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História Miserável - Capitúlo 20


Escrita por: Kiwi-Voador

Notas do Autor


PRIMEIRAMENTE... fora temer UEHUHE enfim
olá novamente

bom, após tantos meses sem capitulo novo, aqui estamos nós.
juro juro juro que tentei compensar no pouco tempo que pude escrever, pois ainda estou em provas (por mais incrivel que possa parecer)

eu queria agradecer MUITO a todos voces que me apoiam a continuar com essa historia e que vivem comentando e comentando nos old caps, agradeço mesmo e peço mil e uma desculpas a cada pessoa a quem nao pude responder o comentario feito com carinho (ou nao heuhe), principalmente aqueles comentarioss GIGANTESCOS QUE EU AMO TANTO pqp <3 lindos do kokoro
enfim, peço desculpas pelo atraso, e por nao ter respondido aos comentarios, mas como o prometido, aqui temos um capitulo novo antes do fim de ano.

agora... prometo de dedo mindinho que responderei A TODOS os comentarios que forem mandados nesse capitulo, e nao pensem que os comentarios que eu nao respondi, foi pq eu nao li, EU LI TODOS E AMEI TODOS obrigada novamente

quero pedir tb que me dem conselhos e algumas novas ideias para eu por na fic, pq eu crio tudo muito na hora... nao tem um rascunho... bom... apenas um lista com as ideias espalhadas em topicos com canetinha esferografica MAS.... pse

ENFIM, SEM MAIS DELONGAS
BOA LEITURA

COMENTEM (seriao pf, me ajuda pakas e me motiva a continuar) FAVORITEM (ISSO AE!!)
E DIVULGUEM (se estiverem afim <3
LOVE YALL

Capítulo 20 - Capitúlo 20


Desde que haviam chegado naquele estranho lugar, foi lhes concedido o luxo de mais um banho quente.

Logo após o horário da refeição noturna, Temari veio bater na porta do quarto das duas criaturas, as mãos atulhadas de toalhas e um par de pequenos frascos contendo cada um, um liquido cremoso de cor clara e um cheiro fraco, junto de um par de roupas de moletom limpas de cor escura.

Naruto atendeu a porta apressado, as asas esvoaçando ao seu redor. Sasuke não se moveu da posição em que se encontrava, de bruços sob a cama e com o rosto enfiado no vão entre dois travesseiros.

-Trouxe isso – gesticulou com os braços cheios – para vocês tomarem banho. Estão cheirando a suor seco.

-O que é tudo isso? – perguntou Naruto, os olhos quase arregalados de curiosidade.

Temari levantou uma sobrancelha, levemente surpresa com a pergunta. 

-O da direita é shampoo e o da esquerda creme condicionador. – explicou com as mãos da cintura após entregar-lhe os objetos.

Naruto olhou para os dois frascos em suas mãos, confuso, ainda sem entender para que servia aquilo. Sasuke sentou de pernas cruzadas no meio da cama atrás do loiro que se postava na porta junto da mulher. Observava a cena com pouco interesse, analisando a postura relaxada e firme da mulher chamada Temari. Sabia que já a havia encontrado antes, quando levaram-nos à sala da chefe – lembrava-se vagamente de sua voz.

Suspirou cansado e caiu para trás, de encontro aos travesseiros às suas costas, as asas esticadas para fora da cama.

-Não sabemos para que servem essas coisas – disse em voz alta, poupando o amigo.

Temari olhou por cima do ombro de Naruto com a sobrancelha levantada, levemente surpresa pela repentina manifestação de Sasuke, pois todos sabiam que este quase não dizia uma palavra.

Voltou a atenção para a criatura angelical na sua frente e suspirou, fechando os olhos.

-Servem para limpar o cabelo. Você esfrega em sua cabeça para fazer espuma e depois enxágua. Lave quantas vezes for necessário, até que a espuma escorra branca. – virou-lhes as costas e se encaminhou para o corredor – use o condicionador apenas uma vez! E aconselho a esperarem até a metade da noite, quando a maioria das pessoas já estão dormindo! – acenou com a mão sem se virar e desapareceu na próxima esquina.

Naruto se virou para Sasuke, mas este havia coberto o rosto com uma das asas.

Fizeram uso do par de toalhas e deixaram-nas – junto das roupas sujas – em um grande cesto de metal no canto do vestiário com a palavra “LAVANDERIA” em um fraco garrancho amarelo, bastante desgastado pela umidade e pelo tempo. Tinham os cabelos meio molhados, e as roupas limpas davam uma sensação boa contra a pele.

Naruto tinha as penas das asas desgrenhadas e emaranhadas com algumas das plumas, dando á tonalização das cores um aspecto sujo e mal cuidado. Vestia uma bermuda cinza escuro de moletom e uma camiseta com as mangas largas demais para seus braços, ignorou o par de sapatos que viera enrolado entre as roupas e se manteve com os pés nus colados no chão.

Sasuke manteve uma toalha ao redor dos ombros recolhendo a água que ainda pingava de seus cabelos. Usava calças pretas de algodão e uma camiseta azul escuro de mangas longas e, assim como Naruto, optou pelos pés descalços. Os chifres, asas e a cauda de couro brilhavam com as minúsculas gotículas de água que ali grudavam com o vapor.

Levaram os frascos de plástico de volta para o quarto, quietos para que ninguém os ouvisse.

-Sasuke – chamou Naruto em um sussurro no corredor – estou com fome...

Sasuke lembrou-se que não comiam nada havia várias horas, e só até então não notou a fome que tinha. Cresceu aprendendo a ignorá-la ao ponto de se tornar um hábito, mas agora sabia que não havia mais a necessidade de fazê-lo.

-Também estou... – suspirou. Não queria ter de ir até o refeitório, com a possibilidade de encontrar alguém pelo caminho... – volte para o quarto, eu vou pegar alguma coisa para a gente.

-Eu vou com você – disse o outro, empilhando as coisas em um dos braços.

-Não precisa – respondeu em um tom duro – eu volto em alguns minutos – e seguiu pelo corredor oposto àquele que levaria até seu quarto, deixando Naruto para trás encarando suas costas.

Virou um par de esquinas, tendo a sorte de não esbarrar em ninguém até a entrada do gigantesco refeitório. Viu duas pessoas ocupadas em limpar o chão e uma outra concentrada em fazer com que o balcão brilhasse de tanta esfregação. Sentiu o fraco cheiro de algo que não reconhecia e ouviu os suspiros entediados das pessoas ocupadas. Aproximou-se da bancada, chamando a atenção dos outros e ignorando-os.

