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História Miracle - Capitulo Um


Escrita por: Miracle1

Notas do Autor


Música: Song for Zula- Phosphorescent

Capítulo 1 - Capitulo Um


Fanfic / Fanfiction Miracle - Capitulo Um

“Tudo o que é sólido desmancha no ar”, escreveu Marshall Berman . O sentimento de “fazer sentido” ou até mesmo a trabalhosa arte de fazer a nossa descabida e complexa rotina ter  algum sentido  ocupa um espaço enorme dentro de nós e nada, mesmo que aparentemente intransponível, foge à lei de que irá se romper, em algum momento chegará a momento.

Quando Mike Jauregui um Neurocirurgião de um dos melhores Hospitais de Nova York, que também era referência em Neurologia e Neurocirurgia no mundo, o New York Presbyterian Hospital, deu uma última espiada no seu relógio de pulso e outra olhada para a janela que exibia a torrencial chuva que caia naquela noite, a primeira coisa que veio em sua mente foi que o atraso, que agora já estava em  vinte minutos, poderia prolongar-se por mais dez. Afinal, pontualidade era um dom britânico e não americano e uma Manhattan praticamente debaixo d´agua atrasaria todos. Mesmo com a possibilidade de um transito mais caótico do que o normal quando resolvesse, enfim, desloca-se à apresentação resolveu ajeitar-se na cadeira e procurou a sua agenda para continuar as ligações daquela noite.

Mal poderia imaginar que tempo e controle em nenhum lugar seriam aliados e muito menos numa quinta-feira chuvosa em Nova York.

 

 

Não muito distante dali e mais especificamente na sala de espetáculos Carnegie Hall, uma aconchegante casa de apresentações bem no centro em Midtown, Manhattan, Clara Jauregui, esposa de Mike, acomodava Taylor, sua adorável filha de apenas 11 anos numa das primeiras poltronas, tendo,dessa maneira,  uma visão privilegiada do palco. Clara estava feliz e radiante em meio a todas àquelas leituras e releituras de Mozart, Bach, Beethoven , Chopin, Brahms, Händel e vários outros nomes que só lhe eram familiares devido às partituras que encontrava espalhadas pelo confortável apartamento da família, também na grande Manhattan. O motivo do seu sorriso escancarado era por causa de Lauren Jauregui, 17 anos, cabelos negros, olhos verdes, a sua filha mais velha, ela fecharia a grande noite com uma apresentação solo, a sua primeira desde que, prodígio, iniciou aos 6 anos as aulas de piano, muito incentivadas pela sua mãe, que fazia muito gosto em espiar a filha tocando em seu próprio piano, um  Fritz Dobbert, presente do seu avô Robben que é  pai de Clara e que, assim como a filha, admirava a neta.

Clara conferiu mais uma vez os portões que davam acesso ao salão onde estava ocorrendo as apresentações e ao correr os olhos pelas fileiras, pode notar o quão estava lotado naquela noite. Repleto de pessoas que, assim com ela, estavam ali para prestigiar alguém amado e talvez algumas pessoas estivessem ali para apreciar apenas boa música num dia chuvoso  e sentiu, pela milésima vez aquela noite, orgulho da filha. Sentiu o seu braço ser levemente puxado por Taylor e encarou o verde dos olhos da menor.

-Mami, porquê o papai ainda não tá aqui com a gente? - Perguntou Taylor franzindo a testa num misto de tristeza e dúvida inocente, já que  pela pouca idade não podia compreender que o seu pai, era um médico ocupando a vaga de ser o mais renomado neurocirurgião do país e que por isso tinha uma agenda cansativa.

- Ele deve está chegando querida- respondeu Clara de forma amorosa.

Deu uma espiada numa fresta que escapava um pouco de luz, bem na lateral do palco e ali  encontrou  uma  Lauren com um sorriso largo nos  lábios. Taylor, depois de ter a sua atenção direcionada por um leve toque da mãe até à imagem da irmã mais velha,  balançou os bracinhos com tanta alegria em direção à irmã que conseguiu alargar, se é que era possível, ainda mais o sorriso da morena. Definitivamente a pessoa preferida de Lauren no mundo era a menor. Lauren reparou na pequena o laço azul que destoava do resto do vestido. Com certeza Taylor insistiu por aquele laço. Sorriu novamente mandando beijos no ar pra mais nova.

