História Minha doce flor de cerejeira - A noite e a sua presença

Quando me dei conta, estávamos parados no portão da casa de Sakura nenhuma palavra era dita, nenhum de nós dois se mexia, meus dedos roçavam de leves nos dela e o ar estava carregado de antecipação. Me virei para olha-la, mas seus olhos estavam baixos e eu podia perceber sua tensão. As luzes estavam apagadas, apesar de ainda ser relativamente cedo.

- Meu pai está em uma conferência numa faculdade em outra cidade e, como você sabe, Toya está na Universidade em Tókio.

Eu conseguia ouvir sua respiração rápida e ver os movimentos involuntários dos pés. Ela parecia ansiosa, ficar perto de mim seria desconfortável pra ela?

- Podemos nos ver amanhã.

Eu podia ouvir a decepção em minha própria voz.

- Não!

Sakura se tornou mais alto do que ela pretendia, seus olhos estavam muito grandes enquanto ela gesticulava nervosamente as mãos.

- Quero dizer.. por favor entre..

- Não precisa se forçar Sakura, temos as férias pela frente.

Tentei soar despretensioso e leve, a última coisa que eu pretendia era pressioná-la ou deixa-la pouco à vontade. Queria que ela estivesse do meu lado por que queria estar. Surpreendentemente Sakura tomou minha mão gentilmente e me conduziu para dentro de sua casa silenciosa. Não dissemos uma palavra enquanto subíamos as escadas dentro de uma completa escuridão, os passos de Sakura eram meros roçar de chinelos. Quando entramos em seu quarto, o cheiro potente do seu perfume invadiu meus sentidos, aguçando minha necessidade de tê-la o mais perto possível. Em cada canto do cômodo, os objetos, as fotos, tudo remetia à Sakura.

Sem conseguir resistir mais, puxei Sakura para dentro do círculo dos meus braços e pude cheirar seus cabelos que emanavam o perfume do seu shampoo de morango favorito. Às vezes quando a saudade era muito insuportável que me causava dores físicas, comprava o mesmo shampoo para me lembrar um pouco do seu cheiro. É claro que agora eu percebia que não era nem de perto o mesmo que estar aqui, sentindo-a emanar tantos perfumes, ela tinha cheiro de feminilidade, cheiro de mulher. Ela estava de costas para mim e enquanto descansava meu queixo sobre sua cabeça, minhas mãos repousavam sobre seu peito e através da yukata pude sentir as batidas do seu coração e, assim, me perdi no seu abraço.

Não sei bem quanto tempo se passou, estávamos no nosso mundo e nada mais importava, nenhuma palavra precisava ser dita. Sakura se virou pra mim e mesmo no escuro, pude ver seus olhos. Ela sempre havia sido muito expressiva e em seu olhar podia sentir o amor e a rendição emanando de si. Pousei as mãos sobre a lateral de seu rosto e ela repousou ali, de olhos fechados, linda como só ela podia ser. Tomou minha mão e se dirigia para a cama, fez com que eu me sentasse e no espaço entre as minhas pernas ela ficou de pé enquanto me observava.

Puxei seus braços e ao se inclinar ela pousou um beijo leve sobre os meus lábios, à medida que o beijo se aprofundava e sua respiração ficava mais profunda, Sakura se abandonava sobre o meu corpo. Enquanto eu estava deitado, Sakura se posicionava em cima de mim sem nunca deixar de me olhar. Ela acariciava meus cabelos, penteando-o com os dedos, pousava vários beijos sobre meu peito agora desnudo. Não consigo me lembrar quando a parte de cima da minha yukata desapareceu e a dela própria estava meio frouxa. Ela deitou sobre meu peito e pude sentir sua própria fragilidade, ela respirava profundamente e nossos corpos aos poucos ficavam da mesma temperatura. Havia uma constelação de estrelas florescentes no teto de seu quarto e os sinos pendurados na janela tilintavam com o vento.

- Shoran

- Sim?

- Eu amo você.

