1. Spirit Fanfics >
  2. Misfit >
  3. Invisível

História Misfit - Invisível


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


Oiieee gente!

Estou de volta, meio que atrasada pois precisei ficar de repouso e minha mae n queria de forma alguma que eu fosse para o pc, mas consegui dar uma fugidinha e estou aqui ^^

Não existem tantas edições nesse cap, apenas mais detalhes, então não tenho nada para avisar, desculpa não estar respondendo os comentarios, vou fazer isso agora.

Quero agradecer a todos os 500 favoritos!! ~uhu~ sera que consigo recuperar os 850 de antes?

As vezes penso que 350 pessoas vão ficar sem saber o final se isso não acontecer, o que me faz me sentir mal :v espero que todas recebam minhas mensagens ><

Sem mais delongas, boa leitura!


Musica: Pink Floyd- Wish You Were Here

Capítulo 4 - Invisível


Fanfic / Fanfiction Misfit - Invisível

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 4- Invisível.

 

 

"A flor que desabrocha na adversidade é a mais linda e rara de todas"

-Mulan

 

 

"Tristão e... Isolda...?"

 

Deixei com que meus dedos sentissem a capa de textura espessa enquanto o titulo desconhecido saía de meus lábios adormecidos pelo frio da primeira manhã de novembro.

 

Novembro era um mês desgostoso a meu ver, quero dizer, desejava que o natal chegasse logo e o décimo primeiro mês surgia apenas para atrasar, contaminando todos com o vento ainda mais gelado. Sei que era algo bobo da minha parte, ficar assim, somando os meses, mas é porque, às vezes, eu sentia que tudo estava indo rápido demais, especialmente em abril, as coisas simplesmente fluíam e quando você desse conta, já era julho, carregando consigo as férias do meio do ano. Mas quando se tratava de agosto até outubro, um desânimo avassalador tomava conta de mim, acho que era cansaço pelo fim de ano, não sei bem dizer, mas durante o período dos três meses eu já nem queria sair mais da cama.

 

E novembro? Bem, novembro era novembro.

 

"Eu gosto desse livro" Chanyeol manifestou-se, dando de ombros.

 

Lembro que tentei abrir a obra ali mesmo, interessado em seu conteúdo, sempre fui do tipo de pessoa que quando ganha um presente, o abre, avalia tudo, e, lógico agradece. Não que eu ganhasse algum presente além de algumas camisas sociais por parte de minha mãe e bibelôs desnecessários quando tratava-se da minha avó.

 

Porém, o ruivo impediu-me, me pedindo para ler em casa, e blábláblá, que eu tinha que deixar de ser tão curioso. Eu não entendi muito bem, mas o guardei em meu bolso do casaco pesado que usava.

 

Recordo-me que lhe questionara sobre o tema, ele nada disse, pensou e pensou por minutos, e por fim, me respondera:

 

"É a historia de um amor que não era pra ter sido amor."

 

Lembro-me dos meus olhos terem se fechado em um piscar lento, enquanto eu observava com expectativa seu rosto, esperando pelo resto da resposta, que....não chegou.

 

Depois de minutos, suspirei cansado, pois sabia que ele não me daria réplica melhor que aquela e pelo pouco que conhecia aquelas madeixas avermelhadas, notara que era muito teimoso.

 

Mas a gente ignora os defeitos né?

 

Hoje em dia, penso que sempre ignorei momentos desnecessários que ele possuía, assim como os pedaços mais podres e escuros de sua personalidade.

 

Dizem que o amor é cego, mas eu discordo, ele vê. E até demais.

 

Apenas fingi que não viu, ignora.

 

Mas saindo do assunto amor, e entrando no assunto Park Chanyeol,  ruivo parecia distante naquela infeliz manhã de novembro, então eu apenas calei-me como sempre fazia, pensando em como queria estar dormindo ou fora da fronteira como no dia do "circo".

