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História Misfit - Norte


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


Oieee!

Bom gente, até que demorei né? Hoje precisei sair e fazer umas compras pra casa e uns ingressos pro anime friends (alguem vai?) e só agora que vim aqui na vizinha postar uehuehuehuehuhe Ta hard, masok, qm sab esses correios tentam fazer algo de util e me entregam logo o pc novo

Bom, esse cap é comprido, meio legal, meio nao legal, euheuheuhuehe aish, nao sei oq dizer sobre ele, mas acho que tem várias mudanças até, alias, sobre essas mudanças, eu NÃO vou mudar desfecho ou rumo da historia, para quem leu o penultimo cap, vai ficar DAQUELE JEITO MESM, ok? só pra avisar pq vejo mta gente me perguntando se eu vou mudar o final.

Agora sem enrolação, Misfit.


Musica- Airplanes- Paramore/ B.O.B

Capítulo 12 - Norte


Fanfic / Fanfiction Misfit - Norte

Capítulo 12- Norte

 

 

 

"Tudo que você pode imaginar é real."

-Pablo Picasso

 

 

 

 

 

"Você quer de morango ou de cereja?"

 

Meus olhos pousavam calmos sob os pirulitos que Chanyeol trazia nos dedos, naquela calma manhã de neve que eu acho que deve ter acontecido em abril.

 

Ele havia mandado uma mensagem através de seu celular explicando-me o que eram as guloseimas e que iria arranjar alguns para nós.

 

Eu não pude ficar mais feliz, afinal, não era sempre que o ruivo demonstrava total interesse me trazer objetos censurados.

 

E quando ele demonstrava interesse por mim? Bem, não existia nada melhor.

 

Quero dizer, acredito que seus olhares mais intensos, seus toques mais carinhosos, seus beijos mais profundos, seu abraço mais apertado, mas não apenas eles, faziam-me refletir que talvez, só talvez, alguém finalmente estivesse “aí pra mim”. O que era completamente estranho, extremamente perturbador e plenamente maravilhoso.

 

Seus atos sempre funcionaram como uma forma de “fertilizante” da alma, que caía tranquilo, espalhando-se pelos jardins suspensos, escondidos entre gargantas, pulmões, corações e desejos mal realizados, e era como se simplesmente, fizesse brotar por cada parede interna um novo tipo de estufa.

 

E com aquele perfume, com aquele brilho, eu me sentia, mesmo que pouco, capaz. Acredito que funcione desta maneira, nos achamos incapazes e miúdos demais, até que alguém chegue e revele que nas profundezas de nós existe muito mais do que meros corais ou conchas, algo que vale a pena ser ouvido, ser confiado, ser usado e aplicado.

 

Nós nos achamos incapazes até que revelem nossa pérola.

 

Minhas íris meio castanhas, meio negras, mas nem um pouco prateadas, variaram-se entre os dois doces, de embalagens distintas, em sua palma da mão.

 

Aquela era uma questão difícil.

 

Até porque, eu não conhecia nenhum dos sabores.

 

"Qual é melhor?" Tentei sanar a dúvida.

 

"Eu gosto dos dois." Ele deu de ombros.

 

Chanyeol também só atrapalhava às vezes.

 

Porque Chanyeol...me fazia questionar.

 

E questionar me trazia dúvidas, e dúvidas me traziam escolhas e escolhas sempre seria algo praticamente impossível de se lidar, pois escolher significava optar, selecionar. É impossível decidir ser algo e querer ser outra coisa ao mesmo tempo, até dá, mas então você sempre terá de ceder em algum dos lados, e no final, se tentar ser mil coisas, vai acabar não sendo nada.

 

Mas e se eu quisesse ser mil, duas mil, milhões de coisas? Pois acredite, eu queria.

 

Meu humor rondava e, em sua péssima frequência, nunca encontrava estação para permanecer, digo, existiam manhãs em que eu pulava da cama animado, dançava com a minha avó, era cheio de sorrisos para o meu pai, e existiam manhãs em que eu simplesmente não queria levantar da cama, desejava ficar ali, esquecendo as horas e repuxando edredons.

 

Tinha vezes em que eu desejava bom dia para os inspetores da escola, tinha dias em que eu murmurava qualquer coisa só por murmurar e tinha dias que eu simplesmente não abria a boca, passava reto por eles.

 

Tinha vezes que eu ia ao mercado, pegava o elevador, atravessava a rua, e ajudava alguém que estivesse em problemas, tinha vezes que eu me emocionava e tinha vezes em que eu fingia não existir ninguém no mundo além de mim mesmo.

 

Simplesmente porque existiam dias em que eu estava de bem com todo mundo e existiam dias em que eu estava de mal até comigo mesmo.

 

Mas e quando eu simplesmente não podia mostrar esse meu lado? Ter que ficar variando-me sem ter onde “desabar”?

 

Eu poderia ser alguém presente, indispensável para minha família, para meus colegas, ou eu poderia ser alguém que, se desaparecesse, ninguém iria reparar.

 

E o que eu seria?

 

Fitei-lhe sério porque eu realmente estava indeciso entre qual sabor de pirulito pegar, e o ruivo nem ajudara, fitando-me com aqueles orbes de “anda logo”, impacientes.

 

"E-eu não sei..." Murmurei, estalando a língua.

 

Aquilo era complicado demais.

 

Quando se vive uma vida onde se deve escolher entre maçãs, sardinha e mingau, qualquer pirulito se torna uma confusão.

 

O problema...o problema era que eu tinha medo, entendem?

 

Eu tinha certo receio de não conseguir “me manter”, nessas escolhas acabar tornando-me algo  que eu precisava ser, mas na queria. Tinha medo de perder, meus sonhos, meus achares, meus pontos de vista, meus preconceitos, meus egoísmos.

 

Eu era tão próximo de uma abelha, de flor em flor sem parar, espalhando pólen, e quando eu acreditava ter encontrado minha margarida, pronto, apareciam-me novos girassóis, entendem?

 

Minhas asas simplesmente não tinham tempo de ficarem empoeiradas.

 

"Vamo dividir o de morango então." Ele desembrulhou o pequeno doce, o segurando apenas pelo palitinho branco, exibindo uma bolinha vermelinha e brilhante.

 

"Que legal! Posso segurar também?" Sorri com todos os dentes.

 

Ele riu, parando para pensar durante alguns segundos, e sorriu misterioso.

 

"Aqui, põe a língua pra fora."

 

O pirulito veio em direção aos meus lábios e eu fiz o que era pedido, deslizando vagarosamente o orgão pequeno para fora.

 

Chanyeol deslizou-a contra o doce, fazendo-me sentir o gosto do que chamavam de doce.

 

Era muito gostoso.

 

Seus olhos perseguiram os movimentos do pirulito, interessados, enquanto eu tentava chupá-lo de diversas formas, querendo sentir mais ainda seu gosto.

 

Tirei o pirulito de sua mão, afastando-me com o mesmo na boca, fitando sua face emburrada e rindo sapeca da mesma. Ele aproximou-se lentamente e tentou me agarrar, e então começamos a correr naquele terraço vazio e sempre tão solitário, pintando os arredores brancos com nossa risada distorcida e ridícula de adolescentes de quinze anos.

 

Ele acabou por me encurralar entre uma das grades, prendendo-me ali, e eu ri um pouco mais, com a bochecha inchada pelo doce, ao qual ele logo tratara de puxar, o pegando de volta para si.

 

Crispei os lábios daquela minha forma arteira de fazer, erguendo um pouco o rosto e esperando que ele sumisse com a pequena bolinha avermelhada entre seus lábios.

 

Mas não foi o que aconteceu.

 

Afastei-me, batendo as costas no metal cinza enferrujado, quando a carne macia encostou-se contra meus lábios, e sua língua afoita, mergulhada em um gosto de morango, procurasse a minha, esfregando e envolvendo ambas.

 

"Cha-chanyeol!” Protestei, ainda com os olhos levemente arregalados, o empurrando.

 

Ele riu, revirando os olhos e enfiando o pirulito em sua boca.

 

"Eu falei que íamos dividir."

 

Fiquei alguns segundos sem reação, mas o ruivo logo me puxou pelo pulso, acomodando suas costas contra o parapeito do terraço frio e eu aproveitei para ajeitar-me entre suas pernas longas.

 

Lembro-me de ter passado meus braços contra sua cintura, repousando o rosto em seu peito coberto pelo moletom negro e com algumas partes desfiadas.  O corpo de Chanyeol era quente e contrastava com a neve fria e clara que caía aos arredores, enquanto eu mesmo, em meus trajes tão brancos, parecia o oposto do garoto vestido completamente de preto.

 

Ficamos em silêncio por longos minutos e meus olhos estavam simplesmente perdidos na imensidão ao nosso redor, os prédios altos e distantes, a cidade que secretamente moldava-se aos atos de seus moradores.

 

E eu estava ali, pensando que realmente não existia lugar melhor e querendo me convencer de que ninguém era mau, ou frio, ou chato, que as pessoas só eram menos que pessoas não porque queriam, mas porque estavam perdidas.

 

Eu conseguia ouvir o som de sua saliva enquanto ele chupava o pirulito, embora meus tímpanos estivessem mais concentrados em seus batimentos ritmados, aquele Tum Tum Tum, que zunia em meu ouvido e me lembrava que ele estava vivo e que não existia ninguém naquele infeliz lugar que estava tendo a oportunidade de ouvir um Tum Tum Tum tão bonito.

