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História Misfit - Agridoce


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


herrrr....... oi?

alguem ainda lembra dessa fanfic? como já disse, demoro mas nao largo euheuheu acho que voces ainda vao ter que aguentar minhas loucuras mias um pouco ^^
mas tenho algumas boas noticias! estou TOTALMENTE de ferias, isso significa que estou praticamente 24h livre agora para poder escrever e responder os FODENDO comentarios maravilhosos
mais uma noticia, estou livre do meu tratamento! sim moon tá """"sarada"""" pelo menos eu espero que sim, certo?
bom, não vou enrolar mais né, espero que voces me perdoem por demorar tanto e trazer um capitulo bosta mesmo assim, serio, desde a primeira versão esse capitulo me da dor de cabeca, acho ele tao dificil, e nem sei pq! MAS

espero que gostem <3

ps. sem capa hoje pq to pelo ipad, entao qualquer erro, deem um desconto, corrigi tufo de ultima hora

Capítulo 18 - Agridoce


  

Capítulo 18- Agridoce

 

 

                                            

 

 "Você me desliga com apenas um botão

E você finge que eu não significo nada

Eu não sou um santo, isso é fácil de dizer

Mas adivinha só querido? Você não é nenhum anjo!

Você gosta de gritar, usar palavras como armas

Bem, vá em frente, de seu melhor tiro, amor

Eu quero te deixar, isso é fácil de se ver

Mas adivinhe só querido? Isso não é tão fácil

Então arranque minhas fotos de sua parede

Rasgue-as e queime-as todas

Acenda o fogo e vá embora

Não há mais nada a dizer

Então pegue as cinzas do chão

Enterre-as só para ter certeza

Que nada mais restou de mim

Apenas memórias agridoces

-Bittersweet Memories, Bullet For My Valentine

 

 

 

 

 

 

 

 

Sorrisos grandes abandonavam meus lábios em uma tarde de sábado de um, improvavelmente quente, mês de maio.

 

Meus dedos embrenhavam-se nos cabelos vermelhos e molhados, sentindo a mistura de água com shampoo que me envolvia a mão.

 

O cheiro gostoso da espuma inundava as narinas, acompanhado a sensação deliciosa que era fazer parte de toda a cena que se desdobrava ali.

 

Fazia cerca de um mês que Chanyeol entrava pela porta branca, colorindo o apartamento sem graça em que vivia. Podia ser de tarde, de noite, de manhã, mas em algum horário ele aparecia.

 

Às vezes, sentia carinhos em minha nuca durante a madrugada, e ainda levemente adormecido, encontrava os olhos prateados tão lindos.

 

Também não eram raras as ocasiões em que simplesmente abria a porta, a qual já ficava destrancada para si, de tarde, surpreendendo-me pelo horário.

 

E o que eu poderia dizer para vocês?

 

Me sentia num sonho.

 

Vinte e quatro horas por dia. Era perfeito. Mais que perfeito, morando com ele, daquela forma, sem privacidades, daquele jeitinho tão preguiçoso.

 

Embora tivéssemos que nos esconder, céus, eu não pediria por mais nada, e naquela manhã recordo-me com precisão das mãos grandes deslizando a pequena pedra de sabonete por minhas costas, quase em carícias, ensaboando toda a região, fazendo arrepiar em seus toques.

 

Sua língua envolvia a minha, unindo ambos os órgãos quentes, que por vezes separavam-se, moldando os pares de lábios em sorrisos.

 

Eu ria entre o beijo e ele ria junto, permitindo que a melodia tão gostosa de sua risada me adentrasse os tímpanos.

 

Não havia um segundo que eu não estivesse sorrindo, talvez fosse para compensar todos aqueles anos apenas chorando.

 

Chanyeol selou minha boca, causando estalos no banheiro inundado pela fumaça quente e eu continuei mexendo meus dedos, afagando a cabeça tão mais alta, espumando suas madeixas avermelhadas.

 

“Sempre achei que você pintasse." Murmurei em seu ouvido, ficando na ponta dos pés, ajudando o ruivo a tirar todo o produto dos fios, não deixando de observar aquele torso desnudo, onde a água escorria pela tez nívea.

 

Ah, que visão mais maravilhosa que era aquele Chanyeol nu, tomando banho em frente aos meus olhos.

 

“Não, é a cor natural."

 

Franzi o cenho.... Não deixando de pensar no porquê de seu cabelo estar de uma cor mais clara na época do colégio, e após anos, adquirir um vermelho vinho.

 

Mas apenas dei de ombros, provavelmente ele não responderia à pergunta.

 

“Eu queria ter cabelos diferentes também. ”

 

Fitava o ruivo terminar de tirar todo o shampoo de si, permitindo que cada traço de espuma deslizasse por seu corpo.

 

Ele abriu os olhos, após enxaguar o rosto com ambas as mãos, fitando-me sorridente.

 

“Por quê? Você já é perfeito assim.”

 

Sorri com suas palavras, deixando com que seus dedos puxassem minha cintura, colando os corpos molhados.

 

Às vezes eu me questionava, em momentos como aquele, o que havia feito para merecer alguém como ele.

 

Chanyeol era um namorado mais que maravilhoso, ele fazia questão de elogiar-me tantas e tantas vezes, sempre atento e cuidadoso.

 

Tudo parecia imaginação quando estava ao seu lado, e eu tinha tanto medo de ser desperto daquele sonho e perceber que ele nunca existira de fato.

 

Meus braços envolveram seu pescoço, enquanto seus semelhantes embalavam meu corpo com carinho, acariciando as costas com o sabonete.

 

A água de temperatura alta caía sob nós, impedindo-me de manter os olhos abertos.

 

Senti seus lábios buscarem os meus, ainda tímidos, porém, ri baixo, desviando o rosto, em apenas uma graça.

 

Chanyeol abriu os olhos, provavelmente sem entender o porquê de ter me afastado, e novamente aproximou sua boca da minha. Movi o rosto para a esquerda, rindo mais alto daquela brincadeirinha idiota.

 

Senti seus dedos apertarem com mais força minha cintura, enquanto o ruivo tentava de diversas formas, iniciar o ósculo.

 

“Pequeno... Seu malvado. ” Sorri para ele, que me fitava com aquele olhar perdido, carente por atenção.

 

Fiz um bico nos meus próprios lábios, logo notando um pequeno sorriso em seu rosto, e quando ele levou novamente o rosto até o meu, desviei mais uma vez para direita. Um resmungo baixo escapou de sua boca, fazendo-me rir alto da face acima de mim, tão séria, gargalhando por sua expressão fechada.

 

Ah, eu não negaria mais.

 

“Vem cá. ” Puxei-o pelo rosto, selando seus lábios com delicadeza, mas a única coisa que pude ouvir fora o som do sabonete atingindo o chão e meu corpo sendo empurrado com certa força contra a parede gelada.

 

Sua língua já afoita fora descompromissada para dentro de minha cavidade molhada, enquanto suas mãos tocavam-me o corpo, como se este pertencesse a si, o que não era mentira. Arranhei sem cortesia as costas largas, ainda escorregadias, enquanto retribuía o contato apressado do beijo, ouvindo os estalos causados pela troca de salivas.

 

A excitação do corpo antes morno teimava em queimar involuntária quando seu membro roçava-se ao meu, e fora impossível não gemer baixinho pelo contato de ambos, arrepiando meu corpo já desperto. Senti suas mãos deslizarem desinibidas até minhas nádegas, apertando a carne com força, erguendo-me e obrigando a quebrar o ósculo, num gemido entre as bocas.

 

Logo o senti me puxar novamente, pela bochecha, embrenhando as línguas, por mais que o ar faltasse.

 

Park Chanyeol nunca se contentava com um beijo só.

 

Deixei-me levar pelos toques excitantes, o agarrando com força em toques de queimar a pele, acompanhados pela água que já parecia fervente. Era algo tão inexplicável o que acontecia em momentos como aquele. Digo, a segundos antes estávamos tão envolvidos em contatos melosos e líricos, inocentes e infantis até certo ponto.

 

E então os toques tornavam-se apressados, invasivos, a carne reagia só, sem questionar sobre opiniões.

 

Senti um de seus dedos caminhar devagarinho até dentro de mim, contornando a entrada, porém, fui rápido em tira-lo dali.

 

“A-aqui não Chanyeol. ” Ele beijava meu pescoço, arrepiando a tez, já avermelhada por tudo que acontecia. Não sabia se era pelos toques, pela água ardente, por ambos.

 

“Vai, rapidinho. ” A voz abafada pela tez murmurou, enquanto suas mãos continuavam a desenhar-me o corpo, tornando a situação extremamente voluptuosa.

 

“Nana nina não. ” Empurrei o corpo grande, fitando o semblante irritado em seu rosto, rindo internamente “Meu corpo ainda está doendo de ontem, então não. ”

 

Ele fez um bico, causando-me vontade de morder aqueles lábios brilhantes.

 

“Você podia pelo menos me dar uma ajuda aqui embaixo... Né, você faz isso tão bem. ” Meus olhos encararam aquele sorriso travesso, fazendo-me revirar os mesmos.

 

“Eu fiz isso hoje de manhã Chanyeol, fora que já devemos estar aqui há quase uma hora, depois a luz vai vir super alta. ”

 

“Eu que pago, vai. ” Levei meus dedos até o puxador gelado, desligando o chuveiro, ouvindo um bufar atrás de mim.

 

“Baek... E como eu vou fazer aqui? ” Ele apontou para as partes de baixo e eu apenas deslizei a porta de vidro do box, sentindo todo o vapor passar pelo meu corpo.

 

“Você sabe muito bem que isso vai abaixar. ” Já levava minhas mãos até a toalha deixada sob a privada, agarrando o tecido seco e levemente áspero, mas antes que pudesse ao menos ter reflexo, uma mão grande a tirou de mim.

 

“Chan-“

 

“Deixa eu te secar. ”

 

Suspirei baixinho, virando de frente para o homem molhado, encarando aquele sorriso grande e bobo desenhado no rosto ainda mais bonito.

 

Chanyeol abriu a toalha branca, levando a mesma até meu rosto.

 

“Quer forte ou fraco? ”

 

Franzi o cenho, rindo.

 

“Sei lá…fraco? ”

 

Então ele começou a passar lentamente todo o pano escabroso em minha face, tirando com os dedos meus cabelos negros, colados a testa. Ah, aqueles carinhos gostosos.

 

A toalha ia pouco a pouco removendo a água contida em meu corpo, conforme ele deslizava por todo meu torso, ombros e costas.

 

Tirei o tecido branco de seu controle, segurando com meus dedos pequenos.

 

“Forte ou fraco? ”

 

Ele riu alto, puxando-me pela cintura, unindo os corpos meio molhados, meio secos.

