1. Spirit Fanfics >
  2. Misfit >
  3. O Som Do Silêncio

História Misfit - O Som Do Silêncio


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


OIEEEEEE

~nasce das sombras~

Sejam bem vindos a Misfit \o/
Acho que todos já ficaram cientes do que aconteceu mas qualquer duvida podem vir falar comigo, sim? <3
Vocês provavelmente notarão centenas de correções e mudanças e espero que aprovem todas elas, pois me esforcei para melhorar a fanfic (espero de vdd que gostem das mudancas)
Aos novos leitores, espero que gostem e deixem um comentário > . <

~Moon

Capítulo 1 - O Som Do Silêncio


Fanfic / Fanfiction Misfit - O Som Do Silêncio

 

 

Misfit

 

 

Capítulo 1 - O Som Do Silêncio

 

 

 

Misfit- Desajustado.

 

[1] Considerado diferente dos demais.

 

[2] Que não se ajusta/molda/ que não serve.

 

[3] Que não se encaixa nos padrões.

 

                                                                                        

 

          

             "Apenas a história de um amor certo, que aconteceu no tempo errado"

 

                                                                                             

 

 

 

 

 

 

Park Chanyeol.

 

Era este seu nome.

 

Lembro-me de repetir diversas vezes o par de palavras, enquanto meus olhos metediços prendiam-se na figura estirada na carteira.

 

A cadeira era singela, assim como a maioria dos móveis que seguiam-se e emolduravam nosso redor, assim como as condições que aconteciam em minha vida, ou na dele.

 

Singelas.

 

Notava como suas íris apáticas e foscas observavam quase que entediadas a cena que fazia-se perante à sala de aula.

 

Eu suspirava já cansado, como se aquilo não fosse findar-se jamais, pois era o que parecia, como se cada parte ou mais do metal duro que forjava aqueles ponteiros acima de nossas cabeças simplesmente pesasse o triplo, endurecendo-se e tardando a passar.

 

O tempo escolar era algo que sempre estaria confuso e desagradável em minha mente, talvez porque, boa parte deste, eu passasse com os olhos fechados, literalmente dormindo ou jogado pelos cantos. Quero dizer, não me julguem mal, embora eu mesmo o faça, hoje, que paro para avaliar e observar após tantos anos, mas não sei bem dizer.

 

Eu tinha preguiça de muitas coisas e, às vezes, sentia que tinha preguiça até de ter preguiça.

 

Park Chanyeol... Por quê?

 

Recordo-me da voz de timbre agudo de nossa professora, que repetia frases previsíveis, prontas, vomitando-as sobre o corpo de proporções desproporcionais do adolescente de idade semelhante à minha.

 

Desproporcionais pois o pouco que sabia de si escorria entre beiradas de minha mente e afinava-se até tornar-se uma linha demasiada tênue, maratonista na coluna das costas largas e levemente curvadas que sempre adentravam aquelas portas níveas em manhãs que, por ventura, eu encontrava-me de olhos abertos.

 

 Park Chanyeol parecia tão enfadado quanto eu, lembro-me de repousar a visão em suas pernas longas e levemente tortas, lembro-me também de como o movimento constante das mesmas deixara-me incomodado.

 

O discurso fadigoso da senhora já de idade, a qual não me vem à mente o nome, fora abruptamente interrompido quando um par de inspetores apareceu rente ao batente da porta.

 

 Chanyeol fora erguido pelos braços com força, talvez necessária para aquele seu tamanho todo, já que, ao que me lembro, embora né... já não lembro-me de muita coisa, sempre fora grande, desde que o encontrei pela primeira vez, excluído em um canto, ele não olhou para mim, na verdade, ele não olhava para ninguém.

 

Mas sabia que seus olhos eram frios e cortantes porque talvez ele desejasse que a gente morresse, sei lá, o que passava-se em sua mente era incógnito, mas aos meus quinze anos, gostaria de chutar que o garoto mais esquisitão da escola vivia um dilema entre se matar ou matar todos ao seu redor.

 

E comigo era mais ou menos a mesma coisa.

