividir; Por isso preferia o hotel. 

Ao menos seria apenas por uma noite. 

Cansado de rolar pelo colchão, resolveu que desceria até o andar de baixo e apanhar um livro para se distrair. Outra regra do tratamento que burlaria: Não leia antes de dormir, não assista nada muito impactante na televisão ou fique na internet enquanto tenta pegar no sono. Apenas por isso que não trouxe nenhum livro consigo, para não quebrar o protocolo. Mas agora que desobedeceu a do cochilo, provavelmente não conseguiria adormecer de qualquer modo. 

Pra que tentar o concertar o que já está quebrado, não era mesmo? 

No escritório de seu pai, deveria ter algo. Desceu as escadas, entrando na sala e indo até o fim dela onde estava a porta para o destino final. Deveria ter qualquer coisa. 

O som alto da porta de correr, despertou o homem que adormecia na cadeira com um susto. Michael não o esperava encontrar ali, por isso não tomou delicadeza em seu ato. 

- Ainda aqui? - Estranhou o filho. 

O mais velho coçou a vista, acordando. 

- Peguei no sono. 

- Ao menos um de nós. - Disse já olhando em volta. Avistou alguns livros no fundo logo atrás da mesa onde Joseph estava. - Está ai há muito tempo? Por que não vai pra cama? - Foi até o canto literário. Começou rondando os livros um a um para checar as opções. 

- Já vou, nem vi quando apaguei. - Um bocejo. - O que está fazendo?  

Michael interrompeu sua caça. 

- Procurando algo pra ler. 

- Sua mãe disse que estava dormindo ultimamente. Mentiu? - Elevou as sobrancelhas com curiosidade. 

- Não, não mentiu. Só que excepcionalmente hoje não estou conseguindo. - Exclamou enquanto apanhava o escolhido. '' The tattooed desert'' o nome. Não fazia ideia do que se tratava. 

Suas palavras chamaram a atenção do pai. 

- Estar debaixo do mesmo teto que eu te deixa inquieto? - Falou como um investigador. 

- Acha que teria vindo se incomodasse tanto? 

- Talvez não confie em mim com seus filhos. - Rebateu. 

- Fiquei três anos ausente. Tenho provas o bastante pra saber que posso confiar no senhor com meus filhos. - Manteve sua voz baixa, apesar de firme. - Eles gostam de você Joseph, eu vejo de longe isso. - Mirou os próprios pés, na tentativa de esconder sua frustração. 

- Isso parece te incomodar. - Joe reparou. - Por que? 

Michael suspirou cansado. Sua vontade era dizer '' Não precisamos ter essa conversa'', o desejar boa noite e simplesmente ir embora. Mas quando se viu prestes a fazer isso, recordou-se de Ayana. Recordou de suas palavras, de seus conselhos, de suas analises que o deixaram louco e o levou as lágrimas. 

'' Se sente tão frustrado, precisa extravasar isso direto com o causador. Pra isso precisa se abrir mais, falar mais'' a terapeuta repetia incansável. Lhe faltava tudo: oportunidade, coragem, tempo. 

Só que surpreendentemente, naquele momento se viu repleto pelos três.  

Houve uma longa pausa para que tivesse a garra de se soltar.  

- Talvez inveja. - Admitiu em um sussurro, sem o fitar. - Inveja que tem com eles o que não temos. Inveja que... É com eles o que não foi pra gente. - E odiava aquele sentimento. Odiava emanar um pecado tão grande contra seus próprios filhos. 

Joseph encarou o nada com certo baque pela revelação, não apenas por isso mas pela iniciativa do filho em falar. Em qualquer situação, o Michael que conhecia teria fugido para o quarto para evitar qualquer conversa. 

- O tempo muda as pessoas. - Foi tudo que conseguiu emitir. - Tempo, acontecimentos, tudo muda as pessoas. Nem você é o mesmo. O filho que eu tenho, teria ido embora antes mesmo que eu terminasse a primeira pergunta. 

- Esse é o problema Joseph, nós não nos conhecemos. - Michael riu em escárnio. - Eu não conheço profundamente esse novo homem e nem o antigo e a mesma coisa do senhor comigo. 

- Está errado. - Negou convicto. - Conheço bem o filho que eu tive, mas sim você não conhece o pai que tem. Isso podemos discutir. 

Sem conseguir evitar, Michael já começava a ter a sensação de seus olhos queimando. Não chorou ou derramou uma sequer e nem permitiu que reparassem, mas estavam lá. Como? Não era algo que já estava indiferente?   