 

“Forte. ”

 

Não sabia o que era forte, então apenas envolvi sua cabeça com toda a toalha, acariciando os cabelos vermelhos, tirando com esmero a água dos mesmos.

 

“Como você é forte ein.” Ele murmurou com a voz abafada pelo pano branco que lhe cobria toda a face.

 

“Shiu.” Terminei de seca-lo ali, descendo pelo seu pescoço e depois para seu torso largo marcado pelas cicatrizes, removendo o máximo de água possível.

 

Chanyeol novamente pegou a toalha para si, e abraçando-me por trás, passou-a por cima de nós, por mais que essa fosse razoavelmente pequena.

 

Ri baixinho, enquanto caminhávamos daquela forma desajeitada. Molhando o piso claro com a água que escorria dos corpos, gargalhando, entre tropeços, com a cena que protagonizávamos.

 

O ruivo separou-se de mim brevemente, apenas para secar o resto de seu corpo e colocar uma cueca já deixada sobre a pia.

 

Fiz o mesmo, terminando de encharcar aquela toalha branca, abandonando-a em cima da privada, enquanto pegava a cueca que ele me oferecia.

 

Vesti a peça, sentindo a mesma levemente mais apertada.

 

“Eu engordei. ” Murmurei, esforçando para acomodar-me ali.

 

“Engordou nada, e se engordou, eu não ligo. ”

 

Fitei de soslaio o homem sentado sob a privada, bagunçando aqueles fios avermelhados com a toalha.

 

Chanyeol era tão bonito.

 

“Fala isso agora, quero ver daqui vinte anos. ” Tirei a toalha de sua mão, estendendo a mesma sob o box, suspirando ao sentir meu quadril ser puxado pelos braços fortes.

 

“Daqui vinte anos vamos ser dois quarentões apaixonados. ” Ele sorria, apoiando o rosto em minha barriga.

 

Pensei sobre suas palavras...

 

Como tudo estaria dali vinte anos?

 

Era algo impossível de imaginar.

 

Digo, Chanyeol ainda estaria gostando de mim?

 

Eu ainda estaria gostando dele?

 

Eram tantas perguntas.

 

E eu queria tanto que ele continuasse gostando de mim.

 

Suspirei, sentindo aquela dor no peito. E se ele parasse de gostar de mim? Ou pior, e se eu parasse de gostar dele?

 

Chanyeol abriu os olhos, fitando-me durantes eternos segundos, e não tardou em acariciar minhas pernas.

 

 “Eu vou continuar te amando pequeno, não se preocupe com isso. ”

 

Arregalei brevemente os olhos, ouvindo as palavras que me decifravam os sentimentos. Ele era como uma calculadora capaz de simplificar todos os meus sistemas mais complexos, minhas fórmulas mais difíceis e minhas equações mais imprevisíveis.

 

Olhava-me nos olhos e era capaz de saber tudo aquilo ao qual eu nunca teria coragem de verbalizar.

 

 O jeito que me expressava, que me comportava, escondendo palavras dentro de mim, apenas ele entendia.

 

"Eu só acho que-" Mas antes que pudesse terminar minha frase, seus lábios sopraram em minha barriga, fazendo-me cócegas.

 

Aquele toque percorreu-me o corpo, deixando-me levemente desesperado.

 

"Pa-para Chanyeol." Tentei afasta-lo, rindo alto conforme ele continuava com aquilo.

 

Empurrei-lhe em um momento de desatenção do ruivo, abrindo a porta do banheiro e correndo em direção a sala. Esta, clara, iluminada pelo sol que brilhava lá fora.

 

Chanyeol vinha atrás de mim e nossas risadas inundavam o cômodo.

 

Céus!

 

Que época maravilhosa... Apenas de recordar... Meu peito já se enche de felicidade.

 

Acabei por tropeçar no novo colchão, ao lado do sofá, caindo sobre o estofado e aquelas pequenas poeirinhas levantaram-se com nosso peso, fazendo-se visíveis devido a luz amarelada que preenchia todo o cômodo.

 

"Te peguei." Seu corpo grande apoiou-se sobre o meu, tornando a fazer cócegas em minha barriga.

 

"Para para para!" Contorcia-me abaixo de si, rindo enquanto seus dedos agora também ajudavam nas carícias. Ele fazia aquilo cada vez mais forte, fazendo o ar faltar.

 

“Pa-para Chanyeol.”

 

Os toques cessaram abruptamente, enquanto eu ainda deixava algumas risadas baixas escaparem conjuntas a minha respiração afoita.

 

Estranhei o silêncio instalado entre nós, normalizando a respiração. Abri os olhos, fitando as esferas prateadas tão próximas de mim e fora natural a forma em que seus lábios se aproximaram dos meus.

 

As bocas uniram-se naquele contato lento, iniciando um ósculo ao qual eu sentia que não iria terminar em boa coisa.

 

Tão…Chanyeol.

 

Como poderia resistir a ele?

 

E aquela dor que me atingia a alma, aquele medo do futuro, esvaziou-se.

 

As tempestades de dentro de mim eram subitamente esquecidas quando seu perfume me embriagava as narinas.

 

E mesmo que existissem incertezas se o branco de minha vida seria preenchido pelo prateado de seus olhos, eu apenas acomodei-lhe entre os braços, aprofundando aquilo.

 

Tudo parecia estar do jeito que deveria estar.

 

Nada mais.

 

Nada menos.

 

X

 

Sempre acreditei que a vida era injusta, e só mudei de ideia quando percebi que ela era injusta para todo mundo.

 

Também sempre acreditei que exista algo normal que todos carregamos com nós mesmos, no interior de nossas almas.

 

Como uma mala.

 

Dentro dessas malas podemos encontrar de tudo, os mais inimagináveis, magníficos, idiotas, estúpidos, assustadores, e incríveis sentimentos.

 

Centenas deles.

 

Milhares talvez.

 

Eu só sei que minha mala estava estourando de um sentimento ao qual, atualmente, eu chamo de ciúmes. E a injustiça aplicada sobre mim se resumia em algo tão patético e bobo como olhares revirados e um aperto no peito.

 

Sei que é difícil admitirmos nossas próprias falhas, mas hoje posso fazê-lo.

 

Primeiramente, quero deixar uma coisa bem clara: Minha vida não tinha graça alguma antes de Chanyeol entrar nela.

 

Então, após nos tornarmos conhecidos, amigos, namorados e enfim, o que éramos no momento, para mim, ele era meu.

 

Não digo apenas "meu". Ele pertencia a mim, de tal forma que não podia falar com mais ninguém, nem se aproximar dos outros.

 

Era errado, muito errado. Eu sabia disso, sabia que o que sentia era "exagero", apenas não gostava de admitir.

 

Eu nunca poderia colocar no papel, explicar para vocês da melhor forma... Porque nem eu mesmo saberia, mas o ciúme que sentia era algo... Era algo completamente assustador.

 

Não conseguia lidar com aquilo, pois era mais forte que eu, sinto que esse meu ciúme descontrolado fora o que começou a estragar nossa relação.

 

E eu já deveria saber, tudo de tem um começo, bem.... Vai ter um final.

 

Só queria saber o quão longe nosso final ainda estava.

 

Como havia perdido o emprego, Chanyeol passou a pagar tudo que consumia em casa, desde conta de luz, de água, condomínio, aluguel, todas, sem exceção, ele pagava tudo. Então eu não precisava ir trabalhar ou acordar cedo, nem sair do apartamento.

 

Apenas ficava esperando o ruivo chegar, normalmente a noite, assistindo algo na tv (a qual ele também comprara), mas minha mente estava completamente distante do programa televisivo.

 

Ela era preenchida com pensamentos, ideias, ilusões, dúvidas, questionamentos, que, aliás, não eram poucos.

 

Onde ele estaria? E com quem estaria?

 

Eu me perguntava, pois sabia que toda vez que ele passava por aquela porta, um pedacinho de mim quebrava-se.

 

Eu era a segunda opção.

 

E isso doía.

 

Em todas as suas partidas, ele partia-me um pouquinho mais.

 

Aquele mês de julho estava tornando-se desgastante.

 

Chanyeol, que antes me visitava todos os dias, passara a vir cada vez menos.

 

"Pequeno, eu só vou poder aparecer duas vezes por semana, tudo bem pra você?" Eram suas palavras

 

E o que poderia, eu, fazer?

 

Qualquer segundo próximo dele era um tesouro, uma fotografia no álbum em minha mente.

 

Apenas maneava com a cabeça, dizendo que estava tudo bem, fingindo que não me importava com aquilo.

 

Embora passasse todas as manhãs, tardes e noites, sentado naquele colchão no meio da sala, em silêncio, tão quieto quanto o apartamento. Apertando entre os dedos o lençol, quase o rasgando, fitando aquela parede branca como se pudesse quebra-la a qualquer momento.

 

Eu não sabia de nada, porque Chanyeol simplesmente não me contava nada sobre sua vida.

 

Sempre que eu perguntava, o ruivo desviava de assunto, falava que ia tomar banho e que estava muito cansado.

 

E eu?

 

Eu apenas suspirava, esperando ele sair do chuveiro para fazermos o que fazíamos sempre. Quando seu corpo grande aproximava-se, a mente tornava-se branca e lá ia Baekhyun, entregar-se para o homem de cabelos vermelhos e olhos prateados, mesmo sabendo que acordaria sozinho na manhã do dia seguinte.

 

Enquanto eu estava em casa, torturando-me, ele estava fora, ele estava em seu trabalho, em sua casa, fazendo coisas que eu "não precisava saber" como o próprio dizia.

 

Mas em minha mente tudo era completamente diferente, tudo me obrigada a refletir se tanto esforço valia realmente a pena.

 

Quero dizer, alguma vez você já parou, sentou, e se perguntou "por que eu ainda estou aqui?" Eu nem sei porque estou aqui! Eu nunca quis estar aqui pra começo de conversa! O que tem me mantido aqui? E então você percebe que a resposta é... Nada.

 

E isso te assusta mais que o fato de você não querer estar ali.

 

Ele chegava em casa, falava comigo, fazia rir, dizia aquelas coisas bonitas, mas quem garantia que ele não estava fazendo isso com outros também?

 

E só de imaginar essa possibilidade.... Aquela sensação inexplicável correndo dentro de mim. Eu queria matar alguém.

 

E quando falo isso, não estou brincando.

 

Não éramos tão próximos mais, perdíamos o contato, a amizade, éramos estranhos, e era aí que me questionava, será que já havíamos sido próximos alguma vez?

 

Passávamos o intervalo juntos, nos beijávamos e contávamos segredos, mas de que adiantava se eu nunca fui capaz de conhecer as grandes coisas? A superfície, o periférico daquele a quem jurava amar.

 

Talvez as pequenas coisas sempre nos seguraram juntos e as grandes foram responsáveis por nos separar.