A senhora inclinada sob a bancada levantou a cabeça curiosa. Pulou de surpresa e recuou. A pele lívida e os olhos do tamanho de pratos.

-Eu gostaria de um pouco de comida. – disse ao estacar em frente a mulher, que passou a encará-lo em silêncio.

As outras duas pessoas – dois homens – pararam o que faziam e se aproximaram devagar, curiosos. Sasuke ignorou a presença de ambos e continuou a observar a senhora atrás da bancada, que não notara que prendia a respiração e que se punha vermelha aos poucos.

-Poderia me dar uma porção de comida? – pediu novamente. Pacientemente.

-V-Você é o... – gaguejou a mulher.

Sasuke levantou uma sobrancelha, os olhos negros sem expressão alguma.

-Sou o...? – questionou o final sem interesse. Já sabia a resposta. Monstro, demônio, aberração...

A senhora estacou e balançou a cabeça violentamente para os lados, negando qualquer coisa que pensava em dizer.

-N-Nada! – se apressou em pegar uma bandeja de alumínio e de nela depositar uma tigela de tamanho médio, para despejar dentro desta um caldo grosso e amarronzado.

-Duas porções. – interveio Sasuke.

A senhora levantou a cabeça de seu trabalho e o olhou confusa, mas a criatura não abriu a boca para explicação nenhuma. A mulher fez então o que lhe foi pedido e despejou o líquido em outra tigela de mesmo tamanho, e o depositou em cima da bandeja. Se afastou da bancada e esperou que a criatura pegasse sua refeição e que fosse embora. Mas este não o fez. Manteve-se parado a observá-la, para depois revirar os olhos e suspirar. Virou-lhes as costas e seguiu de volta para sua habitação, a boca salivando de fome sempre que um aroma salgado e picante atingia seu rosto. Apressou os passos, virando o corredor e estacando em frente a porta do quarto. Franziu o cenho.

Havia algo de errado... alguém estava ali. Mas o mais estranho era que Naruto estava calmo, suas batidas estavam tranquilas. Ouvia as batidas de um segundo coração, um homem. Conhecia aquele ritmo – constante e forte –, lhe era bastante familiar... e lembrou-se quem era seu dono – odiava-o. Trincou os dentes com raiva e se preparou para abrir a porta.

Apoiou a bandeja em uma das mãos e coma outra girou a maçaneta, abrindo a porta e avançando para dentro. Os olhos voaram pelo cômodo, buscando por Naruto. Viu-o sentado sob a cama com as pernas cruzadas, asas relaxadas e com as penas novamente alinhadas – a postura calma e tranquila.

-Você chegou! – exclamou o amigo, amassando a roupa de cama com sua animação quase sempre contagiante.

Ignorou-o e virou-se para o homem sentado no chão mais ao lado, que o observava com uma sobrancelha levantada, curioso.

Nenhum dos dois abriu a boca para falar, apenas mantiveram os olhos cravados um nos outros em um questionamento mudo. Naruto sentiu a tensão que subia no ar, e antes que Sasuke se precipitasse em relação a algo, avançou pela cama até o amigo que estava de costas para si. Tirou a bandeja de metal de suas mãos antes que entortasse o material e acabasse por escorrer tudo no chão.

-Sasuke? – chamou, mas não esperava por nenhuma resposta – este é Fugaku. Ele nos acompanhou até a arena e nos ajudou quando meu pescoço... – hesitou – você sabe. Estávamos junto de Tsunade – afagou-lhe os braços por trás, sentindo os pelos arrepiados de raiva como os de um felino.

Sasuke lembrava-se, não por rosto, pois essa era a primeira vez que o via fisicamente. Mas lembrava-se de todas as outras características. O cheiro, o ritmo cardíaco, a voz... o pouco tempo que que passaram juntos foi o suficiente para perceber que já o odiava.

O motivo?

Eram muito parecidos. Não em aparência apenas, mas em quesitos de comportamento. Ambos eram arrogantes, prepotentes, orgulhosos e teimosos. Além da grande semelhança entre seus ritmos cardíacos e dos passos, e o odor.

Não era idiota, sabia que tinha algum parentesco com aquele homem. Da mesma maneira que soube que Minato e Naruto eram, respectivamente, pai e filho. Tinha a quase certeza de que Fugaku era seu pai, pois além das semelhanças bastante visíveis, havia também aquelas que apenas as duas criaturas saberiam como notar. Mas Naruto não parecia estar a par de nada, e se notara algo, fingia que não.

-Eu vim buscá-lo para participar de uma reunião com a chefe. – Fugaku levantou-se e bateu com as mãos na barra da calça, espanando o pó que havia se agarrado ao tecido.

-A mim? – Naruto apontou para o próprio peito, confuso.

-Não, - negou Fugaku e endireitou a postura – ele. Você fique aqui se quiser.

Sasuke arreganhou os lábios de leve e rosnou baixinho, os caninos aparecendo prontamente. O ódio por aquele homem estava chegando ao seu limite. A raiva subia para sua cabeça sempre que palavras saiam daquela boca. Agora entendia como devia fazer as outras pessoas irritadas com respostas desse tipo. Tinha vontade de pular naquela garganta e estraçalha-la com os dentes.

Fugaku levantou um pouco as sobrancelhas, nem um pouco assustado e disse:

-Você é realmente um animal... – comentou com a voz em tom de decepção – exatamente como eu pensei.

Sasuke não esboçou uma reação imediata. Manteve-se quieto por alguns segundos antes de cerrar os lábios e abaixar os olhos. Encarou o chão aos pés de Fugaku, as mãos cerradas em punhos nas laterais do corpo e a cauda caída entre as pernas, sentindo algo em seu âmago que já sabia nomear.

Vergonha.

-Então se eu fosse você... – a voz fria de Naruto paralisou a ambos, e este se movia silenciosamente na cama – tomaria cuidado.

O tom baixo e cortante daquela pequena criatura surpreendeu Sasuke e intimidou Fugaku, que o encarava de olhos arregalados e com a boca semiaberta. Uma leve palidez alcançou seu rosto e as pontas dos dedos das mãos começaram a tremer.

Naruto estava de joelhos sob o colchão e tinha as mãos repousadas sob as coxas. Fitava diretamente o homem de cabelos negros a sua frente, os olhos brilhando em um vermelho grosso e selvagem, a pupila estreita no formato de uma quase linha.

