História Minha Salvação - Frágil

Após um tempo conversando com Percy, minha filha reclama de fome e decido que já é hora de ir. 

- bom, preciso ir. - me levanto. - foi bom te rever Percy, a gente se fala depois. 

Ele também se levanta. 

Fazia tempo que eu não conversava tão normalmente com uma pessoa que não é a Lia. 

- claro.- ele sorri. - tchau pequena. 

Yasmim encara ele desconfiada. 

Antes que ele diga algo vou me afastando. 

-ate mais -Falo, me virando ouvindo um "até" baixo. 

-ai filha. Será que ele desconfia de algo?- murmuro no seu ouvido e ela coloca o dedo na boca, chupando. -Não pode. 

Retiro a sua mão e ela resmunga.

-Vou preparar a mamadeira bem quentinha pra você e depois dormir, entendeu?- falo entrando no elevador. - ou você quer janta?

-Lete. - diz encarando o espelho. 

Assim que entramos no apartamento deixo ela no sofá e vou esquentar seu leite. 

Luke em breve vai chegar e vai começar tudo de novo.  

Suspiro.

Meus machucados mal cicatrizam.

Desligo o fogo e despejo o leite na mamadeira. 

Quando isso vai acabar?

Assim que entrego a mamadeira a Yasmim o telefone toca. 

Mordo o lábio e vou atender. 

Quem pode ser?

Atendo a chamada. 

-filha?- a voz da minha mãe me pega de surpresa. 

-Mamãe!? Que surpresa.- falo sentindo minha garganta fechar. 

Não nos falamos muito.

-Estou com tanta saudades. Como vai minha neta?- pergunta. 

Péssima. 

-Vai bem. Está cada dia mais linda e saudável. 

- que bom filha. Seu pai tinha razão. Foi bom você ter se casado, você não ia conseguir cuidar dela sozinha. 

Não ia... Há! Tanto que é o que estou fazendo. 

-Eu ficaria melhor solteira. -Resmungo. 

-Não fale assim. Luke assumiu a criança, não é todo mundo que faz isso hoje em dia. 

Tenho vontade de gritar. 

-Como vai papai?- pergunto mudando de assunto. 

-Do mesmo jeito. Ele está querendo colocar sua irmã num internato para meninas. Não quer que ela cometa o mesmo erro. 

Ah claro. Como se eu tivesse tido escolhas. 

- Não parece ser uma boa ideia. 

-Mas seu pai não tira isso da cabeça. 

-Proibir ela de ter uma infância e adolescência não é uma boa ideia, você deveria convence-lo. Fazer isso só vai faze-la se revoltar. 

-Seu pai não me escuta. E além disso ela só tem oito anos, não entende o que é melhor para ela, talvez tudo isso seja melhor. 

-Não é questão de talvez. Vocês não podem fazer isso. -tento convencer ela. 

Essa é uma péssima ideia. 

-Claro que podemos, ela é nossa filha e sabemos o que é melhor para ela. - diz e eu bufo. 

Ah, claro que sabe! É só olhar para mim. 

-Ok. Faça o que bem quiser. Bom tenho que desligar agora, depois conversamos. Te amo. - digo percebendo que falta pouco tempo para Luke chegar. 

-Tudo bem. Também te amo. Nós visite um dia desses. 

-Verei aqui. 

-estarei te aguardando. 

E assim ela desliga. 

Coloco o telefone no lugar e solto um longo suspiro. 

Eu odiava aquilo. 

-Mama. -Ouço Yasmim me chamar.

Me viro para ela. 

-oi meu amor. -Me aproximo e ele estende a mamadeira para mim.-quer mais alguma coisa?

Ela nega, pego a mamadeira.

Tinha medo de que ela acabasse acordando de madrugada com fome, mas preferia não insistir.

Ela não consegue comer muito, e ela já vomitou quando tentei uma vez. 

É de partir o meu coração ver que ela está bem magra para sua idade.  Tenho medo dela ter uma anemia ou algo mais grave. 

Eu não posso perde-la.

Eu preparo a janta, mas também não consigo comer muito, sinto que também estou mais magra do que devia. 

Ouço passos e me viro vendo Yasmim dar seus passos relutantes. 

-Mama. - ela diz quando a pego no colo. 

Era tão estranho ela ter três anos e parecer ter uns dois ou menos. 

Ela é tão pequena, tão magra, tão frágil.

Ela aconchega a cabeça no meu ombro e sinto ela suspirar. 

-vamo mimir?- pergunto, não obtenho resposta.

Levo ela pro banheiro e escovo seus dentes e depois os meus. 

Ela me avisa que estava com vontade de urinar e lhe ajudo a se equilibrar no vaso sanitário. 

-Tem certeza que você não quer comer? - pergunto lhe colocando no berço. 

-ná. -Diz fazendo bico. 

-Tudo bem. Feche os olhinhos e durma. Eu vou estar bem aqui. - acaricio seus cabelos e lhe embrulho. 

Fico ali fazendo carinho nela, tentando faze-la dormir mais rápido para assim, talvez, não presenciar o que Luke faz comigo. 

A respiração dela vai ficando lenta até perceber que dormiu. 

Depósito um beijo na sua testa e vou até o guarda roupa pegando o anticoncepcional.

