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História Misfit - Menos e Mais


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


Oiee gente!

Ainda se lembram de mim? Bom, por onde devo começar?

Acho que o motivo principal de tudo isso foi a minha avó, ela ta com um problema sério no coração e já ta lutando contra isso ha 2 anos, ela foi internada de novo agora e dessa vez a gente acha q...bom, vcs sabem... eu trabalhei durante alguns anos como voluntaria num abrigo de idosos carentes então digamos que eu sou bem apegada a velinhos e tals, ainda mais que ela é a minha avó, fiquei arrasada com isso e acabei indo pra Sao Paulo durante uns dias pra ficar no hospital com ela.

Além disso, eu fui diagnosticada com uma sindrome psicologica que tá me dando alguns problemas já faz um bom tempinho, e agora iniciei o tratamento mas ele é mto caro e eu nao quero deixar por conta de minha mae, entao to trabalhando de noite pra ajudar nisso e aqui em casa.

Em resumo eu to cheia de atividades pra fazer, minha mente parece que vai explodir e eu encosto e durmo em qualquer lugar, digamos que...eu to realmente precisando ser adulta dessa vez e esquecer um pouco a fic, vcs me perdoam, sim?

Vou me vigiar para que isso nao aconteca de novo, os proximos caps sao grandes entao a betagem demora mais mesmo, desculpa por isso...

Bom gente, só pra dizer que eu amo vcs e que UAU, 700 fav! Ta quase lá euheuheuhueheuheuheuheuheuehueh

mto mto mto obrigada <3 acho que esse é um lugar que um posso vir quando a vida real esta muito dificil de aguentar > <

ps. esse cap tem uma surpresinha que não tinha na versão original <3
ps.2. musica- creep sugerida pela @morticiabiu (oiee tia!)

Capítulo 13 - Menos e Mais


Fanfic / Fanfiction Misfit - Menos e Mais

  

Capítulo 13- Mais E Menos

 

 

 

 

 

 

 

“Bater na porta errada costuma resultar em descoberta.”

-Carlos Drummond De Andrade

 

 

 

 

Na metade de julho, meus olhos variavam enfadados entre sapatos níveos, todos praticamente parelhos, enquanto ocupava minha mente com dezenas de pensamentos entristecidos.

 

"Qual você acha que ficou melhor?"

 

A garota da minha idade, agora loira, andava com dois modelos diferentes, um de ponta fina e outro de ponta redonda, exibindo os pés fininhos e pequenos, acomodados nos pares.

 

"Esse." Apontei para o de ponta redonda.

 

"Então eu vou levar o outro." Ela sentou-se ao meu lado, e eu encolhi-me no banco aveludado da loja do shopping.

 

A vontade de desaparecer consumia-me, aquelas palavras sobre "por enquanto seremos apenas amigos" ecoavam em minha cabeça, e desciam cortantes em meu coração.

 

Eu não entendia, porque, para mim, já éramos amigos.

 

Chanyeol era meu único amigo.

 

E era o único que eu queria ter.

 

Mas aquilo estava se tornando complicado, difícil de lidar, naqueles tantos e tantos dias que ele simplesmente havia desaparecido e meu enfarte já era tanto que eu me perdia, me perdia dentro de mim.

 

O mundo parecia rodar ao contrário, os relógios sempre estavam sem pilha e meu tempo em solo terrestre mostrava-se por um triz, eu não sabia o que sentia, mas tinha a certeza de que não queria sentir mais nada.

 

Quero dizer, eu nunca havia sentido nada parecido, não fazia a menor ideia de como lidar, como resolver, como simplificar, ele havia chegado tão de repente, me chamando de tagarela no terraço, e passamos a fazer aquelas coisas erradas juntos, e chorar junto e trocar mensagens e aí quando dei por mim já estávamos aos beijos...havia sido tão...tão do nada? Mas havia se tornado tão importante também.

 

O principal do garoto de cabelos vermelhos era que eu podia ser verdadeiro com ele, sabe aquelas pessoas que te fazem querer acordar cedo de manhã sem falar merda ou reclamar da vida? Eu podia dizer o que pensava, se eu estava puto ele entendia, se eu estava feliz ele também entendia, e nos dias que eu nem fazia ideia do que estava, ele se forçava a entender, e no final, entendia.

 

E agora vinha aquela saudade, moldada em véus de casamento, e que eu não sabia direito explicar, mas nenhuma tarefa ou lição de casa podia ocupar o pensamento, nenhuma conversa podia preencher o vazio. Doía, ai como doía, e eu nem podia mostrar!

 

Ficava tendo que andar por aí, olhando para as pessoas, e elas sempre pareciam tão felizes, mas eu me questionava como, como? Minha mãe sempre dizia que tudo era assim mesmo e que temos que aprender a apreciar as pequenas coisas, como se existisse realmente algum tipo de dignidade em viver daquela forma, para no final...ser esquecido?

 

E aqueles 1% de tristezas que vinham com cada questionamento e medo, iam se acumulando e acumulando e quando eu notava já estavam ali, 100% dentro de mim. E aí eu ficava mal, minha avó ria e dizia que tudo na vida passa, incluindo a gente.

 

Se as coisas passam? É lógico que passam, tudo passa, mas o que sobra? O que fica depois de tudo passar?

 

Chanyeol havia passado todo cheio de suas vestes, ele era daquela forma, trajado com confiança, dignidade, risadas sem medo de ser feliz e olhares que não temiam o futuro. E eu? Eu havia ficado ali, meio nu, meio despido, meio tão na dele, mas tão na dele que acabara por esquecer a minha.

 

Não saberia dizer mas, às vezes, deseja ser um homem igualzinho a ele, porque ele era tudo que eu sempre havia desejado e tudo que eu nunca quis ter, e eu acho que são pessoas assim, sem eira nem beira, que o mundo andava precisando. Que eu andava precisando.

 

Mas acredito que as coisas não eram recíprocas entre nós, tinha gente que realmente sofria com tudo, por exemplo, eu sofria bastante com Taeyeon, principalmente quando ela inventava de me arrastar para o shopping e eu só queria ficar em casa, dormindo ou assistindo TV sem fazer coisas de garotas, mas não era aquele sofrimento sofrido que ele me dava.

 

Eu não era correspondido, e só quem já não foi correspondido sabe como dói ficar pela metade.

 

Hoje penso aqui comigo e talvez, mesmo sabendo que ele era errado pra caralho e eu era aleatório, que tínhamos tudo e mais um pouco para um desfecho triste, eu nunca quis desistir. Nunca quis me entregar para correntezas que terminavam em madeixas loiras e compridas.

 

Não por serem loiras, muito menos por serem compridas, era só que... Ela me parecia certa demais, bonita demais, educada demais. Taeyeon era pontual, nunca se atrasava e não dava o braço a torcer, além de não se importar com pouca coisa e com as com as grandes? Ah, com as grandes ela se importava menos ainda.

 

Ela era certa, tínhamos quase a mesma altura, com certeza seus braços encaixariam-se perfeitamente ao meu redor e eu teria um prato quente todo dia que voltasse para casa. Ela era certa.

 

Mas tinhas vezes que eu não queria a coisa certa.

 

E ele, ele era todo errado! Fazia-me perder a cabeça, pensar demais, explodir centenas de vezes dentro de mim mesmo, me esforçar para ser alguém melhor, alguém que prestasse para ele.

 

Era segunda e a gente se beijava, depois na terça eram apenas abraços, quarta feira eu já nem sabia mais, quinta as mãos passavam nos corpos e em lugares cada vez mais explorados, sexta eu ficava incerto de novo, depois sumia, depois voltava, ficava dias sem me procurar e...eu simplesmente não entendia tudo isso que ele era!

 

Eu procurava compreender, sabe? Mas acho que sua loucura não batia com a minha, talvez por que um de nós fosse mais louco que o outro. Não sei dizer qual.

 

Só sei dizer que sentia falta da sua loucura.

 

Em meio a questionamentos sem respostas e respostas que não serviam, um vazio e uma saudade de um lugar que eu acho que nunca havia existido, eu não poderia buscar réplicas sozinho.

 

"Taeyeon..." Chamei-a e a loira praticamente não acreditou.

 

"Você falando comigo? To é pasma!" Sorriu de leve, arqueando uma das sobrancelhas .

 

Suspirei, deixando com que meus orbes perdessem-se constrangidos na imensidão que era a loja para calçados de noivas.

 

Pensando que talvez eu estivesse tão espalhado quanto eles.

 

"Quando duas pessoas se gostam...o que elas são?" Lancei a bomba.

 

Ela me encarou confusa, pensando durante alguns segundos, desafivelando um dos sapatos com as sobrancelhas retinhas franzidas e os lábios vermelhos fazendo um biquinho.

 

"Ué, depende." Deu de ombros.

 

Refleti durante breves instantes. Dependia do que?

 

"Tem como você gostar de forma diferente de alguém?" Tombei levemente a cabeça para o lado.

 

Ela olhou para o teto, também pensativa e eu acreditava já estar sendo um incômodo.

 

"Como é esse alguém?"

 

Pensei em sua pergunta e o rosto do garoto ruivo surgiu-me a mente como surge uma tempestade, rápida e fortemente. Seus fios vermelhos, seu sorriso que se abria sempre aos poucos e sempre tão grande, ah! Tirava-me o ar! Seus jeitos e suas manias, aquele agir grosso e tosco que surgia de vez em quando, sua metade frágil, e um pouco muito mais. Estava tudo ali, já gravado.

 

Chanyeol sempre estaria nas beiradas rasas de meus pensamentos, e nas profundezas de minha alma.

 

"Ah, sabe..." Tentava dosar as palavras com coragem para compensar o excesso de vergonha contido em toda aquela receita que era a curiosidade.

 

Eu só achava que não tinha ingredientes suficientes. Na verdade, eu era um péssimo chefe.

 

"Você acha essa pessoa muito bonita... gosta dela, sabe...” Me embolava todo.

 

"Sim, sei." Ela suspirou sorridente "Tipo como eu acho o Kim Dongwan?”

 

"Isso!” Abri um sorriso “O que você é dele?!"

 

"Eu?" Sorriu sem jeito, jogando os fios dourados para trás "Eu sou fã dele."

 

Droga.

 

Ela havia entendido errado.

 

E como eu iria explicar? Nem sabia explicar para mim mesmo o que era aquela relação, imagine para minha noiva. O problema principal era ele, quero dizer, ele era meio bipolar, uma hora estava lá, me agarrando e no outro dia nem mostrava as caras, às vezes ficava bravo sem motivo, não queria dizer nada, tinha aqueles machucados e era tão teimoso, e chegava a me irritar quando eu passava dias com saudade dele para receber alguns beijos frios ou conversas mal estruturadas.

 

Toda a verdade é que, nesse mundo confuso ele fora capaz de fazer-me mais confuso ainda.

 

"Não... assim, o que você queria ser dele...?"

 

"Eu? Ai, eu queria namorar com ele, casar, essas coisas.” Ela escondeu o rosto entre as mãos "To envergonhada agora."

 

Namorar.

 

Namorar.

 

Nunca tinha ouvido falar.

 

"O que é namorar?" Franzi o cenho e ela arregalou os olhos, desarmada para a pergunta.

 

Hoje não a culpo, ela não tinha culpa, como já disse, Taeyeon era uma boa pessoa, era certa, ela só não tinha aquele toque, aquela risada, aqueles olhos. Ela tinha olhos, ela tinha tudo, mas não adiantava, eles eram imersos em certezas erradas, eu podia ser visto por todos, cumprimentado pelo porteiro, mas ninguém, no fundo, se importava.

 

Sentia-me como um nulo, um vão, um acessório, algo completamente dispensável, e na real? Acho que ninguém merece se sentir assim.

 

"Ah, namorar é tipo...” Pensou durante bons segundos "Namorar? Namorar é... é o que eu acho que acontece antes de casar."

 

"Então a gente namora?" Fitei a loira confusa, retribuindo a expressão.

 

"Não, a gente ta noivando que eu saiba.” Fez que não.

 

"E antes de noivar a gente namorava?"

 

"Não...eu acho que pra namorar tem que se gostar, não sei..."

 

Suspirei, pois naquele momento além de eu estar ainda mais confuso, minha noiva também estava, ambos girávamos em círculos sem alcançar destino algum.

 

"Pare de se preocupar com bobagens e comece a se preocupar com o casamento." Ela estalou a língua após um tempo.

 

Fitei-a de soslaio, seu rosto era vazio e opaco, ela podia ser certa... Mas estava tão errada.

 

Aquilo não era bobagem.

 

Chanyeol não era bobagem.

 

 

X

 

 

 Suspirava vagarosamente, erguendo alguns fios de cabelo que caiam sobre meus olhos, naquela manhã em que o relógio parecia ser meu inimigo durante a última aula de matemática.