-Você pode acabar se machucando – sussurrou em um complemento, a expressão séria.

Mal terminara de fechar a boca, a porta se abre de um estrondo e Sai entra afobado na habitação.

-Naruto, eu preciso que... – interrompeu-se no meio da frase ao ver as três pessoas no cômodo e não apenas aquele que procurava – oh! Olá Fugaku... Sasuke... pensei que haviam ido encontrar Tsunade...

Fugaku piscou os olhos rapidamente, saindo de seu transe e notando a situação ao seu redor. Girou o corpo e se dirigiu até a porta, esbarrando em Sai e saindo para o corredor.

-Delicadeza... – resmungou Sai para si mesmo.

-Veio levar o garoto para mais uma das suas festinhas, Sai? – abordou o homem parado no corredor, esperando por Sasuke. A voz seria e firme como se nada houvesse acontecido.

Sai estreitou os olhos desconfiado, desde quando Fugaku mostrava interesse pelo o que ele fazia?!

-Sim... – murmurou hesitante – convidar, na verdade – complementou.

-E onde vai ser dessa vez?

-No terraço... – respondeu devagar.

Fugaku grunhiu e exclamou:

-Vamos garoto! – dirigindo-se agora à Sasuke – não tenho todo o tempo do mundo!

Sai ouviu um ronco baixo vindo de Sasuke e presumiu que este estivesse controlando um rosnado. Não o culpava por estar irritado, todos tinham certa vontade de avançar no homem depois de alguns minutos “presos” no mesmo cômodo.

Sasuke sentiu uma mão em seu joelho e virou-se para Naruto. Cravou os olhos nos seus, cerrou os lábios em uma linha fina. Sem dizer uma palavra, girou o corpo e seguiu até a porta em silêncio antes que o outro tivesse a chance de abrir a boca, indo se juntar ao homem que tão rapidamente aprendera a odiar.

Sai suspirou e deu de ombros.

-Quer ir? – perguntou ao outro.

Naruto piscou duas vezes antes de lembrar-se o porquê da visita do outro.

-O que é uma festinha?

-Uma festa é uma solenidade comemorativa destinada a pessoas ou fatos importantes. – brincou.

-Solenidade comemorativa...? – a cabeça pendeu para o lado em confusão.

Sai riu baixinho e se dirigiu até a porta.

-Apenas vamos, você vai saber quando chegarmos lá.

Naruto hesitou por um momento, perguntando-se se Sasuke aprovaria aquilo...

-Provavelmente não... – sussurrou para si mesmo e levantou-se da cama, sorrindo. – vamos!

Apresentaram-se a um guarda que permanecia plantado a todo o momento ao lado da porta onde a maior autoridade se encontrava – Tsunade – e o mesmo havia curvado o corpo em um cumprimento respeitoso a Fugaku. O guarda era um homem de estatura alta, tinha os cabelos longos e negros presos atrás da nuca em um coque bem elaborado. Olhos de um tom incomum, perolados, e a expressão profissional lhe davam um ar de trabalhador sério e dedicado. Trajava o que Sasuke pensou ser o típico uniforme do que chamavam de Jounin, devido aos três pequenos broches idênticos – bronze, ouro e prata, respectivamente – presos na gola escura do traje, um ao lado do outro. O homem lhe passou um ar familiar quando se apresentou para Fugaku como sendo o Jounin Nº 69, Neji Hyuga.

Ignorou.

Sasuke manteve-se calado durante todo o trajeto que já conhecia, mesmo que não de vista. Em nenhum momento desviou os olhos de seu caminho, evitando obviamente de mirar a pessoa ao seu lado, mesmo que por acidente. Aparentemente, Fugaku fizera o mesmo.

Até agora.

-Seu amigo... – começou o homem alto, de certa maneira, hesitante – tem uma maneira peculiar de lhe defender. – o tom de voz baixo para que o Jounin não pudesse ouvir.

Sasuke mirou-o de canto de olho e fechou os olhos, suspirando audivelmente. A cauda se remexia suavemente, a ponta se retorcendo a cada balanço, demonstrando o desconforto e até mesmo a minúscula satisfação que sentia por aquele homem lhe dirigir a palavra. Mordeu a língua ao pensar nesta última.

Deu de ombros e disse:

-Nós cuidamos daquilo que é precioso para a gente, certo?! – virou-se para o outro e abriu os olhos, cravando-os em Fugaku.

A frase foi quase como uma pergunta ao outro. Uma pergunta bastante retórica. Fazendo com que o homem estreitasse os olhos, desconfiado, e mirasse a porta a sua frente, que se demorava a abrir.

-Imagino que já saiba, então. – disse Fugaku, ainda sem olhá-lo.

Sasuke virou para frente e disse:

-Preferia não saber – não eram idiotas, ambos sabiam o que cada um queria dizer com aquilo.

-E assim como eu, você não dá importância? – perguntou baixinho.

Sasuke trincou os dentes, irritado. Mas não podia chorar sobre o leite derramado, ele havia causado aquilo.

-Se eu dou importância para o fato de você ser do meu sangue? – perguntou e logo após negou com a cabeça firmemente. A vontade de cravar as garrar naquela garganta exposta e meio queimada pelo sol era enorme, mas controlou a ânsia antes que acabasse não por prejudicar apenas a ele, mas a Naruto. – nunca dei importância para essas coisas. Naruto sim se importa com isso tudo de família... mas eu não preciso de uma. – murmurou, lembrando-se das milhares e milhares de vezes em que perguntou a si mesmo e às pessoas que o machucavam o que havia acontecido com sua família, se ele havia feito algo de errado e por causa disso fora abandonado... – a única pessoa de que preciso já está comigo.

Fugaku soltou um riso nasalado e revirou os olhos.

-Que casal lindo vocês formam. – disse em deboche.

Sasuke franziu o cenho. Casal?

Não houve tempo de fazer qualquer outra pergunta, ou acrescentar qualquer outra coisa que fosse á conversa. A porta se abriu rapidamente e um homem de cabelos brancos espetados, colocou a cabeça para fora e disse:

-Entrem logo, estamos apenas esperando vocês. – tinha a pele pálida e com finas linhas pintadas em vermelho na bochecha e no queixo.

E não parecia nada satisfeito.

-Não chega bem a ser uma festa... – explicou Sai enquanto subiam os lances de escada do qual Naruto lembrava-se bem. – é mais como uma confraternização... não... nem isso – hesitou enquanto pensava – Ah! Dane-se, você vai ver quando chegar lá! – apressou o passo nos degraus e passou a subir de dois em dois. Naruto o acompanhou com facilidade.