 

As crises tornavam-se cada vez piores. Às vezes pegava-me chorando sozinho, no banheiro mesmo. Caía no chão, e chorava, chorava.

 

Porque sabia.

 

Bem no fundo eu sabia que tudo permaneceria igual.

 

Aquele vazio findava-se por apenas algumas horas.

 

Tinha quase sempre um sorriso no rosto quando estava com ele, é de seus lábios jaziam palavras de que tudo estava bem, que ele estava feliz. Mas eu sabia que não estava. Aqueles orbes já não brilhavam como faziam antes e sua voz não soava tão presente, seu sorriso já não era tão aberto.

 

E céus! Como eu queria lhe contar isso, contar que tinha reparado em suas bolsas e olheiras, em suas rugas e linhas de expressão, mas eu sabia que seria inútil.

 

Chanyeol era como uma garrafa com sentimentos trancafiados, e a última coisa que eu queria fazer era abri-la.

 

Então eu só iria concordar com ele, mesmo que ambos soubéssemos que estávamos concordando para uma mentira.

 

"Por que não veio ontem?" Fora o que eu disse em uma noite de junho.

 

"Só vou poder vir uma vez por mês agora." Franzi o cenho, irritado.

 

"Antes você vinha todo dia." Protestei, colocando o jantar na mesa.

 

Ele fitou-me sério.

 

"Quer que eu pare de vir, é?"

 

Fechei os olhos quando as palavras grosseiras me atingiram. Pensei em revidar, mas apenas suspirei. Não valeria a pena.

 

"Não grandão... desculpa." Acariciei sua mão por cima da madeira, sorrindo de leve, embora ele apenas continuou a comer aquela sardinha com pouca vontade.

 

O pior era que naquele silêncio, tinha me tornado especialista em quebrar meu próprio coração, com pequenos anseios, pensamentos, sonhos e esperanças que seriam impossíveis de alcançar. Como por exemplo, uma vida ao seu lado, um futuro além da fronteira.

 

Coisas que eu nunca iria ter, lugares que eu nunca iria ir, e pessoas que eu nunca iria conhecer.

 

Porque minha mente sustentava tantas coisas que eu ficava triste e frustrado.

 

Lógico que eu poderia desistir de tudo a qualquer momento e nunca tentar novamente. Eu podia mentir e dizer que tudo que mais queria era um adeus, podia dizer que sempre fomos apenas uma bobagem que eu nunca nem liguei e apenas jogar um olhar frio para ele.

 

Mas quem diz que adiantaria? Ninguém que conhecia melhor, ele era meu colete a prova de balas, e não importava quantas vezes eu tentasse me matar, ele ainda não estava preparado para me perder.

 

X

 

 

 

 

Em outubro eu queria chorar.

 

Ele não vinha há um mês.

 

A última vez que havia visto aqueles cabelos vermelhos fora em agosto, quando Chanyeol aparecera duas vezes.

 

Em uma delas, chorando.

 

Eu estava sentado no sofá, flagelando minha própria mente, quando a porta, a qual já deixava destrancada, abriu-se em um estouro.

 

Levei os olhos assustado até ali, enquanto um Chanyeol desesperado corria até mim, jogando-se sob meu corpo pequeno, me machucando.

 

Eu estava tão incrédulo, incapaz, e ele chorava e chorava e eu não sabia o porquê, mas ao mesmo tempo não lhe perguntava nada por dois motivos.

 

Um. Eu sabia que ele não iria falar.

 

Dois. Eu tinha medo de sua resposta.

 

E nós choramos nos ombros um do outro, ele mais que eu, pelo amor que éramos, pelo amor que estávamos perdendo, e pelo amor que havíamos lutado tanto, mas que no final nunca havia de fato tido uma chance, um momento de se revelar.

 

Quando o encontrava daquele modo percebia que meus ossos nunca seriam capazes de salvá-lo. Então, com toda a licença, que me permitisse ser o único a cantar para que dormisse, assim, quando acordasse, seus olhos vissem todo o sangue de sua dor espalhado por minhas mãos fracas.

 

As mesmas mãos que teriam passado a noite inteira dentro de seu coração, só para ter a certeza de que a tristeza não vivia mais ali, e que ela nunca, jamais, iria viver de novo.

 

Então tudo que eu podia fazer era abrir bem os braços, e convida-lo para entrar ali.

 

Pedindo que tirasse suas roupas e junto delas, qualquer peso em seus ombros.

 

 

 

X

 

 

 

No finalzinho do mês dez, ele retornou.

 

Sentou na mesa, embora a comida já estivesse fria, e era como se não estivesse sentado.

 

Estava ao meu lado, mas eu não o sentia.

 

Segurava sua mão, e ela era leve.

 

Beijava seus lábios, e eles eram frios.

 

Talvez nenhuma palavra fosse forte ou gentil o suficiente para explicar tudo o que sentia por ele.

 

Naquele momento seus olhos seguravam tanto, enquanto eu colocava para fora meu coração e eu queria voltar, tentar inutilmente reviver todos os momentos quando ele ainda me observava com pupilas dilatadas. Ali, tudo que eu via era a dor radiando de sua alma quebrada.

 

Tudo que já havia feito fora apenas roubar centenas de batidas de seu coração e abandoná-lo em um oceano de culpa por ter quebrado o meu.

 

Então a noite caía, deitávamos juntos, ele dormia..., mas eu não.

 

Eu permanecia com os olhos bem abertos, fitando a lua acima de nós.

 

Sem deixar de pensar no quanto ela parecia com Chanyeol.

 

Uma parte de si sempre estaria escondida no escuro.

 

E quando perguntava algo para ele, quando tentava descobrir esta parte, a resposta era sempre a mesma: estava cansado.

 

Mas eu sabia que não era verdade, ele estava triste, ele estava receoso, ele estava quebrado. Eu conhecia aquela expressão porque era a mesma que via todo dia em frente ao espelho.

 

Eu não sei.

 

Eu olhava para a esfera prateada e era como se ela falasse diretamente para mim.

 

"Por que você não o deixa?"

 

Quem queria enganar? Como fugiria? Não existe refúgio para aqueles que fogem de si mesmos.

 

Estava preso e obrigado a ver o sol nascer quadrado dentro de mim, mas todas as celas da vida não mostram apenas seus espaços, mostram também cada buraco onde um corpo pode passar.

 

E aí eu pensei. Pensei e pensei.

 

E a única coisa que pude concluir era que, embora eu não precisasse de Chanyeol para sobreviver.

 

Eu precisava dele para viver, para continuar nesta loucura.

 

Então apenas questionava o astro.

 

"Lua, você deixaria seu céu?"

 

Ela nunca respondia.

 

Pois ela sabia.

 

E eu também sabia.

 

Que não precisávamos que o universo os trouxesse a resposta.

 

Nós já sabíamos, bem lá no fundo, mas sabíamos.

 

Sabíamos que eu e ele não tínhamos a quem enganar. Sempre possuímos uma data de validade, e neste ponto da história? Bem, estávamos bebendo leite vencido.

 

Éramos como duas peças de um quebra cabeça que inicialmente, assim, olhando meio de longe, pareciam se encaixar, mas quando você tenta juntá-las com as outras peças, você percebe que elas talvez nunca tenham sido tão perfeitas assim. E como eu desejava que fosse culpa de todas as outras peças e não apenas das duas.

 

Mas a pior parte de um fim, que lhes conto agora, não é o verdadeiro fim, mas os meses antes deste. Quando as coisas começam a desabar, quando vocês se sentem sozinhos mesmo estando juntos, quando você chora mais que sorri, quando a felicidade deles te incomoda, quando tudo começa a ruir e você sabe disso.

 

Você sabe que está vindo, e esta talvez seja a pior parte, saber que o fim está próximo.

 

 

X

 

 

Recordo-me de uma manhã em especial, minhas pálpebras abriram-se lentamente, mesmo sabendo que não era preciso acordar.

                                                   

Suspirei, ao deslizar os dedos pela cama e sentir aquele vazio.

 

Um vazio que nunca seria preenchido.

 

Lembro que me ergui do colchão macio, espreguiçando e bocejando pelo sono.

 

Meu corpo doía pela noite anterior e meus olhos logo fitaram todas as marcas roxas espalhadas pelo meu torso desnudo.

 

Marcas dele.

 

Pequenas pinceladas roxas que penetravam além da tela, desenhadas por aqueles pincéis habilidosos que apenas ele saberia utilizar e por mais que eu desejasse pintar-lhe, o homem de cabelos vermelhos nunca permitia.

 

Sempre dizendo coisas como "Sandara pode ver" "Não deixe nada aí" "Isso pode trazer problemas".

 

Então eu apenas tinha de ficar mordendo meu próprio braço, ou o travesseiro. Querendo chorar, desejando sumir.

 

Não poder marca-lo apenas frisava aquilo que eu adorava negar.

 

Chanyeol não era meu. E nunca seria.

 

Ser o "outro" é como ser uma estação que está sempre para acabar em seu melhor momento. Quando o ar é puro, quando as flores desabrocharam e quando clima, dia após dia, é perfeito. Mas é claro, eu era apenas uma estação, eu iria acabar logo antes de florescer.

 

Encontrei uma de suas blusas brancas largas, jogada próxima à cama. Deixando a peça extremamente grande deslizar por meu corpo pequeno, senti aquele seu cheiro no tecido.

 

Mas ele não estava ali.

 

Caminhei até a mesa, com pouca fome, já encontrando uma maçã partida pela metade.

 

Ele sempre fazia aquilo, dizendo que uma metade era para mim, a outra para ele.

 

Porém, arregalei levemente os olhos ao encontrar um bilhete ao lado da fruta. Peguei o papel entre os dedos, sorrindo com seu conteúdo.

 

"Por mais que não esteja ao seu lado agora, é onde eu mais queria estar <3

Ps. Prometo aparecer para o jantar

-Grandão”

 

 

Suspirei como uma adolescente apaixonada, pensando naqueles olhos prateados e no quão maravilhoso Chanyeol conseguia ser.

 

Precisava recompensa-lo.

 

Não apenas por aquilo.

 

Mas pense comigo, ele estava pagando todas as minhas contas, conseguia arranjar um tempinho para passar comigo, e ainda era carinhoso.

 

Eu estava exagerando, estava enxergando apenas as coisas ruins que estavam acontecendo. Não estávamos vivendo crise alguma.

 

Decidi então, ainda com aquele sorriso brilhantes nos lábios, por preparar um jantar melhor do que na maioria dos dias.

 

Abri o armário, encontrando os mesmos ingredientes, que, aliás, estavam sendo, de pouco a pouco, trocados. Todos no país pareciam animados com o novo ingrediente, "ovos".

 

Eu não sabia de onde vinha, mas Peterson cozinhava aquilo de diversas formas.

 

Não seria tão difícil, seria?