 

Às vezes, eu me perguntava o porquê de não termos outras matérias que não fossem matemática, física e química. Porque existiam coisas na vida que eram chatas, mas existiam coisas que eram muito chatas, a rotina era uma delas. Sempre fora.

 

Eu ficava incomodado com fazer sempre o mesmo todo dia, ou pelo menos, não poder contestar isso, e pior, saber que mesmo contestando, era impossível nadar contra a maré. Devia ser porque eu, mesmo adolescente, era precoce em muitas coisas, pensava mais que o normal, sentia mais que o normal, e, consequentemente, queria viver mais que o normal.

 

Então acabava involuntariamente notando que, com o passar do tempo, algumas pessoas vão ficando cegas, e isso me fazia triste porque eu notava também que, às vezes, elas se tornavam cegas de tal forma que nunca poderiam voltar a enxergar. E esse é exatamente o tipo de coisa que ninguém quer contar a você quando se é jovem e que acaba não causando nenhuma surpresa quando já estamos mais velhos.

 

Ver todos daquela maneira. Cegos.

 

E durante minhas aulas, constantemente repetitivas, eu me questionava quando ficaria cego, ou se já havia ficado e nem notara.

 

Lembro-me de tornar meus olhos cansados até a carteira vazia, aquela carteira já decorada e, de certa forma, especial.

 

Chanyeol havia faltado.

 

Ele sempre faltava, era algo impressionante, depois de nossa briga então? Nem uma poeira de seus coturnos passava pelas portas.

 

Talvez ele só não quisesse falar comigo, talvez não quisesse ver minha cara ou ouvir minha voz e eu me perguntava o porquê. Às vezes na vida sinto que ficamos nesse dilema, porque para nós não há nada de errado conosco e existem certos defeitos que nem estamos interessados em mudar.

 

Mas talvez, estejamos completamente errados na visão das pessoas.

 

Ninguém gosta de mudar, eu também não gostava, ainda mais quando é pelos outros, mas acredito que isso tudo acontece apenas porque nos permitimos ser capturados por essa teia de ser o que tem que ser, embora sempre desejássemos ser o que não tem que ser ou ser melhor do que tem que ser.

 

Era confuso, era complicado e era pensamento meu, meu e das minhas escolhas mal feitas, meu e dos meus olhos empoeirados, meu e do meu coração que se apegava fácil, meu e do meu raciocínio lerdo, meu e de tudo que eu imaginava, meu e das minhas incessantes perguntas.

 

Meu e daquela enorme parte de mim que queria ser melhor e se sentia infinitamente culpada, culpada por isso, culpada por aquilo.

 

Hoje acho que todos nós somos culpados, mas precisamos aprender a nos perdoar, nos permitir o perdão. Ser culpado é questão de saber, ser feliz é questão de permitir.

 

E eu não conseguia ser plenamente feliz sem ele.

 

Ele, que eu queria saber o que achava tão ruim em mim.

 

Seria o meu cabelo?

 

Ele possuía cabelos vermelhos, de uma tonalidade viva e levemente brilhante, bonitos e sempre bem bagunçados, caídos sob os olhos. Eu tinha um corte comum, de tonalidade meio preta, meio castanha e moldada perfeitamente ao redor do rosto.

 

Recordo-me de levar os dedos até as madeixas escuras enquanto pensava nisso, quase quis arranca-las fora, e Taeyeon fitou-me curiosa, provavelmente se perguntando o que eu estava fazendo, dando de ombros logo em seguida.

 

Seriam minhas roupas?

 

Ele vestia-se daquela forma, tão “garoto problema”, todos podiam notar ele de longe, mas ao mesmo tempo eram tão frios, o tratavam com repulsa, independente de quão negro eu me vestisse, Chanyeol sempre seria mais.

 

Seria o meu jeito?

 

Minhas perguntas frequentes, minha inocência, minhas manias, o jeito que eu lhe beijava, o jeito que lhe tocava, tudo poderia ser motivo!

 

Minha altura?

 

Ou será que era pelo fato de eu ser homem, assim como ele?

 

Eram tantas coisas que apenas pude suspirar lentamente, sem prestar o mínimo de atenção nas falas repetitivas do professor, pois minha mente estava longe, muito longe.

 

Minha mente estava em um mundo completamente diferente, colorido, com borboletas, pirulitos, poções do amor, chicletes, bússolas.

 

Um mundo que eu sentia que pouco a pouco se distanciava cada vez mais de mim.

 

E eu nem ao menos sabia o porquê.

 

O sinal batera e novamente nada de madeixas vermelhas, decidi então apenas juntar meu material, colocar a mochila sob os ombros e ir embora para casa, tentando desenhar em minha mente tudo, menos seus olhos prateados.

 

A neve atingia meus cabelos  e naquele momento eu notei que, entre cada floco e cada cair, eu não pensaria em mais nada a não ser ele, ou então eu simplesmente não pensaria.

 

 

X

 

 

Na segunda feira da outra semana, recordo-me de ter ido até o terraço durante o intervalo, a procura de Chanyeol, ele havia comparecido a aula pela primeira vez em tanto tempo, mas saíra da sala, rápido o suficiente para não deixar rastros, como se realmente estivesse fugindo de mim.

 

E por que fugia?

 

Subi a escadaria quase que interminável, formulando conversas, palavras, gestos, até mesmo reações em minha mente. Tinha essa mania, de planejar, não que eu fosse extremamente metódico ou quadrado, mas eu também não era um círculo.

 

Abri a porta branca e enferrujada, sentindo cada descascamento da mesma em minhas digitais afoitas, sentindo todo aquele vento mais forte atingir-me o rosto. Passei os olhos por todo o local, com um sorriso já rasgando as laterais da face.

 

Mas o terraço estava vazio.

 

Suspirei triste, afundando-me dentro de mim, mas logo sorri de leve, ele deveria estar no estacionamento dos professores.

 

Corri até lá então, tentando não encontrar com nenhum inspetor no caminho, o que, para a minha sorte, não acontecera.  Procurei próximo a picape vermelha, pisando entre aquelas gramas mal cortadas e flores secas, e para minha surpresa, o local também estava vazio.

 

Meu coração doeu pesado e eu senti-me igual ao dia do mingau, com vontade de chorar, os olhos já queimando, e suspirei, tentando me acalmar, mas quem diabos eu queria enganar?!

 

Eu estava irado, incompreendido, e mais, indefinido para mim mesmo! Olhava dentro de mim e falava que estava tudo bem, que todas aquelas semanas, horas e toda aquela falta de mensagem, todos aqueles olhos que não eram prateados, todas aquelas conversas mal amadas, tudo, estava tudo bem, tudo estava normal. Mas quem eu queria enganar? Não estava.

 

No segundo que eu me virava, que ia fazer qualquer coisa, ele me vinha à mente, e era patético porque não tinha quem tirasse! Era nas menores coisas que aparecia e eu tinha que ficar disfarçando, com aquela cara de zonzo, de um moleque de dezesseis anos que suspirava pelo melhor amigo mais novo que si, vivendo uma vida que eu não estava vivendo.

 

Ele era tão privativo, tão exclusivo que eu me questionava como era capaz de ser amigo de alguém como ele, alguém tão complexo, e porra, eu estava cansado!

 

Eu estava cansado de evaporar e apenas ser permitido de chover novamente em certas horas.

 

Eu queria sempre molhar. Eu queria sempre cair.

 

E como eu era burro! Um cara tão burro, ficava ali, insistindo naquilo, insistindo em ver rosas onde só existiam espinhos, indo atrás daquele par de olhos por toda a escola, porém, quanto mais eu procurava, mais desesperado eu ficava.

 

Chanyeol parecia não estar em lugar algum!

 

Recordo-me que pude ver um inspetor virar o corredor em que eu me encontrava, já havia passado do horário e o sinal já havia batido fazia tempo, mas eu não podia voltar a classe.

 

Não sem ter visto o ruivo.

 

Fui a passos lentos em direção ao banheiro mais próximo, entrei ali, procurando me esconder do homem vestido inteiramente de branco e de seu apito ensurdecedor.

 

Suspirei, fechando a porta num baque, e parei de frente ao espelho límpido, deparando-me comigo mesmo, fitando meu rosto.

 

Eu me achava tão feio.

 

Completamente sem graça, eu odiava cada parte em mim, quanto mais eu olhava, mais defeitos encontrava.

 

Eu não fedia nem cheirava e era esse o problema, se eu pelo menos fosse horrível! Mas não, eu era daquela maneira, meio feio, meio bonito, meio gordo, meio magro, meio chato, meio legal, meio burro, meio inteligente.

 

O meu problema era esse. Eu era muito “meio”.

 

Eu tinha minhas medidas divididas, mas estas não eram capazes de segurar todo o peso da vida, e por que não me contaram? Por que nunca ousaram dizer?

 

Sobre tudo? Sobre a vida?

 

Por que não tiveram a destreza de me explicar, me falar sobre as noites mal dormidas, não apenas pelos estudos, mas pela saudade, pela falta de si mesmo, as noites em que apenas um travesseiro pode secar nossas lágrimas, mas não pode preencher o vazio do peito?

 

Sobre as esperas e expectativas do futuro, que não batem como nossa realidade, a forma terrível que isso pesa e nos ancora até o fundo dos mais escuros mares de mudanças.

 

Por que eles não podiam especificar essas situações e me dar alguma alternativa que não fossem mãos tremulas, lábios batidos, uma cara de retardado e pobres “eu sinto muito” para proteger aqueles que eu amava?

 

Ninguém nunca me quis dizer sobre ele, ou sobre como eu teria que aprender a ser paciente e lidar com aquilo, com aquelas borboletas e aquele jardim que se formava em meu estômago e era tão, céus! Tão movimentado que meu peito subia e descia e eu simplesmente nem sabia como me controlar direito do seu lado, sem falar algum tipo de merda e permitir que aqueles seres alados fugissem entre meus lábios.

 

Por que eles não diziam que gostar de alguém ia doer tanto, muito mais que espremer uma espinha ou bater o dedinho na quina da porta, e que eu iria, mesmo que muito sem querer, enfartar milhares de vezes apenas ao sentir sua língua contra a minha, e suas digitais fluindo rentes de meu corpo, como se tocassem majestosas as teclas de um piano?

 

 E que nesse gostar eu iria acabar perdendo o rumo e ser obrigado a mudar e restabelecer tudo que já havia planejado para minha vida? Óbvio, eu era um pivete idiota sonhador, mas vivia naquele galho, naquele meio fio de equilíbrio e fazendo tudo sempre tão igual, e ele aparecia querendo me quebrar com suas pequenas coragens, o que eu poderia fazer? O que eu poderia fazer se quando jogávamos xadrez ou ficávamos naquele terraço, trocando alguns chutes e tapas, dizendo o quanto éramos idiotas, e caralho, quando ele sorria daquela forma exagerada, eu imaginava nossos filhos iguaizinhos a ele!

 

Sentia vontade de mandar aos ares as apostilas e que se explodisse tudo! Reescrever os currículos, jogar fora os livros e todos os textos que falam sobre análises matemáticas e cálculos intermináveis porque a pessoa mais importante da minha vida era uma invariável! E era invariável porque era errado. E era certo porque o mundo era errado também.

 

Devia ser por aquilo então, eu não sabia resolver contas, Chanyeol era uma eterna equação e uma indefinível incógnita. Eu não o merecia.

 

Será que o problema era porque eu era baixo?

 

Ou será que era porque eu era homem?

 

Talvez ele detestasse se abaixar para ficar na minha altura ou ter de sentir meu perfume que era, bem, masculino feito o seu.

 

Ou será que era pelos dois?

 

Lembro que comecei a chorar apoiado na pia porque eu não sabia o que era pior em mim, porque eu desejava começar de novo, começar novo, mudar este mundo e ensinar para todos uma maneira gentil de fazer com que suas lágrimas se tornassem marés calmas, capazes de ninar as batidas de seus corações desenfreados quando estes fossem nadadores solitários.

 

O real significado de esperar, e sinônimos de correr, de buscar, e de procurar o fim mesmo sabendo que tal não existe. Que gostar dói mesmo pra caralho, mas que nossos dedos tornam-se fogos de artifício toda santa vez que tocam a pele de alguém capaz de nos entender.

 

Eu só queria que meu fogo de artifício brilhasse tanto quando os de outros, e que nunca parasse de explodir, mais e mais e mais, e que se tornasse uma granada capaz de atravessas todo esse mundo louco que havia criado dentro de mim.

 

As lágrimas escorriam quentes e eu tentava não fazer barulho algum, fungando patético, sob aquele mármore branco receptivo à minhas lágrimas.

 

Por que a Sandara e não eu?