Chegaram ao topo e abriram a mesma porta de metal anterior e saíram para o ar fresco da noite. O barulho de vozes animadas das pessoas reunidas em um círculo ao redor de uma pequena fogueira que crepitava baixinho, o suave som metálico vindo das cordas de um objeto que Naruto não reconhecia, apoiado sob as coxas de outra pessoa que não conhecia.

-Pessoal! – Sai chamou a todos, não haviam notado sua chegada.

-Sai! – uma jovem de cabelos longos e loiros levantou-se com um sorriso no rosto. Naruto a reconheceu como sendo a Moça do Crucifixo que viu na arena. Manteve a expressão neutra.

-Ino. – Sai andou até a moça e a abraçou, dando-lhe um beijo na testa logo depois. – lembra-se de Naruto?

Ino virou o rosto para a criatura parada na frente da porta e a mirou curiosa, assim como todos os outros a sua volta.

-Lembro – soltou-se do garoto e caminhou na direção do loiro – seja bem-vindo! – e deu-lhe um sorriso genuíno.

Naruto arregalou um pouco os olhos, confuso com aquela atitude. Pensou que as pessoas o odiassem...

-O-Obrigado... eu acho... – abaixou os olhos para o chão, acanhado.

Um homem riu alto e levantou-se do chão onde estava sentado. Naruto o reconheceu como sendo o irmão mais velho de Tsunade, Hashirama. Seus cabelos agora estavam soltos e caiam por sobre os ombros, lisos e negros. Tinha uma expressão divertida no rosto.

-Seja bem-vindo garoto! – exclamou animado – sente-se conosco! – convidou.

Naruto abriu a boca, mas dela não saiu nenhum som. Virou os olhos para Sai, em busca de respostas para nenhuma pergunta. Mas este apenas se limitou a acenar com a cabeça, “Vá!”.

Sorriu de leve e se dirigiu para perto dos outros, que agora passavam a sorrir-lhe e dar leves tapinhas em seu ombro.

Sentou-se entre Hashirama e uma garota de cabelos longos e negros, – as asas não facilitaram seu trabalho, por serem grandes demais e por ocuparem um maior espaço, corou constrangido - muito parecida com o homem que estava a guardar a porta de Tsunade durante sua primeira visita. Imaginou que fossem parentes.

-Obrigado por me receberem... – murmurou baixinho.

-Ah garoto, não tem o que agradecer! – exclamou Hashirama. Este depositou um braço em seus ombros e começou a apontar para as pessoas ao redor, que ainda o observava – vou lhe apresentar a todos. Veja, aquele ali com a tatuagem no rosto– apontou para um homem que estava deitado na barriga de um cachorro grande e branco – é o Kiba...

-Já nos conhecemos – interveio o homem.

-Já? – hesitou Hashirama – bom... então quem mais você conhece? – perguntou à Naruto.

Olhou em volta, observando os rostos e identificando aqueles que já conhecia.

-Kakashi, Shino, Temari, Deidara, Sai e Kankuro. – respondeu, e ouviu este último trincar os dentes e virar o rosto. Deidara pareceu estranhamente feliz ao ouvir seu nome. – Ah! E Minato! – não o havia visto atrás de Kakashi, estava quieto... parecia de certa maneira, abalado.

-Certo, já é um começo – disse Hashirama – então comece a gravar os próximos que vou dizer.

Naruto assentiu atento.

-Aquele ali – apontou para um homem sentado no chão e encostado na amurada atrás de si, isolado dos outros. Um curto cabelo vermelho vivo e a expressão séria e sinistra. Naruto o olhou com interesse. – é Gaara, ele é chefe de esquadrão. Ele não costuma se enturmar muito – se inclinou sobre o loiro e lhe sussurrou no ouvido – as pessoas costumam ter medo dele.

Naruto levantou os olhos para Hashirama e disse:

-Por quê? – os olhos curiosos.

O homem o olhou com interesse, se perguntando o que passava na cabeça daquela criatura. Não tinha nem sequer um pingo de desconfiança quando à Gaara?

-Não importa agora. – disse e desviou os olhos do garoto – aquele cara ali ao lado de Deidara, brincando com uma marionete – indicou o homem de cabelos rubros que parecia concentrado em encaixar pedaços de madeira colorida um no outro. – é Sasori, namorado de Deidara.

-Marionete...? – sussurrou para si mesmo, gravando as palavras na mente para depois procurar por seus significados - Namorado...?

-Essa garota do seu lado é Hinata, ela estava na arena quando você foi lá. – Naruto virou o rosto e lhe deu um sorriso discreto em cumprimento. Suas bochechas coraram e ela virou o rosto constrangida.

Temari riu baixinho mais ao lado, abriu um de seus leques e passou a abanar o fogo de leve, alimentando as chamas distraidamente.

-Aquele cara ali, fumando lá no canto, é o Sarutobi – Naruto observou o homem, e este lhe acenou rapidamente antes de pegar o cigarro de seus lábios e jogá-lo por cima da amurada. Naruto acenou de volta. – e por último, aquele ali em cima – apontou para o telhado da construção da escada. Um homem estava sentado de pernas cruzadas e com o rosto meio escondido pela penumbra, mas encarava Naruto com força. O loiro se remexeu de leve, desconfortável, as asas raspando no chão atrás de si e levantando um pouco de poeira. – é o Itachi, ele é uma pessoa bem legal... mas anda meio para baixo ultimamente... – Naruto assentiu devagar, sem tirar os olhos da criatura que o encarava de cima. Sentia algo de familiar vindo dele... não sabia como explicar aquilo.

-Esperamos que se dê bem com todos, Naruto – exclamou Deidara com um braço ao redor de Sasori, que continuava concentrado em montar as peças em suas mãos.

Naruto riu consigo mesmo e assentiu com firmeza, feliz.

-Temos uma proposta para você e Naruto. – atirou Tsunade.

Estava sentada atrás de sua mesa, papéis estavam espalhados pelo tablado e empilhados nos cantos do cômodo, o cabelo estava desgrenhado e tinha leves bolsas de sono nos olhos. Estava obviamente cansada.

Sasuke levantou uma sobrancelha, curioso. Fugaku suspirou entediado, provavelmente já sabia sobre o que se tratava aquilo tudo, e foi se sentar em um banquinho perto da porta, guarnecida pelo outro lado por Neji.

-Estou ouvindo – respondeu. Cruzou os braços e a olhou diretamente nos olhos.