 

 Vira seu rosto contorcer-se em uma careta de dor, talvez pela brutalidade aplicada, mas olha, os inspetores eram grosseiros, chatos mesmo, daqueles que passam do seu lado no corredor e parece que a única coisa que almejam é botar as mãos em você e te levar para a sala do diretor.

 

 Alguns alunos, tão curiosos quanto eu, também fitavam os acontecimentos de longe, mergulhados em seus próprios silêncios e reflexões. Deviam pensar em como o garoto alto era sempre tão inconsequente e mal criado, ou talvez nem pensassem nada, talvez pensassem em seus deveres e tarefas de casa.

 

 Eu observava tudo com apenas o canto dos olhos e com meus ouvidos.

 

 Aquela cena repetia-se quase que todo dia.

 

 Sempre Park Chanyeol.

 

 Naquela época, minha carteira ficava ao lado da porta branca de entrada.

 

 Da sala branca.

 

 Como a mesa branca.

 

 Como as roupas brancas.

 

 Como tudo ali.

 

 Branco.

 

 Menos como um ruivo de madeixas bagunçadas, coturnos encardidos de terra e sorriso fácil. Não, Chanyeol era de uma negritude única jamais vista antes, escuro em tudo que fazia.

 

 Se acreditasse muito, talvez até seus dedos escurecessem o que quer que tocassem.

 

 Ou pelo menos, era o que eu pensava naquele tempo.

 

 Enquanto ele era arrastado a passos pesados para fora da sala, permiti-me erguer levemente a face, apenas por breves segundos.

 

 Lembro que meus olhos cruzaram-se com os daquele garoto, porém, não lembro-me do que sentira.

 

Infelizmente, não consigo recordar-me do que senti quando coloquei pela primeira vez meus orbes sobre as íris cinzas e dissimuladas de Park Chanyeol.

 

Mas acho que ele tinha olhos bonitos.

 

Daqueles que você pode se perder sob.

 

E eu?

 

Eu me perdi.

 

 

X

 

 

Quando pequeno, eu era levado que só vendo, daqueles pirralhos que a avó nomeia de espertinho e a mãe não reluta em dar umas boas sovas nas orelhas.

 

Talvez fosse por isso que me permitia, uma vez por mês, rondar até tarde a escola, por mais que fosse proibido segundo o toque de recolher.

 

Era apenas um pequeno prazer que me dava desde muito pequenino, um breve momento de adrenalina em minha vida tão fatídica, certo período de minutos em que fazer algo errado perante as regras, parecia certo.

 

Fora em um desses momentos de luxo e, após ouvir um som irritante de spray, que me peguei a observar, ainda assustado, Park Chanyeol pichar a parede branca do portão de trás da escola.

 

Poderia parecer uma cena trivial para qualquer um que a visse, pois até era, mas para mim, aquele derrotado que, vez ou outra, anotava algumas coisas da lousa, estar de frente, digo, literalmente cara-a-cara com o demente da escola, enquanto ele espalhava tintura pelas grades, era algo que merecia atenção.

 

Ele merecia atenção.

 

A princípio pensei em sair dali o mais rápido que meus pés me permitiriam correr, porém, no instante em que seus olhos pousaram sobre mim, meu corpo simplesmente congelara, pregando-se no chão.

 

Era como se seus orbes profundos pudessem ver através de minha alma, e talvez até vissem, pois naquela época de pouco eu sabia, especialmente quando se tratava de Park Chanyeol.

 

Ele dedicou sua atenção a mim durante breves sete segundos, lembro-me de contar a infinidade deste número primo antes mesmo de encontrar-me com os olhos prateados.

 

Eles passearam por meu rosto, em choque, depois por meus lábios, judiados pelos dentes, descendo pelo meu pescoço, coberto pelo cachecol felpudo, minhas pernas, escondidas entre as roupas de tecido impróprio para o clima, mas que naquela época não me incomodavam.

 

Ele fora breve em seus sete segundos.

 

Eu, já não pudera ser breve em meus, pois permanecia travado nas íris acinzentadas.