 

Fitei meu reflexo, eu ficava ainda mais lamentável daquela maneira, bochechas inchadas e sobrancelhas franzidas, a pele pálida tão vermelha e decidi por manter o rosto baixo, deixando a água escorrer.

 

Eu queria o Chanyeol.

 

Puta que pariu, eu queria muito ele, como nunca quis nada antes.

 

Eu queria seu abraço.

 

Eu queria seu cheiro.

 

Droga!

 

Por que tudo era tão difícil?!

 

Ele precisava me encontrar.

 

Pois eu estava perdido, chorando, eu estava desaparecendo pouco a pouco sem ele ali, durante tanto tempo, tantos dias.

 

Ele precisava me encontrar.

 

Porque não importava quantas pessoas ao meu redor sorrissem para mim, não importava a felicidade, não importavam as maçãs, não importava quantas vezes me encontrassem. Ninguém era capaz de fazer daquele  jeitinho dele, a forma que só ele encontrava.

 

Ele precisava me encontrar.

 

Já que eu não era capaz de encontrá-lo.

 

Ele precisava me encontrar.

 

Pois independente de quantos dardos ele ficasse jogando por aí, em conversas furadas, em mapas já tão gastos, presos por pregos velhos em paredes rachadas, não iria adiantar. Ele precisava forçar aquela ponta entre sua carne, perfurar seus pulmões e adentrar aquele pequeno corredor entre suas costelas, naquele local onde o sangue pulsava tão mas tão frenético.

 

E aí sim, só então, que iria descobrir onde eu sempre estive lhe esperando.

 

Ele precisava me encontrar.

 

“Baekhyun?!” Ergui a face rapidamente ao ouvir meu nome ser clamado.

 

E por aquela voz desafinada.

 

No reflexo do espelho, e saindo por uma das cabines, lá estava ele. Chanyeol. Ele. Com seus olhos prateados, cabelos vermelhos e roupas negras. Ele. Com tudo que cabia Park Chanyeol.

 

Arregalei os olhos sem acreditar.

 

"Chanyeol?!" Virei-me de frente, assustado, mas fiquei ainda mais perplexo quando vi seu rosto.

 

Os olhos inchados, vermelhos, molhados, lábios trêmulos e bochechas que traçavam caminhos transparentes.

 

Ele fitou-me surpreso, e rapidamente esfregou as mãos nos orbes já opacos, fungando de leve.

 

Ficamos olhando um para o outro durante longos segundos, tentando tragar saliva, e aquele espaço de pegadas que nos distanciava no piso frio de azulejos brancos, parecia um precipício.

 

Por fim, um sorriso abriu-se em seus lábios inchados.

 

"Ah, oi Baekhyun, tudo bem?" Riu.

 

Aquela frase.

 

Aquele riso falso.

 

Aquele não era o Chanyeol que eu conhecia.

 

Apoiei-me na pia, batendo minhas costas no mármore, quando ele se aproximou, fui para a direita e ele foi também, tentei desviar para a esquerda e ele fez o mesmo, no final, apenas mordi os lábios, ficando parado.

 

"Tu-tudo." Murmurei.

 

O único ruído era o da torneira, enquanto o ruivo lavava as mãos ao meu lado, mas eu era capaz de ouvir aquele meu coração, em um perfeito código Morse, digitando rapidamente seu nome. Digitando aquela vontade, aquilo que eu queria gritar e era covarde demais para fazer.

 

Olhe para mim, Chanyeol.

 

Por favor, Chanyeol, fale comigo.

 

Toque-me.

 

Não vá embora. Fique, por favor, cara, fique.

 

Vamos jogar joguinhos no seu celular, vamos cantar músicas, vamos contar estrelas e adivinhas nuvens, vamos trocar saliva e fugir por essa fronteira, vamos qualquer merda, mas pelo amor de deus! Vamos fazer.

 

Juntos.

 

“Então tá.” Secou as palmas, sem olhar uma única vez para mim.

 

Seus gestos indicavam a saída.

 

Os meus, a permanência.

 

Silêncio.

 

"Q-que foi?" Ele não se virou.

 

Meus dedos estavam fixos em seu braço, indicando que não lhe soltaria tão cedo.

 

E acho que foi só ai que notei que não possuía as palavras, merda. Eu tinha centenas de poemas dentro de mim, coisas mal ditas e dizeres que não significavam nada.

 

Saber falar sobre um gostar que machuque, que dói, eu sabia. Mas e o gostar reconfortante? Tantos sonetos sobre ir embora e nenhum sobre como convencer a ficar.

 

Eu sabia o que queria dizer e eu tinha certeza do que ele queria ouvir, mas então por que não saía?

 

"O que é namorar?” Chanyeol ficou em silêncio diante de meu questionamento "Por favor, me explica que ninguém soube me dizer.”

 

Ele suspirou, retraído, e céus! Parecíamos completos estranhos.

 

"Na-namorar é... é quando duas pessoas se go-gostam como namorados e ficam juntas, ai elas namoram..."

 

Mais silêncio e ele apenas tentou puxar seu braço, mas eu não deixei, o forçando a ficar ali, pois ele mostrava-se tão assustado e pequeno.

 

"Chanyeol, para com isso...” Minha voz soou baixa, muito mais baixa do que eu pretendia.

 

"Baekhyun...por favor, não brinque comigo." Ele puxou o braço, rindo de leve.

 

Mas eu puxei de volta, e então as coisas ficaram feias.

 

"Quando eu brinquei com você?!" Tentava controlar a vontade de gritar naquele banheiro, apenas elevando o tom de voz.

 

Já ele, parecia não fazer questão do silêncio.

 

"Quando você falou que eu era seu amigo!!" Chanyeol se virou irritado, gritando "Eu não sou seu amigo desde a porra do dia em que a gente se beijou pela primeira vez!!"

 

Não me afastei perante sua voz agressiva e seus olhos irados, pelo contrário.

 

"Por que não?!" Colei os peitorais, o empurrando entre aqueles espaços, até que suas costas estivessem coladas na porta da cabine atrás de nós.

 

"Porque não! Amigos não fazem isso! Amigos não dormem na mesma cama, amigos não se beijam, amigos não fazem o tipo de coisa que a gente fez lá em casa!!"

 

Meus dedos estavam presos em seu colarinho e eu queria socar seu rosto a qualquer momento, pois eu não estava entendendo!

 

"Por que não?!"

 

Seus braços seguraram em meus ombros com força, metendo as unhas bem cordas ali de forma que machucasse.

 

"Porque é muito mais especial que amigos!! Isso é coisa que namorados fazem!!"

 

Chanyeol empurrou-me para longe e começou a bufar diversas vezes, talvez tentando se acalmar. Porém, algumas lágrimas começaram a cair e ele as limpava imediatamente, querendo fingir que não chorava.

 

"Você pode ter..." Soluçava "Um monte de amigos entende, mas você não pode ter um monte de namorados..."

 

Eu tentei respirar, abrindo os lábios, e o ar desceu em socos pelo meu corpo, enquanto eu fitava atento o ruivo que tremia, escondendo o rosto entre as mãos.

 

Chanyeol nunca gostou de chorar na minha frente, ele se sentia fraco, eu sempre soube disso.

 

Mas e daí? E daí? Ninguém é forte o tempo inteiro, eu não precisava que ele fosse.

 

"E-eu nunca te pedi em namoro....po-porque achei que você já soubesse." Fitava-me desolado e caramba, eu observava aquele rosto.

 

E como ele conseguia ser daquela maneira? Numa hora ele era tão...pleno, como se soubesse exatamente onde pisar mesmo de olhos vendados, e agora boom! Estava ali mostrando-se para mim.

 

Mostrando que talvez eu fosse a máscara de oxigênio para seu coração que sempre estaria preso em um acidente de avião.

 

"Chanyeol...” Fitei o teto “Calma."

 

Toquei em seu braço com delicadeza, tentando passar alguma confiança, e dizer que eu estava ali para ele, que eu era mais velho e tomaria as rédeas, que eu iria lhe ajudar porque ele precisava ser ajudado.

 

E que o ver chorando me quebrava em zilhões de pedaçinhos.

 

"Não t-toca em mim...e-esse tempo todo você só me viu como a porra de um amigo...” Continuei com minha mão ali “Já fazem dois anos...”

 

Eu precisava me acalmar se não nunca conseguiria acalma-lo, e droga, eu não sabia acalmar alguém! Ninguém havia me ensinado o que dizer em momentos como aquele. Acho que compensava mais beijá-lo e dizer para que parasse com aquilo, mas ele estava se desfazendo em prantos bem diante de meus olhos!

 

“Channie, shh, fica calmo mano.” Cheguei ainda mais perto, pegando em uma de suas mãos, tentando fazê-lo mostrar o rosto.

 

Mas fora falho, ele virou-se de leve, usando os dois braços para cobrir a face.

 

"Sai daqui, tava tudo bem até você chegar."

 

Chanyeol conseguia ser bem criança quando queria.

 

Devia ser porque ainda éramos crianças.

 

Mas não parecia.

 

Parecia que éramos adultos.

 

E por parecer, nós tomávamos como verdade.

 

"Olha pra mim, cara...” Acariciei seu braço coberto pelo moletom negro “Channie..."

 

Forcei ainda mais o toque, deixando com que seu rosto avermelhado se mostrasse, as íris prateadas estavam ensopadas, tão bonitas.

 

Pareciam cristais derretidos.

 

Aproximei nossos rostos, notando que ele não se afastou, roçando os narizes em um carinho.

 

“Shhh, tá tudo b-“ Ele me empurrou irritado e com um tapa, afastou minhas mãos de si.

 

Abri a boca, chocado.

 

"Não vamos mais nos falar, não toca mais em mim.” Com essa frase, e uma porta se batendo, Chanyeol se foi.

 

Suspirei dolorosamente no banheiro, incapazes de conter aquele garoto de olhos platinados, e hoje penso aqui comigo, eu tinha tanto medo de perdê-lo. Mas como o esperado, ele não era nem meu.

 

É.

 

Tudo parecia desmoronar bem a frente de meus olhos.

 

 X

 

 

Chanyeol faltaria durante mais três dias após o episódio do banheiro.

 

Até chegar quinta feira.

 

Os coturnos negros arrastavam-se pelo chão e eu não deixei de, ao ouvir aquele som característico, suspirar como uma garotinha colegial.

 

Levei meus olhos até sua face, fitando os machucados usuais, mas que sempre seriam algo que mexeria comigo.

 

Se havia algo machucando Chanyeol, esse algo me machucava também. Pois que queria protegê-lo, tinha essa necessidade.

 

Ele não me direcionou os olhos, foi direto a sua carteira, jogando-se ali como sempre fazia e era impressionante o quanto eu gostava dessa maneira "largadona" dele.

 

Embora todos odiassem.

 

O professor de não o advertiu, apenas anotou algo no caderninho e encarou Chanyeol durante alguns segundos, pensativo. Observava seus atos quando os olhos enrugados descansaram em minha pessoa.

 

Assustei-me com aquilo, afinal, por que o professor estava me encarando?

 

Seus dedos moveram-se no papel novamente e eu rezava mentalmente para não terem descoberto minha amizade com o ruivo. Ou mais, para não terem descoberto sobre nossos beijos estalados entre os muros do terraço, escondidos dos olhos de todos.

 

"Sr. Park..." Ele iniciou o discurso, ao qual meus olhos não se desprendiam e Chanyeol fitava os próprios dedos, brincando com eles. "O Sr. está com dois na minha matéria, e desculpe-me, mas não irei reprová-lo novamente neste ano, então trate de estudar."

 

Suspirei aliviado, como se um peso abandonasse-me as costas, era apenas um assunto sobre notas então.

 

"Irei discutir com seus responsáveis, pois sugiro uma rotina de estudos com o melhor aluno de física da nossa sala, o Sr Byun." Seu dedo veio em minha direção e eu arregalei os olhos.

 

O quê?

 

Rotina de estudos?

 

Comigo?

 

"Comigo?" Intrometi-me no assunto ao ouvir meu nome e Chanyeol, pela primeira vez no dia, me fitou.

 

"Sim Sr.Byun, sei que vocês não são amigos e é exatamente por isso que recomendo que ensine física para ele, não quero mais contato que o necessário.”

 

Não respondi o professor, apenas tornei a encarar Chanyeol segurando aquelas palavras em minha mente e mãos.

 

Tão fracas...

 

Sei que vocês não são amigos...

 

Ninguém entendia, não é mesmo? Ninguém nunca entendeu.

 

"Eu não vou poder..." Chanyeol murmurou baixo "Meus pais não vão deixar."

 

Meus pais...

 

Os pais de Chanyeol estavam mortos.

 

"Sr. Park, pode deixar que eu irei resolver tudo, por hora, vá para a casa do Byun, teremos uma prova depois de amanhã e ela já é fundamental para seu resultado."