Tsunade não conseguia se manter firme na presença daquela coisa, ele a amedrontava até mesmo com um simples olhar. A lembrança de um rosnado e a visão de suas garras faziam suas pernas tremerem. Tinha que tomar cuidado com ele. Todos tinham.

-Você e Naruto estariam dispostos a treinar um batalhão de Jounins?

Sasuke franziu o cenho, confuso. Não era a primeira vez que ouvia aquele nome. Jounin.

-O que são Jounins? – Tsunade suspirou aliviada, pelo menos ele estava interessado o suficiente para perguntar.

-Jounin é uma das cinco classes ninjas – explicou Shikamaru que se encontrava escorado perto da janela atrás de Tsunade. – sendo elas Estudante de Academia, Genin, Chunin, Jounin e Kage.

-O Jounin costuma ficar na linha de frente durante conflitos e tem a permissão de matar. – acrescentou Tsunade – também são instrutores da classe de Genins, aqueles que quiserem, claro.

-Ou seja, são as pessoas mais experientes em estratégias e batalhas – interveio Sasuke.

Shikamaru deu de ombros.

Sasuke olhou em volta e mirou o homem pálido com a cara pintada que havia aberto a porta anteriormente.

-Você é um Jounin? – perguntou sem demora.

O homem estreitou os olhos, irritado. Cruzou os braços, os músculos bem trabalhados destacando-se no tecido.

-Eu tenho nome, pirralho. – resmungou.

Sasuke deu de ombros e disse:

-Imagino que tenha, mas não tenho interesse em saber qual é – e lhe deu um sorriso de canto de boca – agora... você é ou não, um Jounin?

Fugaku soltou uma risada nasalada e revirou os olhos. Shikamaru apenas deu um leve sorriso e olhou para baixo, apenas esperando.

O homem grunhiu.

-Meu nome é Tobirama, e eu sou o irmão mais velho de Tsunade. – cuspiu as palavras irritado – talvez quisesse ter um pouco mais de respeito?!

Sasuke não disse nada. Continuou a mirar Tobirama com a mesma expressão de desinteresse de sempre. A cauda se remexia suavemente por trás de suas asas, pacientemente esperando pela resposta.

Tobirama fechou as mãos em punho e grunhiu, sua irritação tinha um limite bastante curto.

-Sasuke... – suspirou Tsunade, tentando amenizar a situação.

-Não fui criado para ser gentil, educado ou respeitoso... Tobirama... – interveio de supetão, a voz grave, o tom era de aviso – fui criado para matar. Eles se certificaram bem disto.

O silêncio que já havia estado confortável para todos ali, se tornou pesado e desconfortável. Tsunade se remexeu em sua cadeira e sentiu os dedos das mãos estremecerem. Escondeu-os debaixo do tablado. Shikamaru passou a trocar o peso das pernas e a se concentrar na paisagem para lá da janela. Fugaku continuou a observar a cena com interesse. Tobirama entendeu o aviso, mas o ignorou prontamente.

-Então comece a aprender, garoto. – tinha a voz mais calma. – não tive a chance de vê-lo lutando da arena, mas soube que foi uma apresentação “magnífica” – deu certo deboche à ultima palavra – quero que lute comigo mais tarde, e ver se realmente é bom a ponto de nos instruir.

Tsunade arregalou os olhos e levantou de imediato. Shikamaru não fez diferente.

-Enlouqueceu?! – exclamou a mulher. Sasuke levantou uma sobrancelha divertido e disse:

-Com imenso prazer o farei. – e sorriu-lhe. Um sorriso com dentes.

enquanto isso

A fogueira crepitava em meio às vozes que se entrelaçavam em direções diferentes, em várias conversas. Alguns bebiam algo de dentro de uma pequena garrafa de vidro e faziam careta após o gole. Naruto olhou para cima e tentou ver as estrelas, sem sucesso, a fogueira atrapalhava a visão. Fitou as chamas dançando sobre a brasa brilhante no chão, lambendo os finos galhos que eram repostos e remexidos para que o fogo não se apagasse.

-Naruto? – este virou a cabeça em direção ao chamado. Deidara havia se levantado e se dirigia até perto fogueira – como é voar?

Naruto fez um biquinho distraído enquanto pensava no assunto. As outras pessoas fizeram silêncio, curiosas sobre qual seria sua resposta.

-Não sei bem como explicar... – hesitou, procurando por palavras adequadas. – eu me sinto... Não sei...

-Livre? – disse Deidara.

-Leve – corrigiu.

Todos ali se entreolharam, confusos com a descrição. Alguns se aproximaram mais de Naruto ou da fogueira, buscando ouvir melhor sobre o crepitar das chamas.

-Por que leve e não livre? – perguntou Hinata, que apoiava os cotovelos nos joelhos, atenta a conversa.

Naruto endireitou as costas, as asas se remexendo atrás de si. Deu uma olhadela para cima, para o telhado, buscando o vulto escondido nas sombras. Ainda estava ali, quieto e estático. Desviou os olhos, ignorando o sentimento familiar que tinha sempre que o fitava. Ao invés disso, concentrou-se em achar uma explicação para o que havia dito há pouco.

-Esperem! – Naruto pulou de susto em seu lugar. Hashirama havia se levantado de supetão, correu até o canto do terraço, se agachando perto de uma pequena caixa cinza - esperem um pouco! – enfiou a mão dentro do objeto e sibilou por algum motivo – argh! Frio! - levantou-se com algo em mãos e fechou a caixa.

Voltou para perto dos outros e estendeu uma garrafa de vidro marrom para Naruto. Este pegou o objeto e fitou-o em suas mãos, se perguntando para que servia aquilo. Trouxe para perto do nariz e cheirou, franziu o nariz com o cheiro amargo que sentiu e o afastou aquela coisa do rosto.

-O que é isso? – perguntou.

-Você nunca bebeu? – perguntou Shino, um pouco surpreso.

-Água. – respondeu inocentemente, fazendo com que todos ali soltassem um risinho.

-Então beba isso aí garoto – disse Kakashi, o tom de voz divertido. Minato, sentado ao seu lado, apenas continuou a observar seu filho atentamente - é apenas um pouco mais quente que água.

Naruto observou o objeto novamente e examinou a tampa de metal que envolvia o bocal. Se perguntou se teria problema abrir aquilo com a mão.

-Aqui, me dê, vou abrir par... – Hashirama não terminou a frase. O outro havia dado um pequeno peteleco da borda da tampa e está saiu voando com um grande “Ploc!”. – nada não...