 

Mas fora.

 

Lembro que passei pelo menos uma hora tentando entender como quebrar aquela pequena bolinha branca e toda vez que conseguia o feito, seu conteúdo amarelo escorria entre meus dedos, sujando a cozinha com aquele cheiro nem um pouco bom. Ovo tinha um odor muito ruim, quero dizer, eu não sabia ao certo.

 

Podia ser bom para as outras pessoas, só sei que julgava tudo usando aquele corpo conhecido.

 

O cheiro de Chanyeol era delicioso, e tudo que não se aproximasse disso, era ruim.

 

E ovo, definitivamente, não cheirava a Chanyeol.

 

Quando consegui, enfim, colocar aquilo na pequena panela, demorou mais uma hora apenas para amassar toda aquela casquinha branca.

 

Afinal, era para colocar a casca junto, certo?

 

Liguei o fogo, decidindo o que colocaria ali.

 

Ovo tinha gosto de que? Será que era doce? Ou salgado?

 

Decidi então por colocar maçãs ali, afinal, já tinha noção da receita, e era algo que ambos gostávamos.

 

Na época, não sabia que ovos com maçãs eram algo completamente ruim, em minha mente, podia ser o melhor prato que faria.

 

Sei que hoje, pode parecer algo realmente engraçado, mas o suor pingava de minha testa enquanto tentava, inutilmente, cozinhar tudo aquilo.

 

Eu queria me esforçar e ser bom para ele.

 

Queria ser um ótimo namorado pois sentia que não era. Sentia que era um péssimo namorado, um péssimo homem, uma péssima pessoa, mas tinha vontade e esperança de mudar.

 

Esperança, como dizem, é tudo. E se talvez fôssemos um caso de esperança, bom, ai então... Nenhuma quantia de amor seria capaz de nos salvar, pois céus! Nossa esperança era tão pequena, sempre ficava girando em círculos pensando em tudo isso.

 

Não estou dizendo que amamos muito pouco ou que amamos mais do que devíamos, porque nós amamos e nos amamos.

 

Servíamos de apoio e de refúgio quando as tempestades deixavam de ser apenas externas e avassaladores desabamentos soterravam nosso interior. 

 

Abraçávamos defeitos e falhas que não mostrávamos aos outros e por mais difícil que fosse, era assim que éramos.

 

Mas esperança.... Ah, esperança é tudo.

 

O ovo fazia estalos, e a maçã estava secando cada vez mais, fora o cheiro, que evidenciava a queima dos ingredientes.

 

Acabei por amassar tudo junto, colocando num prato com cuidado, queimando-me de leve. Botei os pratos e talheres, e também os copos, pegando o suco de maçã na geladeira.

 

Deixei tudo arrumadinho da melhor forma possível, sentando na cadeira logo depois.

 

"Finalmente." Suspirei cansado, havia passado tantas horas, e logo, logo Chanyeol apareceria.

 

Fitei o relógio, já era nove horas, o horário normal em que aquela cabeleira vermelha passava pela porta.

 

Apoiei-me sob a mesa, observando a comida um pouco escura. Será que o gosto estava tão ruim? Eu havia empenhando-me tanto, sujado a cozinha, deviam ensinar a cozinhar na escola, mas como sempre, nunca ensinavam algo que fosse realmente necessário.

 

Enquanto ele não aparecia, minha mente já tratava de iniciar aquela série de perguntas.

 

Onde ele estaria? E com quem? Fazendo o que?

 

Suspirei, querendo evitar aquele tipo de pensamento, mas era impossível.

 

Por que ele nunca me contava nada?

 

Nada!

 

Eu não sabia de absolutamente nada.

 

Busquei o celular, erguendo-me irritado da mesa. Não era nem nove e dez, mas eu já estava furioso.

 

Só de imaginar ele com ela...

 

[onde vc esta?]

 

Não me importei com nenhum tipo de educação, fui direto ao ponto, enquanto sentava naquele sofá, atordoado.

 

Ele tinha que responder.

 

Eu estava ficando muito, muito estressado. Fiquei ali por quase uma hora, encarando a parede e posso dizer com clareza: eu nem sabia mais o sentir.

 

Eu tinha raiva, muita raiva e ao mesmo tempo tanta tristeza.

 

Acho que já havia chegado a um ponto em que, passageiro naquela montanha russa de sentimentos, sentia tantas coisas que desejava já não sentir mais nada.

 

Num mundo onde as pessoas eram dedos e pés, ele seria um que eu nunca poderia contar. E eu tentei e tentei, mas juro que nunca fui capaz de segurá-lo de qualquer forma, e as coisas nunca somaram do modo que esperávamos.

 

Talvez ele não fosse as borboletas em meu estômago, ou as rosas em meu coração, talvez ele fosse minha garganta ou meu ventre, que me fazia sentir todo aquele enjoo.

 

Ou talvez ele fosse meu cabelo bagunçado, meu suor, minha ânsia. Mesmo assim ainda existia uma parte de mim que acreditava que ele era muito, muito mais que isso.

 

[chanyeol, eu só vou perguntar uma última vez, onde vc ta?!]

 

Digitei aquilo, apertando o botão com força desnecessária, enviando a mensagem.

 

O sol se punha e a lua já brilhava no céu.

 

E nada de Chanyeol.

 

O pior de tudo era que, antes, eu chorava em ocasiões como aquela, quando ele não cumprira a promessa de continuar indo às aulas, quando ele não cumprira a promessa de ir à formatura, quando ele não cumprira a promessa de ir atrás de mim e agora era apenas mais uma.

 

Eu já estava acostumado.

 

Quando alcancei certo ponto em que parei de ficar bravo com ele, parei de contar os minutos ou olhar feio, repreendendo em palavras não ditas. E aceitei que as coisas eram como elas eram. E que existiam certas coisas que estavam muito longe do meu controle.

 

Não sentia aquela tristeza, aquela dor e sim uma raiva, uma raiva muito grande.

 

Dele, mas especialmente de mim.

 

Eu precisava acabar com tudo aquilo, já não dava mais. Estávamos quase que em novembro, e iria fazer um ano desde tudo aquilo havia "voltado".

 

Mas voltara de uma forma tão desgastante, não sei se era porque éramos adultos ou se tudo estava realmente mais complicado.

 

Só sei que eu não aguentava mais.

 

Três anos de amizade, cinco anos separados e então, um ano juntos. Porra! Tínhamos uma história de nove anos, nove! Para que? Para ser largado ali?!

 

Para cozinhar uma merda de jantar, me esforçar e ele nem se quer dar as caras?! Eu não aguentava mais, não aguentava ser tratado como lixo, como se não significasse nada para ele.

 

Quando éramos adolescentes tudo era completamente mais fácil.

 

A necessidade que sentia por ele as três, quatro da manhã, me quebrava. Eu não queria amar daquela forma, a facada de um passado sempre solitário e normal até que ele aparecesse, e então após anos, lá estava eu, repousando meu peso sob seu peito, envolvido em seu braço direito.

 

Nossos pés se tocando.

 

Nossas pernas cruzadas...

 

Suas palavras.... Seus toques em minha pele...

 

O jeito que sempre parecia tão sério havia simplesmente se infiltrado em minha existência. Ele silenciosamente havia, após tantos anos, rompido a faixa amarela de "cena do crime não ultrapasse" que cercava meu coração frio. Ele ousou entrar quando todos os sinais estavam expostos e minha mente permaneceria uma eternidade me dizendo que eu não merecia esse amor.

 

Em que momento de toda aquela confusão, de todo aquele sangue seu coração abandonou minha alma? E quando suas palavras passaram a me cortar tão fundo como qualquer cicatriz alguma vez marcada em meu corpo?

 

Dizem por aí que nem todas as marcas são permanentes, mas comparadas a todos os beijos que ele já havia alguma vez me dado, céus, elas pareciam capazes de se curar totalmente.

 

Só conseguia me confortar com o fato que dali sete anos cada célula de meu corpo seria trocada e minha nova alma nunca teria sido tocada pela sua.

 

Tomei o celular nas mãos, fitando o horário, já se passava das onze.

 

A linha começou a chamar e a chamar e ele não atendia, desliguei, tentando novamente, o aparelho ficava naquele "tuu tuu tuu" repetitivo e ninguém atendia.

 

Sei que pode parecer ridículo, mas em minha mente, já conseguia imagina-lo com ela.

 

"Porra Chanyeol!" Arremessei o objeto contra a parede, fitando o mesmo rachar a tela, espalhando partes pelo chão, mas nem me importei, eu estava irado.

 

Comecei a bufar de raiva, passando as mãos pelos cabelos, tentando acalmar-me, o que não estava acontecendo. A sala completamente escura, preenchida pelo odor de comida queimada, era a única companhia.

 

Ela, e a lua brilhante fora da janela. E, como sempre, nada de Chanyeol.

 

Acho que aquilo era errado demais. Digo, não era errado ama-lo, mas era errado esperar que ele me amasse da mesma forma.

 

O que eu sabia que não acontecia.

 

No fundo, bem no íntimo, eu desejava enfiar as mãos dentro de mim mesmo e arrancar esse sentimento, mas eu nunca poderia tateia- lo.

 

Isso era algo que eu sempre achei curioso.

 

Existem coisas na vida que são impossíveis de serem sentidas com os dedos. Mas não é porque você não pode tocar algo que esse algo não pode tocar você.

 

Como por exemplo, o amor.

 

E como iria descrever nosso amor? A ligação tempestuosa é improvável que vivíamos? Saudades.

 

Sentia saudades do passado, um tempo distante, muito, muito tempo antes de Chanyeol ser tudo o que era para mim, de como as coisas era no início. Antes dele saber como segurar minha mão, que eu preferia a noite do que o dia, ou que não gostava de dormir em seu peito porque ficava com calor a noite.

 

Antes de descobrir exatamente onde me beijar, como me beijar, e quando parar de me beijar.

 

Antes dele saber o que me fazia dar risada, o que poderia me deixar estressado ou que falar para me fazer chorar.

 

Antes de saber sobre minhas pintinhas mais íntimas, que gostava da minha maçã com casca, que odiava meias nos pés ou que mordia os lábios quando ficava nervoso.

 

Antes de ter a certeza de meus sentimentos só pela minha forma de olhar ou de agir.

 

Sentia saudades de todas as coisas antes encobertas, pois uma vez que ele as descobrira todas, fora embora, me abandonou.

 

Podia estar ali fisicamente, mas enquanto observava ambos os olhos prateados, tinha a constante preocupação, um relógio a bater e bater contra meus tímpanos, de que não estava de verdade.

 

E os malditos sentimentos envolvidos sempre me levavam a questionar:

 

Será que não podíamos recomeçar? Será que não podíamos ser estranhos de novo? Desconhecidos perante nossas verdades?