 

Chanyeol bufou, visivelmente incomodado, e eu tornei a fitar o chão, chateado.

 

Por que ele estava agindo daquela maneira? Por que estava sendo tão frio? Tão cruel?

 

Senti-me tão mal que quis chorar, mas eu não podia, ou Taeyeon iria rir de mim, o professor iria perguntar o que havia acontecido, eu iria falar que não era nada, pois eles não sabiam, e eles iriam dar de ombros.

 

Diferente de Chanyeol, que sabia o que havia acontecido, sabia de tudo o que havia acontecido naqueles dois anos.

 

Senti os olhos pratas pesarem sobre a minha pessoa, me observando distantes, e sutilmente os procurei com meus castanhos.

 

Mas eles já não estavam em lugar algum.

 

 

 

X

 

Era tarde, a data eu não me recordo, apenas sei que estava deitado no sofá velho de minha avó, sozinho na casa, passando de forma entediada os três canais existentes na tv.

 

De forma entediada porque, na verdade, não prestava atenção naquilo, minha mente era preenchida por apenas uma pessoa.

 

Que provavelmente passaria pela porta em poucos minutos.

 

E era tão inacreditável, quero dizer, dias sendo evitado e agora ele simplesmente caía numa própria armadilha, tendo que vir até mim. Hilário.

 

A campainha soou irritada e meu coração apertou-se, nervoso com o que viria a seguir, lembro-me de ter suspirado, desligando a tv.

 

Coloquei os pés no chão com a maior calma do mundo, eu não estava apenas nervoso, estava chateado também, triste talvez, pois sabia que seria uma tarde extremamente tediosa. Chanyeol não iria ao menos olhar-me nos olhos, ficaria me ignorando e fingindo que eu não existia, e que eu nunca fora nada para si.

 

Fui com esse pensamento em direção à porta, sem nem mesmo olhar pelo olho mágico, pois já sabia quem era. Meus dedos embrenharam-se na maçaneta enferrujada, girei-a, e não foram precisos mais de dois segundos para um corpo alto bater contra o meu.

 

O ruivo subiu as escadas sem nenhum tipo de permissão, fosse para pisar no chão, ou respirar o ar de minha casa, passando reto por mim.

 

A verdade era que ele não queria estar ali, ele não queria me ver.

 

E eu? Eu já sabia disso, mas não fazia a menor ideia do quanto ia doer, do quanto ia ser pesado notar sua falta de interesse, aquele Chanyeol que todos conheciam, tão oposto ao Chanyeol que apenas eu tinha conhecimento.

 

O meu amigo.

 

Suspirei, fechando a porta e mordendo os lábios, pois se não o fizesse, iria chorar, porque meu deus! Ele era tanto e esse seu “tanto” era tanto dentro de mim!

 

Para que ficar agindo daquela forma? Ele mesmo sabia que existia algo mais forte, algo muito maior que ambos não podíamos controlar.

 

Eu estava tão fragilizado com todos aqueles sentimentos , em pedaços literalmente e acho que fui assim por tanto tempo, meio descolado, tendo de me juntar sozinho todas as vezes que algo ruim acontecia. Mas ninguém nunca quis...me ter.

 

Não, é, ninguém nunca havia sido meu, mas em troca, nunca havia sido de ninguém, e quer saber? Gostava disso.

 

Só que acho que pela primeira vez em anos tinha algo mais, sim, uma falta de adjetivos de posse! De união, de pertencer. Eu ficava completamente bem sendo daquela forma, apenas no singular, mas de vez em quando, só de vez em quando, queria ser um pouco mais plural.

 

E aqueles olhos, ah meu deus, aqueles olhos, eles chegaram e chegaram tão depressa, e vieram me erguendo por beiradas que eu nem lembrava que existiam em mim, unindo peças e mais peças, completando um quebra cabeça, me moldando.

 

Chanyeol era tão tolo, bobo e inocente de acreditar que ainda existia algo em mim que poderia encaixar-se, fazer sentido, não, eu era muito avoado para isso, vivia sempre em outro mundo, mas era um mundo de certa forma bem desinteressante. E mesmo sendo assim, tão sem graça e impenetrável, ele quebrou aquela barreira com meros sorrisos, como se eu fosse tão fácil.

 

Como se eu fosse tão fácil ele fez e me desfez em seus dedos.

 

E eu, que amava ser singular, quebrado, fui ficando cada vez mais dele, cada vez mais plural.

 

Mas posso confessar uma coisa? Eu nunca havia gostado tanto de viver em pedaços.

 

Arrastei-me pelas escadas, sentindo o frio que consumia a casa completamente branca, e o quanto ele assemelhava-se com o frio por debaixo de minhas costelas, entrei no corredor, fitando a primeira porta a direita, a mesma já se encontrava aberta.

 

Entrei ali, sentindo a luz que vinha de minha janela cegar-me de leve e comprimi os olhos, olhando ao redor, procurando por sua presença.

 

O garoto alto estava encostado na cômoda, de braços cruzados e face séria, ele me encarou, mas logo desviou o olhar.

 

"Vamos logo com isso, preciso voltar pra casa." Sua voz soou baixa e irritada.

 

Suspirei, tragando saliva, pois parecia que o desentendimento havia chegado mais cedo do que o esperado.

 

"Não precisava ter vindo, a gente mentia falando que estudou.”

 

Ele riu com escárnio e de forma forçada, tombando a cabeça para o lado.

 

"E você acha que ele não iria perceber que eu não estudei? Você é burro ein."

 

Meu coração se apertou e eu falhei nos meus passos.

 

Por que ele estava falando daquele jeito comigo?

 

Nós não éramos amigos?

 

Meus pulmões ardiam, tudo estava tão estranho, tão confuso, tão não “a gente”.

 

"Chega de falar e vamos estudar." Sentei-me na cama, puxando meus cadernos que já estavam jogados ali.

 

Chanyeol não se aproximou, permaneceu encostado à cômoda, de braços cruzados e aquela expressão bruta desenhada na face.

 

Silêncio.

 

E eu já não conseguia suportar mais aquilo, porque doía, doía demais!

 

Chanyeol havia decidido tornar-se incomunicável, fechado, puto. Mas nessa sua mudança, catou todos os móveis e esqueceu-se de deixar um guia de como sobreviver sem ele, como acordar feliz de manhã sabendo que não iria ver seu rosto, como passar os intervalos sozinho e sem seus abraços, seus beijos, seu toque.

 

Ele foi embora e acabou esquecendo-se de mim.

 

"Se você não veio aqui pra estudar, vá embora." As palavras abandonaram meus lábios de forma arisca e eu fitei-lhe sério.

 

Não aguentava mais aquilo, eu não havia feito nada para estar sendo tratado daquela maneira, com tanto descaso, tanta falta de educação.

 

E estava me sentindo tão sozinho! E por tanto tempo! Sozinho mesmo, vocês já se sentiram assim? Não sozinho quando não tem ninguém do seu lado, mas sozinho quando chega de noite e você percebe que não existem braços ao seu redor ou pés juntos aos seus.

 

Sozinho quando você quer conversar e tem aquele sentimento de estar incomodando, todos, qualquer um, sozinho quando você vive rodeado de um mar de pessoas mas simplesmente não se encaixa neles, não pertence a ninguém e a nenhum lugar.

 

Você não se sente sozinho quando não existe ninguém ao seu lado, você se sente sozinho quando quem está ao seu lado não está com você.

 

E eu? Eu me sentia tão sozinho.

 

Eu queria o Chanyeol, mas, mais que isso, eu queria o meu Chanyeol.

 

O ruivo suspirou e sentou-se ao meu lado na cama, lembro que fiquei nervoso com a sua aproximação. Faziam-se tantos dias que eu não o via, o abraçava ou beijava sua boca, e eu sentia tanta saudade de seu calor, de seu cheiro.

 

"O que você tem duvida?" Abri o livro de forma desconcentrada, com os dedos meio trêmulos, sentindo sua coxa encostada na minha.

 

Ele me encarou com aqueles orbes prateados aos quais eu poderia bem tirar uma fotografia na memória, olhos que se eu encarasse demais, perdia o rumo.

 

"Eu não tenho duvida em nada." Respondeu simples.

 

Franzi o cenho.

 

"Como não?" Questionei.

 

Ele suspirou.

 

"Não tenho, eu já sei de tudo isso aí.” Apontou e eu encarei as apostilas abertas sem entender muita coisa.

 

"Então...então por que você tira zero?” Fitei-lhe continuamente, até porque, eu tinha liberdade para tal, após tantos meses, dias e segundos ao seu lado.

 

"Eu não vou seguir esse sistema de bosta, essas coisas são completamente desnecessá-“

 

"Escola não é desnecessário." Cortei-lhe.

 

"É sim." Ele insistiu.

 

"Não é, eu aprendi muitas coisas na escola." Retruquei, e ele riu.

 

"Você aprendeu comigo em dois anos mais do que você aprenderia sua vida inteira numa escola."

 

Um nó fez-se na minha garganta.

 

Por que ele precisava citar nossa relação no meio de tudo aquilo? Por que precisava me lembrar, pela milésima vez quem realmente estava sentado ao meu lado naquela cama?

 

Meus olhos queimaram, minha língua tornou-se gradativamente seca, como se as palavras endurecessem ao redor das paredes da garganta, e meus dedos ficaram trêmulos.

 

Pois ele falava como se tudo aquilo que tivéssemos vivido nunca mais fosse acontecer. E eu queria. Eu queria que acontecesse de novo.

 

Eu queria beijar Chanyeol novamente, sentir seus braços grandes.

 

Eu queria ouvir sua voz dirigida apenas para mim. E mais que isso, eu queria responder-lhe a altura.

 

Um silêncio incômodo instalou-se no quarto, mesmo que ambos de nós parecessem ter mentes barulhentas, e acho que era daquela forma mesmo. Eu e ele éramos casas lotadas com nenhuma janela aberta.

 

Fitava meus próprios pés, cobertos por meias brancas, enquanto Chanyeol balançava freneticamente sua perna, roçando-a sem parar à minha.

 

"Se você já sabia de tudo... por que veio aqui?" Murmurei baixo, fitando-lhe de soslaio.

 

Os orbes prateados encontraram-se com os meus, e ali permaneceram, colados aos meus. Chanyeol ficou me encarando por longos minutos, naqueles contatos visuais que apenas poderiam acontecer entre nós.

 

E suas íris, deus, elas passavam por cada parte, movendo-se frenéticas e de levinho, como de gravassem-me, eu, que não escapava, que não deslizava de seus dedos, que não fugia de suas armadilhas óbvias. Eu, que queria ser preso.

 

Era tão estranho vê-lo ali, ao meu lado, naquele silêncio ao qual ninguém fazia questão de interromper.

 

Silêncio que queimava, pois acho que nosso relacionamento era exatamente assim, queimante. Uma amizade ateada em fogo.

 

Eu fitava seus lábios, notando o quão convidativos eles pareciam, demorando em passar toda a minha visão pelo que ele era, e ele era, puta merda! Ele era tão lindo.

 

Meus dedos deslizaram tímidos pelos edredons, em direção à sua mão, arrepiando-me quando as tezes encontraram-se.

 

Seu rosto estava tão próximo ao meu e eu sentia tanta falta daqueles traços, de seus olhos, de seu sorriso.

 

Todo aquele conjunto que compunha Park Chanyeol, como uma melodia a qual eu escutava de ouvidos fechados por não entender suas notas, por não saber ler sua partitura.

 

E eu me aproximei mais daquele som quando nossas mãos embrenharam-se e ele não negou contato, compartilhando comigo, e apenas comigo, seu calor.

 

As íris prateadas não se desviaram das minhas castanhas nem por um segundo, sua respiração bateu contra o meu rosto e nossos olhos caíram até os lábios... E então eu não pensei duas vezes.

 

Uni as bocas num contato singelo, pressionando-as uma contra a outra.

 

Céus!

 

Aqueles lábios macios, como eu havia sentido falta deles durante todas aquelas semanas!

 

Mantivemos aquilo durante poucos segundos, até eu arregalar os olhos, tentando me afastar ao lembrar que não possuía permissão para aquilo.

 

Mas fui impedido de quebrar contato.

 

Uma mão grande segurou-me pelos cabelos com delicadeza e, com cuidado, também segurei em seu rosto, tornando a chegar mais perto e deslizar as pálpebras com lentidão.

 

Os toques estavam tão calmos.

 

Talvez porque não queríamos que ninguém soubesse daquilo.

 

Nem nós mesmos.

 

Meus dedos, antes sob os seus, foram puxados, unindo nossas mãos com mais âmago e afastamos os rostos em centímetros suficientes apenas para trocar um olhar cúmplice. Aquele olhar que dizia, dizia que eu e ele éramos patéticos. Que eu e ele não conseguíamos fugir daquilo, por mais que tentássemos negar, que fosse errado pra caramba, o que podíamos fazer?