O cheiro invadiu suas narinas e ele observou o líquido que parecia espumar dentro do recipiente. Sasuke provavelmente reprovaria aquilo, beber o que desconhecidos lhe ofereciam...

Entornou a garrafa e bebeu um bom gole do conteúdo. Ficou surpreso quando o líquido desceu sua garganta como ceda, pensou que assim como o cheiro, o gosto seria amargo. Bebeu mais um gole e lambeu os lábios.

-É gostoso. – disse simplesmente.

Algumas pessoas riram com seu comentário.

-Você nunca bebeu álcool, certo? – Hashirama parecia estranhamente curioso.

-Então é esse o nome? – olhou para a garrafa e depois de volta para o homem.

-Não queimou sua garganta? Geralmente, na primeira vez das pessoas, elas fazem careta com a queimação do álcool... – explicou.

Naruto negou com a cabeça

-Eu gostei – disse – parece um pouco com o gosto de pão... – as pessoas ao redor soltaram risinhos, se divertindo com a situação.

-Estranho... – murmurou consigo mesmo.

Deidara bateu palmas, chamando a atenção para si novamente e disse:

-Fomos interrompidos durante uma dúvida crucial, minha gente! – falou abertamente – Naruto, por favor no explique, porque sua resposta foi “leve”.

A criatura cruzou as pernas e depositou a garrafa com gosto de pão ao seu lado, voltando a pensar numa explicação.

-Não que a sua definição seja errada – aponta – realmente tem um sentimento de liberdade... mas... eu me senti livre de verdade, quando vocês nos tiraram de lá e eu pude sentir a terra nos pés pela primeira vez e o cheiro do vento. – sorriu distraído com a lembrança. – mas digo leve porque... eu me sinto leve. Sinto como se fosse apenas mais um dentre os milhares de grãos de areia que voam com a brisa... esqueço de tudo o que já aconteceu, esqueço quem fui e não penso no que pode vir a seguir... não penso sobre nada... fico vazio... – sorriu com suas próprias palavras – é bom.

Sasori deu um leve sorriso e Temari inclinou a cabeça para trás, fitando o céu. Kankuro fitava Naruto com um olhar diferente de antes. Minato parecia estar sorrindo de canto ao lado de Kakashi. Os outros apenas se puseram pensativos.

-Vocês realmente nunca haviam saído daquele quarto?! – Kakashi endireitou a postura rapidamente, mesmo com a máscara de sempre no rosto, parecia estar um pouco surpreso.

-Bom... eles levavam a gente à Sala de Hoke quando queriam nos treinar ou nos castigar. – explicou – tudo dependia do nosso comportamento e do humor deles.

-Castigar?! – exclamou Minato, de repente se manifestando pela primeira vez.

-Ah... Sim...

-Aquele monte de cicatrizes espalhadas pelo corpo de Sasuke...?! – acrescentou Kakashi.

Naruto abaixou os olhos, envergonhado. Assentiu para o homem de cabelos brancos. Kankuro estremeceu e abraçou os próprios joelhos, atento.

-Sasuke tem cicatrizes pelo corpo? – perguntou Sai.

-Foram bem tratadas e curaram perfeitamente, então não se vê direito... mas eu nunca vi alguém tão maltratado...

-Você! – Minato exclamou e se aproximou de Naruto, afobado – também foi castigado? – se inclinou sobre a criatura e agarrou-lhe a bainha do moletom, parando logo em seguida – posso? Por favor? – havia certo desespero em seus olhos. Naruto assentiu devagar.

Minato se afastou assim que a criatura lhe virou as costas e puxou o velcro da gola perto do moletom. Esticou um braço até alcançar as costas e terminou de abrir o moletom elaborado para suas asas. Retirou a peça e deixou os braços dentro das mangas, o tecido pendendo em seu colo. Inclinou-se para mais perto da fogueira e abriu a envergadura das asas, expondo suas costas e antebraços á luz.

-Que horrível... – ouviu Hinata dizer.

-Por que...? – sussurrou Minato, a expressão desolada.

Kakashi observou com atenção as poucas cicatrizes que Naruto tinha. Algumas apenas se mostravam em um minúsculo e imperceptível rastro de que existiram, outras foram bem cuidadas então apenas se via minúsculas e finas linhas que refletiam a luz. Mas havia quatro... não! Cinco marcas avermelhadas bastante sobrepostas na pele, onde o ferimento foi fundo o suficiente para que a cicatrização tomasse outro processo. Não viu marcas de queimaduras como viu espalhadas pelos ombros de Sasuke. Aparentemente o chicote de couro foi a forma mais prática de punição que eles encontraram.

-Por que você tem menos que Sasuke? – perguntou Kakashi, calmo e sereno como sempre.

Naruto endireitou as costas e Minato o ajudou a recolocar o moletom, tomando um cuidado exagerado com suas asas.

-Acho que para vocês entenderem bem o porquê, devo contar por tudo o que ele passou... – olhou em volta, para rosto de cada um, buscando qualquer expressão que lhe dissesse que não deveria contar o que estava para dizer. Ninguém se opôs. – pois bem... ahm... eu acordei de um coma induzido com sete anos e duzentos e quarenta e oito dias de vida. Sei disso porque eles me contaram, mas já não sei quantos anos eu tenho... – passou a fitar o fogo e lembrou-se de Itachi que ainda estava no telhado, forçou-se a continuar mirando as chamas. – mas com Sasuke foi diferente. Desde o momento em que ele nasceu, foi posto naquele quarto. E lá ficou.

-Um bebê! – Kakashi já não parecia mais calmo, estava com os olhos arregalados, horrorizado. Todos ali tinham uma expressão parecida com a sua.

-Três vezes ao dia ele era alimentado, e testado. – continuou, lembrando-se de tudo que lhe contaram, tanto Sasuke quanto os carcereiros. – mesmo sendo um recém-nascido, a cada sete dias ele era obrigado a ingerir algo impróprio... ácido... veneno... o que eles preferissem, para que com o tempo ele se tornasse imune a eles.

Um punhado de pessoas ofegou e estremeceu. Naruto viu de canto de olho o homem no telhado fechar a mão em punho sobre a barriga.

-Não sei se Kakashi contou como que era o sistema do quarto onde vivíamos...

-Ainda penso que nunca senti tanto frio na minha vida... – comentou o homem de cabelos brancos.