 

Deixe eu me apresentar, tenha sua primeira impressão sobre mim pela segunda vez, nós podemos conversar e dar risada.

 

Ou podemos simplesmente ficar quietos.

 

Podemos reaprender o que já sabemos e aparecer com novas piadas internas, criar novas memórias?

 

Ter uma segunda chance?

 

Quando já estava prestes a chorar de raiva, a porta do apartamento abriu, dando passagem para aquele que, agora, já não coloria mais meus dias.

 

Logo a luz tornou-se presente, naquele silêncio sepulcral estabelecido. Não dirigi meus olhos a ele, permanecia fitando o chão, controlando a pouca água que faltava para o copo transbordar.

 

Ouvi o barulho do casaco sendo removido e colocado sob a cadeira, então suas mãos mexendo nos pratos, causando o ruído da louça com os talheres, e seus passos, aproximando-se de mim.

 

Sabe aqueles momentos em que você precisa respirar fundo, pois se não controlar direito, vai chorar?

 

"Onde você estava?" As palavras manifestaram-se frias e cruas, sem nenhuma pitada de sentimento.

 

Eu estava extremamente bravo.

 

"No trabalho." Ele respondeu normalmente, sentando ao meu lado no sofá, suspirando, provavelmente cansado.

 

Ah, mas eu estava mais cansado.

 

Eu estava cansado mentalmente.

 

"Chanyeol, onde você estava?" Tornei a pergunta e ele fitou-me de soslaio, com o cenho levemente franzido.

 

"No...trabalho?"

 

Bufei, e o ar levou temerosos minutos para abandonar os pulmões, queimando tudo antes de finalmente sair pelas narinas.

 

"Responde direito, onde você tava?!" Finalmente fitei-lhe nos olhos e aquelas íris cinzas pareciam apáticas, inexpressivas.

 

"Eu já falei, no trabalho." Ele respondeu com a voz um tom mais alto.

 

E eu?

 

Eu levantei do sofá.

 

"Porra!! Onde você tava?!! Que trabalho é esse?!!" Comecei a gritar, daquela forma que apenas em momentos de extremo estresse, era capaz de fazer.

 

Ele revirou os olhos, suspirando.

 

"É sério isso? Já falei que você não precisa saber. ”

 

Eu não precisava saber?

 

Ele sabia tudo, tudo sobre mim e eu não fazia a mínima ideia de nada a respeito dele.

 

Como isso podia ser certo?!

 

"Eu não preciso saber?!! Eu to cansado disso Chanyeol, cansado! Já estamos juntos ha um ano!! Uma porra de um ano e-"

 

"Para de gritar." Ele me interrompeu, fitando-me sentado como se nada estivesse acontecendo.

 

E acredite, aquilo fora a gota da água.

 

"EU NÃO PARO!!" Foi ai que comecei a chorar, chorar de raiva, muita e muita raiva.

 

Eu precisava explodir todos aqueles meses, precisava explodir todas as cenas imaginadas, patrocinadas por meu coração ciumento, todo o silêncio barulhento que frequentava as paredes de mina alma.

 

E, acima de tudo, precisava jogar essa bomba nele.

 

"Você mudou tanto!!" Tornei a agredi-lo com as palavras, pois era exatamente isso que queria fazer "Antes você me contava as coisas!! Hoje você esconde tudo, tudo de mim! Eu não aguento mais isso!!"

 

Ele encarava-me entediado, unindo as sobrancelhas com escárnio.

 

"Nossa, me desculpe se eu mudei, mas você mudou também! Você não ficava enchendo meu saco como está fazendo agora."

 

Então era isso que ele achava?

 

Não estava enchendo o saco de ninguém, eu apenas queria saber a verdade.

 

Eu não era digno disso?

 

"Eu não to enchendo!! Porra, me conta logo tudo de uma vez!! Você acha que eu consigo aceitar isso?!! Eu to morando na mesma casa que um desconhecido!!"

 

Ele ergueu-se, impondo aqueles seus quase dois metros, mas eu não tinha medo, muito pelo contrário.

 

Eu queria.... Bater nele.

 

Queria descontar minha fúria, mas de homem para homem. Céus! De homem para homem, mas de amante para amante. Como lidar?

 

E nessa loucura, ouvi dizer por aí que existem apenas dois tipos de amor:

 

O do tipo inocente, que você pode encontrar nas mensagens de bom dia, nos sorrisos tímidos e mãos seguradas embaixo da mesa. O tipo que vem com borboletas e trocas de olhares, onde você ri sem motivo nenhum, um amor simples, doce, puro, honesto.

 

E o segundo tipo, aquele que vem em ligações as duas da manhã de uma terça feira, mergulhado em lágrimas espalhadas pelo travesseiro. Um amor que trava dezenas de batalhas entre seu coração e sua mente, onde nada te faz mais feliz e nada te faz mais triste, assim, passional, intenso, ardiloso, mentiroso e manipulador.

 

Só queria me perguntar onde estaria o terceiro tipo. Quero dizer, o que acontecia quando você era capaz de se encaixar perfeitamente em ambos os perfis?

 

"Chega Baekhyun, saia da frente que eu vou tomar banho. ”

 

Baekhyun....

 

Raramente meu nome completo abandonava seus lábios, ainda mais dito pela voz grave.

 

Aquela voz que eu tanto amava...

 

"Não me ignora caralho!!" Peguei em seu braço com força, mas ele virou por conta própria, aproximando-se de mim e eu pude sentir.

 

Não sei se fora imaginação, uma ilusão movida por aquele ciúme cego, mas eu podia sentir.... Aquele cheiro de perfume feminino.

 

Ah, o copo já molhava toda a mesa, havia transbordado fazia tempo.

 

"Eu não quero brigar com você, senta e se acal-"

 

Mas a única coisa que Chanyeol recebeu foi um forte tapa no rosto.

 

Ele ergueu a face, chocado, enquanto minha visão era embaçada pelas lágrimas.

 

Eu estava desesperado, e a única coisa que eu queria era uma explicação para tudo aquilo.

 

"Me conta a verdade!! Para de mentir pra mim!!" Gritava descontrolado, a voz tremendo, rasgada e desafinada pelo choro compulsivo.

 

Não achei que ele fosse gritar, mas daquela vez ele gritou.

 

"Porra!! Dá pra aceitar?!! Você não aceita nada!!" Mesmo com sua voz soando quase como um trovão, os olhos arregalados, evidenciando sua raiva... Eu continuei ali, afinal, éramos ambos homens, certo?

 

Eu não teria medo dele.

 

"Eu não tenho que aceitar merda nenhuma!! Eu te amo!! Me diz um tipo de amor onde tudo é aceito!!"

 

Ele começou a bufar, puxando os cabelos vermelhos, fitando o chão, enquanto eu chorava e chorava.

 

Minha fúria estava passando para ele, naquele laço que unia nossas almas.

 

Sua dor era minha dor.

 

Mas, ah, minha raiva...essa também envenenava lhe o coração.

 

"Chega, chega, isso não tá dando pra mim." Murmurou, tentando passar pelo corredor, indo em direção à saída, mas o agarrei antes disso.

 

Ele não iria passar por aquela porta.

 

Não se dependesse de mim.

 

"Você não ouse me deixar, hein!!" Segurava em sua camisa com toda a força possível, sentindo o tecido da mesma em meus dedos eufóricos.

 

E aquele sentimento... Não cessava.

 

As borboletas de meu estômago estavam mortas e as rosas todas haviam murchado, nada mais parecia bonito, nem mesmo ele.

 

Naquele que busquei refúgio, um porto seguro, pude notar ondas a me envolverem em sua ressaca.

 

Pois ele era mar bravo como eu, procurei por "nós" e por qual momento que o "nos" acabou se tornado "eu" e "ele", quando o "nós" sendo levado por toda aquela água.

 

"Seu mentiroso!! Aposto que fica saindo com ela, não é?!!!"

 

Minhas palavras adentraram seus ouvidos, e ele arregalou os olhos, fitando-me incrédulo.

 

“COMO É QUE É?!!”

 

Nunca havia visto Chanyeol tão bravo como via ali.

 

“Vai mentir como sempre?! Assume porra!! Tava com ela que eu sei!!”

 

Ele me empurrou, empurrou com força mesmo, fazendo minhas costas baterem na parede.

 

Senti a dor da pancada e aquilo foi capaz de deixar-me ainda mais puto.

 

"Sai de perto de mim! Antes que eu faça alguma bobagem!!" Ele afastava-se em uma voz já afetada.

 

Tornei a aproximar-me, irado, ele não fugiria de mim. Ele não havia respondido, certo? Então isso queria dizer que ele estava com ela mesmo.

 

"Que que é, hein?!! Vai me bater?!!" Espalmei as mãos em seu peito, começando a soca-lo ali, empurrando seu corpo grande para trás com força, que era para machucar mesmo.

 

"Me bate Chanyeol!! Me bate!!" Ele se afastou rapidamente, gritando comigo.

 

"CHEGA!!" Suas mãos agarraram a televisão posta na cômoda, arremessando-a em direção a parede, quebrando tudo em um barulho estrondoso.

 

Meu corpo entrou em choque com aquilo, por segundos pensei que ele fosse joga-la contra mim.

 

Comecei a chorar ainda mais alto, sentindo o ar faltar, tudo, tudo parecia estar desabando.

 

"Eu vou embora, não dá pra lidar com você, você tá ficando louco Baekhyun!!" Ele respirava com dificuldade, fungando de leve.

 

Não.

 

Ele não iria embora.

 

Ele nunca poderia me deixar.

 

Não.

 

Ele definitivamente não iria embora.

 

"Você não vai sair daqui!!"

 

Eu estava tão louco, tão completamente fora de mim, que não medi esforços em acertar outro tapa em sua face.

 

Ele fitou-me com fúria nos olhos prateados, puxou-me pela gola de sua própria camisa larga, erguendo o punho que iria acertar em cheio meu rosto.

 

Fechei os olhos por impulso, mas nenhum contato veio.

 

Abri as pálpebras, assustado, ainda fitando a mão grande parada no ar, enquanto as lágrimas escorriam pelos meus e pelos seus, olhos.

 

Tão desesperados.

 

Eu só não queria ele longe de mim.

 

Abaixou o punho, colocando-me de volta no chão, sua respiração era acelerada, como a minha. Estávamos incapacitados de digerir todas aquelas informações e atos proliferados em tão poucos minutos.

 

"Baekhyun... Eu..." Ele parecia procurar as palavras certas, embora eu já soubesse o significado das mesmas.

 

Queria terminar com tudo aquilo.

 

"O que? Vo-você vai dizer adeus? Porque eu realmente não quero ouvir isso. ” Murmurei e os olhos prateados fitaram o chão, confirmando minhas suspeitas.