 

Nossos olhos confessavam que queríamos “nós”.

 

Fiz um carinho em seu rosto, e ele ronronou de leve, antes das bocas abrirem-se pacientes, iniciando o ósculo. Sua língua encostou-se à minha com lentidão e os segundos passavam-se fracionados, quase congelantes, embora o sangue queimasse abaixo de minha pele.

 

Beijavam-nos como nunca antes e acredito que sempre seria daquela maneira, novo, com algo mais a ser descoberto, e daquela vez, descobríamos a simplicidade, a paciência, o tardar para conhecer um pouquinho mais da gente.

 

Chanyeol embrenhou sua língua contra a minha com mais âmago, mais calor, provocando aquela descarga elétrica a qual apenas ele seria capaz de provocar.

 

O gosto de sua saliva na minha boca, seu cheiro próximo ao meu, tudo, tudo nele era extasiante.

 

Tudo.

 

Nossos rostos afastaram-se minimamente, cúmplices dos atos recônditos cometido por nós e minhas mãos ainda permaneciam sobre seu rosto, segurando aqueles pedaços do que parecia ser um Chanyeol completamente quebrado.

 

Recordo-me de seu nariz encostar-se contra o meu em um mimo lento, e em troca eu selei seus lábios novamente enquanto sua mão descia pelo meu rosto, traçando com mestria meu corpo, esculpindo-o a seu modo.

 

Quando senti abrir a boca para falar algo, o impedi, o impedi enquanto eu ainda era capaz de me entregar para aquele desejo. Enquanto eu ainda podia ter a coragem de perder o fôlego.

 

Nossos lábios voltaram a se encontrar quando o puxei, de modo mais afoito, mais necessitado, pois era este o ponto.

 

Eu necessitava do ruivo.

 

Sua língua tão molhada e quente misturou-se a minha querendo transformar a saliva em uma só e eu apenas aprofundei o contato da forma que pude, deixando com que meu corpo aproximasse-se cada vez mais dele.

 

Quando dei por mim, já estava em seu colo, repousando minhas pernas em cada lado da sua, e quase que simultaneamente seus braços envolveram-me as costas, prendendo-me a si de forma desesperada, enquanto eu passava os meus próprios ao redor do seu pescoço, ainda sem romper o beijo.

 

Nossos corpos estavam tão colados que eu podia sentir seu coração pulsar junto ao meu, frenéticos e latentes, assim como nossos corpos já quentes.

 

Eu estava desesperado, pois eu queria tanto Chanyeol.

 

Eu o queria como nunca quis ninguém ou nada na vida.

 

Independente de ser meu amigo ou não.

 

Independente de ser homem ou não.

 

Independente de ser mais novo ou não.

 

Eu não me importava.

 

Desde que pudesse provar de seus lábios todos os dias, nomearia a mim de mesmo de qualquer nome.

 

Pois era por ele.

 

Rompi contato em busca de ar, encontrando-me com aqueles olhos libidinosos, semicerrados, e nossas respirações soavam altas entre as faces, devido a excitação do momento.

 

A aqueles orbes platinados, quentes, eram como um convite.

 

Convidavam-me para ir com ele, além de minhas muralhas, perguntavam-me se eu não queria, se eu não queria sentir seus ossos em cima dos meus ossos, sua pele em minha pele, seu corpo em meu corpo.

 

Oras, que pergunta mais boba.

 

Ele puxou-me pela nuca, tornando a me beijar e eu segurei em seus ombros, os apertando, para logo em seguida embrenhar os dedos finos em seus cabelos feitos para serem puxados. Tudo era quente, suas mãos passeavam pelo meu corpo causando aquela sensação caótica que era a mistura de seu beijo com seus atos.

 

E quando as unhas curtas apertaram minhas coxas com força eu gemi baixinho ainda com sua boca presa a minha, mas ele apenas ignorou, castigando meus lábios inferiores com uma mordida.

 

Suas mãos fincavam minha cintura com âmago, contra a sua, pressionando os corpos, e eu afundava e emergia dentro de um poço de lava fervente com cada toque, tão, mas tão afobado.

 

Seus lábios desceram fugazes até meu pescoço, beijando com força ali, seus dentes puxaram a pele e eu reclamei, pois aquilo havia doído mais do que o necessário.

 

"Cha-channie..." Tentei me afastar, mas seus dedos embrenharam-se em meus cabelos com furor.

 

Ele estava mais agressivo que normalmente.

 

Muito mais agressivo.

 

Uma força completamente desnecessária apertou-me o braço e eu tive que protestar.

 

"Ai! Chany-" Mas fora cortado, seu pulso agarrou o meu com brutalidade, empurrando-me o corpo contra a cama e antes mesmo que minhas pálpebras pudessem piscar seus lábios já estavam nos meus.

 

Pela primeira vez, beijar Chanyeol já não proporcionava prazer algum, na realidade, eu estava com medo dele, enquanto seu corpo grande forçava-se acima de mim, tão bruto e afoito.

 

"Chanyeol! Para!” Tentei me soltar, contorcendo-me, mas ele era tão pesado e forte que era impossível, era completamente impossível.

 

Sua mão adentrou minha camiseta tocando-me com aquela tez gelada, e eu não queria aquilo.

 

Não naquele momento.

 

"Me solta!" Contorcia-me abaixo dele, mas com apenas uma mão, ele prendera meus pulsos.

 

Chanyeol nada disse, nem olhar-me nos olhos ele olhava, com selvageria sua mão praticamente arrancou-me a camisa, enquanto eu tentava inutilmente me livrar de tudo aquilo.

 

Eu não entendia o que estava acontecendo, o ruivo simplesmente parecia fora de si e aquilo me assustava.

 

Aquilo me assustava muito.

 

Meu torso já estava desnudo, enquanto eu me debatia querendo fugir de alguém ao qual eu nunca desejara sair de perto, quando suas mãos soltaram meus pulsos para irem afoitas até meu corpo.

 

Fora a deixa.

 

O único ruído ecoado pelas paredes frias que testemunhavam a cena fora o do tapa estalado.

 

"Não toca em mim!!" Eu gritei.

 

Silêncio.

 

Minha mão tremia quente pelo contato ardido e algumas lágrimas já se acumulavam nas laterais dos meus olhos.

 

Seu rosto estava baixo, a franja vermelha cobria sua face escondida e nenhum som fazia-se no quarto que não fosse o de minha respiração acelerada.

 

Eu não conseguia acreditar em tudo aquilo.

 

Seu corpo grande ainda estava entre minhas pernas e eu precisei tragar o ar, repetida vezes em poucos segundos, tentando me acalmar.

 

Assustei-me quando suas mãos grandes vieram em direção de meu pescoço, tentando fugir, mas ele fora mais rápido, deslizando seu corpo por cima do meu, abraçando-me de forma desajeitada.

 

 "Chanyeol..." Minhas palavras mal educadas morreram quando aquele som invadiu-me os ouvidos.

 

Ah, aquele som.

 

Eu nunca me esqueceria.

 

E então, aquela água quente.

 

E os soluços.

 

"Cha-chanyeol...”

 

Ele me apertou mais forte, escondendo o rosto no meu ombro, molhando a região com as lágrimas, seu corpo começou a tremer freneticamente, tão fragilizado.

 

Naquele momento meu peito comprimiu-se como nunca antes, e com toda a força do mundo, abracei-o de volta.

 

"Não chora.” Sussurrei contra seus ouvidos, afagando seus cabelos “Eu to aqui Channie, não chora.”

 

Ele não chorava como chorou em minha casa, quando conversamos sobre a perda de nossos pais, quando pela primeira vez nos permitimos sermos fracos um em frente ao outro.

 

Ele chorava desesperado, como quando uma criança perde o brinquedo favorito, aquele choro que nosso rosto fica feio, nosso peito se aperta e o ar falta.

 

Talvez porque esse fosse de fato o seu medo.

 

Ele estava com medo de me perder.

 

E como não conseguia lidar com essa perda, sua única solução fora a agressividade.

 

Mas eu precisava deixar claro para ele, algo que eu não compreendia muito naquela época.

 

Era apenas o fato de que Chanyeol nunca me perderia.

 

"Eu to aqui, calma, não chora." Tentei erguer seu rosto, mas ele apenas me abraçou ainda mais forte, fazendo doer meu corpo pequeno.

 

Acredito que a salvação reine nos mais estranhos e incomuns lugares e que pode nos encontrar nos mais improváveis momentos, estava tudo bem ser teimoso, estava tudo bem em estar mal, estava tudo bem em não estar bem, em tremer, mas ele não precisava ter medo. Não quando seria em meu colo que sua queda iria resultar.

 

Puxei novamente seu rosto, fitando a pele avermelhada e os olhos inchados, deixando as lágrimas escorrerem.

 

Ver Chanyeol chorando era algo capaz de quebrar em pedacinhos cada parte do meu ser, como se aquela melodia a qual eu amasse tanto estivesse sendo aos poucos esquecida.

 

Eu poderia procurá-la de lojas em lojas.

 

Até ver que ela, pouco a pouco, tornava-se rara.

 

Fui selar seus lábios, mas ele se ergueu rapidamente.

 

"Chega disso." Seu corpo saiu de cima do meu, causando uma falta.

 

Uma falta de peso.

 

Uma falta de espírito.

 

Uma falta de alma.

 

"Por favor, nunca mais fale comigo.” Silabou.

 

Ao ouvir aquelas palavras meus olhos arregalaram-se, e eu quase caí da cama, puxando seu braço.

 

"Chanyeol!" O segurei e ele se virou rapidamente, tentando se soltar.

 

"Acabou! Não tá entendendo? Acabou tudo!" Gritava.

 

As palavras eram arremessadas em minha direção e eu não sabia como me defender delas, elas queimavam, elas machucavam, mas eu precisava aguentar, precisava ficar calmo.

 

"Por favor, vamos conversar!" Levantei-me, ainda segurando em seu braço.

 

"Eu não quero! Eu não quero conversar, eu não quero te beijar, eu não quero nada entendeu?!"

 

Suspirei desesperado, iniciando um choro que eu sabia que demoraria muito tempo para findar-se.

 

"Channie! Para! Pelo amo-"

 

"Channie o caralho!! Para de me chamar assim, não sou nada seu!"

 

Ele se aproximou, batendo minhas costas contra a parede e eu quase gritei na frente de seu rosto.

 

"Você é meu melhor amigo!!"

 

Sua mão veio em minha direção e por impulso, fechei os olhos, já sabendo que iria apanhar feio.

 

Que Chanyeol iria me bater.

 

Mas nada veio, apenas o som da parede de meu quarto sendo estourada, bem ao lado do meu rosto.

 

Fitei sua face brava e chorosa, abrindo os olhos devagar, enquanto sua mão se afastava do buraco da parede, carregando aquele pó branco, misturado com o sangue que começava a sair pela pele agora machucada.

 

E ele abriu aqueles lábios lindos e formosos para pronunciar aquelas nove letras que seriam minhas assassinas.

 

"Eu te odeio."

 

Foram suas últimas palavras antes de se afastar e bater a porta de meu quarto, indo embora.

 

Silêncio.

 

Minhas costas desnudas deslizaram contra a parede gelada, e minha boca ainda permanecia aberta, pois eu não conseguia me conformar com tudo o que havia acontecido.

 

Eram tantas coisas, tantos gestos, tantas palavras, suas lágrimas, minhas lágrimas, nossos gritos. Dois garotos irresponsáveis brigando por algo que nenhum possuía, de fato, culpa.

 

Mas o que mais doera fora sua frase final.

 

Eu te odeio.

 

Meu coração obstringiu-se de tal forma que eu senti como se tudo estivesse girando e eu fosse apenas um corpo vivo.

 

Com uma alma morta.

 

Aquela sensação, aquele sentimento, céus! A tristeza pura.

 

Um sentimento de que algo morreu dentro de si.

 

Como se as borboletas já não estivessem mais lá.

 

Chutei a parede, o chão, os livros, abri os armários e tirei todas as minhas roupas brancas, as arremessando naquele choro compulsivo.

 

Gritei muito também, gritei dizendo o quando o odiava, que era tudo injusto e que eu não tinha culpa de nada.

 

Qual era o problema?

 

O que eu tinha feito?

 

Eu era tão errado assim?

 

Por que ele me odiava?

 

Justo Chanyeol, logo ele. Logo aquele maldito pivete que era motivo da minha falta de sono, das minhas notas baixas, do meu péssimo humor, logo aquele garoto que, droga, droga, droga! O filho da puta era tudo pra mim!

 

Lembro que permaneci intermináveis minutos jogados no canto do quarto, chorando, babando sob minhas próprias pernas e agarrado aos joelhos, encolhido como um bebê.