 

O ruivo então riu com aquele sorriso de lado ao qual nunca me esqueceria, nem em milhões de anos, era um sorriso que parecia zombar das situações, zombar de mim, parado feito uma porta na frente de si.

 

E por fim, voltou-se para às latinhas amassadas de spray, cobrindo ainda mais o branco das paredes.

 

Recordo-me de franzir o cenho, confuso, e em minha mente, diversas perguntas nasciam e morriam antes mesmo de serem transformadas em palavras, talvez porque eu sempre fora alguém que tinha a tendência de pensar muito, desejar falar muito, mas ficava quieto por medo do que podia acontecer. Quero dizer, nunca falavam muito onde vivíamos.

 

E se eles não falavam? Bom, então eu não falava também.

 

Porém, eu senti, enquanto observava o vândalo, que precisava intervir, precisava fazer algo, era meu papel como cidadão de bem.

 

(De bem).

 

"Por que está fazendo isso?" Questionei-o em bom tom, mas não fora suficiente para chamar sua atenção.

 

Ele nem se quer dera-se o trabalho de me responder, continuou a tarefa que parecia realmente muito agradável, prosseguindo com o barulho nem um pouco baixo.

 

"Ei!"  Impliquei "Estou falando com você! Por que está pichando o muro? Isso é err-"

 

"Por que está vestido assim?" Ele me interrompera.

 

Fora esta a sua primeira frase dirigida única e exclusivamente para mim.

 

E também não me lembro do que senti ao ouvi-la, moldada em uma voz afetada pelas mudanças da adolescência, levemente desafinada e grave.

 

Juro que tenho certa curiosidade, acerca das plantas que cresciam dentro de mim durante os momentos que passava ao seu lado logo após trocar meias palavras consigo, pois eram rosas, hortências, margaridas, lírios e dentes de leão que, mesmo que desconfortáveis, sempre seriam importantes.

 

Eu só não possuía noção disso na época.

 

Sua pergunta fez-me olhar para mim mesmo, vendo as peças de malha grossa e fechada, pintada por tons níveos e entediantes, acho que eram minhas faziam-se anos, ou não, já que eu nunca seria capaz de diferencia-las.

 

"O-o quê quê tem?"

 

"Você gaguejou."

 

Ah, nada passava despercebido por aqueles olhos cinzas, por aquelas íris tão profundas, por aquela aura terrível e desconhecida.

 

Tão...tão pesada.

 

Prendi o ar, subitamente minhas roupas diárias pareciam um pouco desconfortáveis, um feias, um pouco enfadonhas.

 

"Isso não te interessa! Não é porque eu não me visto como um marginal que eu-" Tentei revidar, mas adivinhem? Era inútil.

 

"Shh..." Ele levou os dedos já um pouco sujos de tinta até os lábios, enfim olhando para mim.

 

Os olhos prateados pregaram-se e em cada parte de meu rosto, passando por ali, como se pudessem sentir o cheiro de medo contido em cada poro.

 

"Vamos, tagarela, responda minha pergunta."

 

"É a roupa que todos devem usar." Justifiquei-me, após alguns segundos.

 

Queria respirar e ele simplesmente parecia tornar isso impossível, pois talvez por uma questão ridícula, minha mente já havia colocado Park como alguém superior a mim, devia ser por este mesmo motivo que minhas mãos suavam frio e minha língua, tão insistente, deslizava entre beiradas de carne labial, não poupando mordidas nervosas.

 

“É a roupa que querem que a gente use...” Finalizei.

 

Naquela época não sabia que nunca deveria responder Park Chanyeol de forma simples, fazia parte de sua essência ser complexo até nos mínimos e banais detalhes.

 

Nas conversas de domingo, na troca de olhares conhecidos, ele conseguia ser abstruso até no "pouco caso".

 

"Quem disse isso?" Riu.

 

Suas mãos grandes e com poucas veias passavam pela parede, escrevendo frases que nunca havia me deparado antes, frases que só ele conhecia.

 

"Meus pais...?" Respondi-lhe sem pensar muito.