 

"Você prometeu que ia cuidar de mim... E agora, hein? Você falou que daqui vinte anos estaríamos juntos... E olha para nós agora..."

 

Eu chorava, sentindo aquela dor sufocar a garganta, como se enforcasse-me.

 

Matasse-me ali mesmo.

 

“A gente se falava todo dia e agora eu fico feliz se conseguir falar uma hora com você..."

 

Ele suspirou, precisando se acalmar, passando as mãos em meus ombros, em sobrancelhas franzidas e olhos marejados.

 

"Eu entendo..., Mas não dá pra ficar desse jeito... Você, você é...." Media as palavras, provavelmente com medo de minhas reações "Você é muito ciumento, eu já não aguento mais você...puta que pariu, para com isso!!"

 

Não procurei justificar-me. Sim, eu era.

 

Mas e dai? Ele não me amava?

 

Eu o amava com todas aquelas infinitas mentiras, explicações incompletas e falta de consideração.

 

Então ele era obrigado a me amar com todo aquele ciúme. Eu precisava revidar ao ouvir aquilo, e revidar para feri-lo. Revidar irônico. Maldoso.

 

"Se tá tão incomodado, por que não vai embora?!" Ri.

 

Ele suspirou irritado, fechado os olhos.

 

"O que me faz querer sair por aquela porta é a mesma coisa que me fez querer ficar aqui dentro, você!"

 

Suspirei com aquela frase, limpando as lágrimas que escorriam caóticas, bochecha abaixo.

 

Precisava me acalmar.

 

Enquanto ambos chorávamos afastados era como se os relógios que haviam marcado algum de nossos momentos juntos, todos caíssem no chão e colidissem das derradeiras curvas de vossos peitos.

 

"Vo-você... Você sempre vai embora, me deixa aqui... Sem saber de nada..." Precisava tirar aquilo de dentro de mim "A parte mais triste... É-é que você pode me tratar como quiser, porque sabe que eu vou estar sempre aqui pra você...eu não aguento mais…não aguento ser deixado de lado."

 

Ele suspirou, levando com cuidados seus dedos até meus ombros, mas com um tapa forte, afastei-os.

 

Não queria contato nenhum.

 

"Não toca em mim!"

 

"Baekhyun, se acalma..."

 

A voz grave mostrava-se triste, porém, visivelmente controlada. Ele estava se esforçando para não surtar mais.

 

"Por favor, só aguenta isso por mais um pouco, eu juro que tudo vai melhorar, mais pra frente, mas vai melhorar...não vamos brigar por isso, por favor, eu prometo."

 

As promessas, novamente sendo feitas e eu já havia adquirido medo daquelas palavras.

 

Eu prometo.

 

Fitei aqueles olhos prateados, envolvendo-me naquele feitiço. E novamente, como o bom idiota que era, deixei passar.

 

Deixei com que aquele sentimento, se é que ainda existia uma merda de sentimento, falasse mais alto.

 

"Você vai dormir no sofá hoje." Foram minhas únicas palavras, antes de passar por ele, indo em direção ao banheiro.

 

Precisava tomar um banho, tomar um banho e chorar muito, muito.

 

Ouvi um suspiro pesado sair de seus lábios e aquilo cortou a alma.

 

A dor dele era a minha dor.

 

Era uma coisa tão estranha de ser sentida e ao mesmo tempo tão complexa de ser explicada.

 

Como Chanyeol.

 

Aquele homem que eu olhava e olhava, e tinha certeza, fazia parte das coisas que eu poderia olhar por séculos, e nunca compreenderia ao todo.

 

 Na verdade, com o tempo entendi...

 

Que Chanyeol era tudo aquilo que eu não sabia explicar.

 

 

 

X

 

 

 

Meu corpo pesava.

 

Recordo-me de olhar para as coisas ao redor e elas não pareciam ser da mesma forma que eram há poucas horas antes. Eu tentei me concentrar, perguntando pelas horas, procurando por meu celular, mas fora inútil, quando o alcancei, estava quebrado. Minha respiração foi lenta e tudo entre um piscar era estúpido e perigoso, até eu ver suas roupas espalhadas pelo chão.

 

Era só que meu subconsciente acabou por ficar acostumado a procurar por ele, acabou se tornando um reflexo.

 

 Durante aquela noite não conseguia fechar os olhos, a dor no peito envolvendo, o colchão que parecia tão frio sem seus braços ao meu redor.

 

Sentia o vendo gelado balançar os galhos das arvores de fora, desejando que este apenas entrasse pela janela e levasse consigo todos os nossos problemas.

 

Mas... Merda!

 

Ele mentia tanto! Mentia demais, e pior, mentia para a pessoa que "mais amava no mundo".

 

Isso que eu não conseguia compreender, fazia-me sofrer tanto e tanto. Acho que era um sentimento até mesmo masoquista, quanto mais eu chorava por ele, mais eu o amava.

 

Talvez se tratasse apenas de honra, quem garantia que era amor? As vezes era só isso mesmo, ego, vontade de ter algo ali ao seu dispor, uma boca para beijar, um corpo para foder.

 

O maior problema, era que eu falava sem pensar, e quando eu via, já havia cuspido palavras ao vento, e estes que sopravam em várias direções, tornavam até mim.

 

"Eu já não aguento mais você" A fala ecoando em minha mente, como se criasse facas afiadas em sua ponta, cortando a pele, bem lentamente.

 

Porra!

 

Eu também não aguentava mais ele.

 

A forma que respirava, que olhava, que mastigava, que roncava a noite, tudo parecia perfeito, um mar de flores no começo, e então, um ano depois, já não queria nem ouvir sua voz.

 

Já não queria ver seu rosto, já não queria sentir seu cheiro.

 

Então por quê? Por que simplesmente não acabávamos com tudo aquilo de uma vez? Por que continuávamos dando socos em facas? Mergulhando naquelas águas, que já não eram mais pétalas, e sim, espinhos?

 

Eu não sei. Eu não sabia. E nunca saberia.

 

Só acho que eu precisava dele.

 

Precisava demais, demais dele, e infelizmente, ele também precisava de mim.

 

Lembro de escutar o ruído do sofá, seu peso levantando dali. Não sabia que horas eram, mas sabia que já era muito, muito tarde.

 

Sabia também, que aquele homem ruivo, não era nem um pouco meu.

 

Ele iria embora, tinha certeza daquilo, certeza que ele abandonar-me-ia como sempre fazia.

 

Apenas para aparecer o dia que bem entendesse.

 

Mas nenhum som de porta sendo aberta fora ouvido naquele breu, que possuía de trilha sonora apenas o silêncio, acompanhando por pequenas cigarras do lado de fora do apartamento.

 

Ergui-me de leve, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho, e procurei com os olhos, já acostumados com a falta de luz, o homem grande, encontrando aquele sofá vazio.

 

Sem ninguém, apenas uma falta, uma falta que devia estar preenchida.

 

Meu peito apertou. Onde ele estava? Onde estava Chanyeol?

 

Eu precisava saber, pois ele não havia saído pela porta.

 

Os flashs de minhas mãos atingindo seu rosto com força, não apenas uma, mas duas vezes. Por que eu era tão agressivo? As palavras ditas com tanto ódio.

 

Droga!

 

Aquele arrependimento subindo.... Eu não queria ter machucado ele. Merda, eu era irracional, um idiota, um completo idiota.

 

Aquele era nosso maior problema.

 

Chanyeol pensava muito e não falava nada. Já eu, falava tudo sem pensar nada.

 

Nossa relação era tão intensa, complicada, eu odiava ama-lo.

 

Aquilo estava tornando-se um porre, não estou mentindo. Já estávamos "juntos" há nove anos e pela primeira vez na vida, eu estava cansado dele.

 

Tinha como isso acontecer? Digo, o amor virar ódio? Não sei...

 

Acho que tudo é amor, ódio é um tipo de amor também.

 

Para odiar, você precisa, em primeiro lugar, importar-se.

 

Ódio é diferente de desgosto, e este, por sua vez, é o oposto de amor.

 

Eu não sabia o que sentia mais por ele. Se era amor...se era ódio... se eram os dois.            

 

Acho que o que acontece é que o tempo se encarrega de gastar aquilo que não é pra durar, tornando em matéria prima aquilo que antes era amor. E então, a vida transforma essa matéria em raiva.

 

Levantei do colchão com cuidado, encontrando-me sozinho naquela sala, que parecia tão impossivelmente vazia, tão clara, tão incolor.

 

Porra! Onde ele estava?

 

Ele não podia sumir.... Ele não podia me deixar... Ele havia prometido cuidar de mim, não havia?

 

Meus pés tocavam o piso frio, enquanto eu ia em direção ao banheiro escuro, não encontrando ninguém ali.

 

Minha garganta já ficava seca, querendo saber onde ele estava, tornei a sala solitária. Chanyeol... Droga, onde ele havia se metido?

 

Caminhei em passos lentos até a cozinha, ouvindo alguns barulhos baixos virem de lá. Sentia o ar gelado do ambiente negro, colocando-me no papel de uma criancinha perdida.

 

Os dedos apertavam a camisa branca e larga, que me cobria apenas até metade das coxas, permitindo que o vento gelado arrepiasse meus pelos de todo o corpo.

 

Suspirei baixinho, parando de mover-me ao encontrar com aquela cena.

 

O corpo de proporções grandes, encolhido em um canto da cozinha, e o ruído do choro.... Precisei tragar o ar com força.

 

Parecia impossível de respirar, muito impossível. O problema era.... Que as vezes eu sentia que era impossível controlar a mim mesmo.

 

Eu não queria, conseguem me entender? Porque eu não entendia.

 

Fazia parte daqueles sentimentos os quais eu nunca poderia sentir com os dedos, apenas aqui…aqui dentro.

 

Caminhei lentamente até ele, ouvindo as lamurias cada vez mais altas. A cada passo, aquele meu desespero aumentando.

 

Se havia algo que eu odiava mais do que à mim, do que à Chanyeol, do que aquela relação infeliz que vivíamos, do que o mundo ao nosso redor, era ouvir aquele som.

 

Aquela melodia característica.

 

Aquela música melancólica que era Chanyeol chorando.

 

Meu deus do céu!

 

Não existia nada pior. Nada. Aquilo era a pior coisa do mundo, doía muito.

 

Ele parecia ter percebido minha presença, erguendo lentamente o rosto. Fitei a face perdida, daquele que eu amava.

 

Droga, eu realmente o amava?

 

Aquelas íris prateadas em meio à face vermelha, de olhos inchados, elas pediam-me perdão, exigindo as mesmas palavras, naqueles silêncios aos quais já estávamos acostumados.

 

Acho que brigávamos muito, e naquela noite, no momento em que fitei seus olhos, eu percebi que não era só eu.

 

Mas ele também.

 

Ele já havia se machucado demais.