-Dentro das paredes havia um sistema de aquecimento e esfriamento criado por eles. – explicou - Os dias eram quentes e as noites, frias.

-Mas não era um friozinho tranquilo não... – murmurou Kakashi para as pessoas ao seu lado.

-Aquele sistema tinha dois objetivos – Naruto fitou o rosto de Minato enquanto falava – impedir que cometêssemos suicídio, pois sabiam que não mataríamos um ao outro e – se inclinou sobre a fogueira e agarrou um punhado de cinzas e brasas, esmigalhando-as a fechar a mão – nos tornar resistentes a altas e baixas temperaturas.

Minato não conseguia se mover. Tudo aquilo – que do ponto de vista de Naruto aparentava ser apenas o começo – o aterrorizava. Por que haviam feito aquilo? Com crianças! Não era humano. E agora que descobrira que tinha um filho, o pouco que conversaram, pensou ser apenas um sobrevivente de atos horrendos. Mas agora sabia que, ele nunca foi seu filho. Ele nunca esteve lá para ajudar, nunca soube de seu nascimento, nunca teve a chance de vê-lo dar os primeiros passou ou de dizer sua primeira palavra, nunca poderia defendê-lo na escola, nunca poderia ajudá-lo com as tarefas de casa, e nunca iria poder ensiná-lo a arte ninja – ninjutsu. Talvez agora entendesse o que Fugaku quis passar ao dizer que Sasuke não era seu filho, e sim uma abominação.

Mas Minato era egoísta. Mesmo com tão pouco tempo passado ao lado da criatura angelical, já sentia amor por ela. Queria poder abraça-lo e lhe dar um ombro para chorar... mas não era assim que funcionava.

-Sasuke quase morria todos os dias. – lamentou o loiro para o vento – pegou hipotermia centenas de vezes, sendo salvo simplesmente pela mudança de temperatura do quarto. As vezes em que teve ataques de convulsão por choque térmico... ele perdeu a conta... – viu o vulto se remexer no telhado, se inclinando para mais perto da luz, tentando ouvir melhor. – a quantidade de enxertos que teve na pele por queimaduras de frio e calor...

-Por que ele está vivo? – a pergunta veio de cima, da criatura empoleirada na borda do telhado. Naruto não via o homem direito devido à luz da fogueira que jorrava em seu rosto. A voz era grossa e jovem.

-A princípio ele não queria estar... disse-me implorava todos os dias para que o deixassem morrer em paz... até ele parar de falar por completo – disse para o homem enquanto fitava as curvas da fumaça que o cigarro de Sarutobi formavam no ar – depois que acordei, disseram-me que eu não ficaria sozinho. Eu não sabia falar e não entendia o que diziam, mas gravei as palavras na mente... – Naruto suspirou e sentiu os olhos arderem. Não... não podia chorar. – “primeiro venha aqui que vamos lhe deixar familiarizado com sua personalidade”... foi o que me disseram antes de me mostrarem algumas rápidas gravações... – ouviu alguém ofegar e se controlou para não morder a língua com desgosto à lembrança.

Silêncio. Hinata se aproximou de Naruto por trás e depositou a mão em seu ombro e disse:

-Não precisa falar... – a voz fina e o hálito quente foram para seu pescoço, mas ele não sentiu nada. Ele se virou para ela e lhe deu um sorriso fraco, mas seus olhos estavam marejados de dor.

-Eu preciso... – sussurrou, a voz presa na garganta - é sufocante... d-dói...!

Hinata afagou-lhe o braço, e lhe deu um pequeno sorriso encorajador.

Naruto virou-lhe o rosto e fechou os olhos. Respirou fundo antes de continuar.

-H-Havia muito sangue... muitos machucados... – choramingou – as palmas das mãos e dos pés eram carne viva, tinha uma das asas totalmente t-torta... as garras foram arrancadas para não se machucar... – não se importou quando as lágrimas começaram a escorrer pela face – e era obrigado a usar uma máscara de metal enferrujado na b-boca para não arrancar a própria carne com os dentes... os dedos das mãos e dos p-pés eram pretos pela falta de circulação de sangue causada pelo frio, os olhos estavam injetados de sangue e as costelas apareciam pela falta de nutrição e de exercícios... n-nunca o vi tão fraco... – soluçou esta ultima parte – o-os ossos e os órgãos enfraqueceram por causa dos... dos v-venenos... não falava... não berrava... não chorava mais... era um a-animal... – tinha a voz esganiçada pelo esforço de falar.

Todos estavam em silêncio. Todos tinham medo de dizer a primeira palavra, e de dizer algo errado. Notava-se que todos ali procuravam por uma maneira de consolar a pequena criatura. Mas como?

Minato se mexeu, indo em direção à criatura que havia envolvido os próprios ombros com as asas, procurando conforto.

-Naruto. – Minato estacou de joelhos no chão e olhou por cima das imensas asas do filho.

Sasuke estava em pé sobre a amurada com as asas semiabertas. Viu apenas o contorno de seu corpo antes que ele pulasse para dentro do terraço e se encaminhasse lentamente até Naruto, que o fitava por entre as penas que escondiam seu rosto e corpo. Kankuro abaixou os olhos assim que ele passou e se afastou um pouco do centro da conversa.

Sasuke se interpôs entre o amigo e Hinata – que há pouco tinha uma mão nas costas do outro, em consolo – e se pôs de cócoras. As asas recolhidas, mas ainda assim imensas, tapava a visão de algumas pessoas, que discretamente tentaram mover-se para ver a cena que se desenrolaria.

-Naruto. – chamou novamente. O loiro se limitou a mexer os ombros discretamente. – não estou bravo. – os ombros pararam de se mover – não vai terminar de contar o resto?

Naruto levantou a cabeça e afastou as asas do rosto. Tinha os olhos inchados e a íris estava vermelha sangue. Aparentemente aquela história havia mexido mais consigo do que imaginava. Sasuke tinha a expressão calma e silenciosa.

O loiro negou com a cabeça e lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos. Deixou-se pender para frente e a apoiar a testa no peito de Sasuke, que envolveu seus ombros com um dos braços.

-Devo terminar então? Por você? – sussurrou-lhe no ouvido, vendo alguns fios dourados da nuca levantarem. Naruto assentiu contra seu peito, enxugando o choro em seu moletom. – pois bem.