 

Se pudesse escolher hoje, algum dos momentos que passei com Chanyeol, talvez esse fosses um deles.

 

Apenas nós dois.

 

Nosso terraço.

 

Um pirulito.

 

E o som do coração.

 

Que já falava por todas as palavras do mundo.

 

Suspirei com aquilo, escondendo ainda mais meu rosto contra seu peito.

 

Após alguns segundos pude sentir uma mão grande afagar-me os cabelos, e um queixo apoiar-se contra meus fios castanhos.

 

"Que foi?" A voz levemente grave soara bonita em meio ao silêncio.

 

Apenas ri, negando com a cabeça.

 

“Nada.”  

 

"Eu tenho um presente pra você."

 

Ergui a face quando ele tirara do bolso um objeto desconhecido, fitando o mesmo rodar de um lado para o outro na frente de meus olhos.

 

Prateado.

 

Preso a uma corrente.

 

"É uma bussóla."

 

Meus dedos tocaram com cuidado o objeto redondo, de textura metálica e levemente enferrujada, quando o mesmo fora abandonado, em minha palma pálida e gelada.

 

Os desenhos feitos em ferro na peça faziam meus olhos brilharem enquanto os observava cautelosamente, notando cada um, com um brilho nos olhos e um sorriso formando-se nos lábios.

 

"Aqui é o norte, aqui é o sul, aqui é o leste, e aqui é o oeste.” Os dedos de Chanyeol indicaram cada uma das pontas desenhadas nas bordas metálicas.

 

"E... pra que serve?"

 

Eu não queria ser grosso, mas lembro de que realmente não entendi ao certo o que era uma "bússola" na manhã em que o ruivo me dera uma.

 

 "Pra saber onde você está." Respondeu de forma simples, confundindo-me ainda mais.

 

"Como assim?" Franzi o cenho.

 

Ele se aproximou tranquilamente, preparando sua explicação.

 

"Tá vendo o norte?"

 

Fiz que sim.

 

"A parte vermelha vai apontar sempre pro norte."

 

Observei a pequena agulha carmesim, notando a inscrição "N" na ponta.

 

"Mas...ela não esta apontando pro norte."

 

Mostrei-lhe a parte vermelha, que, para mim, apontava para o S.

 

"Não, ela está apontando para o norte sim.”

 

Fitei Chanyeol da forma mais confusa o possível.

 

"Ãn?"

 

"Veja bem, o norte é diferente onde você estiver.”

 

Ainda não conseguia entender aquilo.

 

O norte não era onde estava escrito N?

 

"Vai andando e vendo como ela se mexe."

 

Meus pés deslocaram-se sozinhos pelo piso do terraço frio, enquanto meus olhos permaneciam fixos no objeto em minhas mãos.

 

A pequena agulha começara a se mover rapidamente, desenfreada, e toda vez que eu parava, ela também parava.

 

"O norte não necessariamente é o N, o norte pode ser o W, depende de onde você está, entendeu? Ela vai sempre apontar pra direção norte."

 

O funcionamento da bússola ainda me parecia confuso, mas, menos do que a minutos antes, quando recebera pela primeira vez um presente exclusivamente denominado de “presente”, e exclusivamente meu.

 

"E...por que você me deu isso?" Sorri, entortando o pescoço.

 

Chanyeol fitou-me por breves segundos, pensativo, e suas bochechas tornaram-se coradas, enquanto apertava os lábios, em mania.

 

"Eu nunca tinha te dado nada e achei isso muito bonito." Murmurou.

 

Encarei o pequeno presente.

 

Ele era de fato bonito.

 

"E também por que... na bússola, o norte geográfico e o sul magnético estão juntos na mesma direção, mesmo separados.”

 

Tornei meus olhos para o ruivo, que agora eu tinha certeza que estava vermelho até as pontinhas das orelhas.

 

"Eu quero que sejamos como o norte e o sul, sempre juntos na mesma direção, mesmo separados.”

 

Até hoje não consegui entender suas palavras.

 

Mas acho que era algo bonito.

 

Daquelas coisas que raramente você vai ouvir ou ver.

 

Como pedras preciosas.

 

Que hoje, não passam de um pequeno baú em minha memória.

 

Jóia por jóia.

 

 As guardo como se tivessem sido lapidadas ontem.

 

Pequenas, minúsculas coisas, triviais, insignificantes, coisinhas que significam demais, que queimam o mais brilhante, que se escondem o mais profundo, e escondem-se tão bem que acabam deixando de ser ditas.

 

"Entendo..." Murmurei baixinho, guardando o objeto no meu bolso do casaco branco.

 

"Você quer isso também?" Ele questionou.

 

Encontrei-me com as íris acinzentadas apreensivas, sentindo o vento gelado queimar-me as narinas pela terceira vez naquela manhã.

 

Sempre frio. Sempre branco.

 

"Quê?"

 

Chanyeol suspirou baixinho, talvez irritado por eu não ter entendido sua pergunta.

 

Essa vida é muito complicada, eles lhe fazem perguntas, esperando uma resposta imediata e querem que você decida tudo.

 

Sendo que eu não conseguia nem decidir o sabor do pirulito.

 

"Você quer ser como uma bússola...junto comigo?" Seus olhos grandes e claros brilhavam.

 

Meus braços apoiaram-se contra o parapeito, ao seu lado, enquanto eu suspirava, sentindo todo aquele vento gelado queimar-me os pulmões e evaporar-se em uma fumaça densa, acima de meu rosto.

 

"Não éramos nuvens?" Joguei a cabeça para trás de leve.

 

Chanyeol fez o mesmo, encostando suas costas no muro e estendendo as pernas a frente de nossos olhos, tombando a cabeça para baixo, permitindo que a cortina de veludo vermelho encobrisse seus olhos durante instantes.

 

"Sim, mas podemos ser bússola, eu acho melhor.”

 

Fiz que não.

 

"As bússolas não apontam para o céu."

 

"Mas elas apontam para o mar..."

 

Boom.

 

E lá estava eu.

 

Travado.

 

Byun Baekhyun completamente desarmado de argumentos.

 

O que eu diria?

 

E como confessaria aquilo?

 

"Eu nunca vi mar." Virei meu rosto para ele.

 

Chanyeol me encarou abrindo e fechando a boca diversas vezes, e após quase um minuto de silencio, ele suspirou.

 

"Eu vou te levar pra ver o mar um dia." Sorriu de leve.

 

Arregalei os olhos com aquilo, pois naqueles meus dezesseis anos eu só tinha ouvido falar do mar ou visto por desenhos.

 

Nunca de verdade.

 

Nunca real.

 

"Sério? O mar de verdade?"

 

Ele sorriu.

 

"O mar de verdade."

 

"Tipo Tristão e Isolda?"

 

"Tipo Tristão e Isolda."

 

Lembro que sorri de forma tão grande que meu rosto pequeno quase não fora capaz de acomodar o semblante, fechando ainda mais os olhos já puxadinhos. Girei os calcanhares, desgrudando-me da parede e me aproximei dele, o abraçando sem autorização.

 

"Vai ser o melhor dia da minha vida Chanyeol!" Murmurei. "O mar deve ser a coisa mais bonita do mundo!"

 

Seus braços envolveram-me sem jeito, meio tortos, assustados pelo contato repentino, e ele riu baixinho.

 

"Como você sabe?" Questionou.

 

Pensei por alguns instantes, ainda não tirando meu rosto de seu blusão sem um perfume que não fosse o natural levemente suave.

 

"Sabendo ué." Dei de ombros.

 

Ele estalou a língua, erguendo uma sobrancelha.

 

"Mas você nunca viu o mar."

 

Silêncio.

 

"Com você, qualquer vista é a mais bonita do mundo."

 

Fitei sério seu rosto, semicerrando os olhos, encontrando um Chanyeol constrangido, desviando os orbes prateados dos meus.

 

"Idiota..." Ele sussurrou e eu girei os olhos.

 

Tão fofo.

 

"Mas então, quer ser bússola ou não?"

 

Pensei em sua pergunta durante segundos, enquanto meus dedos trilhavam pelo rosto do meu melhor amigo, acariciando-lhe a bochecha e seus braços ainda me envolvia a cintura fortemente.

 

No fundo mesmo... Eu e Chanyeol éramos humanos.

 

Mas não conte pra ninguém, ok?

 

"Não acha que estamos sendo muita coisa?"

 

Minhas mãos se divertiam ao puxarem delicadamente as orelhas sobressalentes do ruivo, as deixando ainda maiores e ele fechava os olhos, fingindo estar incomodado.

 

"Podemos ser o que quisermos, então vamos aproveitar para ser algo novo a cada dia."

 

Recordo-me de rir, como o achasse ingênuo por alguns segundos, mas acho que éramos tão proporcionais e complementares que ele tinha de ingenuidade eu tinha de inocência, então acabamos caindo entre centenas de “eles por elas”.

 

Suspirei, provavelmente deixando meus dedos nas laterais de sua face, sentindo-o com meus dez e incapacitados dedos, enquanto encarava de perto aqueles olhos prateados quase que transparentes.

 

"Acho que isso só faz sentindo pra nós."

 

Qualquer um que nos visse, diria que éramos loucos.

 

Qualquer um que nos conhecesse, diria que Chanyeol havia me deixado louco.

 

Mas não tinha problema.

 

Eles estavam certos em ambas as teorias.

