Minha Lucy ― escrito por Ichionn
Capítulo 01: Inconstante
― Isso não é contra as regras? ― ela pergunta, mas está concentrada numa garrafa de conteúdo alcóolico.
― Só tem uma regra Cana, e ela não diz nada sobre isso. ― digo, remexendo-me no sofá que cheira a cerveja.
A propósito, a casa inteira fedia a isso.
A morena refletiu. Provavelmente não se lembrava de muita coisa sobre hoje, o que não me surpreende. Cana está sempre, absurdamente, embriagada.
― Só preciso lhe dar umas dicas de como beber, certo?
― Pelo maior tempo possível. ― complemento.
Ela pensou por alguns segundos, já que se tratando de si mesma não precisava de nenhum macete.
― A competição é amanhã, portanto vá bem descansada e não esteja com fome quando começar.
Assenti, apesar de não entender a relação desses hábitos com a bebida. Ela continuou ante o meu silêncio.
― De alguma forma eu não preciso seguir isso ― e eu posso imaginar o porquê ― Mas li em algum lugar que proteínas e gorduras atrasam a embriaguez e a energia faz seu corpo trabalhar melhor.
Então é isso. Faz sentido.
Descanso e uma boa alimentação me ajudariam a vencer Natsu, supostamente.
Agradeço pelos conselhos e me despeço da Alberona. Já é tarde e eu preciso acordar cem por cento no próximo amanhecer para ganhar essa maldita aposta, e, quem sabe, tudo voltar à normalidade.
Ainda que estivesse irritada, o Dragneel fazia mais falta do que eu gostaria de admitir.
✤
Ao virar a esquina de casa, vejo uma silhueta escorada na entrada do meu condomínio. Está escuro, mas há alguns postes acesos e à medida que me aproximo posso identificar quem é.
Faço um grande esforço para agir indiferente à sua visita.
― O que faz aqui? ― pergunto rude.
Sentir sua falta não significa que pisarei no próprio orgulho.
Caço as chaves na bolsa, ignorando-o completamente. Em razão de já passar da meia noite, a governadora havia chaveado a porta principal, normalmente acessível sem tranca até às 23h00min.
― Não gosto do seu tom. ― Natsu reclama.
― Acostume-se.
Não preciso vê-lo para confirmar o quanto minha resposta lhe irritou. Ouço-o expirar forte e continuo fazendo pouco-caso, mas no fundo temo estressa-lo demais. O Dragneel tem um limite de paciência curto, e eu o conheço bem o suficiente para saber que preciso me apressar.
Quando encontro o pequeno objeto prateado e o giro dentro da maçaneta, Natsu se coloca na minha frente antes que eu pudesse fugir.
Isso é mal.
Recuo um passo e ele impede o segundo ao apanhar meu braço, para em sequência me trazer mais perto de si. Talvez apenas um palmo e meio nos distanciasse agora. Gostaria de continuar meu drama, fingindo ser a durona que desafiou o mago de vários níveis acima – exceto no quesito inteligência–, mas dessa vez perco a compostura.
Olho-o nos olhos, corada com a nossa aproximação e a sua mão tão possessiva me segurando.
― Lucy, Lucy. ― murmurou rouco.
Sua carranca está assustadora, o sorriso que identifiquei como malicioso não melhorava a situação.
― Devia ser mais educada com quem vai precisar obedecer amanhã.
― Você está bastante confiante.
― Eu sempre venço. Você sabe.
É. Eu sei. E não consigo disfarçar minha infelicidade diante disso.
Uma pausa.
― Além do mais... ― sua mão livre captura meu outro braço. ― estou faminto para vê-la submissa. ― sussurra próximo a minha orelha.
Todos os meus pelos ouriçaram. Deixo escapar um pequeno gemido desconcertado, o qual desgraçadamente fez aquele sorriso atrevido alargar em conjunto de um risinho triunfante.
Mas que droga está acontecendo aqui?
― O que tem em mente? ― ouso perguntar.
Meu corpo parecia queimar. Estávamos perto demais e eu sabia que parte desse calor exalava dele, o Dragon Slayer do fogo. Tentei a todo custo entender seu comportamento excêntrico, porém foi em vão. Não havia precedentes.
― Você vai gostar, em partes. ― respondeu dando a ênfase.
Por algum motivo prevejo o oposto.
― Isso não responde. ― desvio o olhar, constrangida demais para manter contato visual.
― Está ansiosa? ― sua voz embargada de malícia me arrepia.
― Como eu poderia?
Rebato menos convicta que o desejado. Ansiedade era uma hipótese bastante equivocada, porém eu claramente estava curiosa e não conseguia esconder.
Ridículo, Lucy, muito ridículo!
Ele riu baixo, muito provavelmente se divertindo em me deixar transtornada. E como quem finalmente decide findar suas brincadeiras de mau gosto, o Salamandra liberta meus braços e na sequência da às costas.
― Até amanhã, Lucy.
Vejo-o se afastar em passos lentos, até desaparecer por completo no fim da rua. Só então solto todo o ar que nem sabia estar prendendo. A porta até agora trancada ampara minhas costas, sinto um constante calafrio no ventre, que aparentemente estava ali desde o nosso primeiro contato físico.
Natsu sempre foi assim?
Desde quando ele me deixa tão desconcertada?
Depois do banho vou para a cama, ainda procurando respostas para um enigmático conjunto de ações. Tínhamos, sim, crescido bastante desde o dia que entrei para a Guilda, mas essa personalidade intimidante sempre fez parte dele?
Se não o conhecesse tão bem, diria que seu olhar de hoje via uma mulher, e não sua melhor amiga Lucy Heartfilia.
Isso é completamente impossível, de qualquer forma.
Natsu só está empolgado demais com a competição e torrando mais neurônios que o habitual. Tenho certeza que ele continua o mesmo garoto idiota e desligado para mulheres de sempre. O que aconteceu hoje foi apenas uma brincadeira. Ele é imprevisível em todas as línguas e sinônimos existentes, eu já deveria estar acostumada.
Seja qual for o seu pedido ganhando a competição amanhã, ainda que sejamos amigos, não posso esperar nada de bom ou sequer razoável.
Eu definitivamente preciso vencer.
Eram 4h38min quando olhei o relógio pela última vez.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.