 

Até porque era verdade, meus pais diziam aquilo, meus pais diziam muitas coisas, mas essa era uma das poucas que eu obedecia.

 

Fora que todos na instituição usavam as mesmas vestes.

 

Por que comigo seria diferente?

 

"E você gosta?"

 

"Do quê?"

 

"Dessas roupas."

 

Refleti por alguns instantes...

 

Eu gostava das roupas que usava?

 

Certamente elas eram um pouco quentes, talvez ultrapassadas se comparadas ao moletom e jeans negros de Chanyeol, com alguma camisa de banda desconhecida.

 

Mas havia de fato algum problema nelas?

 

"E-eu não ligo para isso." Murmurei.

 

"Por que não?"

 

Perguntas e mais perguntas e aquilo já se tornava irritante.

 

Não havia dito a vocês? Ele era tão exclusivo...

 

"Ai chega de perguntas cara... Você não sabe fazer outra coisa?" Revirei os olhos achocolatados.

 

"Como você pode ver, eu sirvo pra pichar também." Brincou, mas eu não vi graça alguma.

 

"Você só serve pra vagabundear." Confessei pensamentos que já vinham de anos.

 

"E você não serve nem pra responder."

 

"Se você não percebeu você não respondeu minha primeira pergunta até agora."

 

Ele riu,  um riso misterioso.

 

Um riso preenchido por pequenas coisinhas que eu nunca poderei dizer o que significavam.

 

Só ele.

 

"Gostei de você garoto."

 

Lembro que senti certo medo de suas palavras, talvez a forma em que foram colocadas ou quem as pronunciara, meus olhos arregalaram-se e a saliva faltou.

 

O garoto mais esquisito do colégio estava me dizendo aquilo?

 

"E a minha resposta é: porque eu quero."

 

"Mas é errado" lhe falei, ainda tão ingênuo.

 

"E...?"

 

"Você vai levar uma bela surra." Dei de ombros, me apoiando na parede "Não sei como não cansa.”

 

"Digo o mesmo, não sei como eles não cansam."

 

"Porque eles querem te tornar uma pessoa melhor, não consegue ver isso? Eles se esforçam e você fica ai sendo um vagabundo."

 

Respondia sem pensar, sem filtros e sem muito respeito, até porque, ele parecia partilhar o mesmo sentimento de estranheza, simultâneo ao pouco caso.

 

Fora que eu não tinha medo dele.

 

Ok, eu tinha, mas vamos deixar isso em segredo.

 

"Você age assim porque na verdade queria ser igual a mim." Riu convencido.

 

“Como?” Cerrei os olhos para aquele que me desafiava, sentindo minha garganta travar.

 

Ele aproximou-se, com aquela sua altura e corpo todo, e rindo daquele jeito, com aquelas orelhas ridículas e aspecto de idiota, mas que eu não odiava, apenas acreditava ser tão aleatório quanto meus fins de semana,  e eu pude ter o desprazer de sentir seu cheiro.

 

Sim, desprazer.

 

Maldito cheiro de Park Chanyeol que insiste em permanecer até hoje em minhas narinas, assombrando-me e fazendo-me recordar de lembranças e sentimentos confusos, um cheiro que era suavemente bom, devo admitir, ele nunca usara perfumes fortes, aqueles com fragrâncias marcantes que você pode reconhecer de longe, talvez até nem usasse perfume, e o odor suave e amadeirado fosse próprio seu.

 

"Nunca." Cruzei os braços, tendo de erguer o rosto para o garoto ruivo.

 

Ele era tão alto que chegava a doer.

 

Não era algo bizarro ou anormal, não, de fato não era, mas se comparado com outros alunos ou professores, ele era, sem dúvidas, o mais alto, tal sua característica singular de curvar-se para passar na porta.

 

"Vai, admite, seu bosta." Face com face.

 

Seus olhos cinzas me deixavam atordoados, até hoje sinto minhas pernas falharem quando penso neles.

 

E o coração também.

 

"Admite que nunca conseguiria ser igual a mim."

 

"Por que eu me tornaria algo inferior?" Desafiei, colando os corpos.