 

Antes que o toque de recolher soasse, pude ler, rapidamente, a seguinte frase na contracapa do livro, apenas por um cantinho do bolso.

 

"Que literatura oferece um exemplo mais completo, mais patético, de amantes trágicos, que Tristão e Isolda? Houve alguma vez criação mais forte e mais perfeita do que estes dois seres perdidamente dedicados um ao outro, vivendo apenas pelo seu mútuo amor? Nunca mais rica gama de temas inspirou um poeta, nunca o amor humano soube encontrar acentos mais verdadeiros e mais intensos do que no romance fatídico entre o vassalo estrangeiro e a jovem de cabelos de ouro."

 

"O que é vassalo Chanyeol?" Questionei-lhe.

 

Mas ele não estava mais ali para responder-­me.

 

 

X

 

 

"O Tristão foi idiota em ter guardado a língua envenenada do monstro na cueca." Quebrei o silêncio em nosso sábado tedioso onde a professora havia faltado e o Sr. Kim insistia em não aparecer.

 

Entendam, eu não gostava do velho, normalmente eu não gostava dos professores, alguns podiam até ter suas qualidades, algum tipo de paciência exacerbada, mas na maioria dos casos, resumiam-se a homens e mulheres que entravam na sala, passavam a matéria ou pediam exercícios no livro e ficavam ali, observando-nos, cada coisa que fazíamos para já ir correndo chamar algum inspetor. Infelizmente, ou não, apenas Chanyeol se dava mal nesses momentos.

 

Sr. Kim era um professor normal, como qualquer outro, era só que em suas saídas da cidade, podíamos voltar ao circo, ou simplesmente caminhar por entre os campos abandonados daquela terra deserta.

 

Pois acredite, o fizemos dezenas de vezes.

 

"Ele precisava fazer isso." Chanyeol estava sentado no parapeito do terraço, balançando suas pernas longas pela extensão do céu, como se pudesse cair a qualquer momento.

 

"Por quê?"

 

"Porque se ele não tivesse caído envenenado no lago a Isolda não teria encontrado ele."

 

Pensei por alguns instantes, prosseguindo com a leitura.

 

"Faz sentido."

 

Lembro-me que Chanyeol insistia em me dizer para não ler o livro na escola, pois eu podia ser pego e blá blá blá, mas eu não me importava, afinal, para duas pessoas como nós, o que era ler um livrinho? Não achem que eu estava me considerando o "malandrão" que agora andava com o serial killer da escola, matava as aulas, atravessava a fronteira e via coisas censuradas. E embora eu fosse tudo isso mesmo, não existia motivo de orgulho.

 

Pensando no  livro que carregava em minhas mãos, lembro-me perfeitamente da história,  era interessante embora eu tivesse de perguntar a maioria das palavras ao ruivo, eram tantas coisas estranhas, guerras, armas, "noite de núpcias", eu nunca cheguei a descobrir se o que ele dizia era verdade, mas tenho certeza que, na época, não existia uma palavra que abandonasse seus lábios e que eu não acreditasse...

 

Ele nunca se cansou, sempre me respondia com calma e apenas se estressava quando eu insistia em coisas que não eram de seu agrado, me mandava calar a boca ou simplesmente dizia que iria ir embora.

 

Ele sabia que eu o queria ao meu lado.

 

"Eu não entendo o Tristão, já é a segunda vez que ele encontra a Isolda e mesmo assim ele não quer ficar com ela! Ele é louco." Reclamava incrédulo.

 

"Ele não tem culpa, a obrigação dele como cavaleiro vem antes do amor que ele sentia por ela."

 

Encarei o ruivo por alguns instantes, vendo que ele sorria sobre o ombro, parecendo bem convicto de suas afirmações.

 

"Mas eles se amavam." Fiquei emburrado.

 

"Sim."

