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História Minha terra tem palmeiras... - Nem mesmo David!


Escrita por: Tyke

Capítulo 3 - Nem mesmo David!


Em um sonho...

Os pés descalços pisavam em gravetos e em folhas caídas, enquanto chiados e cantos ecoavam pelas copas das árvores altas. Uma forte umidade transpassou o ambiente e um rosnado se ouviu entre as moitas. Os lábios sorriram. Os pés correram em direção a um felino que saía da moita. Os braços agarraram-se em volta do pescoço do animal que retribuiu o abraço com lambidas de carinho.

Danilo, já agachado, soltou o resto do corpo sentando no chão e se pôs a observar a maravilhosa fera apenas a centímetros de distância. Ela também havia se sentado nas patas traseiras e olhava cuidadosamente para o menino por trás dos olhos cinzas.

Por algum motivo o coração do menino saltava apenas por estar na presença da criatura, cujo os pelos do corpo eram pretos e hora ou o outra, conforme a luz batia, apareciam suaves manchas circulares na pelagem. Os olhos humanos marejaram e uma mão de cinco dedos esticou-se para tocar o fussinho do felino.

— Curu — O animal não moveu a boca, mas Danilo sabia que ele quem falou e a voz era feminina e familiar.

BUM!

De repente ele escutou um estrondo e abriu os olhos assustado. O peito subia e descia rápido embaixo das cobertas. O que foi isso? Ele olhou em volta e encontrou livros jogados no chão e um felino do lado fazendo cara de inocente.

— Ah, Pipoca! — Danilo resmungou enquanto piscava com a luz da manhã invadindo o quarto.

Diferente do exuberante e ameaçador felino de seus sonhos, Pipoca era um gato cinza de dar desgosto. Tinha ganhado esse nome, pois estava sempre pulando. Pulando nos moveis, pulando nos telhados, pulando no sofá, pulando no chão parado no mesmo lugar e sem um motivo aparente.

Danilo suspirou e olhou o relógio de ponteiros sobre o criado mudo. Não era tão tarde, mas também não era tão cedo, então ele jogou as pesados cobertas para o lado e despreguiçou o corpo antes de levantar. Trocou de roupa, escovou os dentes... e estava na hora de fazer suas obrigações.

David Hooper saía cedo para o Ministério e a algum tempo já confiava em deixar Danilo sozinho. Afinal ele tinha que trabalhar e o menino entendia. Pois bem, vamos a rotina:

1- Acordar

2- Alimentar Pipoca com leite e enlatado de peixe.

3- Preparar o chá com leite. Tomar. Pegar uma maçã. Comer... Geralmente era assim o desjejum já que eles não tinham muito dinheiro para ostentar tipos variados de comida.

4- Limpar a caixa de areia... Danilo odiava o 4, principalmente por ainda não possuir uma varinha e ter que fazer a limpeza manualmente.

5- Lavar a louça... Também era ruim pelo mesmo motivo da falta de varinha.

6- Arrumar o próprio quarto... tédio!

8- Finalmente! O tempo livre antes de ir para a casa da Sra. Lewis.

Opa! Espera...

Danilo parou no meio do caminhar, pensando... Não, não tem nada esquecido. Ele deu de ombros e continuou seguindo pelo corredor até o quarto. Sentou na cama, abriu a gaveta do criado mudo e tirou a carta que recebeu da Castelobruxo . Já havido lido aquelas palavras vermelhas mais de dez vezes, mas ele nunca se cansava. Então que se dane! Ele iria ler de novo.

 

Castelobruxo

Escola de Magia e Bruxaria, especializada em Herbologia e Magizoologia.

Caro, Danilo Oliveira Hooper

É uma honra convida-lo a ingressar em nossa escola como primeiro-anista do Primeiro Ciclo.

A Castelobruxo tem mais de quinhentos anos de ensino de qualidades para bruxos de toda a America Latina. Como nosso aluno, aprenderá todas as matérias básicas que um bruxo necessita e ainda aprenderá com mais ênfase Herbologia e Magizoologia.

Os anos letivos são divididos em duas partes: Os quatro primeiros anos (Primeiro Ciclo) e os últimos quatro anos (Segundo Ciclo). Cada ano com aprendizagens adequadas para a idade dos alunos.