Diferente de Taylor, Clara sentia na interação entre as duas filhas uma certa agitação que era proporcional ao orgulho que sentia naquela noite e estava transbordando de alegria, talvez até mais que a própria filha. Felicidade que só diminuiu quando notou que o brilho dos  olhos da mais velha ficou sem cor quando, num soslaio, notou que ela encarava  a poltrona vazia, onde Mike deveria estar sentado. Quando novamente buscou aqueles olhos verdes, que deveriam estar numa tonalidade escura, imersos na sua frustração por ter se atrevido em acreditar que naquela noite Mike assistiria a sua apresentação. Todos esses pensamentos inundaram o coração de Clara, procurou Lauren mais uma vez e o que encontrou foi apenas o vazio. A fresta não denunciava nenhum olho verde ou pele branca igual à neve. Num impulso, buscou o celular na sua bolsa e com toda discrição possível para que não incomodasse a plateia, que agora vibrava com o inicio da segunda apresentação, procurava na caixa de  mensagens qualquer indicio de uma mensagem enviada por Mike. No entanto, encontrou apenas a mensagem de Doroty, a secretária de seu marido, respondendo a mensagem que enviara a quase  10 minutos:

Ele ainda está aqui Senhora Jarengui. Disse que em 30 minutos estaria de saída. Algo mais que posso ajudar?

Clara pensou em algo. Porque ela era assim, buscava colar o tempo inteiro os pedaços quebrados de Lauren e Taylor causados pela ausência, ainda que justificável, de Mike. Deslizou o corpo até quando,  ficando à altura da menor, que estava sentada na poltrona ao seu lado, quase perdida dentro de um vestido vermelho,  provavelmente com mais babados que a menor  conseguiria contar, encarou-a e inclinou-se para falar no seu ouvido, quase como um segredo:

-Querida, o que acha de irmos buscar o papai. Ele estar a apenas a 13 minutos daqui? Falou como o sorriso mais bonito que conseguiu para contagiar a mais nova.

- êbaa, falou agitada- assim a Lolo vai ficar feliz.

- Então vamos.

Saíram as duas de mãos dadas. Com um sorriso cúmplice. Indo em direção a um desfecho que enceraria o belo passeio que ambas trilharam até ali.

Não sabemos o porquê, aquele dia ser quinta-feira, não fazemos ideia do porque Clara teve aquela ideia de encontrar com o marido, numa forma de apressá-lo para cumprir uma promessa que era dele e não dela. Afinal ela já estava lá, Taylor tinha  aceitado aquele vestido, cheio de babado, para agradar a sua irmã. Não fazemos ideia, porque exatamente naquele sinal, debaixo daquela chuva que, agora nem era tão forte, Clara, observou Taylor ajeitar a fita azul no castanho do cabelo. Não imaginaríamos que um motorista completamente bêbado, em plena quinta-feira, avançaria o sinal e encontraria o carro em que estavam as duas pessoas prediletas no mundo inteiro, na galáxia inteira, de Lauren.  

Mike já  se preparava para pegar  o casaco depois de se despedir de Doroty,  quando notou o celular tocando. Quando levou as mãos ao  aparelho e o atendeu, preenchido de seu melhor tom educado de voz, sem ao menos certificar-se quem era, tentou justificar:

- Querida, já estou quase chegando...-

Quando foi cortado por uma voz firme e masculina do outro lado da linha.

 -Alô, senhor Mike Jauregui, policia de Nova York...houve um acidente e o senhor encontra-se no contatos das vítimas.

Não era mais preciso mentir. 