 

"E você não acha errado a Isolda ter que casar com o Marc? Chanyeol, ele é gordo e feio, fora que ele é maldoso."

 

"Existem casais que embora se amem, não estão destinados a ficarem juntos."

 

O meu amigo deu de ombros.

 

"Mas eles vão ficar juntos não vão?" Fitei-lhe esperançoso.

 

Chanyeol calou-­se, me encarou durante longos segundos, tragou saliva e entre um meio sorriso triste, respondeu-­me:

 

"Eles vão sim."

 

E eu não precisava terminar de ler Tristão e Isolda para saber que ele estava mentindo.

 

 

X

 

Logo no inicio daquele mês eu acho que já encontrava-me com certa dependência de Chanyeol, ele faltava cada vez menos e passávamos mais tempo juntos, quase todo intervalo, se você subisse ao terraço, notaria nossa existência patética, enquanto debatíamos sobre algum livro ou sobre características do alunos da escola. Ele pensava exatamente como eu sobre a instituição, achava uma chatisse sem fim, completamente cheia de coisas desnecessárias, e pessoas vazias.

 

Era difícil achar alguém que refletisse sobre as mesas coisas, mas, mais que isso, tirasse as mesmas conclusões que alguém como eu, um dorminhoco de plantão, e eu não sei...apenas queria ficar falando consigo o dia todo, mesmo que sem assunto.

 

Eu já não queria mais ir para casa.

 

Lembro­-me que lhe falei para não faltar mais, disse que era ruim para suas notas, que ele poderia repetir o ano e assim seríamos impossibilitados de zoar com a cara um do outro durante as aulas, ou trocar bilhetinhos.

 

Era claro que tratava-se de uma mentira, mas não tinha problema, era uma mentira necessária.

 

Eu diria que existem diversos tipos de mentiras.

 

As mentiras más, as mentiras que escondem verdades, as mentiras fantasiadas de verdade e as mentiras que vem para o bem.

 

Eu mentiria até o último dia de minha vida quando tratava­-se de Park Chanyeol e me arrependeria muito disto no futuro.

 

Tristão e Isolda estavam apaixonados.

 

 Aos poucos eu entendia isso, quero dizer, entendia não, eu aceitava, acreditando finalmente entender o que é amar.

 

Amar era quando você atravessava a floresta fria e assustadora toda noite para encontrar outra pessoa embaixo do pinheiro, vocês se abraçam, se beijam e dizem o quando se amam. E isso era amor.

 

 Mas acho hoje que amor podia ser muitas coisas, inclusive, que este poderia nascer nas mais patéticas beiradas humanas.

 

    Como nasce uma flor num muro.

 

    E Tristão e Isolda, por mais que não houvessem escolhido, nasceram como flores daquelas feitas para permanecerem no mesmo buquê.

 

Mas o rei Marc era cruel e não queria vê-los juntos, ele desejava as madeixas douradas de Isolda apenas para si e sabem, o que mais me irritava era que Tristão o obedecia, afastava-se de Isolda, dizia que não podia fazer aquilo, que tinha "compromisso" com o rei.

 

  Isolda também ficava brava com o vassalo.

 

 Eu não sabia o que era vassalo, mas Tristão era um vassalo.

 

 E eu me sentia como Isolda, com vontade de dar uns belos tapas em Tristão por ser tão idiota ao ponto de não ficar com quem ele amava, a jovem dos fios de ouro.

 

Chanyeol era um completo ridículo, ele tinha a coragem de defender o cavaleiro, sempre com aquela velha história que as regras vinham antes dos sentimentos e etc, mas eu só queria entender como todas as leis e empecilhos eram capazes de apagar algo tão...bonito.

 

 Quando cheguei ao sétimo capitulo, recordo­-me que ficara tão fascinado com a poção do amor que tentei fazer uma.

 

 Coisa de criança, eu sei, mas como já lhe disse, era tudo tão mágico antigamente.

