História Minha Sombra - O Quarto de Bonecas

Ele segurou o meu braço com toda a força que tinha e me arrastou para fora do quarto. Eu tremia de pavor.
- Você tem que aprender a ser uma boa garota.
Meus olhos quase saiam das órbitas e caiam no chão. As portas ficaram meio turvas, eu estava quase desmaiando quando ele me prendeu com correntes e um cadeado em uma porta coberta por mais correntes e cadeados. Mesmo estando na situação em que estava não conseguia parar de pensar e me perguntar se ele havia feito isso com outras pessoas, se estava fazendo isso comigo porque eu era diferente para ele ou se ele apenas escolhia ao acaso uma alma para mandar para o outro plano lenta e dolorosamente.
Ele foi pelo corredor e sumiu na penumbra retornando das trevas com uma chave dourada na palma da mão. Parou na minha frente e se agachou. Colocou uma mordaça em mim, retirou as correntes e o cadeado, mas deixou-os presos na porta como os outros. Com a chave dourada, ele abriu a porta. Permaneci imóvel no chão.
-Bem vinda ao meu quarto de bonecas.
Eu estremeci, não sabia o que vinha, mas não era bom. Me arrastou para dentro e ligou a luz. A visão que se tinha era realmente como a de uma fábrica de conserto de brinquedos. Vários botões, tesouras, cola, agulhas, linhas, carretéis, vestidos lindos, fitas, etc. só que havia algo que diferenciava aquela das demais fábricas de conserto: todas as peças eram do meu tamanho. Vestidos que eu poderia usar, sapatos que poderia calçar, botões que poderiam ser de minhas roupas, uma cadeira em cima da mesa para colocar a boneca também daria para eu sentar. Olhei para uma parede mais escura: fotos de garotas antes e depois da "transformação".
- O que acha?- apontando para as fotos- Fiz um bom trabalho com as minhas bonecas?
Eu suava como nunca antes e tremia com os olhos arregalados.
- Não se preocupa. Não vou fazer nada com você. Você é diferente, você é perfeita para mim. Elas não eram. Fingiam ser o que não eram. Então foram brincar com os outros para sempre.
Ele disse com um sorriso, como se tivesse livrado elas de uma maldição.
- Você falou o que não queria falar. Você não quer ir embora. Tem que aprender que não deve-se mentir aqui. Então me sinto mal, mas você me obrigou a isso. Tenho que puni-la.
Ele veio na minha direção e me ergueu no ar. Me debatendo contra tudo e com o olhar apavorado ele me amarrou na cadeira me deixando imóvel. Inclinou a cadeira e pegou um pó branco que passou no meu rosto inteiro, depois pintou minha boca metade de vermelho sangue, metade roxa e desenhou um coração delicado em cada lado do rosto, bem abaixo do olho. Pintou minhas pálpebras de preto com roxo e levantou. Caminhou até uma das estantes e pegou um pote de botões e escolheu um roxo com preto e mediu no meu olho. Depois pegou algumas ferramentas e gases. Puxou uma mesinha para o lado da cadeira que eu estava e colocou os utensílios ali. Foi até a parede das fotos e pegou um emplasto em cima de uma das molduras e voltou até mim. Tirou a mordaça.
- Vai tomar na porra do teu cu filho da puta.
- Ui. Que agressiva.
Ele botou o emplasto na minha boca e fez eu engolir.
- Bons sonhos.
Foi a última coisa que eu lembro daquele quarto.