História Minhas palavras sobre quem sou, você não vai gostar. - Capítulo Único

Eu lembro de quando a vida era simples. Não faz muito tempo, uns dois anos atrás, eu era capaz de abrir meu computador e escrever por noites inteiras e me sentir infinito. Eu não achava, porém, que a essa altura eu estaria saturado e vazio, sem nada bonito e poético dentro de mim para ser posto pra fora. Mesmo agora, sinto como se estivesse ferindo a mim mesmo ao admitir que não voltarei a ser a mesma alma inexperiente e criativa, ágil e sagaz. Eu acho que esgotei minha cota de palavras bonitas dessa vida.

Eu costumava assistir aqueles shows que premiam cantores e lhe fazem famosos, Game of Thrones e as cassetadas do faustão. Eu costumava dormir em todas as aulas de física, pagar 3,50 em um salgado e não achar um absurdo e conseguir bebida por ter cara de quem tem dezenove, quando eu só tinha desesseis. 

Eu costumava brigar com meus irmãos, odiar minhas espinhas e me sentir deslocado do mundo inteiro o tempo todo. Eu costumava devorar livros em dois dias, acreditar em astrologia e que trident não dava cárie. Agora eu não tenho tempo pra me preocupar com isso, estou mergulhado no universo dos adultos, então tenho que atender às expectativas, matar meu lado criativo e virar um robô amargo que ganha 5 reais por hora e fingir estar grato por apenas ter a oportunidade de trabalhar.

Juro que me sinto morrendo. Não tenho medo de encarar responsabilidades, ou de qualquer outra razão estupida pela qual a sociedade julga os jovens...  eu só não quero perder minhas palavras. Mas sei que está acontecendo. Esse texto, por exemplo, está uma merda. Eu teria feito uma autocrítica muito melhor sobre esse eu que antes nem pensei que um dia fosse existir. 

Eu também detesto várias coisas, como o fato do Netflix não ter Game of Thrones e esse ser o motivo de parar com as temporadas, detesto repolho e    dias úmidos, barulhos agudos e eventos programados. Eu detestava essas coisas antes, pelo menos isso não mudou. O que é bom.

Eu só queria sentir que consigo fazer sentido novamente, ter sucesso em me conectar com as pessoas através da escrita e sentir que alguém me entende novamente, porque, naquele tempo em que me sentia um deslocado socialmente nos lugares que frequentava, eu ainda podia postar alguns parágrafos e me fazer ouvir... Eu sempre sentia como se alguém me ouvisse. 

Estou terminando esse texto agora, como um último grito, que tenho certeza, ninguém vai ser capaz de escutar.