 

Cai sob os joelhos, ao seu lado, sentindo o piso gelado em contato com minha tez.

 

Era uma madrugada caótica.

 

Extremamente caótica.

 

Eu não sabia se ficava bravo comigo, com ele, com tudo, não sabia em quem colocar a culpa ou se existia mesmo uma “culpa”.

 

Eu apenas queria respostas, apenas isso. E tudo que recebia? Um eco de meus próprios questionamentos.

 

Desde quando aquilo havia tornado-se daquela forma? Ha quanto tempo estávamos naquilo? Um ano? Alguns meses?

 

Sentia-me tão perdido no tempo, acho que não sabia mais o que eram semanas, ou dias, ou meses, ou anos.

 

Eu apenas sabia que existiam segundos que passava com ele e segundos que passava sem ele.

 

Esse era meu relógio.

 

Fitou-me e eu também permaneci durante longos minutos apenas encarando seu rosto molhado pelas lagrimas.

 

Como se só soubesse fazer isso. Como se não soubesse fazer mais nada. Como se não fosse capaz, capaz de acalma-lo.

 

O que faríamos?

 

Porra, eu olhava para ele e tudo parecia tão complicado.

 

"Para de chorar." Foi a única coisa que pude dizer, desviando meus olhos para o chão.

 

Não queria ouvir seu choro, mas ao mesmo tempo não queria mover um dedo para cessa-lo.

 

Ele fungou baixo, para logo em seguida limpar com brutalidade o rosto. Seus olhos tornaram a mim, e ele apenas suspirou, iniciando o pranto novamente.

 

Chorava tão desesperado, contorcendo a face em dor, e aquele desespero travado em minha garganta.

 

Ele era surdo?! Eu havia mandado parar de chorar.

 

"Para de chorar porra!" Reclamei novamente.

 

"Não fala assim comigo!" Ele já estava gritando "E-eu faço tudo…tudo por você....e você me trata assim, eu já não aguento mais."

 

Suspirei, encarando a geladeira à frente de nós.

 

"Mas você mente."

 

Ele encarou-me bravo.

 

"Eu minto pra proteger a gente!"

 

Fechei os olhos, preparando-me para suas palavras, não sem antes, falar as minhas.

 

"Você nunca me protegeu Chanyeol!"

 

Ele riu sarcástico, encarando o teto, ainda chorando.

 

"Cala a boca que você não sabe de nada..." Sua voz, em meio aquele riso. Odiava ela.

 

"Vamos terminar com tudo." Foram suas palavras.

 

Sorri de leve, respirando com dificuldade.

 

E todos aqueles anos de amor pareciam ter sido esquecidos em apenas um minuto

 

"Isso é o que eu mais quero." Fora minha resposta.

 

Ele tornou o rosto para mim, fitando-me durante demorados minutos, com uma expressão indecifrável.

 

Encarei seus olhos prateados que brilhavam, quase brancos, em meio à noite, sustentando aquele olhar transbordado em ódio.

 

Suspirou, fungando as lágrimas.

 

"Tá bom...adeus então." Pôs-se de pé, quase caindo com o ato.

 

Ouvi aquelas palavras com um sorriso nos lábios.

 

Chanyeol não era de nada.

 

Falava aquilo, mas iria apenas fazer como sempre fazia, deitando no sofá e rastejando a noite para pedir desculpas para mim.

 

E o homem patético que eu era, as aceitava, mesmo que quisesse ir embora.

 

Sim, eu queria ir embora! Juro que eu havia tentado. Eu olhava sempre para ele desejando socar a sua cara, porque eu queria socar a sua cara.

 

Porque eu lhe amava.

 

Num tipo de amor que te destrói na mesma medida, se não mais, que te constrói.

 

Só eu sou capaz de dizer o quão alto me sentia no momento em que me resgatava do chão, em sentimentos de que tudo estava salvo, entende?

 

E não existe idiota maior neste mundo do que aquele crente de estar salvo.

 

Nunca teria conhecimento de quanto tempo ainda poderia estar "tranquilo" até cair novamente, e caia crente de uma morte terna, crente de um finalmente, mas quem queria enganar? Eu ia até o topo do prédio chamado "nós" e pulava, eu pulava e me jogava, mas ele me resgatava quando o corpo estava prestes a bater no chão.

 

Numa separação que nunca chegava.

 

Encarei o homem alto sair pela cozinha, suspirando quando as pernas tortas e compridas abandonaram meu campo de visão.

 

Logo menos ele voltaria até mim, era só contar. Dali cinco minutos.

 

Ouvia ao longe, em meio aquele escuro, diversos barulhos no apartamento. Ele devia estar quebrando algo, apenas para se acalmar e não bater em mim.

 

Eu batia muito nele e não era qualquer tapinha fraco... em compensação, o ruivo nunca havia descido a mão em meu rosto.

 

Sempre gritando coisas como "Para com isso ou eu não vou conseguir me controlar".

 

Mas eu não parava. O maior problema era que eu não parava.

 

Levei meus olhos de soslaio, para a sombra alta, agora já próxima à porta, bem agasalhada.

 

Ri. Até parece que ele iria me deixar.

 

"Aonde pensa que vai?" Levantei do piso frio, encostando na parede mais gelada ainda.

 

Ele me encarou, com aqueles olhos inchados pelo choro.

 

"Você não me ouviu? Eu vou embora."

 

Revirei os olhos com aquelas palavras.

 

Ele precisava acordar para a realidade.

 

"Ai Chanyeol, chega de graça, são quase quatro da manhã e você fica fazendo piadinha, eu não durmo bem faz dias."

 

Ele franziu o cenho, encarando a maçaneta enferrujada.

 

"E-eu não estou brincando, eu vou embora."

 

Eu não conseguia cair naquela história, já havia perdido a conta de quantas vezes ele havia dito aquilo.

 

Mas ele nunca ia.

 

"Tá, tá para com isso e vamos dormir." Fui em direção ao colchão jogado em meio a sala, já sentando ali, porém, meus olhos arregalaram-se com o som da porta sendo destrancada.

 

Virei lentamente o rosto, descrente.

 

Não.

 

Não.

 

Ele não podia estar falando sério.

 

"Cha-chanyeol...chega de graça, vem cá dormir." Afaguei a cama e ele suspirou.

 

"Não, chega de graça digo eu Baekhyun, chega de graça." Mas antes que ele pudesse tocar na maçaneta eu já me encontrava de pé.

 

"Chanyeol! Para com isso, você não pode estar falando sério…" Ri e ele virou-se bravo. Muito bravo.

 

"Para de rir caralho! Não ta entendendo?! Eu to indo embora, e dessa vez é sem volta! Será que você é tão burro que não entende isso?! Eu to te deixando! Eu não aguento mais você! Não aguento mais isso tudo."

 

Abri a boca levemente chocado.

 

Tentei abrir também meus dicionários internos, aqueles que carregava bem dentro de mim, bem lá no fundo, mas eles pareciam folhas em branco.

 

Eu já não possuía palavras.

 

"Cha-"

 

"Acabou, só isso que eu tenho a dizer."

 

Senti o ar faltando, aquela tontura.

 

Quando desistimos? Me responda, você que tem prestado mais atenção nessa história do que eu. Quando que olhamos um pra cara do outro e dissemos em bom tom "olha, eu tentei, mas desculpa, não foi o suficiente" e jogamos a toalha? Ao menos lembrávamos pelo que estávamos lutando? Se teria um fim? E como sabíamos se valeria a pena?

 

Na verdade, não sabíamos. Mas lutávamos de qualquer forma porque lutar nos dava esperança, e esperança era tudo que precisávamos para viver.

 

"Você não pode fazer isso comigo!" Gritei.

 

Ele abandonou a maçaneta e aproximou-se rapidamente de mim, enfurecido.

 

"Você olhou nos meus olhos e disse que o que você mais quer é que isso acabe!! Agora vem com essa merda de conversa?!"

 

"Eu tava brincando!" Tentei me justificar, mas aquilo apenas piorou as coisas.

 

"Brincando?! Brincando?! Então pra você era tudo uma brincadeira?!"

 

"Eu não achei que você estivesse falando sério!"

 

"Mas eu to!! Você acha que eu sou o que seu?! Caralho, você bate em mim como se eu fosse um nada! Que tipo de amor é esse?!"

 

Comecei a me desesperar.

 

Eu não queria ter feito aquilo!

 

"Desculpa!! Me desculpa!" Segurei em seu moletom negro, encarando aquela íris inexpressivas.

 

"O que eu ganho aceitando essas desculpas? O que eu ganho ficando nessa casa?"

 

Suspirei, já sentindo as lágrimas escorrerem de novo.

 

Elas deslizavam, queimando a bochecha, sabendo que não cessar-se-iam tão cedo.

 

Pensei numa possível resposta, mas apenas pude responder a primeira coisa que veio à mente.

 

Sempre assim, impaciente, impulsivo. Nunca pensando antes de falar.

 

"Não fala como se não me amasse mais!"

 

Mas ele apenas suspirou, e suas palavras seguintes queimaram mais do que todos os empurrões, todos os gritos, todas as falas.

 

"E se eu disser que já não te amo mais?"

 

Aquela frase entrou pelos ouvidos, mas na realidade pude senti-la perfurando o peito.

 

Não.... Me amava mais?

 

Era como se eu não sentisse aquele maldito piso.

 

Era como se já não sentisse mais nada.

 

Todo o meu corpo entrou em estado de choque e comecei a tremer muito.

 

Chanyeol arregalou os olhos, aproximando-se.

 

"Baek-"

 

"Pa-para..." Tentei empurra-lo, tudo girava, eu estava tão tonto que fora impossível não apoiar na cadeira.

 

Apenas encarei aqueles orbes prateados, pensando na possibilidade de nunca mais vê-los.

 

Eu já não conseguia respirar mais.

 

Eu precisava, precisava dele ali.

 

"Baekhyun!" Acordei daquele choque com seu grito, mas na hora que fui tentar fugir de si, ainda tão zonzo e atordoado, ah, fora mais rápido que eu.

 

Pois eu era fraco, bem fraco.

 

Chanyeol me agarrou, escondendo meu corpo pequeno entre seus braços compridos.

 

"Calma, amor, calma." Ele sussurrava aquilo, enquanto eu tremia entre seu abraço quente, entre seu cheiro inebriante, desejando sair dali, sair daquela armadilha.

 

Como? Como ele podia não me amar mais?

 

Respirava cada vez mais pesado, tremendo e tremendo.

 

"Era mentira, pequeno, para, eu te amo, calma. ” Ele apertava meu corpo contra o seu, fazendo-me sentir aquele cheiro, aquele cheiro que infelizmente, ainda era o mesmo de nove anos atrás.

 

E eu apenas agarrei fortemente naquele corpo de calor conhecido, chorando tudo que tinha que chorar em seu peito.