 

"Mas nossa relação é assim não é?" Perguntou, quase que afirmando.

                                                                       

"Confusa?" Ergui uma sobrancelha.

 

"Não, nossa"  Ele sorriu "Ela não deve fazer sentido para mais ninguém."

 

Seu rosto veio calmo em minha direção e só voltou após ter contato com meus lábios, repentino, rápido, calmo, como se fosse uma brisa leve que me ordenasse a parar de fazer perguntas.

 

Manter o miúdo, miúdo.

 

"Eu aceito ser bússola." Disse firme.

 

"Se você for bússola, eu serei rosa dos ventos.”

 

Encarei-lhe confuso.

 

"Mas você não disse que ia ser bússola?”

 

"Eu não posso ser bússola." Ele virou o rosto pra os lados, negando.

 

"Por quê?

 

"Porque não podemos ser a mesma coisa, não somos iguais.”

 

Suspirei chateado, encarando o chão como se nada mais tivesse graça.

 

Eu queria ser, mas mais que isso, eu queria ser com ele.                                       

 

"Faz sentido..." Silabei vazio.

 

Ouvi sua risada quebrar o silêncio estabelecido e logo senti seus dedos em meu queixo, erguendo meu rosto.

 

"Mas não se preocupe, se você por bússola eu serei rosa dos ventos, se você for passarinho eu serei ninho, e se você for nuvem... bem, ai eu serei arco íris.”

 

Sorri, pois tive certeza que era mais uma pedra preciosa.

 

E permanecemos em mudez durante muito, muito tempo.

 

Apenas perdidos em pensamentos que não iriam vingar.

 

E eu não desejava que aquele momento acabasse jamais, jamais, jamais.

 

Mas sabe, hoje acredito que...se tudo acabasse em amor, em seus braços, em seus beijos, talvez nada de fato acabasse.

 

"Chanyeol...o que é arco íris?"

 

Ele riu, beijando novamente meus lábios e ao se afastar, colocou o pirulito na minha boca, me fazendo sentir o gosto do doce com a sua saliva.

 

"Te mostro no dia que formos ir ver o mar."

 

Observei o ruivo ir caminhando de costas até a porta do terraço, indo embora, pois já estava na hora e não demorara muito tempo para o toque de recolher fazer-se presente.

 

“Se cuida.” Ele acenara, antes de fechar a porta e eu fiz que sim.

 

Suspirei em meio ao cenário vazio, notando como tudo parecia simplesmente perder cor sem sua presença ali, sentindo os flocos de neve cair sobre meus cabelos castanhos.

 

Tirei do bolso o novo presente, encarando a pequena peça enferrujada e sorrindo ao lembrar-me de quem havia de dado.

 

"Para o norte?" Questionei baixinho.

 

A bússola girou descontrolada até enfim ficar quieta em uma das direções.

 

"Minha casa não fica no norte." Conclui.

 

E ela girava mais a cada passo que eu dava, indecisa.

 

"Pare com isso.” Resmunguei. "Você é confusa, eu não sei para onde ir.”

 

Não me lembro do que aconteceu depois.

 

Acho que fui para casa.

 

E aquele foi apenas mais um dia calmo ao qual pude refletir sobre pedras preciosas, arco-íris e mares.

 

E a profundidade de cada um deles.

 

Ah sim, e concluir que bússolas podem ser mais complicadas que pirulitos.

 

 

 

X

 

 

Era madrugada de chuva.

 

Vento frio, gelado e castigo, batia contra minha fenestra, emoldurando-a na mais terrível afluência, em uma dança marcada pela trilha sonora de arrepiar, enquanto as cortinas movimentavam-se afoitas.

 

Já se passavam das três da manhã quando meus olhos abriram-se assustados na calada da noite e eu recordo-me com perfeição de como meu coração estava acelerado e com medo.

 

Medo daquele ruído que se fazia presente, estranho, incômodo, entre a tempestade forte e caótica.

 

Será que meu pai havia ficado bêbado e surtado? Fora meu primeiro pensamento, contaminado pelo medo.

 

Tentei olhar o redor, comprimindo os olhos que doíam por terem sido acordados tão abruptamente, mas tudo que pude ver fora o breu, sugando com força o ar para tentar me acalmar.

 

Pois eu estava muito assustado.

 

Mas como nada adiantou, traguei saliva, me cobrindo até os cabelos, o que realmente não iria ajudar, mas passava uma sensação de segurança.

 

O barulho se tornou ainda maior, impossível de suportar, as vidraças batiam tão estaladas, tão anormais, ao ponto de ter de erguer-me da cama, entre tremores.

 

Às vezes era apenas um pássaro preso na janela, nada demais. Quis me convencer daquilo.

 

Fiz aquilo lentamente, descobrindo-me com demora, afastando os edredons brancos e sentindo o frio possuir minhas pernas descobertas até os joelhos, tomando todo o cuidado do mundo para não ser ouvido.

 

Olhei para todo o meu quarto praticamente vazio e na minha mente tudo era conturbado, eu não era tão medroso, gostava de caminhar à noite e realmente não acreditava em fantasmas ou coisas do tipo, tinha medo mesmo que fosse alguma outra coisa, algum animal, um morcego.

 

Não enxergava as pontas do local, as beiradas das paredes, e as sombras feitas ali me assustavam, como se algo me observasse, espreitando meu corpo parado em meio ao colchão.

 

Levei meus olhos à janela quando o barulho se fez novamente, constando que era dali que ele se manifestava, forte, e através das cortinas pesadas e claras.

 

Traguei saliva.

 

Meu medo era tanto que sentia que iria fazer xixi na bermuda do pijama mesmo, e eu não queria fazer xixi nas calças, pois isso implicava em ter que entregar o pijama urinado para minha avó, que com certeza bateria em mim.

 

Coloquei lentamente os pés para fora, arrepiando-me quando o piso frio entrou em contato com meus pés, como se um choque elétrico atravessasse todo o meu corpo, fazendo o ar faltar, entrar pesado, e meus batimentos subirem pela garganta.

 

Com o travesseiro em frente ao peito, e fui andando lentamente até ali, passo por passo, medroso e receoso.

 

O objeto macio caiu de meus braços simultaneamente ao momento em que abri os lábios, incrédulo, fitando por inteiro a janela, no momento em que um relampejo iluminou todo o arredor, assustador.

 

"Chanyeol?!" Meu grito provavelmente fora ouvido por toda a casa, enquanto corria até a janela, desesperado.

 

Abri-a, forçando a madeira pesada e emperrada, e o ruivo praticamente caiu morto no meio do meu quarto, deslizando entre a parede como um boneco desacordado.

 

"Meu deus do céu Chanyeol!" Fui até o abajur, o ligando com tanta pressa que ele quase caíra do criado branco.

 

Voltei até o garoto, pisando na poça de água que ele fizera ali, olhando para a janela que ainda estava aberta, molhando o quarto com aquela chuva impiedosa e desesperadora, balançando todas as cortinas.

 

O virei com rapidez, sua respiração estava fraca e seu rosto levemente sujo de sangue nas laterais, os cabelos vermelhos, estavam bagunçados , como se tivessem sido fortemente puxados e assim como as roupas negras rasgadas, jaziam inteiramente encharcados e gelados.

 

"Meus deus....meu deus Chanyeol, o que aconteceu?!" O sacudi.

 

Minha boca não conseguia se fechar.

 

Eu estava chocado.

 

“Chanyeol....O que aconteceu?!” Puxava suas roupas, mas ele nem se mexia.

 

Eu não sabia o que fazer, e meu desespero só aumentava a cada segundo.

 

O que estava acontecendo? O que havia acontecido? Eu não sabia. Eu não sabia!

 

Lembro que o segurei pelo rosto, sentindo o sangue em minhas mãos, e levei meus olhos para o líquido vermelho em meus dedos, brilhando escorrido entre os pingos que deslizavam afoitos, e quase gritei.

 

"Pelo amor de deus Chanyeol, fala comigo!” Sussurrava gritando, não querendo acordar a casa.

 

Ele tossiu com força, repentinamente, tentando se erguer, mas não conseguira, pesando sua cabeça em minhas mãos, exibindo aqueles olhos prateados que estavam quase fechados.

 

"Oi pequeno...” Um pouco de sangue escorria por seu queixo  “De-desculpa te....assustar..."

 

E com isso, em um último piscar, seu corpo se soltou em meus braços, assim, de repente, e se naquela época eu achava que o dia do mingau fora o dia que eu mais chorara, estava enganado.

 

Eu chorei tanto, tanto, mas tanto que não sei como minha avó ou meu pai não ouviram, porque, para mim, Chanyeol estava morto.

 

Morto nos minhas mãos.

 

E talvez ele até morresse, se uma idéia não tivesse iluminando-me a mente, enquanto eu deixei o ruivo no meio do quarto e corri até o armário, aproveitando para fechar a janela.

 

"Cadê? Meu deus, cadê?!" Abria as portas, escancarando-as.

 

Meu coração estava desesperado, porque, veja bem, se Chanyeol morresse eu ficaria louco, eu morreria junto.

 

Ele não podia. Nada podia acontecer com ele.

 

As lágrimas borravam minha visão e eu não sabia o que fazer, eu não sabia, minhas mãos tremiam, sujas pelo sangue dele, manchando as madeiras brancas.