 

Novamente seu sorriso sarcástico lhe moldara o rosto, e eu sentia que estava brincando com fogo.

 

Com um fogo muito, muito quente.

 

Que, sem via de dúvidas, não tardaria em me queimar, de ponta à ponta.

 

"Duvido você pichar a parede."

 

E ele riu, soltando aquele desafio no ar para alguém que, céus! Ficava vez ou outra na escola até tarde e quase se cagava de medo.

 

Eu era um bostinha medroso e ele era um desordeiro que estava mandando-me depredar o colégio, não era uma situação nada agradável, confesso.

 

Abri a boca rapidamente, incrédulo com seu pedido, aquilo era errado.

 

Era muito errado.

 

Eu não fazia ideia do que poderia acontecer comigo caso fossemos pegos e não tinha a mínima curiosidade de saber.

 

Quero dizer, todos nós sempre temos alguma noção, mesmo que mínima sobre o que rola entre quatro paredes de uma sala de diretoria, era só que, no meu caso, eu realmente não sabia.

 

Como dito antes, eu era uma pessoa de bem!

 

Era.

 

Mas tão grande quanto meu medo, quando sua voz um pouco grave ditou aquilo, apenas meu orgulho, e fora por isso, que naquela tarde de terça feira, no horário ilegal, eu deixei que meus dedos levemente trêmulos agarrassem a latinha de tonalidade azul.

 

Com a praga dos olhos cinzas que era Chanyeol me fitando de perto, apertei o objeto contra a parede, espalhando o spray, mantendo meus olhos fechados, literalmente, cagado de medo, tão ridículo que era capaz de ouvir os risinhos baixos ao meu lado.

 

Admito que eu adorava provocar, mas Chanyeol pedia para ser provocado, irritando-me daquela forma.

 

Só de lembrar-me do ocorrido meu coração já bate mais forte, imagine então quando possuía apenas quinze anos, sem nunca ter feito uma bobagem, uma burrada, uma merda errada.

 

Adolescentes sempre querem fazer isso né? Costumo dizer que quinze é a pior idade, esse negocio de hormônios é algo realmente tenso e que, obviamente, me afetava demais. Não seria algo excepcional, mas o fato de ter que passar desodorante de manhã no frio, ou sentir mais sono do que palavras podem dizer, uma depressão característica lá por agosto, medo de algumas bobagens e, de bônus, espinhas e cravos inconvenientes  pra lá e pra cá, o fazia ser.

 

Antes, ficar na escola durante o horário ilegal era quase que algo impensado, algo que já fazia minhas pernas fraquejarem e as mãos tornarem-se suadas.

 

E, se eu soubesse as loucuras que faria junto a Chanyeol no futuro, pichar a parede seria fichinha.

 

"Você é mais interessante do que-"

 

Porém, até hoje nunca descobri sobre o que eu era mais interessante, pois fomos interrompidos, por um apito agudo e conhecido.

 

Muito conhecido.

 

Se eu pudesse classificar o medo que senti quando ouvi o ruído, seria algo entre oito ou nove, numa escala de zero à dez.

 

Pude ver Chanyeol praguejar baixinho, antes de sorrir de soslaio para o inspetor, como se dissesse "olha, você de novo."

 

Não foram necessárias palavras, senti meu braço ser agarrado com força pelo homem vestido de branco e comecei a gritar antes mesmo de ser puxado.

 

"Por favor, me solta!! Isso é um engano!! eu estava tentando impedir ele, por favor me solta, eu não fiz nada!!"

 

Eram os pedidos feitos por mim, eu implorava, enquanto tentava inutilmente me soltar, entre gritos, como uma garotinha colegial.

 

O que meus pais pensariam de mim?

 

Era a segunda maior dúvida que passava pela minha mente, a primeira era o que iria acontecer comigo na sala da diretoria.

 

Eu me lembro.

 

Disso eu realmente me lembro.

 

Lembro que enquanto éramos arrastados pelo corredor e eu permitia-me chorar sem parar feito um bebezão, Chanyeol mantinha seus olhos cinzas pregados em mim, na época, eu não entendia o que poderia significar aquilo.

