História Minha Dona - Arrependimento

~*~ 18:00 Horas / Quinta-Feira ~*~

— Zerou — Chat Noir disse esticando o pulso, esperando a retribuição do toque por parte de Ladybug. Ela não retribuiu, deu as costas ao gato e foi ajudar a vítima do akuma como sempre fazia. 

Chat Noir estreitou os olhos para ela.

 — Tudo bem, eu percebi que está chateada, eu realmente quero resolver isso e você não acha que me ignorar é demais? — Perguntou rápido, segurando o braço dela com medo de que ela o largasse sozinho de novo.

— Agora não Chat, estamos no meio da rua e sem tempo.  — Apontou para o anel dele. Se desvencilhou de seu braço e foi embora.

Ele bufou, correu para um beco a fim de desfazer a transformação e alimentar Plagg com segurança. Mal deixou o Kwami terminar de comer e voltou a ser Chat Noir, correu sobre os telhados até chegar na varanda de Marinette.

O alçapão estava aberto e ele não pensou duas vezes antes de entrar no quarto. Nenhum sinal da garota ou da Kwami, imaginou que ela pudesse estar com seus pais e resolveu esperar. Marinette era sua amiga e Ladybug era sua parceira. Sentia falta dela em ambos os sentidos, precisava resolver a briga que tiveram no dia da exposição. Não podia suportar ela estar tão brava com Chat Noir quanto estava com Adrien.

Deitou no divã da garota, como se fosse parte da decoração do quarto e ficou brincando com a cauda. 

— Você… — Marinette resmungou quando entrou no quarto, acendeu as luzes e viu o gato deitado lá. 

Chat Noir fez cara de ofendido por um momento.

— Mewotch, princesa, que recepção calorosa! — disse finalmente se sentando e abrindo um sorriso de lado.

—  O que você quer Chat?

— Conversar. — Colocou as mãos para o alto.  — Juro que é só isso, sem gracinhas.

Marinette olhou desconfiada, mesmo assim sentou-se no divã, entrelaçou as pernas sobre o móvel, ficando de frente para o garoto vestido de gato.

— Você tem dois minutos para me convencer a não expulsar você daqui a vassouradas. 

— Nós somos parceiros, Marinette, eu sei que você está brava comigo, mas eu realmente sinto muito por como reagi no sábado. — Disse sério. — Não podemos continuar agindo feito crianças assim.

Marinette considerou as palavras dele por um momento. Se fosse apenas pela briga aquele comportamento realmente seria exagerado, mas grande parte dele era por ciúmes, por se sentir traída pelo gato, mesmo eles não tendo um relacionamento e ele já tendo deixado claro que não queria um.

Respirou fundo. Havia superado Adrien, era hora de esquecer o que teve com Chat Noir também.

— Tudo bem… Você tem razão. — Chat abriu um sorriso, — mas só depois de pedir desculpas, admitir que estava errado, com ciúmes e prometer nunca mais fazer aquilo. 

O sorriso do garoto vacilou um pouco. Mas ele sabia que era melhor passar a humilhação no débito que ficar sofrendo a prestação. 

Segurou a mão dela e levou aos lábios como se fosse depositar um beijo ali.

— Minhas princesa, será que poderia perdoar esse gatinho idiota, que estava morrendo de ciúmes do quão linda você estava para outros caras e acabou sendo um babaca?

— Sim, Chat, eu perdoo você. — O gato deu um beijo nas costas da mão dela e rapidamente a puxou para seu colo. 

— Eu sabia que você não resistiria ao meu charme, — falou segurando a cintura dela, deslizou o nariz por seu pescoço alvo, a fazendo estremecer. Estava com saudade do corpo dela, com saudade de seu cheiro, de tê-la. — Será que agora nós podemos comemorar a volta dessa parceria?

As mãos grandes e espertas de Chat Noir apalpando as partes certas do seu corpo, em conjunto com os leves beijos que ele ia distribuindo por seu pescoço, esquentando cada local.

A mente de Marinette era uma tela em branco, sendo levemente preenchida de vermelho por cada toque quente que aquele gato de rua. Ela se lembrava vagamente de que não deveria estar fazendo aquilo, não deveria estar sentada no colo de Chat, segurando seus cabelos para que ele continuasse beijando seu pescoço, enquanto ele apertava cada vez mais sua cintura contra a dele. O loiro subiu os beijos rapidamente, para finalmente juntar os lábios aos dela.