 

Até que meus dedos tocaram, desesperados, o livro ainda não lido, escondido entre algumas roupas, o puxando com premência, deixando cair pares de blusas e casacos.

 

Abri o manual de anatomia humana ainda no índice, caindo de joelhos no chão molhado, sem me importar em molhar minhas pernas ou bermuda.

 

"Pele...respiração...meu deus, por favor, sangue....primeiros socorros! Achei!"

 

Corri até Chanyeol, desesperado, como se cada segundo fosse precioso.

 

Porque era.

 

"1- A vítima possui pulso?" Li em voz alta.

 

 Olhei para o ruivo, mais precisamente para sua mão, constatando que seu braço estava no lugar.

 

"Sim, ele tem pulso.” Afirmei e tornei meus olhos para as letras borradas e embaçadas "2-O pulso está fraco ou regular?"

 

"Fraco." Segurei em seu pulso, vendo o quão leve ele se encontrava "3- Realizar massagem cardíaca."

 

Minha mente se tornou um branco com aquelas palavras, enquanto eu erguia a cabeça pasmo.

 

Eu não sabia o que era uma massagem cardíaca.

 

Tentei procurar outras soluções, quanto mais eu procurava, mais aflito eu me tornava, porque minha mente soava incapaz, eu soava incapaz.

 

"Chanyeol pelo amor de deus." Aproximei-me de seu corpo, fitando seus olhos fechados e agarrei seu braço desanimado.

 

Chorando.

 

Pro que aquilo estava acontecendo comigo? Por quê? Por quê com a gente?

 

Ele sempre aparecia com machucados, vergões, roxos nos lábios, mas eu nunca estava preparado para encontrá-lo daquela maneira, coberto por sangue, cabelos desgrenhados, roupas rasgadas.

 

O que havia acontecido?

 

"Você não falou que seriamos bússola? Chanyeol acorda....meu deus, me diz que você está brincando!"

 

Mexi em suas pernas longas, coladas no jeans negro molhado, em seus braços, em seu rosto, mas nada acontecia, nenhuma reação, nenhum movimento.

 

Eu chorava puxando meus cabelos porque eu não sabia o que fazer.

 

Eu não sabia de nada.

 

Aquela noite ficaria eternamente em minha memória, aquela madrugada caótica.

 

Chanyeol continuava jogado no chão e eu não sabia quantas horas haviam se passado, encolhido no canto da parede, tremendo de desespero.

 

Meu melhor amigo estava morto no meio do meu quarto.

 

Achei que fosse engasgar em meu próprio choro e morrer ali, junto com Chanyeol.

 

Meu coração doía, doía tanto, cravando uma vala, um oco na alma.

 

Como se um pedaço de mim estivesse sendo arrancado.

 

E eu pediria ajuda a quem?

 

Não existia ninguém que gostava de mim. Da gente.

 

"Mãe, po-por favor mãe, m-me ajuda." Eu fungava “Salva ele, o Channie....e-ele é a única coisa que eu tenho...mãe..."

 

Eu sabia que ninguém ouviria minhas súplicas.

 

Mas eu tentei.

 

Tentei porque tinha uma boa parte de mim destruída em meio a meu próprio chão claro, e ele era tão eu, ele era tão eu que me questionava se algum dia um de nós já havia mesmo existido.

 

E o quê mais? Eu era apenas humano.

 

Nada demais.

 

Quando eu já havia perdido todas as esperanças, um ruído chamou minha atenção, não me pergunte que horas marcava o relógio, eu não fazia a mínima idéia.

 

Notei uma movimentação no quarto, um suspiro, e arregalei meus olhos em direção ao corpo abandonado.

 

"Chanyeol?" Engatinhei rapidamente até ele "Cha-channie..."

 

Segurei em seu rosto, tirando aqueles cabelos vermelhos de sua testa úmida, fungando minhas próprias lágrimas.

 

 "A-acorda, por favor, você não pode fazer isso comigo..." Soluçava “Não faz isso com a gente...”

 

Sua mão se fechou bem de leve na minha e um sorriso se rasgou em meu rosto, trazendo consigo uma afobação desesperadora.

 

Ele estava vivo?

 

"Channie, você tá bem? Fala comigo.”

 

As pálpebras abriram-se vagarosamente, revelando as íris prateadas, semicerradas e opacas, enquanto Chanyeol tentara se levantar, mas eu o impedi.

 

"Calma, vai devagar.” Passei a mão em suas costas, lhe dando apoio.

 

Ele suspirou, sentando-se lentamente, gemendo de dor.

 

Seus olhos encontraram-se com os meus e ele levou os dedos até minha face, limpando as lágrimas que ainda escorriam.

 

"Desculpa por isso, e-eu não consegui pensar em outro lugar." Sua voz era rouca e falha, baixinha.

 

Queria abraçá-lo de tão grande que era meu desespero, mas apenas peguei em sua mão trêmula.

 

"O que aconteceu? Por que você tá assim?" Passei meus dedos em seus machucados, vendo sua face contorcer-se em dor “Quem fez isso?”

 

"Não foi nada...." Ele fechou os olhos.

 

Ah sim, nada.

 

Com certeza.

 

"Chanyeol, como assim nada?" Encarei-lhe serio “Me diz quem fez isso, eu vou-“

 

“Não precisa se preocupar.” Me interrompera.

 

"Até quando você vai mentir pra mim?" Insisti, bravo.

 

"Baek, por favor, me deixa descansar!" Ele parecia irritado.

 

Suspirei, revirando os olhos.

 

Ele sempre seria daquela maneira afinal, guardando todos os problemas para si, aparecendo feliz todo dia de manhã, dando a entender que estava tudo bem.

 

Para simplesmente surgir destruído na janela do meu quarto?

 

Que tipo de tudo bem era esse?

 

"Não fale assim comigo, eu estou preocupado com você." Afaguei seus cabelos, selando sua bochecha "Eu gosto muito de você Chanyeol, muito, muito mesmo."

 

Um sorriso brotou em seus lábios rachados e sangrentos e aquilo iluminou de fininho minha alma, como eu previ que faria.

 

Tão de pouco em pouco, foi assim que ele foi chegando...

 

"Eu também gosto muito de você Baek." Ele murmurou meio envergonhado.

 

Sorri.

 

 Finalmente sentindo meu coração se acalmar.

 

"Vem, vou procurar uma roupa pra você.”

 

Levantei-me, deixando o garoto alto no meio do quarto, indo em direção do armário e revirando algumas gavetas.

 

Levei certo tempo, secando a água do chão com a roupa já usada da escola, e tirando o sangue dos armários, arrumando a “bagunça”.

 

Todas as minhas roupas eram iguais e praticamente do mesmo tamanho, então apenas peguei o par que me parecia maior e voltei até ele.

 

"Aqui.” Entreguei-lhe as peças "Consegue se trocar sozinho?"

 

“Também não é pra tanto.” Ele zombou, rindo da minha preocupação.

 

“A vá se ferrar Chanyeol.” Retruquei, entre meio sorriso e ele apenas fez que sim, pedindo para que eu pegasse alguns remédios e curativos.

 

Deixei-o no quarto ainda com receio de que algo acontecesse e sai caminhando cautelosamente pelo corredor, tomando cuidado com qualquer ruído, indo em direção ao banheiro.

 

Peguei o kit que já possuía devido ao acidente de carro e voltei até o quarto, ainda nas pontas dos pés, agradecendo mentalmente por tudo ter dado certo.

 

Adentrei o cômodo, fechando a porta atrás de mim mesmo, e fitando o ruivo que estava sentado na minha cama.

 

Seu corpo era iluminado pela luz precária da lua e as pernas estavam completamente descobertas pelo meu shorts, que parecia uma cueca nele.

 

"Porra, você é muito grande." Murmurei zoeiro, rindo baixinho da sua cara emburrada.

 

Chanyeol me fitou entre olhos platinados, mas permaneceu quieto, enquanto eu caminhei em sua direção, notando que ele parecia muito cansado.

 

Apoiei-me entre suas pernas, afundando de leve o colchão, e meus dedos abriram os remédios, passando-os na gaze, sem saber se estava fazendo certo ou não.

 

"Olha pra mim.” Pedi baixinho e ele ergueu a face.

 

"Ai." O ruivo resmungou quando encostei o produto em seu rosto, começando a limpar os machucados.

 

"Ai nada, precisamos limpar isso.” Fiz um bico.

 

 Suas mãos envolverem minha cintura lentamente, e meu estômago perdeu-se dentro de mim mesmo, envergonhado, enquanto minhas pernas desequilibravam-se com aquilo, deixando com que meu corpo caísse sobre si.

 

“Cuidado.” Dei um soco leve em seu peito, o advertido.

 

Arrumei-me sobre seu colo, passando minhas pernas nas laterais de seu corpo, e céus, só naquele momento acho que parei para notar que o meu melhor amigo estava ali, vestindo meu pijama apertado e na minha cama, enquanto eu limpava seus ferimentos.

 

E espere.

 

Ele estava na minha cama. Com o meu pijama.

 

Ele iria dormir ali.

 

Comigo.

 

Chanyeol me abraçou, escondendo o rosto na lateral de meu pescoço, esfregando a face ali como se fosse um filhote abandonado.

 

“Que foi?”

 

Silêncio.

 

Suspirei.

 

Teria que lidar com a faceta carente de Park Chanyeol, aquela que eu achava extremamente fofa mas que, pelo amor de deus! Calava-se de tal forma que não combinava com ele.