 

Na época eu não entendia o que era ter Park Chanyeol com os olhos pregados em você.

 

 

X

 

 

Fomos levados para a sala do diretor, como eu podia esperar.

 

E eu não me recordo de muita coisa, só sei que sua fala fora curta e direta:

 

"Senhor Park, senhor Byun, é bom que me deem um bom motivo para eu poupar vocês." Fitava-nos por trás dos óculos embaçados.

 

E como esperado, nenhum de nós pronunciara uma palavra se quer.

 

Fitei o ruivo de soslaio, notando que assoprava uma mecha de seu cabelo de fogo, caída entre os olhos, agindo aleatoriamente.

 

Na hora, senti um ódio mortal de Chanyeol, afinal, fora ele que me colocara naquela situação!

 

Um miserável, isso sim.

 

Aprendi naquela tarde de sábado que a escola era muito mais atroz do que eu poderia imaginar.

 

Prefiro não lembrar, embora seja quase impossível esquecer-me das cenas rápidas, quase que flashes que passam por minha mente.

 

Joelhos no chão.

 

Mãos na parede.

 

Torso desnudo.

 

E boas chicotadas.

 

Eu podia ouvir as frases de ódio do diretor, centenas delas, recordam-me de uma em especial.

 

"Preste atenção Byun, se algo esta bom é porque certamente está errado."

 

Depois não prestei mais atenção em suas palavras, lembro-me de ver uma última vez Chanyeol dar um sorriso carregado de dor enquanto era machucado ao meu lado, e depois, mergulhado em minhas lágrimas, desmaiei.

 

Acho que ele me disse algo sarcástico que eu fora incapaz de ouvir...

 

Mas o que quer que tenha sido, já não importa mais.

 

Eu ouviria muitas coisas sarcásticas de Chanyeol dali pra frente.

 

Naquela noite eu demorei-me para dormir.

 

Não porque minhas costas queimavam, muito menos pela surra que levara de meu pai.

 

Mas sim por um par de olhos cinzas, profundos.

 

Chanyeol possuía o mar naqueles olhos, não que fossem azuis, não, de fato não eram.

 

Mas eles puxavam-me para si de forma repetitiva, como uma forte onda.

 

E eu tinha certeza que toda aquela água salgada era capaz de abrir feridas maiores que meras chicotadas.

 

 

X

 

 

Fora numa quinta feira de inverno que me encontrei com ele pela segunda vez.

 

Acho que como vocês já devem ter notado, essa história não possui começo, nem meio, nem fim e não é marcada por datas.

 

Gosto de contar apenas o que interessa.

 

Até porque, o que não interessa eu já nem lembro-me mais.

 

Ele era da minha sala, porém, faltava nas aulas e quando dava as caras, aparecia cheio de hematomas, roxos nos olhos e vergões no pescoço, que me lembravam de meu primeiro episódio na diretoria, pois acredite, aquela não seria a última vez.

 

Eu estava sentado no terraço, um lugar relativamente isolado, e comigo ali se tornava ainda mais vazio, afinal, ninguém queria ficar perto de um "encrenqueiro", como fiquei conhecido naquele lugar após a cooperação de certa pessoa.

 

Mentalmente, xingava o ruivo por destruir meu penúltimo ano no colégio, mas quando pensava sobre os anos vividos ali percebia que realmente não aconteceram muitas coisas agradáveis.

 

Quero dizer, a escola até pode parecer um lugar legal, bonito, limpo, cheio de pessoas divertidas e professores interessados, se fosse esta a realidade.

 

O que não acontecia.

 

Na maior parte dos casos, meus dias resumiam-se em reclamar da vida, pensar mal dos outros, dormir e fazer qualquer coisa que me mandassem fazer.

 

Era bem patético, mas também era bem cômodo.

 

Porque, o que quero dizer é que a escola parecia formar-se apenas de status, você pode dizer "a, mas isso de panelinha é bobagem", mas não é, assim, ser popular sempre pareceria algo superestimado e que não passa de grande merda, mas todos queremos ser. Não é legal ficar sem dupla para o trabalho ou sobrando na aula de educação física, enquanto todos te encaram com aquele pensamento de "fracassado".