 

 Havia pegado um frasco de perfume vazio de minha falecida mãe. Na primeira tentativa fiz a poção com água e shampoo, mas depois lembrei que o casal a bebia, e como beber shampoo devia ser algo muito ruim, fui em direção à cozinha.

 

 Fiz com água e maçã, até porque era só isso que tinha no armário.

 

 Fechei o frasquinho e coloquei uma fitinha vermelha envolta do mesmo, lembro­-me que sorri comigo mesmo porque poderia a mostrar à Chanyeol, havia ficado linda e eu tinha certeza que ele ficaria muito feliz.

 

 E se Chanyeol estava feliz...

 

 Bem, aí eu também estava feliz.

 

 

 

X

 

 

Naquele tempo as férias duravam apenas quinze dias, parecia pouco, já que ansiávamos pelas mesmas quase que todo dia durante o período letivo, mas eu sabia aproveitar, fosse jogado em algum canto da casa me entupindo de comida, dormindo no sofá ou trocando mensagens com um certo ruivo.

 

 Fazíamos isso até bem tarde da noite, não eram raras as madrugadas em claro em que eu mantinha aquele sorriso enorme e tão idiota de orelha a orelha apenas por ouvir o som de uma nova mensagem.

 

    Às vezes, enquanto estava sentado no sofá comendo mais maçãs do que palavras podem dizer,  minha avó, que sempre ficava deitada roncando alto, até acordava com meus passos, subindo as escadas feito um louco, a procura do meu celular. Digitava com pressa, os dedos meio trêmulos, e a expectativa que instalava-se no peito, enquanto esperava uma resposta.

 

  E nas férias daquele ano, estava convicto que meu melhor amigo iria gostar de ir à minha casa, por mais que a única coisa que pudéssemos fazer fosse assistir séries e dormir, não sei, eu sentia uma vontade indescritível de agrada-lo, de arrumar a cama pela primeira vez na vida ou tirar os tênis espalhados pelo chão. Só por ele.

 

Na metade de novembro, não sei bem dizer que dia, quando me aproximei da nossa, quero dizer, da picape do professor, encontrei um vazio do lado direito, um vazio tão grande quanto aquele que se instalou em meu peito.

 

 Franzi o cenho, em minhas mãos, eu segurava com força o pequeno vidrinho de fitinha vermelha, a poção do amor que eu queria tanto mostrar para ele.

 

  "Chanyeol?" Olhei para os lados, tentando encontrar o ruivo em algum lugar do estacionamento.

 

 Lembro que eu ri de leve, achando que não passava de uma brincadeira, que ele logo sairia de algum canto e taparia meus olhos, perguntando quem era.

 

Ele fazia isso às vezes, assim como gostava de me derrubava no chão, sem avisos, e subir em cima de mim, provocando cócegas.

 

Ou eu, que insistia em chutar suas canelas quando descíamos as escadas, ou jogar água fria em seu rosto quando íamos ao bebedor.

 

Afinal, depois de quase um ano juntos eu podia dizer certas coisas que o irritavam, e eu tinha que certeza que Byun Baekhyun era uma delas.

 

 "Chanyeol, vai, onde quer que você esteja escondido, saia!" Ri sem ânimo.

 

 Olhei para minha mão, vendo o frasquinho claro ali, com suquinho de maçã dentro...e pensei no que ele pensaria quando o visse.

 

 "Eu tenho... algo pra te mostrar..." Murmurei após notar que não teria uma resposta.

 

 Aquele dia fora deprimente, pois logo em seguida, começara a chover, uma chuva de verão, repentina e forte, podia ouvir ao longe algumas meninas gritarem, provavelmente porque não queriam se molhar, enquanto inspetores apitavam, mandando os alunos para suas salas.