 

Já não fazia escândalos.

 

Chorava baixinho, de forma muda.

 

Chorava com a alma, não com a voz.

 

E foi nesse choro mudo que me pus de pé, seguindo até o quarto de minha falecida mãe, pisando naqueles cacos destruídos dos objetos que eu mesmo havia quebrado, meus próprios pertences.

 

Eu já sabia qual era o problema.

 

Eu já havia decifrado tudo.

 

Meus pés andavam trêmulos no chão, e minha visão ainda estava tão borrada, as lágrimas ainda transbordavam como se todo aquele dilúvio não coubesse dentro de mim, como se minhas ondas tão calmas tornassem-se enormes tsunamis que me puxassem e afogassem sem cessar.

 

Dentro de minha própria tristeza.

 

Eu me sentia fraco, impotente, sentia que tudo que eu era nunca havia sido suficiente, e deus! Como eu queria ser suficiente, como eu queria ser ao menos metade do que ele era.

 

Sim, eu sabia, eu tinha total consciência de que não era a pessoa perfeita para ele, nunca fui, mas eu gostava tanto dele! Tanto! Gostava de verdade, aquelas verdades que são tão verdades que a gente guarda pra gente, sabe? E por ele eu tentaria ser o melhor que eu poderia ser.

 

Olhei ao redor do cômodo abandonado, juntando poeira, fitando a penteadeira com um espelho ali e caminhei em tropeços até o móvel, sentando-me ali, sentindo o cheiro da mulher já morta.

 

Encontre-me no espelho e vi um monstro ali.

 

Céus!

 

Como eu me achava feio.

 

Tudo.

 

Eu era gordo, minhas pintas eram feias, meu cabelo era sem graça, minha pele não era macia, meu cheiro não era bom, meus lábios eram pequenos demais e feios, meu sorriso era a coisas mais esquisita do mundo. Era isso que eu era, esquisito. Feio.

 

Olhe para mim.

 

Não havia uma única coisa de bom em mim.

 

E Chanyeol havia deixado isso bem claro naquela tarde.

 

Meus dedos abriram as gavetas com força, as puxando mais que o necessário, encarando os intermináveis produtos de beleza.

 

Eu poderia nunca tornar-me uma mulher.

 

Mas eu poderia vestir-me como uma.

 

Como Sandara.

 

Chanyeol finalmente me aceitaria, Chanyeol finalmente iria gostar de mim.

 

Minhas lágrimas escorriam desesperadas, pois eu não queria fazer aquilo, eu não queria.

 

Mas eu precisava.

 

Por ele.

 

Olhei para mim, olhe, pense comigo, olhe para o Byun no espelho, olhe para cada traço masculino, olhe para o garoto. O leia, sim, o leia.

 

Olhe para cada pequena parte, olhe para o lábios, para o queixo, olhe para tudo que precisa ser mudado, tudo, tudo que é de homem.

 

Nojento.

 

Agarrei a paleta de sombras coloridas, eram tantas cores, enfiei o dedo no rosa, deslizando sobre minhas pálpebras, espalhando-a sobre a pele molhada.

 

Com certeza não era daquela maneira que se passava sombra, mas eu pouco me importava, continuava a soluçar, borrando a maquiagem recém-aplicada.

 

Ninguém me ouvia, ninguém ouvia o quanto eu gritava dentro de mim, o quanto eu queria fugir, o quanto eu estava assustado, o quando eu tinha medo de abrir os olhos e me encontrar ali, me encontrar vivo.

 

Procurei rapidamente o blush rosa forte, segurando o vidrinho redondo, o espalhando com os dedos sobre as bochechas, fazendo duas bolas avermelhadas ali.

 

Ele era tão linda, tão magra, com um sorriso tão gentil, com um jeito...um jeito cativante, um jeito feminino, ela não era grosseira feito eu, não tinha aqueles hábitos de garoto, não tinha aquele brutalidade nos toques, aquela pressa em fazer as coisas.

 

Eu nem merecia ser comparado a ela.

 

Tremendo, deixei com que minha mão fosse à busca do batom vermelho, peguei no mesmo, tirando a tampa e vendo aquele conteúdo carmesim.

 

Naquele momento eu pensei que já não queria mais ser eu, nunca mais.

 

Deslizando-o pelos lábios, de forma trepida, olhei para meu próprio reflexo, chocado com o que via.

 

Mas um sorriso foi de abrindo aos poucos, assustador, entre aquela boca mal pintada. Sim, uma garota, uma garota, eu não era um garoto.

 

Eu não queria ser um garoto.

 

Levante-me da cadeira, quase caindo no chão, e abri o armário com pressa, deixando com que meus dedos procurassem o primeiro vestido pendurado, agarrando a peça vermelha e bonita.

 

Tirei as calças brutalmente, as jogando para um canto qualquer, e...enquanto as removia, pude ver aquilo entre minhas pernas. Aquele membro que não devia estar ali, aquele membro que me impedia de ser amado.

 

Eu tinha nojo, nojo de mim.

 

Tentei puxar o zíper do vestido, mas ele não abria, acabei rasgando tudo, destruindo o feixe, mas não havia problema.

 

A tristeza e o desespero estavam lado a lado segurando as alças de tecido carmesim.

 

Deixei com que aquilo deslizasse pela minha pele, apertando o corpo com medidas desproporcionais, que não era feito para entrar em um vestido, mas eu o faria entrar.

 

Será que meu corpo ficaria daquele modo? Aquela cintura fina? E aqueles peitos redondos e bonitos, que caberiam perfeitamente em suas mãos, por que eu não os possuía? Por que eu era reto?

 

Ouvi o som das pregas estourando, mas fingi que não, o puxando com força, sentindo aquele bojo protuberante que parecia combinar muito mais comigo.

 

Silêncio em meio a lágrimas.

 

Mas essas lágrimas? Não eram nada demais. Meus demônios eram centenas, milhares de vezes piores que algumas gotas.

 

O quebrar de uma onda nunca é capaz de explicar um mar inteiro.

 

Encarei-me no espelho.

 

Talvez eu estivesse melhor, talvez eu estivesse mais bonito e não conseguia enxergar isso.

 

Procurei os saltos, encontrando-os já jogados próximos à porta, pois ninguém havia feito questão de arrumar nada de minha mãe.

 

Calcei-os, sentindo a dor pelo tamanho apertado que eram e tentei me mover, mas até mesmo ficar de pé era difícil.

 

Aos poucos, e com apoio da parede eu consegui dar alguns passos, tão falhos, tão quebrados.

 

Sorri em meio ao choro.

 

Talvez agora tudo desse certo.

 

Talvez agora Chanyeol me aceitasse.

 

Talvez agora eu realmente fosse como uma garota, como eu deveria ser.

 

Como ela, eu queria ser bonita.

 

Quando fui dar o primeiro movimento no corredor, um tropeço levou-me ao chão, caindo derrotado.

 

Reclamei de dor, mas meus olhos logo se arregalaram assustados.

 

"Baek eu-"

 

E então.

 

Aquele par de coturnos.

 

Bem ali.

 

Na minha frente.

 

No começo do meu corredor.

 

Tentei me sentar, lentamente, entre aqueles tecidos vermelhos rasgados, sorrindo de leve para o ruivo.

 

"O que achou?" Ajeitei os babados.

 

Ele arregalou os olhos, afastando-se rapidamente, precisando apoiar o braço na parede.

 

"Que porra é essa?!!" Chanyeol gritou tão alto, mas tão alto que até mesmo os vizinhos deviam tê-lo ouvido.

 

E eu não entendia sua revolta, qual era o problema comigo agora?

 

"Eu sei que não sou uma mulher, mas eu posso me vestir como uma, você quer ficar comigo agora?" Lembro que sorri, tentando me levantar.

 

Mas antes de qualquer ação, de qualquer resposta, o ruivo se aproximou e me puxou pelo braço, seus dedos apertavam com força minha pele, machucando a região, arrastando-me pelo corredor com pressa.

 

Fui obrigado a abandonar os sapatos no meio do caminho, tropeçando sob os panos longos e vermelhos, enquanto ele ia em direção do banheiro, sem dizer uma única palavra se quer.

 

"Chanyeol!" Tentei me soltar, mas ele não me ouvia.

 

Fui jogado dentro do banheiro com agressividade, pisando do chão frio de azulejos extremamente brancos, e ele fechou a porta em um baque, a trancando logo em seguida.

 

"Tira essa merda agora!!" Ele gritou, mas eu não iria obedecê-lo.

 

"Por quê?!” Franzi o cenho e gritei de volta, deixando as lágrimas borrarem a maquiagem “Eu pensei que você fosse gostar de mim assim!!"

 

"Que?! Ficou louco?!” Puxou os próprios cabelos.

 

"Não é por isso?! Não é por isso que você tá assim? Me negando?! É por que eu sou homem, não é?! Eu não sei mais o que pensar!" Gesticulava com as mãos.

 

Minha fala era afetada pelo choro alto.

 

Mas Chanyeol prestava atenção em cada sílaba.

 

"Eu sei que eu não sou bonito e eu sei que eu sou burro e eu sei também que eu não mereço você... Ma-mas dói demais aqui..." Apontei para o meu peito, coberto pelo vestido rasgado "Dói porque eu te quero! E eu quero te beijar! Eu quero te beijar toda hora, eu quero te abraçar! E eu quero dormir com você! Eu quero falar com você todo dia! E contar estrelas, quero ser norte com você! Aliás, eu quero ser qualquer direção com você! Eu quero ver o mar, e eu quero alcançar o horizonte com você! Eu quero saber o porque de você se machuca e eu quero resolver isso! Eu quero cuidar de você! Eu quero ir pro circo! E eu quero trocar mensagens! Eu quero escolher pirulitos, e dançar com as borboletas! Sem livros, sem casamentos, sem pais, sem regras! E eu quero isso hoje! E eu quis isso ontem! E eu quero isso amanhã! E eu quero isso pra sempre!"

 

Seus olhos estavam sérios e eu precisava respirar, vomitando as palavras em cima dele.

 

"E eu não sei nada...nada sobre relacionamento, eu não sei nada sobre amor! Mas eu quero que você me ensine a amar....não! Mais que isso, eu quero que você me ensine a amar você! Porque você é o que eu quero! E eu vou continuar querendo! Eu não...” Limpei as lágrimas, fungando "E-eu não quero te perder! Nunca! Porque ai eu estaria perdendo meu amigo, a pessoa me mais me deixa preocupado, a pessoa que mais me faz feliz, e que mais me faz triste também! Eu estaria perdendo a única coisa que eu ainda me importo nessa vida! Então por favor, não fala pra mim que acabou tudo esperando que eu finja estar bem com isso! Eu sei....e-eu sei que você me odeia Chanyeol...mas eu....eu gosto muito, muito, muito de você, entende? Então eu só te peço uma última chance, eu prometo ser o melhor amigo do mundo!"

 

Fitei-o e ele me encarou durante segundos, antes de suspirar lentamente, fechando os olhos e indo até mim.

 

Eu ainda mantinha minha respiração acelerada quando sua mão agarrou meu pulso e rapidamente ele me jogou dentro do Box, ligando o chuveiro e deixando com que aquela água fria atingisse-me cortante.

 

Gelada. Impiedosa. Sem sentimentos.

 

Então era aquilo.

 

Aquela era sua resposta.

 

Aquela era sua resposta para tudo aquilo que eu havia confessado, todos os meus sentimentos, todas as minhas inseguranças, todos os meus medos, tudo.

 

Inacreditável. Era inacreditável.

 

Tornei a chorar, tremendo pelo frio e ele se afastou, me deixando ali, debaixo da água gelada, encolhido contra as paredes levemente molhadas.

 

"Tira essa roupa!" Encarei-o, ainda chocado, abrindo os lábios para tentar retrucar "Tira a roupa Baekhyun!!"

 

Sua ameaça assustava-me, então apenas puxei o vestido molhado para cima, removendo-o, e quando me vi apenas de cueca ali, tentei cobrir-me com a peça molhada.

 

A água gélida congelava meu corpo, fazendo-me bater os dentes, eu estava com tanto frio, com tanto medo.

 

Sua mão puxou o vestido, o jogando longe, deixando-me exposto.

 

"Limpa essa cara!" Novamente sua voz grave e séria tocou brava meus ouvidos. Eu procurei o sabonete, ainda chorando, e limpei o rosto como pude.

 

Quando abri os olhos, encontrei um Chanyeol apenas de cueca e regata, fitei suas roupas no chão, sem entender o porquê daquilo.

 

"Chanyeol..." Ele se aproximou, entrando no Box espaçoso, fechando a porta de vidro logo em seguida.