As aulas iniciam na primeira semana de fevereiro, nenhum aluno será aceito após essa data e perderá a vaga da escola. Pedimos que aguarde uma segunda carta trazendo a passagem revelando o dia e o horário para embarcar no zepelin nos aeroportos das capitais. Lembre-se que somente nas capitais estaduais poderá tomar o transporte da escola.

Aguardamos veementemente o seu ingresso.

Atenciosamente, Diretora Paloma Cuesta

União Latina de Magia - V.B

 

Danilo, após ler a carta pela primeira vez, ficou um bom tempo sem dizer nada, mas logo as dúvidas e curiosidades tomaram conta de seu ser. Primeiro Ciclo? Zepelins? Magizoologia? Aulas que iniciam em fevereiro??? Faltavam duas semanas para fevereiro!!!

Então ele procurou sua maior fonte de conhecimento, sua enciclopédia, sua biblioteca. O respondedor de plantão dos "Por quês?" : David ou papai.

— Eu não sei... é assim mesmo. — Foi a resposta que o menino recebeu pela pergunta, sobre os ciclos da escola, junto com um dar de ombros de descaso.

— E o significa "V.B"?

— Vertente Brasileira — Outro dar de ombros.

— Como assim?

— Você quer mesmo falar de política? — O pai o olhou sério. Pelo jeito a animação do filho com a carta o estava incomodando.

— Não — O menino respondeu murchado.

Danilo não queria mesmo falar de política, mas o que o deixava triste era o descaso do pai diante de um acontecimento tão estupendo como aquele.

Chacoalhando a cabeça e mandando a lembrança para longe, o menino sentado na cama afastou o primeiro papiro fino - agora ele sabia o nome do papel- sobrepondo-o com um segundo e continuou a ler

 

Materiais a custo dos alunos:

*Varinha comum (não será aceito cajados ou qualquer outro tipo de artefato canalizador de magia)

*Caldeirão de metal (não será aceito de barro ou argila)

*Telescópio.

*Papiro fino, pergaminho ou folha de bananeira refinada.

*Penas de escrever.

*Tinta de qualquer tipo.

*Repelente mágico.

 

**Uniforme e livros serão dados pela escola sem nenhum custo.

**É proibido levar qualquer tipo de animal, incluindo mensageiros. A escola tem uma grande variedade de araras e tucanos treinados para entregarem suas cartas.

 

Certo! A parte de não poder levar animais era desagradável. Afinal, por que não? Danilo não quis perguntar ao pai depois das respostas de descaso que recebeu. Mas ele queria tanto levar seu gatinho Pipoca nessa aventura...quer dizer... se por algum acaso ele for para essa escola... Ainda tinha Hogwarts... e bem! Deixa isso para lá.

Voltando a carta.

O menino afastou a segunda parte e pegou um pedaço comprido e retangular de papiro fino. Aquele chegou exatamente três dias após a primeira carta. Era a passagem para o zepelim... Seja lá o que for isso. Ele tinha tantas dúvidas e ninguém para responde-las. Danilo pegou a passagem e leu os escritos pela quinta vez:

 

Passagem de Zepelim para Castelobruxo.

Saída: 3 de fevereiro as 02h da manhã.

Aeroporto de Guarulhos, São Paulo - SP. Piso -1. Dirigíveis azuis.

 

Ele queria perguntar ao pai se a passagem veio endereçada para ele pegar o zê-qualquer-coisa  naquela cidade, porque foi nesse estado onde eles moraram anos atrás com a mãe ou se era porque seus avós maternos ainda viviam lá... 

Tinha tantas curiosidades na cabeça, nunca pensadas até a chegada daquela "carta-rolinho", que quase tremulava o corpo inteiro com vontade de perguntar, mas ele aguentava com o orgulho firme. Danilo não estava disposto a levar outra reposta grosseira.

Após um forte suspiro de desapontamento, o menino releu sua carta mais uma vez. E de novo. De novo. Novo...