Já era quase meia noite quando vi que Luke não voltaria essa noite, tenho certeza que está com uma vagabunda. 

Que faça bom aproveito e se esqueça de mim. 

Pego Yasmim com cuidado, ela se mexe assustada. 

-calma amor. É a mamãe. - digo, deitando ela na cama.

Ela se acomoda na cama e deito ao seu lado, aconchegando seu corpo no meu. 

E assim adormecemos. 

Acordei e já era nove da manhã.

Percebi que o que me acordou foi Yasmim, que cutucava meu braço. 

- fome. -Sussurra, como se fosse segredo. 

-Ah Meu Deus!- me sento de repente e Yasmim se assusta. -Que mãe desnaturada eu sou. 

Pego ela no colo e a coloco no berço. 

-Espere aí. - digo e vou ao banheiro, fazendo a higiene matinal. 

Assim que termino visto uma roupa em mim e dou banho em Yasmim. 

Depois pego alguns brinquedos e coloco no tapete da sala. 

- vou fazer uma vitamina para você. 

Sigo para cozinha e faço uma vitamina com algumas frutas, uma maneira de faze-la comer mais e vitamina tem sustância. 

Pego um copo maior e um menor. 

Não queria que ela se satisfaça só com isso. 

-Tome. -Digo lhe entregando. 

Ela pega com as duas mãozinhas e devagar vai bebendo todo o líquido. 

Bebo o meu rapidamente e fico um tempo observando Yasmim antes de pegar seu copo e voltar para a cozinha. 

Lavo as vasilhas e dou uma limpada na casa. 

Vou aproveitar que hoje ela parece um pouco mais solta e leva-la ao Parquinho. 

- que brincar no parquinho hoje?  

Ela ergue seus olhos assim que me sento na sua frente. 

Ela pensa um pouco antes de assentir. 

Sorrio. Hoje ela parece muito bem. 

Beijo sua testa e deixo ela brincando com sua Barbie careca e quase sem roupas. 

Suspiro.

Será que eu consigo convence-lo a comprar a comprar mais brinquedos?

É claro que não! Ele custou comprar as coisas necessárias pra ela, imagina brinquedos. 

Os únicos que ela tem é os que a Lia deu de presente a ela. 

Assim que me arrumo, pego ela e lhe visto a melhor roupa que tinha em sua comoda.

Era um vestido básico, braço com algumas flores. 

Solto o seu cabelo e os penteio, deixando seus cabelos cabelos lisos batendo um pouco abaixo dos ombros. 

-Você quer cortar?-Pergunto, ela sempre teve o cabelo um pouco abaixo dá orelha. 

-Não. Bonito. -Diz. 

Sorrio beijando sua bochecha. 

Meu coração da um solavanco ao ver que ela estava se comunicando.

Minha princesa. 

Tão linda. 

Ela toca meu rosto, seus dedos finos e gelados contra minha pele. 

Abraço seu corpinho e beijo o topo da sua cabeça. 

-Vamos sair dessa. 

***

O parquinho não estava muito  movimento, como hoje era quarta e de manhã, as pessoas estavam trabalhando ou fazendo alguma outra coisa. 

Yasmim pareceu receosa no início mais começou a pisar na areia observando os brinquedos em volta. 

Seguro suas mãos enquanto ela dava alguns passos. 

-Qual você quer ir?- pergunto. 

-Lanço. - diz apontando para o balanço.

Sorrio e ajudo ela a caminhar até o balanço. 

Coloco ela em cima dele e divagar empurro suas costas. 

Ela segura as correntes enquanto balança os pés. 

Empurro um pouco mais forte e ela solta um gritinho assustado. 

-Desculpe.- digo quando ela olha para mim.

Volto a balança-la até que ela se cansa. 

-Cazinha. -Ela aponta para uma casinha de madeira onde tinha um escorregador. 

Pego ela no colo e levo ela até lá, onde havia uma outra menina. 

Coloco ela sentada no topo do escorregador. 

-Você vai escorregar e vou te pegar quando se aproximar do chão. 

A menina espera com toda  paciência Yasmim escorregar relutante precionando os pés nas laterais do escorregador. 

-Isso!- digo sorrindo pegando ela. 

A garota, que era morena e tinha olhos azuis, se senta e escorrega. 

Yasmim observa atentamente, calada, do meu colo. 

-Você não precisa ter medo. - a garota diz sorrindo simpaticamente.

Yasmim olha para mim e depois para a garota.

-Desce. -Diz baixo. 

A coloco no chão e ela se apóia na minha perna. 

Ah meu Deus! Será que ela está conhecendo a primeira amiguinha?

-vamos brincar?- a menina pergunta. 

Yasmim olha pra mim. 

-Eu vou estar aqui te observando. - digo para tranquiliza-la. 

Hesitante ela segura a mão da garota, que parece ter uns seis anos, e se afastaram. 

Solto um suspiro que parece ter tirado todo o meu oxigênio. 

Minha menina. 

Fico com os olhos fixos nela, observando cada detalhe, enquanto seus olhos não se desgrudam de mim. 

Mas, passos acham minha atenção e quando me viro, todo o meu ar se esvai. 

-Percy?!