 

"Vem cá seu idiota." Senti suas mãos em direção de meu rosto e antes que eu pudesse ao menos raciocinar, seus lábios já estavam nos meus.

 

Permaneci assustado durante alguns segundos, mas após o choque, fechei os olhos, deslizando minhas mãos até sua nuca.

 

Seus braços quentes envolveram-me embaixo da água fria que escorria sobre nós, e eu tive de ficar na ponta dos pés para melhorar o contato.

 

Sua língua procurou a minha em atos calmos, provocados por sentimentos afoitos, aos quais eu não saberia bem descrever.

 

Mas era um beijo completamente diferente.

 

Ouvia os estalos causados pela saliva e o som da água corrente, caindo em nossos corpos colados, molhando as poucas peças que ainda usávamos.

 

Desprendemos as bocas e ele me observou com aqueles olhos prateados, carregando bochechas tão coradas quanto as minhas, mas aqueles olhos...ah, aqueles olhos.

 

Suas intenções estavam envenenadas.

 

As mãos do ruivo, que antes me seguravam pelas costas, desceram de forma lenta até minha cintura, repousando sobre meus ossinhos dos quadris.

 

Ele me puxou com força por ali, roçando nossas intimidades e eu soltei um gemido deleitoso, sem entender muita coisa, nem muito menos o porque dele ter me beijado.

 

"Escuta." Sua voz interrompeu minha linha de raciocínio "Eu sou horrível em expressar sentimentos, mas não duvide do que eu falo, pois pode parecer estranho, mas é verdadeiro... então eu vou te dizer apenas mais uma vez.”

 

Seus olhos acinzentados estavam presos aos meus, ambos cúmplices de sua fala, e suas mãos ainda mantinham-se em minha cintura.

 

"Se você falar que é feio de novo, eu te mato entendeu? Você é lindo, a coisa mais linda que eu já pude ver na vida” Suspirou “Eu não posso te prometer nada, não posso prometer que isso tudo vai ser pra sempre, não posso prometer que ficaremos juntos, nem prometer que nada vai ser quebrado, mas eu prometo que eu vou cuidar de você.”

 

Ouvia suas palavras, ainda tentando digerir tudo o que acontecia ao redor, meu coração saltitando no peito.

 

"Eu fui um idiota, aliás, eu tenho sido um idiota, eu surtei aquele dia quando você falou que éramos amigos porque eu achava que você sabia a diferença entre amigos e namorados, mas agora eu vi que você não sabe...e.....e eu vi que você gosta de mim da mesma forma que eu gosto de você, me desculpa por ter ficado bravo aquele dia ou ter te ignorado esse tempo todo."

 

Suas íris prateadas estavam arrependidas, fitando-me enquanto o som do chuveiro fazia-se de trilha sonora.

 

"Mas...eu quero me desculpar especialmente por hoje...depois do que eu falei....que....que odiava você....eu não consegui nem dar dois passos na rua, eu precisei voltar, porque eu menti, eu menti, eu não odeio você, na verdade....”

 

Prendi o ar com os sentimentos que saiam em forma de palavras, transmitidos pela voz grave e bonita.

 

“Na verdade...eu te amo Baekhyun."

 

Arregalei os olhos com aquilo, perdendo a fala.

 

"Eu te amo, eu te amo muito seu bosta! Eu amo seu cabelo preto, eu amo seu cheiro doce, eu amo seu nariz pequeno, eu amo a sua pinta em cima dos lábios, amo a pinta no seu dedo, e eu amo os seus caninos pontiagudos, eu amo a sua voz, eu amo sua curiosidade, eu amo a sua altura, amo o seu corpo, amo seu jeito, eu amo a pessoa que você é, mas acima de tudo, eu amo a pessoa que eu me torno quando eu estou com você."

 

"Chanyeol..." Murmurei “Mano...”

 

“Você me desculpa por ter sido um cuzão frescurento?” Ele fitou-me em expectativa, mas nenhum tipo de som abandonou meus lábios.

 

Silêncio.

 

O encarei ali, frente a frente comigo. Seus olhos nos meus. E eram aqueles olhos prateados. O que eu poderia dizer?

 

Dentro daquelas Iris escondiam-se galáxias infinitas, onde a escuridão crescia e a luz brilhava mais forte, eu fitava-as não como anos antes, com dúvida, mas sim com um fascínio tão grande.

 

Apenas o abracei com força, escondendo meu rosto em seu pescoço e Chanyeol suspirou baixinho, me envolvendo com seus braços, e eu logo senti a água tornar-se quente.

 

"Desculpa ter te jogado nessa água fria." Ele murmurou, ainda me segurando "Eu estava meio desesperado."

 

"Tu-tudo bem, relaxa." Minha voz saia abafada devida sua pele.

 

"Vamos tomar um banho então." Sua voz soou divertida quando ele me soltou.

 

Mas não o soltei e ele ficou quieto, e após alguns segundos, tocou-me as costas.

 

 "Ei pequeno, me solta só um pouquinho." Pediu, mas eu insisti.

 

“Só mais um pouco.” O apertei com ainda mias força.

 

Acho que porque Chanyeol não entendia aquilo, o poder de um abraço. Existia algo ali.

 

Existe uma magia em estar nos braços de outra pessoa, e nós fazemos isso tantas vezes, o tempo todo. Sempre seria onde reconfortava, onde o mundo parava por alguns instantes, não digo aqueles abraços de dois segundos, apenas para falar “oi”, digo aqueles abraços verdadeiros, aqueles abraços que passam muito, muito mais do que apenas um “oi”, muito mais do que um “tchau”, abraços que passam muito, muito mais do que um dicionário poderia explicar.

 

Existem sentimentos que nunca se tornarão palavras.

 

E esse poder, essa magia é tão grande e magnífica que a maioria das pessoas nunca nem notou que ela existe.

 

“Pequeno?” Ele me cutucou novamente e eu me afastei.

 

"Por que você me chama assim?” Franzi o cenho, chateado “E-eu...eu queria ser alto igual você! Mas eu não sou...me desculpa."

 

Tentei justificar-me sobre aquilo que há tempos já me martelava a mente, aquela maldita altura.

 

Ele riu.

 

"É um jeito carinhoso de te chamar! Lembra..." Ele refletiu durante alguns segundos "Lembra da esposa do Sr.Kim chamando ele de "amor”?”

 

Recordei-me da cena, do beijo, do casal, de tudo.

 

"A Isolda?"

 

"Isso."

 

"Lembro." Fiz que sim e ele se aproximou.

 

“É um jeito carinhoso de chamar a pessoa que você ama, entende? Como o Sr.Kim é o "amor" da vida dela, ela já prefere chamar ele apenas de "amor".”

 

Minha mente clareou-se com aquilo, enquanto eu abria os lábios de leve, muitas coisas faziam sentido agora!

 

"Eu te chamo de pequeno não porque você é baixo e eu quero te zoar por isso, ok, também” Ele riu “Mas eu te chamo de pequeno porque você é menor que eu e eu acho isso muito bonitinho, eu já falei que eu amo sua altura, não falei? Então para com essa porra de se incomodar com isso, porque eu não iria gostar de você fosse do mesmo tamanho que eu, eu....eu sou muito alto, isso não é legal."

 

Franzi o cenho, evitando corar com aquelas suas palavras todas dirigidas a mim, desviando de assunto.

 

"Eu acho! Quero dizer...eu gosto da sua altura, é muito bonito, parece...parece que..." Minhas bochechas tornaram-se mais quentes, evidenciando a vergonha contida entre as palavras "Parece que eu estou seguro... e... protegido...”

 

Fitei um sorriso abrir-se em seus lábios de pouco em pouco, aquele sorriso enorme e tão bobão.

 

"Ma-mas eu também gosto quando você chora, ou quando dorme abraçado comigo porque eu te acho fofo desse jeito também!" Suspirei desgostoso "Porra...desculpa, você não deve ter entendido nada... e-eu só não quero que ache que eu sou a sua garota... eu não sei ser uma garota Chanyeol..."

 

Ouvi uma risada baixa, e logo duas mãos me puxaram, unindo os corpos de peles molhadas.

 

"Eu entendi tudo..." Ele sussurrou, selando meus lábios “E que minha garota o quê? Chega disso mano.”

 

Uma de suas mãos segurava em minha cintura, enquanto a outra começou a procurar o sabonete, tardando na busca e eu ri.

 

"Aqui" Peguei a pequena pedra, entregando pra ele, que sorriu envergonhado.

 

Seus dedos seguraram em meu rosto, e não foram precisas palavras para que nossas bocas unissem-se em mais um beijo.

 

O contato era lento, e com aquele gostinho de saudade, uma saudade de apenas poucas semanas, mas eu não sei bem dizer, todo segundo longe dele, tornava-se como um dia em Vênus.

 

E eu não aguentava mais fingir que não queria nada e que não estava machucado com tudo aquilo.

 

Lentamente, senti o sabonete deslizar pelas minhas costas, depois pelos meus braços, enquanto minha língua ainda se misturava com a sua.

 

Minhas pernas fraquejavam de leve com tudo aquilo, e eu deixei com que meus dedos tirassem o sabonete de suas mãos, o passando lentamente pelos braços fortes dele, expostos pela regata.

 

Ele tornou a tirar a pedra de minhas mãos, escorregando-a pela minha barriga, fazendo-me arrepiar com cada mínimo toque, como se um cubo de gelo fosse jogado em uma xícara quente, explodindo e derretendo em suas digitais.

 

O beijo tornava-se gradativamente mais violento, e os volumes em nossas cuecas esfregavam-se debaixo da água morna, colando aquelas peças ensopadas, e eu não resisti em levar meus dedos até seu cabelo molhado, puxando os fios como gostava de fazer.

 

O gemido grave rompeu o beijo e logo em seguida ouvi o som do sabonete caindo de encontro ao chão inundou-me os ouvidos.

 

Seus braços ensaboados jogarem-me contra a parede gelada e os lábios vieram afoitos em direção aos meus, devorando minha boca que, de forma desesperada, retribuiu o contato.

 

Gemíamos sem nos preocupar se alguém ouviria, se meus pais já estavam em casa, por que deus! Aquilo entre a gente, eu nunca fui capaz de explicar, até hoje não sou.

 

Era só que...tinha algo muito, muito forte.

 

Recordo-me de ter gemido envergonhado quando suas mãos deram um tapa estalado em minhas nádegas cobertas pela cueca molhada.

 

"Shh..." Ele riu, mordendo os lábios.

 

Suas mãos deslizavam por meu corpo, queimando onde tocavam, e eu podia sentir aquelas digitais apertarem a pele em um desejo maciço temperado com centenas de pitadas de cuidado.

 

E ele parecia querer suprir toda aquela, não necessidade, porém aquela falta que existia dentro de mim. Aquele medo de ser eu.

 

E eu lhe retribuía como era capaz, passando meus braços por seus ombros molhados e ensaboados, deixando com que meu toque deslizasse e conhecesse cada parte de seu corpo, como um marujo em mares recém descobertos.

 

Sua língua esfregava-se a minha e ambas participavam daquele jogo, daqueles truques astutos, e uma vinha por ali e a outra ia mais pelo outro lado e então se encontravam e se enlouqueciam, chupando, molhando, em estalos tão altos, ritmados ao timbre do chuveiro pingando uma cachoeira de suspiros acima de nós.

 

Senti-o crescer assim como eu, as boxers de cores extremamente distintas evidenciavam ainda mais os polos em que vivíamos, os opostos que morávamos e como não conseguíamos controlar tudo aquilo, entregues.

 

Chanyeol possuía-me pela cintura com mãos agressivas, apertando a carne, e logo sua boca descolou-se da minha, arrastando-se por meu pescoço de tez imaculada, sugando cada gota existente e junto a elas, qualquer medo que ainda sobrasse dentro de mim.

 

Mas eu não teria medo.

 

Eu iria amar.

 

E eu não iria barganhar ou esperar mais por aquele desejo latente.

 

Eu iria amar. Eu iria amá-lo.

 

Eu iria amá-lo de homem para homem, de amigo para amigo, de pessoa pra pessoa e de qualquer forma de amor que alguém poderia, um dia, amar alguém.

 

Minhas costas encontravam-se com a parede gelada, arrepiando-me, enquanto ele beijava meu pescoço com veracidade, e eu não tardei em deslizar meus dedos por aquela sua pele molhada, afundando meus toques em suas nádegas cobertas pela cueca, que já caía, ensopada.

 

Ele gemeu sôfrego, puxando-me pelos cabelos, exibindo por completo meu pescoço e permitido que sua boca possuísse meu pomo de Adão, o chupando e me fazendo encolher entre seus braços.

 

Chanyeol se afastou com aquela expressão pesada no rosto, os lábios abertos, deixando que a respiração forte lutasse acirrada contra a minha. E céus! Eu acho que nunca tinha o visto com traços tão lindos!