- E quem é o pai que eu tenho? - Esforçou-se para não gaguejar. 

Miraram-se olho no olho pela primeira vez naquela noite. 

Outra pausa, dessa vez para que o outro escolhesse suas palavras. 

- Podemos sentar nesse escritório e ter uma conversa de horas pra ir atrás de reparar todo um passado ou simplesmente podemos tentar conviver e ir descobrindo. - Sugeriu, sem emoção alguma. Apesar de no fundo sentir, mas tinha que conter-se. - É sua escolha, mas em qualquer um que decidi exige perdão, exige compreensão e de nós dois.    

- E qual seria a diferença entre uma escolha ou outra? 

Joseph não soube identificar se o filho havia questionado aquilo por interesse em sua proposta ou simplesmente por estar confuso. 

- Se escolher a conversa, sentaremos aqui, falaremos o que tem que ser falado. Provavelmente haverá perdão e alivio e depois cada um segue seu rumo, se livra de uma vez. -  Qualquer um que visse sua frieza não poderia imaginar que se referia a algo tão delicado, mas de novo, necessitava se conter. - Mas se optar pela convivência teremos que... Simplesmente conviver e ao contrário da primeiro, exige tempo juntos. Exige dia a dia e você terá me ver quase que semanalmente. - Michael entendeu o que significava aquilo, seria decidir se queria ou não o pai em sua vida e de modo definitivo. - O que quer?. - Disse no fim, quase inaudível.       

O filho pensou que teria dúvidas, mas para seu próprio espanto não tinha uma sequer. Uma lágrima pequena e fina rolou por seus olhos enquanto sua resposta saia da boca. 

- Acho que to ficando com sono de novo. - Preparou a deixa para ir embora. - Teremos tempo pra outras conversas, vamos conviver bastante a partir de agora pelo visto. - O lema de manter a postura inabalada, prevaleceu para o outro, embora por dentro Joe sentiu como assistir um dia amanhecer após anos de escuridão. Por fora, somente assentiu em concordância. Michael não esperava nada além - Boa noite. - Despediu-se de modo simples. 

--x-- 

- Pai. - A voz baixa sussurrou, quase impossível de ouvir. Apenas conseguiu porque a pequena mão bateu de leve em suas costas para chamar sua atenção. 

Michael virou-se para o lado oposto dando de cara com Prince, já sentado na cama. Deveria ter passado dez minutos desde que subiu de volta após seu momento com Joseph. 

Desistiu de ler e foi deitar, tudo aquilo tinha sugado suas energias e estava pronto para dormir novamente. 

Mas seu filho interveio. 

- O que foi? Está tudo bem? - Se alarmou, Prince não era de despertar de madrugada. 

- Queria contar uma coisa. - Ele parecia nervoso. O pai fez uma expressão de incentivo. - Quando o senhor levantou e desceu eu fiquei preocupado, o quarto é suíte e tem até um frigobar. Não precisaria descer pra beber água ou ir no banheiro. - Não teve coragem de prosseguir. 

- Então... - Michael resolveu ajudar. A falta de ira do pai o deu mais pulso, talvez ele não fosse brigar. 

- Então que eu fui atrás do senhor, fiquei preocupado. - Adiantou-se em ressaltar essa parte. - E acabou que ouvi sua conversa com o vô. - Droga. Michael frustrou-se. Tudo que menos queria era seus filhos cientes de mais um de suas questões. - E eu estou feliz pelo que aconteceu. 

- Como? - Disse de imediato, em choque. 

- Estou feliz pelo que aconteceu. - Prince repetiu mais lento. - E também orgulhoso do senhor. - O filho procurou a mão do pai. - Aquele dia que eu falei que precisava de mais do que palavras e sim de ações. Acho que eu precisava de algo assim do senhor. 

A emoção que prendeu com Joseph no andar de baixo, regressou só que sem represarias. As lágrimas eram quase que invisíveis, tanto que Prince não parecia as enxergar, já que as luzes também estavam baixas. 

Michael sorriu em meio as águas.  

- Eu não sei o que falar. - Se perdeu, envergonhado. 

- Posso dormir com o senhor hoje? 

- Claro, claro. - Exclamou efusivo, já chorando mais. Deu o espaço para Prince um tanto afoito em seus movimentos, fazia tanto tempo que tudo o que tinham entre eles era frieza. Não suportava mais. 

O mais velho se aninhou e Michael sem resistir o abraçou com toda sua força. Não poderia medir o tamanho de sua felicidade naquele instante. 

 



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