Era um beijo voraz, Chat pareceu perceber como estava necessitado daquela boquinha rosada de Marinette. Mas ela, num lapso lembrou-se toda a determinação que havia prometido ter para não cair mais nas garras do gato. Seu corpo pareceu esfriar aos poucos enquanto ela recordava tudo o que havia acontecido e tudo o que ela não queria se tornar para Chat.

Ela era A Ladybug, e estava na hora da joaninha jogar aquele jogo também.

Marinette diminuiu a velocidade do beijo antes de terminá-lo, por fim abriu um sorriso malicioso, apertou o corpo contra o do garoto antes de levar os lábios a sua orelha.

— Sabe, gatinho, — sussurrou, — eu disse que te perdoava, não que tinha esquecido o quão babaca você foi e que iriamos transar de novo. — Depositou um beijo estalado em seu pescoço e saiu de seu colo rapidamente, antes que ele pudesse protestar.

— Mas… 

— Agora, se já resolveu o que queria, é melhor me dar licença, tenho mais o que fazer. — Interrompeu as palavras do gato. — Vou tomar um banho, boa noite, parceiro.

Deu uma piscadinha e foi em direção ao banheiro, pegou seu celular, entrou, trancou a porta e sentou sobre a tampa da privada. Respirou fundo uma, duas vezes e então abriu um grande sorriso, era a vez de fazer Chat Noir ficar de quatro.

~*~

~*~08:00 Horas / Sexta-Feira ~*~

Lila estava sentada na mesa de Adrien, tagarelando enquanto o garoto mexia no celular, nem se preocupando em fingir que a ouvia. Mas o que importava para a italiana eram as aparências, e para todos, ela e Adrien se davam bem.

Marinette chegou, pensando em aproveitar que já havia se resolvido com Chat e reatar sua amizade com Adrien, pelo menos até entrar na sala e ver a garota sentada sobre o que também era sua carteira, quase enfiando a bunda na cara do loiro. Anuiu negativamente com a cabeça e decidiu que, se Lila queria tanto sentar ali, ela que ficasse com o lugar.

— Mari… — Ele chamou, baixo demais para que todos na sala ouvissem, mas alto o suficiente para que Lila, Marinette e até Chloé, que estava sentada na carteira de trás, escutassem.

A garota de cabelos azulados o ignorou completamente, sob o olhar atento de Lila — que se sentiu vencedora — e Chloé — que achou a atitude estranha — e se dirigiu para o fundo da sala. Jogou a bolsa sobre a carteira e sentou-se ao lado de Nathanael.

Adrien a encarava e ela retribuía, indignada, o garoto sabia de tudo o que ela havia passado por culpa de Lila e mesmo assim continuava conversando com ela.

— Ah, claro, pode sentar aqui sim, Mari. — ouviu a voz suave, porém levemente debochada do ruivo e olhou para ele com um sorriso envergonhado.

— Bom dia. 

— Agora sim, — disse sorrindo, — bom dia. O que te traz até meus domínios? —  Perguntou apontando para a mesa.

— Eu só não estou com saco pra fazer a sonsa na frente de piranha. — A risada de Nathanael foi interrompida pela entrada de Mendeleiv na sala.

A aula foi o terror de sempre, Mendeleiv sabia aterrorizar os estudantes quando se tratava de provas finais e Mari saiu da sala para o intervalo, já estava pensando em como estudar sozinha para as matérias de exatas agora que não tinha mais a ajuda de Adrien.

— Marinette! — Virou-se ao ouvir seu nome e deu de cara com Chloé. — Vem comigo, precisamos conversar. — A loira mal terminou de falar e puxou a garota pela mão, se dirigindo para um canto afastado do pátio da escola.

— O que foi, Chloé? — perguntou a morena antes mesmo de terminarem de andar. Havia se tornado amiga de Chloé após a viagem de Alya, alguns problemas que teve como Ladybug e o apocalipse Lila. Mas essa “amizade” nunca havia realmente chegado aos domínios da escola.