 

"Pequeno, para, pelo amor de deus, eu não vô embora, tá bom? Eu não vou."

 

Senti os corpos deslizarem naquele pequeno corredor, em frente à porta.

 

Ele me arrumou entre seus braços, enquanto eu continuava chorando tão alto, mas tão alto.

 

Não teria vergonha de babar em sua camisa daquele jeito, aqueles olhos prateados já haviam visto cada centímetro do meu ser.

 

"Não me deixa, por favor, não me deixa, desculpa Chanyeol... Desculpa, me desculpa." Embrenhava-me ali, desesperado, puxando o moletom negro, enquanto as mãos grandes seguravam-me com força.

 

"Shh, para, não precisa se desculpar, eu to aqui, eu não vou te deixar."

 

Lentamente, meu peito que doía tanto, respirando atordoado, foi normalizando, enquanto sentia os carinhos em meus cabelos.

 

Aqueles carinhos tão gostosos.

 

Eu era tão ruim para com ele.

 

Tão ruim...

 

"Me desculpa Chanyeol, por favor, me desculpa."

 

"Para de pedir desculpas, eu já falei que tá tudo bem." A voz grave era suave e calma.

 

Podia ouvir seus batimentos cardíacos, como se lembrasse de tantos e tantos momentos vividos antes.

 

Eu não sabia mais o que era aquilo que vivíamos, ou talvez, que insistíamos em viver.

 

Ele mentia para mim, e eu, em contrapartida, tornava-me um mentiroso também. Mentia meus sentimentos, fazia coisas que não queria fazer, machucava quem não queria machucar.

 

Não sabia como mudar tudo aquilo, e ao menos sabia se queria mudar.

 

Ergui de leve a cabeça, enquanto ele continuava a segurar-me em seus braços como um bebê.

 

Fitei seus olhos prateados tão preocupados, as sobrancelhas levemente franzidas, a pele avermelhada.

 

Tudo aquilo. Toda aquela ruína. Toda aquela face cansada.

 

Causada por ninguém mais ninguém menos, que eu.

 

"Deixa eu te beijar, por favor." O pedido baixinho escapou de dentro de mim, entrando em seus ouvidos.

 

Chanyeol arregalou de leve os olhos, mas logo os semicerrou, daquela maneira que sempre fazia.

 

Eu sabia o que ele faria, sabia o jeito que faria, tudo, porque eu o conhecia bem.

 

"Você sabe que não precisa pedir pra isso."

 

Suspirei, sentando sob suas pernas grandes, ainda encolhido em seu colo.

 

Segurei em seu rosto com calma, encarando aqueles orbes acinzentados.

 

Naquele momento eu tive certeza de algo que já sabia.

 

Eu sabia que ele iria me quebrar.

 

Mas eu também sabia que eu ia amar isso de uma forma ou de outra.

 

Deixei com que a língua quente e macia envolvesse a minha, aquecendo todo meu corpo já tão gelado.

 

Droga.

 

Eu gostava daquilo, gostava do seu beijo, um beijo tão conhecido.

 

Eu gostava de seu corpo, de seus toques quentinhos, um calor tão memorizado.

 

Não havia malícia no ósculo.

 

E se ficássemos bem quietinhos, o que era impossível, poderíamos ouvir o som do céu, ou não apenas ele, caindo.

 

Apenas um contato lento, que talvez fosse para aproveitar aqueles poucos minutos em que ainda estaríamos estáveis.

 

 Ou talvez não, talvez quando ficávamos juntos daquela forma, nossa mente estava corrompida, os pensamentos, coração e cérebro boiando na inundação que era aquela loucura.

 

Talvez, só talvez, quando saíamos daquele casulo, abríamos aquelas cortinas, abandonávamos aquelas cobertas...encontrávamos uma realidade que não era, de fato, louca.

 

Talvez nós fossemos loucos.

 

Talvez eles que fossem.

 

Eu nunca saberia dizer.

 

Tomou-me nos braços tão lentamente, vamos, imagine comigo, como naquela noite seus dedos percorreram minhas costas e me esconderam dentro de si.

 

E como eu exigi que me amasse. Me amasse e me respeitasse como se eu valesse mais que algumas paqueras baratas, mais que apenas alguns minutos de seu tempo num sábado qualquer, como se eu valesse para sempre. Porque eu valia.

 

Era difícil admitir que eu merecia alguma coisa, mas quando alcançamos as beiradas de nossos trinta anos chega a hora de dar nome aos bois e apenas se doar para os que se doam a você. Simplesmente porque não podemos perder tempo com os abismos dos outros, com os lagos e cachoeiras que cada um carrega dentro do peito.

 

Porque por mais que queiramos nos sentir especiais, não somos, não somos tão únicos ou especiais como pensamos. Nossas diferenças nos tornam iguais.

 

E com quem juntar sua pequena galáxia que é a questão.

 

"Um dia vai dar tudo certo." Ele rompeu o beijo, em um estalo, abraçando-me com força, enquanto eu fazia o mesmo, escondendo meu rosto em seu peito "E se não for como a gente sonha...vai ser de um jeito bem melhor."

 

Ri internamente com sua teoria.

 

Ambos sabíamos que era mentira.

 

E que aquele mundo era uma guerra.

 

Uma guerra a qual nunca poderíamos vencer.

 

Uma guerra a qual já havíamos nascido em desvantagem.

 

Eu queria mais que suas palavras, enquanto observava ambos aqueles olhos cinzas a fitarem-me atentos, lesados em suas próprias abreviações, eu queria mais.

 

Deus me perdoe, mas eu queria que me tocasse, queria muito mais que palavras bonitas ou promessas de um amanhã que de certo nada possuía, queria mais que suas metáforas a me derreter a pele. 

 

Fora assim que naquela noite, das milhares que passamos ou deixamos de passar juntos, não medi esforços ao deitá-lo na cama e deixar com que o fogo nos consumisse.

 

Seu corpo afundou os edredons, enquanto eu ouvia os sussurros de minha roupa que caía e nossos corpos que tombavam macios sob a cama.

 

Éramos cercados pelo som de nossas cinzas se chocando como um verdadeiro novo incêndio, uma nova pólvora. Como fogo e gasolina.

 

Caminhasse seus dedos por meus ombros e os marcasse em minha pele, abandonasse toda sua dor, enquanto eu lhe fazia meu.

 

E eu vou confessar que lhe devorei. Lhe devorei em todos os lugares.

 

No chão frio, sem nenhum tapete, apenas o piso duro. Nó sofá que rangia, na mesa bamba, contra as paredes já descascadas, ah, como sou capaz de me recordar perfeitamente de seus lábios macios clamando meu nome em sussurros, pois não podíamos fazer muito barulho.

 

Preenchi lhe com força, com tudo que tinha, enquanto ele, pateticamente entregue, lambia e chupava meus dedos enfiados em sua boca, na saliva doce que escorria pelo canto dos lábios.

 

Não quero contar mais, não desejo que vocês saibam sobre suas expressões, os olhos fechados, sobre como gemeu manhoso apenas para mim. São memórias que não pertencem a mais ninguém.

 

E então mais, horas depois, minhas costas apoiadas perto da pia, só consigo vivenciar esses eternos flashs, minhas mãos em seus cabelos, enquanto tirava minha maçã para fora e ele a engolia com vontade, marcando seus dedos grandes em seu quadril, como a cobra marcou o pecado na humanidade.

 

Colocou para fora e então colocou para dentro até que nossas almas estivessem encharcadas de nós mesmos.

 

Juro agora... que não sabia ao certo se era um taboo tão grande amar. Não era algo que havia escolhido.... Apenas…. Aconteceu.

 

Acredito que esse mundo é só daqueles incapazes de sentir. Digo, o que sobra para nós, aqueles que enxergam mais que apenas duas cores?

 

O que sobra para os inconformados de nascença?

 

Para os desajustados? Para os estranhos?

 

Eu e Chanyeol éramos apenas dois pivetes de quinze anos quando tudo aquilo começou.

 

Que juízo possuiríamos? E agora? O que poderíamos fazer?

 

Já não existia mais volta.

 

Havíamos enrolado aquela âncora envolta de nossos pescoços, dado as mãos, e pulado da prancha.

 

E acredite.

 

Aquele mar não era nada raso.

 

As profundezas negras insistiam em afogar-nos, em afogar o que sentíamos.

 

Aquele amor, um amor que era contra tudo, contra a sociedade, contra o tempo, contra a razão, contra a lei, contra a paz.

 

Contra a felicidade.

 

Contra nós mesmos.

 

Contra aquele mundo.

 

Contra a própria vida.

 

Mas de uma coisa eu sabia.

 

Era em meio aquele escuro que segurava seus dedos, e acho que se não encontrássemos a "luz no fim do túnel", criaríamos a nossa própria.

 

Se não houvesse espaço nesse universo, o encontraríamos em nosso abraço.

 

Poderíamos quebrar em pedaços minúsculos, mas nunca perder as peças.

 

Derreter, sabendo que a neve possuía esse propósito.

 

Pôr-se, pois o sol o faz.

 

Mas ele também nasce.

 

Ser levados pelo vento, mas nunca ir embora do deserto do qual partimos.

 

Molhar-nos pela chuva, mas sem nunca esquecer as manhãs secas.

 

E queimar.

 

Tendo a certeza de que sabíamos o que era água.

 

Iríamos nós afogar.

 

Sim, disso eu sabia.

 

Apenas não queria que passássemos tanto tempo desbravando aquelas ondas, desejando permanecer com as cabeças para fora, que nos esquecêssemos, de verdade, do quanto já havíamos amado nadar.

 

X

 

 

 

 "Qualquer amor

Cura e magoa

 

Qualquer boca

Cala ou ecoa

Grita e gargalha

Suplica e conforta

 

Mas nada importa

Se o "amar" engana

Se o engodo impera

E o ódio e o gostar

Se irmanam

Moram na mesma casa

Dormem na mesma cama

 

 Dois tipos sanguíneos não correm

Na mesma veia

Mas se misturam na mesma vala

 

-Encontrado pichado em um muro, autor desconhecido

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


VAI TER FLEX SIM


gostaram? lembro que primeira versao comecou meio que uma guerra nesse cap, entre as pessoas que achavam o baek um louco e idiota, e as pessoas que achavam o chanyeol mentiroso e idiota, entao, de que time voces estao?

vou nem pedir por comentarios porque acho que mereco uma bronca, né ??? T^T perdão meus amores, muitos ficaram tão preocupados comigo que me deixaram sem palavras <3 queria amar todos voces pessoalmente <3333 quem sabe um, dia né :3 mas só quero deixar claro que eu NUNCA vou largar misfit, serio, posso demorar 1 ano, mas nao vou entrar em hiatus,embora nao tenha aquele AMOR por essa fic, ela é meu chodó ne, então....


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