Meu coração parou por um segundo e minha voz sumiu, minhas mãos pareciam ter perdido o movimento e o sangue gelado nas veias. Já havíamos nos declarado quando crianças e apesar da tenra idade, o amor já era realidade entre nós. Mas ouvir a mulher que agora estava deitada no meu peito e que se entregava sem reservas era uma experiência completamente diferente. Diante do meu silêncio, Sakura pareceu se sobressaltar, levantou a cabeça e me olhou nos olhos, perscrutando minhas reações. Já havia ensaiado tantas vezes esse momento em minha mente, mas tudo parecia ter desaparecido agora e eu não sabia mais o que fazer ou dizer.

Estúpido.

Não conseguia pensar claramente com a voz levemente rouca de Sakura e a visão de seus cabelos desordenados, seus olhos suplicantes, seus lábios úmidos e entreabertos, sua yukata desalinhada, mostrando seu lindo colo branco e perfeito. A única coisa que pude fazer Foi puxá-la para mais perto, envolvê-la mais apertado e beijá-la, eu poderia fazer isso por toda a eternidade. Seus beijos começavam tímidos e reticentes, mas logo ela se entregava e exigia da mesma maneira, respondendo aos meus beijos de um jeito faminto. Não queria que ela pensasse qualquer coisa ruim a meu respeito, mas não conseguia me controlar, ela era como uma droga e eu não podia pensar ou agir como um cavalheiro.

Eu rolei para o lado de forma que ela pudesse se deitar à minha direita, podíamos nos olhar diretamente e sua respiração tocava meu rosto. Cantei uma velha canção chinesa que falava sobre a lua, ela sorriu um sorriso preguiçoso, seus olhos lutavam para ficar abertos, mas por fim foram vencidos pelo sono. Era uma canção mágica, minha mãe cantava para mim e suas palavras tinham um encantamento para o sono. Só assim eu poderia me libertar da sua própria mágica e lidar com as minhas emoções de forma mais controlada. Estava a ponto de adormecer, olhando para Sakura e seu rosto que só exprimia paz quando seu celular vibrou, o aparelho estava no criado mudo, próximo a mim. Eu confiava em Sakura, mas ela era muito inconsciente do que acontecia ao seu redor, como eu disse, não sou bom o suficiente, sendo assim checo o celular pra ver quem era.

Um retrato reverbera pela tela do celular, o garoto de cabelos escuros.

O choque tomou conta de mim, a foto que aparecia enquanto ele ligava para ela era seu próprio rosto grudado no dela enquanto ela parecia rir da situação e ele fazia alguma careta idiota. Não imaginei que eu era capaz de sentir esse tipo de fúria descontrolada contra alguém que nunca me fez mal, mas no momento não conseguia raciocinar bem e toda a paz daquela noite evaporou. Sakura era minha, estávamos destinados, nossa linda da vida estava irremediavelmente amarrada.

Minha raiva devia direcionar-se para algum lugar ou eu iria explodir, nesse momento senti raiva mesmo da inocência de Sakura, como ela não percebia o que o garoto pretendia? Num arroubo girei meu corpo e me posicionei sobre uma adormecida Sakura, segurei seu rosto com ambas as mãos e a beijei sofregamente. Sakura despertou assustada, mas não me importava continuei a beija-la violentamente e a pressionar meu corpo contra o dela. Quando a libertei por alguns segundos ela ofegava e seu rosto parecia febril.

- Shoran..

Ela sussurrou de uma forma tão sensual.

- Você é uma menina muito perversa Sakura.

Duas mãos envolveram meu tronco e seus dedos finos exploravam as depressões da parte superior do meu corpo. Não sabia mais se eu estava punindo-a ou se ela estava me enfeitiçando.

Assim, a luz branca da lua iluminava o quarto enquanto penetrava pela janela, ainda podia ouvir o tilintar dos sinos eas constelações em seu teto brilhavam mais. O mundo parecia dizer que tudo estava bem.

Será que estava?