"Trrrrrrriiiiii"

O relógio no criado mudo tocou. Caramba! Meio-dia. Apressadamente, porém com cuidado, ele guardou a carta de volta na gaveta. Depois correu pela casa trancando as janelas e por fim trancou a porta da frente. Correu apressado cruzando o pátio em frente a casa e foi em direção a estradinha de pedra virando a direita.

Círculo Leste, ele chegou. E graças a Merlin não estava atrasado. A Sra. Lewis estava na porta da casa esperando as crianças,menores de onze anos e maiores de sete, chegaram. Aquela viúva bruxa dava aulas de alfabetização para as crianças cujo os pais não possuíam tempo para ensina-las em casa. David não tinha tempo já que passava quase quinze horas diárias no Ministério.

Danilo atravessou o pátio do Círculo Leste, que era engraçadamente oval, e foi em direção a casa da senhora professora.

A Sra. Lewis era uma bruxa de meia-idade, mas que aparentava, pelas rugas do rosto, ter a idade completa. Ela sorriu para Danilo quando ele atravessou a porta, um sorriso torto, amarelo e amargo.

Falsa! Era sabido por todos que ela odiava crianças. Mas então por que se submeter a fazer uma mini escola na própria casa? Oras! Você acha que ela dava as aulas de caridade? Era " 30 galeões ao mês e sua criança sai daqui lendo Shakspeare". O que não era exagero, a bruxa sabia ensinar, apenas odiava crianças... Reza a lenda que Lewis não foi aceita como professora em Hogwarts. Mas não falaremos disso.

As aulas.... Eram bem chatas, entediantes, horas e horas lendo textos que te fazem arrastar a voz de tédio. A única parte boa era o almoço. Humm! A mulher cozinhava muito bem e servia a comida para as crianças assim que chegavam. A maioria das crianças eram largadas sozinhas em casa como Danilo, então a Sra. Lewis se ofereceu para alimenta-las... Gentil! E passa mais 10 galeões para cá... Educação custa caro!

Conforme o tempo passava, Danilo babava e já não aguentava mais as aulas. Até que finalmente o relógio deu quatro e meia. Quatro e meia era sua hora preferida, a hora do milagre, da liberdade, de correr pelo pátio ao lado das outras crianças fugindo da chatice da vida. E exatamente assim foi naquele dia. Todos correram após o termino das aulas, fugindo do Círculo Leste, para suas casas.

Sally e Danilo caminhavam na estradinha lado a lado para o Norte. Pelo caminho haviam árvores altas e pinheiros, cenário um pouco assustador para caminhar a noite. Ainda bem que não era noite! Nem os adultos gostavam de caminhar pela vila durante a noite.

— Dan, você vai para aquela escola do outro lado do mundo? — Sally perguntou enquanto evitava pisar nas junções das pedras da estrada, uma brincadeira segura.

— Não é do outro lado do mundo. — Ele revirou os olhos — E eu não sei ainda... Talvez... Quer dizer, parece uma escola interessante.

— Mas e Hogwarts? — Ela manhou cruzando os braços — Vai mesmo me abandonar?

Vai começar... Corpo mole, cabeça-dura: Garotinha de porcelana. Danilo olhou para ela de cima, Sally era pequena para idade.

A verdade é que ele não sabia o que fazer. A indecisão lhe sufocava! Hogwarts era legal, tinha tanta coisa para se fazer lá. Mas Castelobruxo era um mistério, nenhum livro que ganhou dos avós falava sobre a escola. Não sabia nada do lugar e, mesmo com o desinteresse do pai, a curiosidade infantil só aumentava.

O que fazer? A escola de mil anos ou a de quinhentos? A escola do pai ou a da mãe? O conhecido ou o inesperado? Eis as questões.

— Eu não sei ainda, Sally. - Ele suspirou segurando as alças da mochila nos ombros — Mas acho que estou considerando não ir para Hogwarts.

Pronto! O que seu coração gritava foi dito em voz alta, não havia mais volta.

— O que?! — Sally gritando fazia passarinhos fugirem desesperados das árvores — Não faça isso comigo, Dan! Eu vou ficar sozinha em Hogwarts!

— É claro que não. Você vai fazer outros amigos.