 

Ficamos quietos enquanto eu fazia os curativos.

 

"Você não vai me contar mesmo onde fez isso ai?" Sussurrei em seu ouvido, o sentindo tremer de leve.

 

“Uhun.” Ele fez que não, quase que ronronando.

 

Bufei.

 

Céus, eu precisava ter muita paciência com aquele moleque, porque meu deus...

 

Chanyeol era terrivelmente complicado.

 

"Onde mais tá machucado?" Terminei de limpá-lo, tirando seu rosto de meu pescoço.

 

"Só ai mesmo." Ele me fitou.

 

"Olha ein, fala a verdade."  Arqueei uma das sobrancelhas, sério.

 

"É sério mano, só ai."

 

Dei de ombros então, decidindo por não insistir mais naquilo e joguei o kit em um canto do meu quarto, indo em direção à porta, trancando-a.

 

Não queria correr o risco de alguém entrar no quarto e encontrar Chanyeol ali, estaríamos perdidos se isso acontecesse.

 

Voltei para a cama, entre suspiros, sentando-me ao seu lado e Chanyeol possuía os olhos baixos, encarando o chão.

 

Céus! Aquilo me perturbava.

 

O que havia acontecido com ele?

 

"Você quer dormir na minha cama? Eu durmo no chão." Levei a mão até suas costas cobertas pela minha camisa, as afagando.

 

Ele me encarou com aqueles olhos tristes, meio pidões, e eu tive vontade de lhe abraçar e beijar, só pra sussurrar entre os espaços de nossas bocas que estava tudo bem agora.

 

"Po-posso do-dormir com você Baek?"

 

Ouvi sua pergunta acanhada e sorri lentamente.

 

"Claro que pode." Maneei com a cabeça.

 

E ele sorriu.

 

Pela primeira vez naquela noite.

 

"Vem cá." Subi sobre o colchão, engatinhando até os travesseiros e os afofando, puxando as cobertas.

 

Enfiei-me embaixo dos edredons brancos que nos aqueceriam naquele clima gélido da tempestade que parecia não querer ir embora, aquela tempestade que havia trazido mais do que apenas água.

 

Deixei um espaço para Chanyeol, enquanto me aproximava da parede, acomodando-me, e fitando o ruivo que se levantou de forma agitada e me fez rir baixinho, pois ele estava muito engraçado com meu pijama minúsculo.

 

Seu corpo grande entrou debaixo das cobertas, arrepiando-me, enquanto a tez gelada colava-se a minha que não parecia estar em temperatura tão alta.

 

"Que frio." Murmurei, deixando com que ele se aproximasse mais, abraçando-me pela cintura.

 

Era a primeira vez que Chanyeol deitava sua cabeça em meu peito e meu deus, precisei me controlar, porque ele ficava extremamente fofo daquela maneira.

 

O envolvi em meus braços, selando sua testa, e deixando com que a calmaria nos sobrevoasse como um véu transparente e cálido.

 

"Channie...como você subiu até a janela?"

 

A noite estava silenciosa, nossas vozes ecoavam contra o quarto em sussurros, como se trocássemos segredos.

 

E talvez até trocássemos.

 

Ninguém ouvia-nos mesmo.

 

"Pela árvore." Murmurou.

 

Ri baixinho.

 

"Não faça mais isso, ok?" Abracei-lhe mais fortemente, notando que ele já havia fechado os olhos e eu ainda permanecia observando aquele teto branco, me questionando sobre as coisas, sobre tudo o que havia acontecido em tão pouco tempo.

 

E quem diria que tudo se tornaria daquela forma?

 

Lá estava novamente, me questionando, me perguntando, e eu acho até hoje que é por isso mesmo que acabei ficando meio louco.

 

Eu pensava demais.

 

E eu, que já era tão confuso e bagunçado, achava que se encontrasse alguém, iria “me encontrar”. E no final? No final eu me perdi ainda mais.

 

Como era possível, passar pela vida, viver, sem que nem por um momento eu me perguntasse “Gente, o que mesmo eu to fazendo aqui?”.

 

E eu não sabia, eu não sabia.

 

E eu queria saber, eu queria saber desde quem eu era até quem ele era. Eu queria tanta coisa, e parecia que todos havíamos sido trazidos para o mundo com o objetivo de querer coisas e talvez esse mesmo mundo não fosse grande o suficiente para acomodar todos esses nossos quereres. Eu não sei. Eu não sei nada.

 

 "Eu achei que fosse morrer quando te vi daquele jeito." Quebre o silêncio, prendendo o ar, naquele teto sem graça.

 

Ele riu baixinho.

 

"Eu vi...fiquei feliz em saber que você se preocupa comigo."

 

Estalei a língua com sua fala.

 

"Como assim, idiota? É óbvio que eu me preocupo com você, se algo acontece com você, acontece comigo também, achei que você fosse morrer, fiquei com tanto medo."

 

Ele ficou em silêncio durante longos minutos e eu já acreditava que havia pegado no sono, por isso fechei os olhos com lentidão, tentando dormir.

 

"E se eu morresse?"

 

Sua pergunta despertou-me e eu tornei os olhos para o quarto mal iluminado.

 

"Não diga bobagens seu merda, se você morresse, eu morreria junto.”

 

"Por quê?" Ele abriu os olhos, ainda com o rosto apoiado em meu peito.

 

Fiquei pensativo e minhas bochechas foram tornando-se rubras, enquanto tentava achar algo para falar, ah, garotos são tão complicados.

 

"Porque sim... sei lá, já não consigo imaginar minha vida sem você..." Engoli saliva a seco “É...você...”

 

Fitei seu corpo erguer-se de leve, e seu cotovelo afundou o colchão, causando um ruído que fora a única coisa que pude ouvir.

 

Aqueles olhos fixaram-se em mim, fazendo-me perder o ar e tudo tornar-se rarefeito, pesado, mas moldado em uma áurea diferente.

 

Sua mão veio em minha direção, lenta, como seu eu pudesse fracionar cada segundo e cada gota de saliva que se acumulava sob minha própria língua, tocando nas pontinhas de meu rosto, suaves, mas era perceptível a maneira que carregavam em cada digital, uma nova chama recém acesa.

 

E ele traçou aquele tato, deslizando delicadamente as beiradas de seus dedos pelo meu pescoço, raspando as unhas bem cortadas, arrepiando-me por inteiro.

 

Seus olhos prateados praticamente brilhavam iluminados pela luz da lua, pelas sombras espelhadas que se manifestavam em pontinhos coloridos, pintando as beiradas de seus orbes, quase que metálicos.

 

Deixei com que meus dedos pousassem em seu rosto, caminhando até ali e recebendo, como se ganhassem um presente, seus cabelos vermelhos meio onduladamente armados, moldando sua face em minha palma.

 

Aquele contato visual durou tanto tempo, que eu nunca poderei diferenciar se foram minutos, se foram segundos, ou se fora ainda mais que isso.

 

Se meus momentos consigo sempre fariam parte de uma realidade onde o tempo formava-se de forma completamente diferente do que qualquer relógio, um dia, poderia cronometrar.

 

Eu podia ver meu próprio reflexo ali e a forma que ele me fitava profundamente, sua respiração ritmada com a minha, batendo contra meu rosto, e ninguém ousava quebrar aquela casca frágil e envolvente.

 

Passei o polegar em suas maçãs da bochecha, sentindo a tez macia, sem que qualquer sorriso crescesse ali, estávamos ambos sérios.

 

Queria que aquele momento durasse para sempre como nunca quis outra coisa na vida.

 

"Eu amo os seus olhos."

 

As palavras saíram pela minha garganta quase como uma confissão, carregando consigo uma saudade, saudade que meu gosto tinha do teu.

 

Chanyeol deixou com que seu corpo grande subisse acima de mim, arrumando-se entre minhas pernas, lembro-me do seu rosto aproximando-se do meu... Lentamente...

 

Ainda sem quebrar o olhar conjunto.

 

Não, eu não quebraria nada.

 

Mas ele? Ah, ele era tão capaz de me quebrar por inteiro.

 

"E eu amo você."

 

E em centenas de sentidos.

 

Arregalei os olhos com suas palavras, mas logo tive de fechá-los.

 

Seus lábios estavam nos meus.

 

Abri minha boca vagarosamente, deixando com que aquela língua afoita, já conhecida, porém nunca banal, adentrasse minha cavidade molhada.

 

Seu corpo apoiou-se aos poucos sobre o meu, enquanto seus cotovelos amassavam o travesseiro macio ao redor de minha face.

 

Os segundos passaram tão lentos.

 

Sua língua tocou na minha com delicadeza, brincando entre si, seus lábios pressionaram os meus, mas as bocas não se fecharam.

 

Existiam aquelas confissões mudas entre os espaços e um ar pesado de excitação que era impossível de ser controlado, pois céus! Ele era capaz de me levar para um lugar que ninguém nunca foi capaz de levar.

 

Era isso.

 

Sempre fora.

 

Se afastou centímetros, passando a língua sobre meus lábios e eu, com nenhuma pressa, fiz do órgão quente meu serviçal, o prendendo dentre meus dentes, o chupando como se fosse muito, muito mais gostoso que um pirulito.

 

O hálito doce de sua boca bateu contra meu rosto, misturando-se ao seu cheiro, enquanto eu soltava-lhe a carne para que ele possuísse as menores partes de minha boca, tornando a me beijar, abrindo as velas de sua língua para que ela navegasse entre meus mares e tentasse, mesmo que em vão, dominar o território, abrigar aquele mar.

