“Você só ouve essas músicas porque ainda é nova.”
Disseram-me nas avenidas desta cidade, onde a convicção não tem fim.
E, no transito de minha mente, na rua de meu cobertor, disse-lhes:
“Não sou seu recipiente de juventude para você guardar sua infância em mim.”
E, na calada da minha-noite, gritaram ofensas de congratulação:
“Você é bonita demais para ficar com mulheres.”
Engoli minha resposta com o prazer do gosto azedo de laranja:
“É que você é muito feio para ficar com elas.”
“Você só está deprimida porque não sai desse quarto.”
Nas baladas dessa vida eu ouvi dizer, onde a insipiência não tem fim.
Retruquei na ressaca de meus lençóis, entre a saudade de minha vida:
“Não saio desse quarto porque estou deprimida.”
E na mira de minha aversão, quando a cólera atingiu o limite, chegou a mim:
“Você só é lésbica porque nenhum cara te pegou de jeito.”
Na pontaria perfeita de um headshot, a gana se descarregou:
“Então, você só é hétero porque nenhum homem te pegou de jeito?”
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