 

Primeiramente, nos questionamos o que existe de ruim conosco, mas aí notamos que temos preguiça demais para mudar, então só nos perguntamos se o que temos de bom consegue superar isto de alguma forma, e ai pegamos esse pacotinho de qualidades e damos para alguém que está interessado ou entendiado na vida.

 

Mas depois, veja como eu, mais da metade dessas pessoas que gastamos horas tentando agradar, vai "evaporar" de nossa vida como a fumaça dos cigarros que Wu YiFan e Jessica fumavam atrás da escola.

 

E no final mesmo, nada disso importa, é tipo...grande bosta.

 

Coisas que pareceriam eternas apenas iriam lhe garantir uma família comum, moldada em um casamento frio, um trabalho repetitivo e fatigante que serviria pra comprar coisas tão desnecessárias quanto sua própria existência e talvez um lugar no hospital caso você pudesse ter um plano de saúde.

 

O problema é que eu já possuía noção de tudo isso desde aquela época, então gastava quieto, meu tempo infeliz naquele prédio grande, de salas pragmáticas, pessoas semelhantes e cadeiras que, vez ou outra, eu usava para dormir ou brisar olhando para o nada.

 

A escola me parecia um lugar cada vez mais chato, mais cheio de regras, mais cheio de humanos, mas sem nem um pingo de humanidade.

 

Chato e perigoso, era isso que eu pensava.

 

Mas voltemos a Park Chanyeol, que caminhava em passos lentos até mim, ocupando o terraço abandonado e encardido com seu corpo desproporcional, magrelo e esquisito.

 

Ele aparecera repentinamente, sentando-se ao meu lado, colando nossos ombros, contracenando suas roupas tão negras com as minhas tão claras.

 

Acho que havia tomado um susto, não sei nem como não cai do prédio da escola, morrendo.

 

Só sei que se eu caísse, Chanyeol não teria me segurado.

 

Não naquela época.

 

"E aí tagarela." Ele quebrara o silêncio, em um sorriso contido e...envergonhado?

 

"Eu tenho nome, ok?" Não sorri para ele.

 

Silêncio.

 

Fitei-lhe de soslaio, reparando no quando sua pele ficava pálida com o clima gélido que se fazia, contracenando perfeitamente com as madeixas vermelhas e bonitas, um pouco armadas devido às ondulações, e aqueles olhos tão claros que pareciam transparentes.

 

Bonitos, realmente bonitos.

 

Ele era o garoto mais bagunceiro da escola, aquele que passava o intervalo isolado em seu próprio canto, fitando apenas com os lados dos olhos aqueles que ousavam passar como se dissesse "eu vou matar todo vocês".

 

Ninguém ousava falar com ele.

 

Porque ele era diferente.

 

E eu era tipo...eu.

 

Nada demais, nada de menos.

 

Como um micro-ondas, algo que está ali, não é bonito, não é feio, não é necessário mas talvez sirva para alguma coisa, ninguém repara assim como ninguém nota a falta.

 

Eu era a trivialidade e a trivialidade era eu.

 

Só mais um entre centenas de outros.

 

E agora ele vinha puxar papo justo comigo?

 

O vento gelado castigou meus olhos, obrigando-me a fecha-los de levinho e tremer por entre as vestes, ainda assim, ele permanecia sem as roupas adequadas, ao invés dos trajes brancos recomendados, suas roupas eram sempre pretas, moletons e jaquetas com tachas, sem esquecer-me daqueles coturnos surrados e as calças rasgadas.

 

"Eu sei, tagarela." Ele deu de ombros, balançando suas pernas longas para fora do terraço, enquanto o vento frio batia contra nossos rostos pálidos.

 

"Então me chame por ele." Revirei os olhos, voltando minha atenção para a região de ruas sujas vazias e prédios fechados.