 

Pois eu abrigaria cada meia metade de seu barco.

 

Senti meus pelos do braço e da perna arrepiarem-se com aquilo, e eu não medi esforços ao tatear como um cego perdido os canais de sua pele, sentindo cada músculo contra meus dedos, cravando minhas unhas ali com uma lentidão que torturava, mas era de dor boa.

 

Chanyeol quebrou o último contado puxando meu lábio inferior, fazendo-me praguejar baixinho, enquanto abria meus olhos.

 

Ele já iria sair de cima de mim, quando o segurei pelos braços, e o ruivo me encarou, ainda criando aquela sombra sob meu rosto.

 

Eu simplesmente não queria que ele dormisse.

 

Queria passar cada segundo daquela madrugada com seus lábios nos meus.

 

E que todo dia fosse daquela maneira.

 

Apenas eu e ele.

 

"Me beija." Sussurrei tão pesado que o ar transpassou junto, exibindo o que eu queria, e que eu queria muito, muito mais.

 

Deslizei meus dedos pela extensão de suas costas, sentindo a textura do tecido macio e claro, tão colado na escultura levemente mais larga, com algumas costelas marcando presença entre a carne quente e tórrida.

 

Seu olhar felino pousou em meus lábios e ele os selou rapidamente.

 

"De novo."

 

Pedi, entre as faces, ronronando.

 

E ele o fez.

 

"De novo."

 

Novamente.

 

Mas aquilo não era suficiente.

 

Afundei meus dedos em seus cabelos macios, os puxando para perto, adentrando sem a mínima permissão sua boca, agressivo como eu estava aprendendo a ser.

 

Outro beijo completamente afoito iniciou-se, as línguas molhadas misturavam-se com anelo, com uma sede, como se nossa própria saliva fosse a última gota de água em um deserto isolado de qualquer toque carnal.

 

Gemi baixinho quando seus dedos foram em direção de minhas pernas desnudas, as arranhando com as unhas bem cortadas, tateando a carne com violência e eu retribui, puxando seus cabelos, o ouvindo gemer sôfrego.

 

Seu corpo colou-se mais ao meu, apertando-nos e eu sentia suas mãos correndo por minhas coxas, erguendo o tecido da bermuda entre seus dedos, até encostarem-se em minha cueca escondida.

 

E eu simplesmente não sabia onde meter minhas semelhantes, vez deslizando-as por toda suas costas, vez descendo ainda mais, vez puxando os cabelos vermelhos, de vez em vez querendo mais e mais ele.

 

Sua boca afastou-se da minha em um estalo alto e corrosivo, e eu pude ver por breves segundos aqueles olhos prateados semicerrados, imersos em ondas emblemáticas e sublimes, em desejos e toques latentes.

 

Infelizmente não tive tempo de contemplá-los ainda mais, pois sua boca voltou a minha, querendo tornar-se uma só.

 

Ah, já não me surpreendi quando algo se endureceu entre nós.

 

Eu estava igual.

 

Ele passou seus braços pelas minhas costas, em um abraço desajeitado, e abruptamente inverteu as posições, deixando-nos de lado, com minhas costas coladas em seu peito e seu corpo próximo da parede.

 

Senti uma de suas mãos caminhar veloz até meus ossinhos do quadril, enquanto a outra envolveu-me o pescoço por trás do travesseiro, que a essas horas já estava completamente amassado, virando meu rosto de leve por cima do ombro, para que mais um beijo se iniciasse.

 

E minha própria mão fora com pressa até suas madeixas vermelhas, unindo mais os corpos e céus! Ele começara a se arremeter contra mim, eu não entendia o que estava acontecendo, mas todo meu corpo estava arrepiado, quente, explosivo.

 

“Ahn! Chany-“ Rompi o ósculo, fechando os olhos, perturbado pelas sensações.

 

“Shhh.” Sussurrava contra meus ouvidos, batendo a carne de seus lábios na tez sensível “E-eles podem ouvir.”

 

Ele pressionava seu membro contra minhas nádegas e eu não conseguia fazer outra coisa que não fosse ficar completamente perdido e entregue.

 

“Não...e-eu...” Sentia seu volume duro atrás de mim, roçando lentamente, enquanto minhas bochechas tornavam-se tão rubras.

 

Sua outra mão que antes segurava em meu pescoço, caminhou até meu peito que subia e descia, como o seu, já levemente suados e com o nosso cheiro de odor masculino, mesmo que suave, que apenas contribuía para a cena que ninguém testemunhava, nem mesmo a chuva do lado de fora, abafada pelas janelas.

 

Uma cena tão fodidamente errada.

 

Senti aqueles dedos já envolverem-se por dentro do tecido da minha camisa, tocando-me o peito e caminhando em direção dos meus mamilos, os contornando e apertando com sutileza, mas uma sutileza queimante, deixando os botões rígidos.

 

E enquanto ele apertava nossos corpos, lembro que não pensei duas vezes antes de levar meus dedos com calma até ali, até o membro duro escondido entre o shorts extremamente justo.

 

Com receio, mas eu precisava fazer aquilo, eu precisava estar no mesmo nível que Chanyeol.

 

Ou ele se cansaria de mim.

 

“Uhmm...”

 

Toquei-o por cima da bermuda que mais parecia uma cueca, moldando a região em meus dedos, e senti suas mãos tentarem me afastar, fazendo com que o contato se rompesse com um fio de saliva entre as bocas.

 

"Vamos parar." Sua voz grave soou em meio à noite.

 

E eu me virei rapidamente, o encurralando contra aquela parede.

 

"Eu não quero." Tornei e segurar em suas madeixas, avançando sobre si.

 

"Baekhyun, é serio, você ao menos leu o livro que eu te emprestei?" Ele espalmou as mãos em meu peito.

 

Fitei-lhe emburrado, quase que descrente.

 

"Não, não li." Murmurei.

 

"Então não.” Ele murmurou irritado, deitando-se para o outro lado, de costas para mim.

 

Mordi os lábios, tão puto que chegava a doer, e arrependido por não ter lido o livro preto, quero dizer, eu não queria ler aquilo! Odiava ler essas coisas de instruções, de conhecimento, eu gostava de histórias, gostava de livros como Tristão e Isolda.

 

Eu definitivamente não queria aprender tudo por um livro. “Tudo” que eu nem sabia o que era, mas eu sabia que algo ele escondia de mim.

 

Suspirei, ficando em silêncio, olhando para suas costas cobertas pela blusa amassada e desejando fundir-me em si.

 

Minha cueca estava apertada demais, me machucando, e aquilo parecia não querer diminuir.

 

"Channie...” Ronronei, subindo lentamente sobre ele.

 

Ou pelo menos tentando.

 

"Não é não, vamos dormir." Ele tirou minha perna de cima de si.

 

"Eu só quero te beijar, não precisamos fazer outras "coisas".” Revirei os olhos.

 

Ele virou o rosto por cima do ombro, e fitou-me sério.

 

"Não tem essa de que não precisamos, você viu que acontece normalmente, eu não to a fim de ficar me controlando com esse tipo de coisa a essa hora da noite."

 

Ele também estava puto.

 

"Mas eu...."

 

Desisti de falar quando vi que aquilo se tornaria uma briga.

 

E eu definitivamente não queria brigar com Chanyeol.

 

Ele era meu melhor amigo e um garoto que eu curtia pra caramba, como nunca tinha curtido outra pessoa na vida.

 

E droga! Ele estava passando a noite na minha casa, a nossa primeira noite dormindo juntos.

 

Não.

 

Não poderia ser daquela forma.

 

"Desculpa.” Murmurei, o abraçando por trás e ele ficou quieto "Não podemos dar nem beijos carinhosos? Eu prometo não fazer nada."

 

Ouvi o ruivo suspirar, por fim, virar-se, passando os braços ao meu redor e selando-me a testa.

 

"Não precisa se desculpar." Segregou baixinho.

 

Respirei lentamente, sentindo seu cheiro, e por ali fiquei viajando durante minutos, pensando unicamente em nós.

 

Questionando-me.

 

Questionando se ele aceitaria voar comigo, para muito, muito longe dali, e se ele me prometeria não o mundo, muito menos uma cola na prova de matemática do dia seguinte, mas que enquanto cada minúscula e desproporcional pena de nossas incrivelmente fortes asas se encostassem, estaríamos sãos e salvos de todos os outros pássaros.

 

Questionando-me se o ruivo entenderia todos os meus trejeitos e meus péssimos hábitos de vôo, e que eu jamais desejaria pousar? Que por mais fortes que fossem as tempestades, por mais quente que se fizesse o sol, por mais densos que se tornassem os nevoeiros, eu nunca, nunca, escolheria arvore alguma ou ninho nenhum. Por mais altos e seguros que estes fossem.

 

E que cuidaria de mim, entre aqueles olhos prateados, observando-me enquanto eu sobrevoava os céus, tão alto, entre outras aves, cortando camadas de nuvens e fingindo gostar de todas elas, ficando ao meu lado apenas para que eu não sentisse vergonha do modo esquisito que batia minhas penas ou escondia minhas garras.

 

Se iria me segurar quando eu estivesse cansado e se me permitiria fazer o mesmo quando a chuva pesasse para si? Se iria ficar ao meu lado quando planássemos por cima do horizonte e se iria prender seu ar, até o momento em que o último raio de sol se dissipasse por trás das montanhas.