— O que aconteceu entre você e o Adrien? — A loira questionou, cerrando os olhos, deixando claro para Marinette que ela sabia que havia algum problema. — Vocês estão sempre juntos, são melhores amigos e todo esse blá-blá-blá... e percebi que de uns dias pra cá vocês quase não estão se falando além de você ter sentado com Natanael e o mais grave: o Adrien me ligou e perguntou se eu queria jogar videogame com ele!

Mari encarou a cara de espanto e nojo de Chloé e segurou uma revirada de olhos diante do drama quanto ao videogame. 

— Olha Chloé eu e Adrien  é... complicado, você sabe disso. Ele está diferente e não sei se quero ser amiga desse Adrien. — Disse encarando o chão. — Você mais do que ninguém sabe tudo o que aconteceu e sabe o quão babaca ele pode ser. Eu pensei em me reconciliar com ele hoje, mas aí eu chego e qual a primeira coisa que eu vejo na sala?

— Mari, eu também odeio aquela vadia, — Chloé colocou as mãos nos ombros da chinesa, — mas você sabe que ela faz essas coisas para provocar, e que se você ligar, ela vence!

O que elas não viram foi que outra pessoa ouvia a conversa e sentia o peso de cada  palavra pronunciada pelas duas garotas, sentindo a culpa aumentar cada vez mais.

Queria consertar as coisas com a Dupain-Cheng e sabia que Chloé havia lhe dado a chance perfeita. Reunindo coragem pigarreou chamando a atenção delas.

— Eu vou deixá-los conversar... Mas só voltem para a sala quando se resolverem, ou eu vou trancar vocês dois juntos num quartinho e “perder a chave” até vocês voltarem a ser amiguinhos. — Chloé soltou, deixando Marinette corada pela insinuação e saiu rebolando como sempre, após mandar um olhar cerrado para o garoto.  

Eles se encaram analisando o terreno emocional do outro. Adrien sabia que estava errado, que por um bom tempo havia abusado da boa vontade e amizade de Marinette.

— Mari… eu... olha… — Soltou um suspiro pesado. — Me desculpa, ta legal. Eu sei que você já recusou minhas desculpas uma vez, que eu fui um puta babaca com você por um bom tempo. Eu sei! Mas eu sinto muito a sua falta e eu preciso de você, comigo… Minha melhor amiga...

— Você tem razão. — Disse séria e ele sorriu. — Você tem sido um babaca e tanto!

O sorriso dele morreu e ele prendeu o ar por um minuto, sabia que não seria simples.

— Eu sei, tá legal! Me perdoa, não quero perder você. — Ele encarou a imensidão azul dos olhos dela. — Você sabe o quanto eu me importo com você, pode falar Cheng, o que eu preciso fazer pra você me perdoar? Eu sinto tanto a sua falta.

Marinette mordeu o lábio inferior, ponderando tudo. Havia se acertado com Chat, pretendia se acertar com Adrien, apesar do loiro ser um babaca, ainda era seu melhor amigo. 

— Eu fiquei bem chateada com você... mas também sinto falta da nossa amizade. — Adrien aproximou-se dela devagar e com certo receio. Rezando para que ela não o afastasse como da última vez. 

Sentiu a rigidez do corpo da garota contra o seu, mas ela não tentou se afastar e depois de alguns segundos retribuiu o gesto. O garoto respirou aliviado e afundou o rosto no pescoço dela, aproveitando seu cheiro.

— Você está intimada a ir na minha casa amanhã. — disse ele, quando se separaram do abraço. — Não quero saber se já combinou com alguém ou se precisa fazer alguma coisa. Você vai passar o dia na minha casa ou eu vou invadir a sua casa e dormir lá. e você sabe que eu faço isso!

Marinette gargalhou, sentiu tanta falta de estar assim com Adrien.

Voltaram para a sala fazendo as bobagens de sempre e aproveitaram a sorte de o professor daquela aula ser legal e os deixar entrar.

Sentaram-se um ao lado do outro como haviam feito todos os dias daquele ano e receberam um olhar orgulhoso e sugestivo de Chloé.

Mari olhou para Adrien e viu o loiro sorrindo, passou para ela um pedaço rasgado de uma folha de caderno.

“Esse é o seu lugar, a próxima vez que alguém sentar aí pode deixar que eu mesmo tiro a pessoa. Senti sua falta.”

Leu o papel e sentiu um sorriso involuntário em seu próprio rosto. Adrien e Marinette sentiam que agora as coisas iriam melhorar.