 

Estes inundavam-me a mente, emoldurados entre neblinas e um céu frequentemente escuro, não eram tão altos e possuíam poucos andares, suas janelas quase sempre encontravam-se fechadas e, às badaladas das seis da tarde, todos já estariam acomodados dentro dos mesmos.

 

A cidade não era um lugar muito bonito, confesso que eu achava bem chato observar aquelas esquinas levemente molhadas, e passava a maior parte do ano desejando que o natal chegasse logo, e junto dele, as luzes coloridas e o movimento das pessoas.

 

Odiava calmaria.

 

"Baekhyun..." Murmurou.

 

Senti seu desconforto em falar meu nome pela primeira vez.

 

E senti na pele o meu desconforto por ouvi-lo falando aquilo.

 

Porém, hoje em dia, quando penso que aquela fora a primeira vez que Chanyeol disse meu nome...

 

Ah, era certo.

 

Eu não admitiria.

 

Mas era como se meu nome fosse certo, na medida, como se Baekhyun fosse um nome exclusivo para apenas Park Chanyeol poder pronunciar.

 

"Qu-quê?"

 

Engoli saliva, é engraçado dizer que desde aquele primeiro diálogo, senti-me nervoso ao seu lado.

 

"Você gaguejou." Ele riu, porém, ainda mantendo a postura séria, que o tornava tão diferente do sorriso enorme que abria uma vez a cada nunca, para rir da cara de alguém se arrebentando nas escadarias do colégio.

 

"Fale logo o que você quer, Park." Ri desconcentrado.

 

Eu sempre fui impaciente, poxa, adolescentes são assim, é coisa dos hormônios, tenho certeza, você quer tudo para ontem.

 

"Meu nome não é Park."

 

Ele fitou-me sério, embora eu pudesse sentir o tom gozador de sua fala.

 

"Cha-chanyeol."

 

Ele riu mais alto, abrindo aquele monte de dentes retinhos e brancos que me fizeram pensar que eu tinha a boca mais tosca e o sorriso mais estranho do mundo.

 

Peguei-me observando seu semblante, havia algo diferente nele.

 

"Do-do que está rindo?"

 

Por alguns instantes pensei estar fazendo um papel de bobo ali ou que havia algo no meu cabelo, sei lá né, essas coisas acontecem, alguém rindo da minha cara sempre me parecia muito mais normal do que alguém me...admirando?

 

Mas apenas vi Chanyeol jogar a cabeça para trás, enquanto o vento remexia seus fios vermelhos, os movimentando pelo cenário cinza e destruído.

 

Ele permanecia com um sorriso simples no rosto, porém, verdadeiro.

 

"Do que está rindo Chanyeol?"

 

 Ele possuía uma capacidade de sorrir em momentos que a única opção permitida era chorar, ele podia dar risada enquanto todos indicavam o botão para espernear de raiva e falar alto em momentos de silêncio.

 

Fazia parte da obra prima que era Park Chanyeol.

 

Um livro complexo devo dizer, cheio de capítulos mal acabados, rodapés perdidos.

 

Formado de folhas manchadas, rasgadas, novas, cortantes e macias.

 

E eu, desajeitadamente segurava aqueles papéis soltos, desejando entender a estrutura de sua prosa.

 

De seus parágrafos, de suas linhas, de suas orelhas.

 

Meus olhos pregavam-se em cada palavra que continha o livro de capa prateada.

 

E meus dedos viravam as páginas ainda não lidas.

 

E eu poderia carregá-lo debaixo dos braços por todo lado.

 

Eu poderia até mesmo tatuar suas palavras de forma sempiterna nas paredes do meu corpo.

 

Mas a verdade é que eu nunca poderia compreender a grandiosidade por de trás de sua criação.

 

E aqueles olhos prateados fitaram-me como quem não quer nada, e ele disse simplista, entre um meio sorriso:

 

"Nada... É só que... É bonita a forma que você fala o meu nome."

 

 

X

 

 

 

"Só as pessoas loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam"

-Steve Jobs

 


Notas Finais


eai? gostaram das mudancas?
até o proximo cap > <
se cuidem, e deixem um comentario o/

~Moon


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...