 

Questionando-me se ele saberia que um pôr do sol  nunca seria igual a outro? E que eu tinha esperado uma ou duas vidas inteiras para vê-lo daquela maneira? E que esperaria mais outras duas se apenas, mas só apenas, se ele estivesse voando comigo?

 

"Boa noite, pequeno."

 

"Por que você me chamou assim?"

 

Lembro que o medo me dominou.

 

Será que Chanyeol achava tão ruim assim eu ser menor que ele?

 

"E você é alto, por acaso?” Ele riu.

 

"Não..." Murmurei chateado.

 

"Então."

 

Calei-me, achando que Chanyeol não gostava da minha altura, ou da minha aparência ou de mim.

 

O silêncio prevaleceu no quarto durante temerosos minutos, embora eu não conseguisse dormir.

 

Chanyeol respirava alto, roncando, já indicando que havia caído no sono.

 

Fechei os olhos como ele, tentando dormir.

 

Mas tinha medo do amanhã.

 

De amanhecer a alma e encontrar um vazio ao lado da cama.

 

Eu entendia o porquê do ruivo desejar tanto que eu ficasse ao seu lado naquela noite em sua casa, era simplesmente maravilhoso dormir com outra pessoa.

 

Eu não conseguia acreditar.

 

Hoje penso...dormir ao lado de alguém, sim, ao lado de alguém, não “com alguém”, é talvez o provável mais pleno ato de confiança que você pode ter para com outra pessoa. Quando estamos dormindo, de olhos bem fechados e sem carregar nenhuma expressão de dor, preocupação, necessidade ou vontade, nos tornamos completamente indefesos, como uma criancinha ou um bebê.

 

E ver sua face ali, deitada ao meu lado, serena e calma, juro, juro de pé junto para vocês que eu acho que nunca havia visto algo tão lindo.

 

Não, eu não era um cantor, ou poeta, muito menos um pintor, mas eu acho que seria capaz de me tornar um artista profissional apenas para captar cada respiração que passava por entre aqueles lábios entreabertos.

 

E devia de ser por isso que não pregava os olhos.

 

Eu precisava ver Chanyeol ali.

 

Ao meu lado.

 

Hoje, penso que fui extremamente egoísta naquela noite em especial, ele estava extremamente cansado.

 

Mas era impossível.

 

Eu o queria acordado comigo.

 

"Channie..." Chamei baixinho "Chanyeol..."

 

Ele resmungou, se remexendo na cama.

 

"Channie..." O empurrei de leve.

 

"Baek?" O ruivo coçou os olhos, meio assustado "O que foi?"

 

"Eu não consigo dormir." Fiz um bico.

 

Achei que ele fosse ficar bravo e me mandar ir à merda, mas Chanyeol apenas suspirou, bocejando de leve.

 

"Quando eu não conseguia dormir..." Sua voz ainda estava grogue pelo sono "Eu contava as estrelas... sempre... uma por uma...”

 

Pensei naquilo.

 

"Eu não consigo contar as estrelas."

 

Olhei para o teto branco, vazio.

 

Não havia estrelas ali.

 

"Consegue sim... olhe bem..."

 

Continuei encarando a parede sob nossas cabeças.

 

"Ainda não to vendo nada..."

 

"Eu estou vendo uma, bem ali..." Apontara para o alto, deixando seu braço tombar logo em seguida.

 

Não entendia Chanyeol, franzindo o cenho.

 

"Onde?"

 

"Bem ali, olha pra ela, é brilhante."

 

"Eu não consi-"

 

"Shh... feche os olhos e verá."

 

Minhas pálpebras deslizaram pelos meus olhos, deixando tudo escuro.

 

Ainda nada.

 

"Olha outra ali."

 

Uma tela em negro.

 

"E mais outra, está cheio."

 

Queria chorar porque não conseguia enxergar estrelas.

 

"Veja elas com os seus verdadeiros olhos."

 

Esforcei-me, e então...

 

"Eu vi!" Disse animado.

 

Ela estava lá, elas estavam lá, pintando inteiramente o céu escuro e brilhante, reluzido em roxos azulados.

 

"Tá vendo? Consegue ver aquela do lado?"

 

"To vendo sim, é enorme."

 

"É Sirius o nome dela, é a maior estrela possível de ser vista."

 

"É linda Chanyeol." Eu sorria, sabendo que ele sorria também.

 

"Muito!"

 

Quando mais eu imaginava, mais estrelas eu via.

 

Acho que esse é um dos maiores mistérios da vida.

 

A imaginação.

 

A capacidade de imaginar tudo, coisas que não existem.

 

Talvez seja ela que tenha o poder maior.

 

É através dela que sonhamos.

 

Que desejamos.

 

Que criamos.

 

Que somos.

 

A imaginação é o que nos torna infinitos.

 

Nunca deixe de ser infinito.

 

Essa foi uma das lições mais importantes que o garoto ruivo de olhos prateados me ensinou.

 

"Olha Baek, olha."

 

"O quê?"

 

"Uma estrela cadente, faça um pedido."

 

Eu não sabia o que era uma estrela cadente, e nem o porquê de ter de fazer um pedido.

 

Então apenas imaginei uma estrela bem grande e prateada, raríssima.

 

"Faça um pedido, rápido."

 

"E-eu dese-"

 

"Não, não fale, ou o pedido nunca vai se realizar."

 

Calei-me então.

 

"Pediu?"

 

"Pedi, e você?"

 

"Pedi."

 

Não lembro bem ao certo quando caímos no sono, naquele madrugada que estava tão tarde mas tão tarde que estava quase cedo.

 

Só lembro que naquela noite sonhei com meu pedido, enquanto concluía que eu e que ele éramos apenas pedaços do universo expressados como humanos durante um curto período de tempo.

 

Eu pedi para que eu e Chanyeol fossemos estrelas.

 

Poderia ser uma utopia para você.

 

Mas para nós, era real.

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

Fora em julho.

 

Fora em uma tarde de julho.

 

Fora em uma tarde de neve de julho.

 

A primeira crise.

 

Estávamos ambos no terraço, fitando de cima os alunos brincarem de boneco de neve, correndo para lá e para cá atirando bolinhas.

 

"Chanyeol...com quem você vai na formatura?" Questionei, escondendo mais meu rosto entre o cachecol branco como todo o cenário frio, tremendo entre as roupas.

 

O ruivo levou seus olhos de soslaio até mim, exibindo apenas as beiradas de seus olhos prateados, levemente cobertos por uma touca de pelos.

 

"Com quem você acha?" Arqueou as sobrancelhas.

 

Eu não precisava responder.

 

Já sabíamos a resposta.

 

Suspirei, sentindo aquele ar gelado em meus pulmões e pensando em como éramos dois fodidos.

 

"A gente podia faltar, não podia?" Fiz uma expressão de desgosto.

 

"Não, não podia." Ele murmurou irritado, com aquele roxo forte nas laterais de sua face, levemente amarelado.

 

Eu mordia os lábios porque tentava, de todas as formas, dar um jeito de evitar o inevitável, ou seja, ir ao baile de formatura com nossas noivas.

 

Só de imaginar Chanyeol com Sandara... Aquela sensação ruim, mas que não era enfarto, era uma raiva.

 

"Eu não quero.” Fiz que não, bufando.

 

Seus olhos passearam pelo meu rosto e suas feições eram sérias.

 

"O quê?"

 

"Eu não quero que você vá no baile com ela."

 

Ele suspirou, revirando os olhos.

 

"Ai, não me diz que você vai ficar com isso agora, né?"

 

"Isso o quê Chanyeol?” Afastei-me da mureta “Eu não quero que você vá com ela."

 

"E dai? Eu não quero que você vá com a Taeyeon e não to falando nada!" Aumentara seu tom de voz.

 

"Então! Se a gente não quer ir vamos dar um jeito, fugir da formatura, sei lá." Gesticulava com as mãos, tentando convencê-lo.

 

"Você sabe que não podemos fazer isso!"

 

"Mas temos que dar um jeito!" Batia o pé no chão, irado.

 

"Você que tem que dar um jeito, eu não to nem aí pra isso!" Ele virou-se, me ignorando “Parece uma garotinha mimada.”

 

Fitei-lhe descrente, abrindo os lábios, tão bravo que queria bater nele.

 

"Velho, deixa eu ver se entendi, eu to aqui, tentando resolver o assunto e você ta pouco se fudendo?" Tombei o rosto.

 

"É, é isso ai! Para de frescura!" Ele não me fitava, encarando os arredores.

 

"Não é frescura!!" O empurrei, virando-o de frente para mim.

 

"É frescura sim!!" Ele se aproximou e eu me mantive ali, erguendo o rosto devido a diferença de altura, por mais assustador que ele parecesse “Que merda, ein!”

 

“Que merda digo eu!” Insisti no assunto.

 

 "Para de ciúmes da Dara, não tem nada entre eu e ela!"

 

Dara.

 

Dara.

 

Desde quando ele a chamava de Dara?

 

"Desde quando você chama ela de Dara?!"

 

Ele me fitou confuso.

 

"Quê? Agora eu não posso nem falar o nome das pessoas?!"

 

"O nome dela é Sandara que eu saiba e não "Dara". “ Fiz aspas com os dedos.

 

Chanyeol esfregou suas mãos no rosto diversas vezes, perturbado.