 

"Chanyeol..."

 

Seus lábios deslizaram pelo meu pescoço, castigando a tez com cuidado, enquanto eu arranhava seus braços desnudos pela regata colada.

 

A carne macia parou rente aos meus mamilos e sua língua quente brincou ali, causando-se espasmos e eu  praticamente ronronei, ouvindo sua risada e a forma que ele se divertia vendo minhas reações.

 

"M-meu...para, isso é ve-vergonhoso!"

 

Ele continuou deslizando o membro molhado pelo meu corpo, contornando meu umbigo, minha cintura, dando selos estalados em toda a pele e suas mãos agarraram meus quadris, enquanto ele agachou-se no chão, batendo os joelhos contra o piso molhado.

 

 "Channie o que-"

 

"Eu sei que você é homem” Ele sorriu, segurando em minha cintura "E eu não ligo de você ser homem."

 

Sua boca aproximou-se do volume já formado em minha cueca molhada e eu segurei em seu rosto, o afastando.

 

"Chanyeol! O que você vai fazer?!" Mantinha seu rosto distante.

 

"Eu vou fazer você se sentir bem, confia em mim."

 

O encarava de cima, fitando aquelas íris prateadas, nubladas em um sentimento tão maciço, tão forte que parecia até palpável.

 

 Senti os lábios macios sobre o tecido, sem acreditar muito no que estava acontecendo. Por que ele estava com a boca ali? E então, sua língua quente, deslizando sobre a textura áspera da cueca branca e eu mordi os lábios, olhando para o teto consumido pelo vapor do chuveiro apenas para não ter que olhar para seus olhos, fixos aos meus.

 

Eu cresci em sua boca, pulsando incômodo e seus dedos puxarem o elástico apertado da peça molhada, deslizando a mesma pelas minhas pernas.

 

Um suspiro lento abandonou-me os lábios quando me vi livre do tecido apertado, deixando com que meu membro duro e teso pulasse para fora, diante de seu rosto.

 

A vergonha consumiu-me como nunca antes.

 

Eu estava pelado.

 

Na frente de Chanyeol.

 

Levei meus olhos até ele, fitando as íris prateadas de cima, me encarando naquela altura e com aquele brilho, aqueles lábios entreabertos.

 

E desejei sumir.

 

Aquilo era tão excitante, sua face era excitante, o jeito que me olhava, que parecia querer mergulhar em cada profundidade de mim, era indescritível.

 

Quase fui ao chão quando os lábios macios encostaram ali, sob a pele cheia veias, e lembro-me de todas as sensações, a corrente quente e elétrica que correu pelo meu corpo, o ar passando em cortes pelos meus pulmões.

 

Sua língua deslizando pela pele sensível, e a forma que aquilo pulsava, meus gemidos baixinhos e as palavras desconexas, enquanto minhas mãos trêmulas seguravam os cabelos vermelhos molhados.

 

A velocidade aumentava e ele usava as mãos, chupando com vontade e eu podia não saber o que era aquilo, mas sabia que era impossivelmente bom de descrever, algo completamente novo.

 

As lambidas, o ruído daquelas sucções, eu estava corado até as orelhas.

 

Aquilo era terrivelmente gostoso.

 

Como era possível algo como aquilo existir?

 

Segurava em seus cabelos com força, gemendo e torcendo para que ninguém chegasse em casa, pois acredite, eu não iria parar, não ali, não naquele momento. Eu, definitivamente, não iria parar.

 

O som dos estalos, de sua saliva em contato com a tez, dos meus múrmuros flexionando-se involuntários, eram todos abafados pela água quente que saía do chuveiro.

 

Senti meu corpo pender e não consegui mais aguentar tudo aquilo, acabando por cair meio que em cima dele, deixando todas aquelas sensações pesarem mais.

 

Chanyeol me manteve para si com uma das mãos em minhas costas e a outra em minha coxa, colado meu corpo ao seu.

 

Eu suspirava cansado, porém desejoso, sentindo todo aquele vapor inundar a cena, testemunha do que acontecia, algo que ambos sabíamos que não devia estar acontecendo.

 

E ele foi, de pouco em pouco, deitando-me naquele chão molhado, encostando minhas costas contra o piso e ficando por cima de mim.

 

Fitei seu rosto e deus! Ele me passava tantas coisas, aquelas madeixas vermelhas escorridas e coladas em sua testa, fonte das gotas que deslizavam, unindo-se na regata negra molhada, apertada no corpo magro.

 

E eu estava tão exposto, novamente, e ele me observava de perto, o rosto grudado ao meu, seu corpo entre minhas pernas nuas, seu braço ao lado de minha cabeça.

 

E céus! Deus, meu deus, eu podia ver suas íris platinadas movendo-se milhares de vezes e tão pouco, captando tudo que eu era. Via meu reflexo ali, e a forma que eu mesmo olhava para ele.

 

Era como se os orbes fossem canetas e, emprestando peles e almas, traçássemos centenas, milhares de constelações em cada poro que estas pudessem se encaixar.

 

E fora apenas quando uma gota solitária escorreu, deslizando da carne brilhante e molhada de seus lábios, caindo nos meus, centímetros abaixo de si, que nos beijamos.

 

Nos beijamos e acho que enquanto aquele órgão úmido enlaçava e capturava o meu, ele também cravava um sentimento. Um sentimento tão profundo, tão indecifrável que acredito que o mar ficaria com inveja.

 

Ele trilhou meu corpo com sua mão, passando por minhas pernas, até minhas nádegas e eu rompi o ósculo, assustado.

 

"Chanyeol! O que-" já iria questionar tudo aquilo, mas um selar me calou.

 

"Me deixa." Sussurrou "Que agora eu vou te amar até você entender que não existe ninguém no mundo melhor que ti."

 

Perdi o ar com suas palavras, o sentindo penetrar um dedo em um lugar que eu acreditava que nada seria capaz de passar.

 

Fechei os olhos com certa força, confuso e com dor, mas sua outra mão tornou em meu membro, movimentando-se ali e eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, eu não conseguia concentrar-me em apenas uma.

 

Ele adentrou outro e eu afundei minha cabeça contra o chão, molhando ainda mais meus cabelos naquela água gelada, fincando meus dedos em seus ombros.

 

"Cha-chanyeol..." Gemi arrastado, em meio as sensações, que pareciam ser tantas, meus olhos semicerrados, notando como o chuveiro insistia em deixar toda sua essência quente chover forte sob nossos corpos.

 

Minhas pernas nuas correspondiam a teus toques, não brutos, mas profundos, de tal maneira, meu deus, de tal maneira que eu tremia, batendo minha mão em seus ombros, em seu rosto, puxando seus cabelos na maior confusão.

 

“Olha pra mim.” Silabou, deslizando seus dedos por toda e extensão de minhas costas, mergulhando-os em meus cabelos molhados, erguendo minha cabeça para que eu enxergasse tudo o que acontecia.

 

E acredite, eu enxerguei.

 

Eu visualizei cada mínimo centímetro de cena, seu corpo tão grande e as gotas que disputavam uma maratona, escorrendo pelos seus braços suados, meu peito que subia e descia, nu e marcado por seus lábios, o melhor pincel possível.  Eu gravei a exata forma que me observava e como, quase que em câmera lenta, sua boca foi abrindo e abrindo, a língua deslizando para fora, até que ele novamente me engolisse e eu já não fosse capaz de tolerar manter as pálpebras abertas.

 

Seus dedos moviam-se dentro de mim, ritmados aos movimentos proliferados por sua cavidade molhada e eu gemia tão alto, mas tão alto.

 

“Ahnn...che-chega...”

 

Meu coração parecia já estar na garganta e respirar era uma tarefa difícil, quando aquelas pulsações chegaram cada vez mais fortes, cada vez mais rápidas, fazendo-me arquear a coluna.

 

Então apenas procurei sua mão e ele embrenhou-a a minha, e naquelas pequenas lacunas entre os dedos eu queria que ele entendesse. Eu queira que ele entendesse que o desejava. Que eu o desejava dentro de minha mente, inundando meus pensamentos, e conduzindo meus sonhos.

 

Eu o desejava dentro do meu coração, dançando com minhas veias e flutuando com minhas afeições, eu o desejava em lugares tão escondidos e tão privados e que nem o mais renomado médico seria capaz de ter acesso.

 

Eu o desejava. O tempo todo.

 

E em uma ultima pulsação aquilo saiu.

 

"Cha-chanyeol..." Abri os olhos, encarando a cena diante de mim, e o garoto permanecia com sua mão em meu pênis latejante.

 

Suas íris prateadas sempre se tornavam felinas em momentos como aquele, e elas me encararam enquanto um sorriso de lado formava-se em seu rosto coberto de esperma.

 

Aquela cena.

 

Eu poderia passar anos fitando um Chanyeol molhado, com os cabelos vermelhos colados na testa, deixando aquele liquido esbranquiçado escorrer de seus lábios, pingando pelo seu queixo.

 

"Me-me desculpa!" Levei as mãos até seu rosto quando recobrei os sentidos, mas ele riu, passando seus braços por minhas pernas e me erguendo do chão.

 

Segurei em seu pescoço, o envolvendo por ali, cansado, e ele nos levou para baixo da água corrente, limpando sua face e selando nossos lábios.

 

Bati em seu ombro, constrangido, em um pedido mudo para que ele me colocasse no chão, e foi o que ele fez.

 

"Cha-chanyeol...isso foi..." Ainda possuía a respiração afobada e logo tratei de subir minha cueca, ouvindo sua risada.

 

"Não tem nada aí que eu já não tenha visto." Corei violentamente com aquilo, socando de leve seu peito e ele aproveitou a deixa para puxar meu braço, trazendo meu corpo para perto de si.

 

Ficamos ali, abraçados durante minutos, seus braços fortes me seguravam enquanto eu fazia leves carinhos em suas costas, e aquela água nos encasulava como uma proteção, como não existisse mais ninguém além de nós dois e aquilo que sentíamos.

 

"Dorme aqui hoje." Murmurei baixinho.

 

"Você sabe que eu não posso cara."

 

Suspirei.

 

"A escola avisou que você ia estudar aqui em casa, eu resolvo com o meu pai, a gente finge que você dormiu na sala."

 

 Ele riu.

 

"Vamos ver tá? Quem sabe."

 

Sorri de leve, estava tão cansado, mas precisava ficar acordado, afinal, não era todo dia que podia ter Chanyeol debaixo do chuveiro comigo e eu queria aproveitar todas as sensações que aquilo podia me proporcionar.

 

Naquela tarde Chanyeol não dormiu em casa.

 

Minha avó chegou um pouco depois do ruivo ir embora, ela brigou comigo e me bateu por causa das roupas molhadas e espalhadas pela casa, além de toda a zona feita em meu quarto.

 

Eu não me importei muito, arrumei a bagunça e fui para o meu cômodo, jogando-me debaixo das cobertas e pegando o celular que apitava.

 

Chanyeol me mandou uma mensagem dizendo que me amava “pra caralho” e que não via a hora de me ver amanhã na escola.

 

Eu sorri feito um bobo com aquilo e respondi perguntando se éramos namorados agora.

 

Ele respondeu que não.

 

Eu fiquei confuso.

 

Mas ele logo justificou.

 

Disse que namorados ainda era muito pouco para o que queria que fôssemos.

 

Eu não entendi.

 

Mas fui dormir pensando que “amigos” era muito pouco.

 

Muito escasso.

 

Não dizia nada.

 

“Namorados” já era demais.

 

Namorados já era algo que transbordava.

 

Era ruim.

 

E esse meu pensamento se estenderia por anos.

 

Muitos e muitos anos.

 

Até os dias de hoje.

 

Que talvez eu e Chanyeol seriámos sempre daquela maneira.

 

Mais que amigos.

 

Menos que namorados.

 

 X

 

 

“E talvez contos de fadas sejam mais que verdade.

Não porque dizem que dragões existem.

Mas porque dizem que dragões podem ser derrotados.”

-G.K.Chesterton


Notas Finais


eai gostaram? recebi pelo face e pelo tt pedidos de um lemon flex euheheheuheuehuehueheuh GENTNEY! olha, eu bem que amo um flex, mas com misfit acho que não rola, quem sabe numa proxima fic uehuehuehuehueheuhueh mesmo que em misfit nao seja tao uke/seme, sla, o baek n manja das paradas, acho q seria tenso de fazer ^^'

Bom, nem preciso dizer que só vou responder os comentarios do cap passado agora né? é
euehuehuehe

bom gente, é isso, vou tentar nao demorar mas n garanto nada, alias, o proximo cap é bem especial <3 > <

mto obrigada por tudo e desculpa a dmr! nao achei lugar para postar

Cuidem-se meus macaquinhos <3


~Moon


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