Para a surpresa de todos, – que souberam por rumores de que Sasuke era um ser rude e quieto, dando atenção apenas à única pessoa com quem se importava, tornando-se uma pessoa completamente diferente quando algo lhe acontecia – Sasuke pegou as mãos de Naruto e virou-lhe as costas, esticando as asas no chão e tomando cuidado para não esbarrar em ninguém. Puxou Naruto para si e deixando-o se envolver em suas costas, as asas de anjo tapando as laterais de seu corpo que ainda estremecia de leve com o choro. Balançou a cabeça para esconder um pouco dos chifres com as mechas negras do cabelo e suspirou. Fechou os olhos e disse:

-Você perguntou por que eu ainda estou vivo. – se dirigindo ao homem sob o telhado, que apenas assentiu com a cabeça para o nada – eu estou vivo por causa dele. – apertou as mãos que envolviam sua cintura e voltou a falar – eu estava na beira do abismo da loucura, e desejava com todas as minhas forças, pular lá dentro. – levantou a cabeça e deixou que o calor da fogueira fosse em seu rosto. – costumava implorar para que me matassem e eu finalmente pudesse me ver livre disso... mas eles simplesmente riam de mim e da minha condição.

Todos ali haviam se aproximado mais ainda, de repente o medo da criatura foi substituído pelo interesse. A estranha atitude de Sasuke não coincidia com as que ouviam pelos corredores.

Gaara e Sarutobi foram os únicos que permaneceram mais ao longe, encostados na parede da amurada.

-Um dia durante o pico do dia, que é quando há a primeira troca de temperatura no dia, quando o quente começa a finalmente esfriar – explicou rapidamente - eu acordei de uma febre alta, e ele estava lá. Com os pés descalços no chão morno e com uma pequena caixa de plástico nas mãos, cheio de coisas para colocar nos meus machucados, que não eram poucos – riu de desgosto com a última frase – ele era menor que eu e estava limpo da cabeça às pontas dos dedos dos pés. Me olhava curioso e estava quietinho, com medo de abrir a boca. – sorriu de leve com a lembrança e afagou as mãos em sua cintura. – o que você disse? – dirigiu-se ao amigo às suas costas.

O loiro levantou a cabeça, já não chorava mais e parecia atento ao relato.

-Nada. – disse simplesmente – eu sentei ao seu lado e fiquei te olhando.

Animus viu Sai passar o braço pelos ombros de Ino, que parecia um pouco desconfortável em estar em sua presença, pois não largava o pequeno cordão de ouro atado em seu pescoço.

Forçou-se a não rir da sua situação. Não ajudaria em nada ali.

-A princípio achei que fosse me machucar mais, então me mantive quieto e esperei – murmurou, os olhos fitando as chamas que se agarravam à madeira – mas ele apenas me olhou. Eu perguntei seu nome, e essa foi a única coisa que ele entendia: nome. E para isso ele tinha resposta... “Naruto” me disse. – passou a mão pelos cabelos, um som áspero se fez quando correu as unhas por acidente nos chifres – mas o que mais me surpreendeu foi que ele era parecido comigo...

Naruto sorriu de leve com a primeira lembrança dos dois e apertou os braços em Sasuke.

-Não sei bem o porquê, mas deixei que cuidasse de mim. Limpou meus ferimentos... endireitou minha asa... enfaixou meus pés e mãos... e retirou a máscara que fechava meu maxilar. – descreveu tudo como se tivesse sido no dia anterior – deu-me de comer e beber.

Minato observou o pequeno sorriso nos lábios de Naruto e se permitiu relaxar um pouco.

Kankuro permanecia por perto, mas fora do campo de visão de Sasuke. Estava pensativo.

-Foi bastante consideração sua se mover devagar e de uma maneira que eu pudesse acompanhar tudo – comentou Sasuke para o amigo.

Naruto deu de ombros e se escorou nas costas do outro novamente.

-Com o tempo lhe ensinei as palavras e a escrever, passávamos os dias tentando conversar... – contou – sempre que o levavam para fora da cela eu me desesperava, pensava que ficaria sozinho novamente. Mas ele sempre voltava, em dois ou três dias depois... com alguma parte do corpo enrolada por bandagens.

-Passamos os dias e dias cuidando um do outro, temendo um pelo outro... tirando uma ou outra coisa que um não gostava que o outro fizesse... nosso relacionamento era tranquilo. – disse Sasuke.

-Mas é claro que havia coisas que eu não gostava que você fizesse! – exclamou Naruto de repente, endireitando a postura e quase fazendo com que a fogueira se apagasse ao abanar as asas com indignação. – quando eu fazia algo errado você pedia para ficar no meu lugar no castigo!

Sasuke revirou os olhos e girou um pouco o corpo, mirando Minato e se dirigindo a ele agora.

-Você acha errado o que eu fiz? – perguntou, fazendo com que o outro arregalasse os olhos de surpresa e se virasse para Kakashi em busca de ajuda – ser espancado e chicoteado no lugar dele?

-Mas é claro! – interveio Naruto, salvando Minato de ter que responder.

-Que não! – Sasuke suspirou, forçando-se a baixar o tom de voz novamente – eu já estava acostumado desde o momento em que nasci em ficar aos pedaços. Nada de mais ia acontecer comigo...

Naruto puxou os braços brutamente e se levantou irritado. Rosnou baixinho para Sasuke, um som que soube na hora que significava “não me siga”. Abriu as asas majestosas – ignorando alguns suspiros que ouviu ao seu redor – e com uma única batida forte, elevou-se ao ar... acabando por apagar o fogo. Akamaru soltou um alto latido de surpresa e se levantou rapidamente, afobado, derrubando todos ao seu redor. Kiba chamou-o e este se sentou ao seu lado e acalmou-se em segundos.

As batidas das asas sumiram rapidamente, assim como seu dono.

Sasuke suspirou cansado e se inclinou para trás, apoiando os cotovelos no chão e passando a sustentar seu corpo com os braços.

-Alguma pergunta? – murmurou para o círculo de pessoas ao seu redor.

Silêncio e entreolhares. Sasuke suspirou e começou o movimento de se levantar.

-E sua família? – a pergunta veio de cima. Observou o vulto que sabia ter o nome de Itachi, pois o ouvira há pouco, em pé em cima do telhado e prestou mais atenção na criatura, não parecendo nem um pouco surpreso com o que viu ou ouviu.

“Mais um...”, suspirou mentalmente.

-Dane-se – disse simplesmente e com um único impulso, içou-se para cima.

 


Notas Finais


BOM, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO <3 DE VERDADE, E POR FAVOR COMENTEM E NAO ESQUECE DE FAVORITAR <3 bjo p/ todos e todas


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