— Eu não quero outros amigos. — Ela parou de andar e Danilo também parou. Ele se sentiu sem graça pela declaração.

— Castelobruxo é onde minha mãe estudou e eu... eu gostaria de... me desculpe, Sally. — Danilo abaixou os olhos para as pedras do chão cobertas de neve.

— Tudo bem.

A voz dela saiu embargada? Danilo não teve tempo de confirmar se a menina chorava, pois ela saiu correndo. Ele poderia ir atrás, mas não foi. No fundo remoia que Sally não podia impedi-lo de fazer a escolha que tanto queria. Ninguém podia! Nem mesmo David.

Assim, decidido ele foi para a casa. "Nem mesmo David" ecoando por sua cabeça.

Quando chegou em casa o menino correu para o quarto e leu sua carta outra vez. Leu e releu até escutar o barulho da aparatação e a porta da frente bater. Danilo correu escada a baixo e deu um abraço apertado no pai. O homem retribuiu, sorrindo, a demonstração de afeto inesperado.

Tempos mais tarde o menino e o pai estavam sentado à mesa, jantando... É agora!

— Eu quero ir para o Castelobruxo. — Danilo tomou coragem e murmurou para a colher que levava à boca.

David soltou o talher que segurava e jogou o corpo para trás na cadeira. O coração de Danilo saltava descontrolado, pois não conseguia decifrar a expressão do pai.

— Daqui uns meses a carta de Hogwarts vai chegar. Você não precisa se precipitar.

— Não estou me precipitando, pai. — O menino ainda falava para a colher

— Tem certeza? — O homem semi cerrou os olhos azuis em descrença.

— Tenho sim! — Danilo encarou o pai e reuniu toda a coragem que tinha — É a escola que minha mãe estudou e também quero estudar nela... Não entendendo porque você não gosta!

— Como assim eu não gosto? — David franziu o cenho.

— Sempre que eu faço alguma pergunta você me dá má resposta e faz essa cara. — Danilo franziu o cenho em uma imitação mal feita e exagerada da carranca do pai.

David riu. Quem não riria daquela criança indignada fazendo careta? O homem desarmou o nervos repuxados do rosto para uma expressão de carinho e arrependimento.

— Me desculpe... é isso mesmo que você quer?

— Sim! — Danilo sorriu alegre ao sentir que vencia a batalha.

David suspirou como se soltasse todo o ar do pulmão o fazendo parecer um balão esvaziando.

— Eu... eu não tenho condições de ir com você. Por isso Hogwarts seria melhor, entende? Você ficaria mais perto de mim.

— Mas...

— Tudo bem! Eu não vou ser egoísta. — David colocou um fraco sorriso nos lábios.

Ficar triste ou ficar feliz? Triste por ficar longe do pai ou feliz por conhecer mais das origens da mãe? Danilo cerrava as sobrancelhas encarando o vaso de flor no centro da mesa. Era horrível como sua vida parecia estar dividia entre a mãe e o pai. Sempre um parecia representar o extremo oposto do outro. E o pior de tudo: Ele não sabia que lado escolher.

— Então eu posso ir? — Danilo perguntou com o coração inserto.

— É claro que sim. — O pai deu um "sorriso de imã" aqueles sempre fazem a outra pessoa sorrir também.

— E como vai ser para eu ir?

 O menino sentiu um leve medo, pois iria embarcar para essa jornada sozinho. Nem mesmo Pipoca estaria com ele.

— Eu vou dar um jeito. Eu sempre dou, não é?

— Sim. — Danilo deu um sorriso de orelha a orelha sentindo-se feliz.

CABUM!

De repente um estrondo veio do porão da casa. O menino sentiu a espinha gelar. Droga! Ele esqueceu de fazer uma das obrigações. E a mais importante!

—  Você lembrou de desligar o fogo da poção limpa-pergaminho? — David olhou feio para criança a sua frente.

Vish! Danilo saiu da mesa correndo e subiu para o quarto. Deitar na cama e fechar a porta é a fortaleza de proteção de uma criança. Maldito seja o sete! Esse era o número da lista que vivia mudando. Cada dia algo diferente para fazer no "sete". E quase todo dia ele se esquecia fazê-lo.



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