 

Play song 

Quando pensamos em Nova York logo nos vem em mente uma cidade completamente iluminada, uma Times Square com seus telões gigantes e iluminados, os seus  turistas e a sua babel de idiomas e culturas  que, de algum modo, conseguem funcionar. Nunca imaginaríamos uma cidade apenas por conta das histórias daqueles que ali habitam, suas histórias triviais e muito menos os seus pequenos casulos de interesses.  

 Lauren, inerte a tudo que acontecia à sua volta e alheia as mudanças que avançavam sem a possibilidade de recuar, igual aos ponteiro, soldados aliados do tempo,  e que mudaria os rumos da sua vida, espiava, agora impaciente, daquele mesmo feixe de luz que escapava há alguns minutos, se perguntando onde estariam as suas duas pessoas preferidas naquele único mundo que conhecia, naquilo que Carl Sagan chamou de “ponto pálido azul”, único planeta que viveria  e que, sem nem desconfiar, esse mesmo "ponto pálido azul" não veria mais aqueles dois pontos ainda menor, bilhões e bilhões de vezes menor.

Ela ainda não sabia mais jamais seria a mesma depois daquela noite. E que ganharia um presente do universo, mesmo em meio ao caos que se formava quase que uma espécie de péssima piada. Numa cidade em que ainda nem conhecia. O relógio ainda estava correndo devagar. Afinal, tudo à seu tempo. Ela não fazia ideia do que viria pela frente, do trágico acontecimento e nem poderia imaginar. Perto dali acontecia o desfecho do clímax . Lauren nem podia imaginar.

Mike Jauregui, a essa altura, praguejava contra qualquer Deus que soubesse da existência. Lauren nem desconfiou que tudo tivera mudando, a hora tivera mudado, obedecendo o ritmo frenético dos ponteiros.Talvez seja assim as grandes mudanças nas nossas vidas, elas acontecem sem nem ao menos notarmos e, sem nos darmos conta, elas passam a ser a nossa única realidade. E elas acontecem sem nem nos darmos conta e simplesmente não podemos fugir.

Do outro lado do país, Camila Cabello suspirava envolta aos seus livros. Com o livro entre suas mãos passeava o nariz delicado sobre a superfície dura do seu livro predileto "O mundo assombrado pelos demônios" de Carl Sagan. Irônico? O mais irônico, já que aquela noite a amálgama de ironias ainda estava longe de acabar, ela fechou o livro e como num desafio, mesmo o autor sendo o seu favorito no mundo, suspirou, suspirou num sorriso amargo, relembrando a visita que tinha feito naquele dia, na pequena cidade, no meio de Utah, espremida entre montanha cobertas de gelo.

Sussurrou para que somente o universo a escutasse: - eu acredito sim em milagres!- disse convicta e achando graça de si por falar sozinha e ainda por cima, contrariando Carl.

 

Das ironias do destino, seja qual for o milagre que Camila ansiava ou se realmente era pra ela, a sua consumação estava diretamente interligada ao caos que estava acontecendo na vida de Lauren. Elas nem desconfiavam, mas estavam próximo de experimentarem o efeito colateral das grandes mudanças que o destino impõe.

 Lauren ao olhar mais uma vez a plateia em busca da sua mãe e irmã, assustou-se com o seu nome anunciado como próxima atração, nem podia imaginar que a dor que sentiu no seu peito não era nervosismo ou decepção pelas cadeiras vazias, mas, sim, um sinal, um aviso, enviado ao universo pelo o seu coração que estava se preparando para o caos que se aproximava.

De repente, as cortinas se abriram e ali estava ela se sentindo exposta como nenhuma outra vez na vida. Já adianto, expectador das dissonâncias do destino: Camilla Cabello não estava naquela plateia naquela noite e não viu  quando Lauren deu dois passos pra trás e correu em direção à saída, produzindo o único som que se podia escutar naquele auditório lotado, o do portão sendo batido com toda força que Lauren nem imaginava ter.

Não era preciso que ela estivesse ali naquela noite, já tinha sido disparado o cronômetro do tempo para se encontrarem. Camila também não estava presente quando Lauren correu, puxada como um imã, pela tempestade ao encontro da cena que desencadearia todas as mudanças que viriam depois.

 

 



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