 

"Porra Baekhyun! Chega mano, eu não quero brigar com você!"

 

Bufei completamente irritado.

 

"Ninguém tá brigando, eu to aqui tentando preservar nossa amizade e-"

 

Seus olhos pousaram em mim rapidamente.

 

E eu congelei.

 

As íris prateadas estavam completamente perdidas.

 

Minha garganta tornou-se seca de maneira nunca antes vista.

 

"Chan..."

 

Ele abriu a boca lentamente, parando os segundos.

 

"A no-nossa o quê?" A sua voz estava tremula, falhada.

 

"A nossa amizade..." Aproximei-me dele, mas o ruivo recuou.

 

E eu fiquei sem entender o porquê.

 

"Então é isso, pra você nós somos amigos?"

 

Lembro que lhe fitei confuso.

 

"E nós não somos?"

 

Ele suspirou.

 

Um suspiro lento.

 

Temeroso.

 

Quase que sofrido.

 

"Não, nós não somos."

 

Gelei com aquilo.

 

"Como assim?" Aproximei-me do ruivo e o desespero me consumia "Channie, como assim?"

 

Ele não me fitou nos olhos e já se virou em direção a porta, como sempre fazia.

 

Mas não, eu não o deixaria escapar.

 

"Chanyeol!" Segurei em sua blusa, como se um vão se abrisse entre nós "Você está brincando não está?"

 

Ele me olhou extremamente bravo.

 

"Tira a mão de mim, caralho!!"

 

Seu tom de voz e aquele pedido fez meu peito se comprimir tanto, mas tanto que eu abaixei meu rosto, deixando a expressão morrer aos poucos.

 

"Cha-chanyeol..." Agarrei a pontinha de sua jaqueta, o mantendo ali. “Channie...”

 

"O que eu sou pra você Baekhyun?" Sua face não estava irritada e sua voz estava calma.

 

Ambas estavam tristes.

 

Abri a boca diversas vezes, tentando não falar nada de errado.

 

"Me-meu amigo..?"

 

"É, vai ver que eu sou só isso mesmo." Revirou os olhos, dando um tapa na minha mão, me tirando de perto de si como seu eu possuísse alguma doença contagiosa.

 

Fiquei ali parado, sentindo os flocos de neve congelar-me, enquanto Chanyeol se afastava, passo por passo.

 

Tentei respirar, mas até aquilo parecia doer, mordendo os lábios enquanto meus olhos já queriam se tornar molhados, queimando as laterais.

 

Não.

 

Não.

 

Não.

 

"Eu gosto muito de você!!” Gritei em meio ao terraço, fitando suas costas cobertas pelo casaco preto.

 

Mas a figura nada fez, continuou caminhando em direção à saída, como se minhas palavras não tivessem surgido efeito.

 

O meu desespero só aumentava, mas eu tinha medo de correr atrás dele e apanhar.

 

"Muito mesmo!!"

 

Quando vi, já estava chorando, deixando com que aqueles soluços dominassem tudo e meu nariz queimasse.

 

"Muito...muito...muito..."

 

Eu fungava baixinho, limpando com as costas das mãos as lágrimas, querendo que ele voltasse.

 

"Eu gosto muito de você!!"

 

A sombra parou de se mover e eu ergui meu rosto.

 

"Eu nunca te vi como um amigo Baekhyun." Escutei suas palavras ao longe "Eu te via do jeito que o Tristão via a Isolda."

 

"Eu não sei como eles se viam!!" Gritei afobado, querendo justificar-me.

 

Ele se virou e aquela distância entre nós era assustadora, apenas não tão assustadora quanto a distância da alma.

 

E eu só queria beijá-lo e me esconder em seus braços, pedindo desculpas por não saber.

 

“Pare de chorar, você é mais velho que eu."

 

Fiz que não, apertando meus olhos e deixando as lágrimas pingarem sob o piso coberto pela neve fofa.

 

Ele suspirou.

 

"Eu ainda posso ser seu amigo se você quiser." Murmurou e as palavras tardaram para chegar até mim.

 

Um sorriso se abriu em meus lábios.

 

Chanyeol havia me perdoado.

 

Eu não conseguia acreditar.

 

"Sério?" Corri até ele, querendo um abraço ou um beijo.

 

Mas ele apenas desviou, e eu senti que... que eu estava sobrando demais.

 

"Chany...” Fiquei parado no mesmo lugar.

 

"Amigos não se cumprimentam assim." Sua mão veio em direção à minha e eu fitava tudo aquilo extremamente confuso.

 

"Como assim?" Franzi o cenho, com os olhinhos molhados.

 

Por que ele não estava me abraçando?

 

Minha respiração estava perdida.

 

"Aqui, aperte a minha mão." Ele estendeu a palma e eu fiz o que ele havia mandado fazer.

 

Sem entender nada.

 

Respirei fundo, chorando mais logo em seguida, sua mão ainda estava na minha e eu apertei aqueles dedos como se minha vida dependesse disso.

 

"Por que você está chorando?” Encarei-lhe e ele desviou os olhos, perturbado "Não era isso que você queria? Somos amigos agora."

 

Ele tentou puxar sua mão de voltam, mas eu segurei-a fortemente, como se fosse a última vez que tocaria Chanyeol.

 

"Não... não tá certo Channie..."

 

"O que não tá certo Byun?"

 

Byun...

 

Não lembro direito de minha reação quando meu sobrenome desprendeu-se de seus lábios gelados, mas acho que abri o berreiro com aquilo.

 

"Não me chama de Byun caralho!!” Gritei  “Eu não to entendendo...por que tá tudo assim?"

 

Ele suspirou, puxando sua mão.

 

"Eu que não estou entendendo, nós somos amigos, certo? Então, devemos nos comportar como amigos."

 

"Eu não quero ser seu amigo então!"

 

Minha voz estava aguda devido ao choro.

 

Mas eu não me importava.

 

Existiam coisas mais importantes naquele momento.

 

"E você quer ser o que meu?"

 

Suas palavras entraram pelos meus ouvidos e vagaram-me a mente.

 

Olhei para o chão coberto pela neve.

 

Olhei para o céu que fazia cair os flocos

 

Olhei para minhas próprias mãos trêmulas.

 

Meu coração doía tanto.

 

Abri e fechei a boca diversas vezes.

 

Mas não consegui achar palavras.

 

"E-eu não sei...” Fitei Chanyeol e ele sorriu triste "Eu não sei o nome..."

 

Eu queria tanto saber! Tanto!

 

O ruivo se aproximou e eu estava tão desesperado que o abracei rapidamente pela cintura, escondendo-me entre seu corpo.

 

“Não me deixa.” Seus braços me envolveram "Me fala o nome...por favor..."

 

Minha voz saía abafada pela jaqueta preta.

 

"Isso você tem que descobrir sozinho." O apertei forte “Como você espera que eu fique bem sabendo que você não sabe o que sente em relação a mim?”

 

Seus lábios beijaram meus cabelos e tudo parecia tão confuso, num momento ele parecia ter nojo de mim e em outro estava ali, com os lábios sob meus fios.

 

"Por favor, se decida sobre isso Baek..." Senti seus batimentos tão acelerados contra meus ouvidos.

 

"Você não gosta de mim?" Murmurei e ele riu.

 

E eu não compreendi o porquê da sua risada.

 

"Mas é lógico que eu gosto de você, até mais que isso.” Ele sorriu.

 

"Então.” Encarei-lhe "Se a gente se gosta, qual tá sendo o problema Chanyeol?"

 

"O problema é que a gente se gosta diferente."

 

Não entendi aquilo.

 

"Um dia você vai entender."

 

Ele se afastou.

 

"Por enquanto, seremos apenas amigos."

 

Amigos.

 

Amigos.

 

Aquela palavra rodou minha mente durante todas as frações de segundos que Chanyeol levou para ir embora do terraço.

 

Meus joelhos falharam e eu tive de me sentar ali, na neve fria e suja de cinzas.

 

Fiquei quietinho, chorando, durante temerosos minutos.

 

Só notei que precisava ir para casa quando o toque de recolher soou aos arredores.

 

Tirei a bússola do bolso.

 

"Para o norte?"

 

Ela não se mexeu.

 

Sacudi-a, porém ela permaneceu parada.

 

Devia ser porque já não havia mais norte.

 

Já não havia mais bússola.

 

 

 

 

 

X

 

 

 

 

 

"Não, nós não somos amigos, e nunca fomos

Nós só tentamos manter esse segredo em nossas vidas

E se eles descobrirem, será que tudo daria errado?

E o céu sabe, ninguém quer que isso aconteça

Amigos dormem em camas separadas

E amigos não me tratam como você trata

Bem, eu sei que existe um limite para tudo

Mas meus amigos não me amam como você me ama

Não, meus amigos não me amam como você me ama."

-Friends, Ed Sheeran


Notas Finais


eai? gostaram? :v

Chanyeol mó ukezão cú doce total, sem comentarios, e ainda apareceu morto derrotado ft eu após provas no quarto do baek, oq sera q aconteceu? ueheuhuehuehue

Bom, é isso, desculpa a dmr pessoal, ta BEm tarde agr entao eu vou dormir, mas amanha vou responder os comentarios, ok? OK <3

qualquer coisa, meu tt é @seomoong

Beijos e queijos <3

E MUITO obrigada por tudo, ta quase com 700 favoritos!


~Moon


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