 

 Eu fui em direção ao automóvel vermelho e sentei-­me ali, sentindo as gotas geladas de chuva atingir meus cabelos, o vento frio castigava meu rosto desprotegido, que apenas estava daquela forma porque o ruivo dizia que eu ficava mais bonito sem cachecol.

 

 "Merda, Chanyeol..." Abracei as pernas, com frio.

 

 Eu resmunguei comigo mesmo porque naqueles momentos meu peito doía muito e eu tinha medo de enfartar no estacionamento dos professores e acordar levando chicotadas.

 

 Chanyeol havia prometido não faltar naquela semana.

 

 Mas ele não havia cumprido sua promessa.

 

Eu passei todos os segundos daquele intervalo com a esperança que o par de coturnos sujos aparecesse, arrastando-se contra o chão, que as calças negras e repletas de rasgos entrassem em meu campo de visão, ou que os cabelos vermelhos apoiassem-se contra meu ombro, nas vezes que o sono era mais forte que seus olhos prateados.

 

 Meu peito doía tanto e eu queria chorar.

 

 Mas eu não podia.

 

 Pois chorar era algo muito barulhento e chorar não era coisa de homem, um cavaleiro como Tristão nunca choraria.

 

 Isolda sim, Isolda vivia chorando.

 

 E eu não queria ser como Isolda.

 

 Eu definitivamente não queria ser como Isolda.

 

 Naquela tarde de novembro eu deixei com que o livro de Chanyeol se molhasse, também deixei com que minha poção do amor se quebrasse.

 

 Naquela tarde de novembro o apito dos inspetores soou alto.

 

 Eles me puxaram pelos braços e eu gritei.

 

 Mesmo sabendo que eu era o único errado ali.

 

 Lembro que tentei de todas as formas me soltar enquanto a chuva forte impedia qualquer um de ouvir meus gritos.

 

 Eu gritava não por Chanyeol.

 

 Eu gritava não pelas chicotadas.

 

 Eu gritava porque podia ver com meus próprios olhos a chuva molhar as páginas da obra, enquanto os pequenos pedacinhos de maçã eram levados pela enxurrada de água.

 

 Minhas lágrimas geladas iam junto.

 

 Naquele momento eu achei que minha avó estava errada.

 

 Dor no peito não podia ser infarto.

 

 Se não eu já estaria morto.

 

 Naquele segundo dia de novembro eu apanhei muito.

 

 Bem mais que na primeira ida à direção.

 

Eles me amarraram pelo pulso e castigaram minhas pernas, as chicotearam sem dó, abrindo feridas extensas e pronunciando aquelas palavras regradas, que entrariam por um ouvido e sairiam por outro.

 

 Eu chorava fingindo não chorar.

 

E me perguntava se Chanyeol chorava em momentos como aquele.

 

 Não, ele não devia chorar.

 

 Chanyeol era como Tristão.

 

 Corajoso.

 

 Destemido.

 

 E eu era ridículo, como Isolda.

 

 Terminei meu dia dois de novembro comendo mingau ao lado de Taeyeon, ela havia me perguntado o porquê de eu estar molhado.

 

 Não lhe respondi.

 

 Então ela riu e disse que eu era ridículo.

 

 Eu ri junto dela, pois sabia que era verdade.

 

 Depois ela me mandou comer o mingau.

 

 Eu comi.

 

 E ele parecia mais frio que nos dias anteriores.

 

 

 

X

 

 

Na quarta mandei uma mensagem para Chanyeol, apenas perguntando se estava tudo bem, onde ele havia se metido e...que eu estava com saudades.

 

 Eu ainda estava tentando me adaptar com o aparelho celular e achei interessante o fato dele ser capaz de tirar fotos, tirei fotos minhas naquela tarde, tirei da escola e tirei da minha família também, enquanto eles faziam as atividade cotidianas, obviamente não cheguei na cara de alguém e falei "posso tirar uma foto sua?", eu tirava escondido.

 

Lembro-­me que, à noite, antes de dormir, comecei a passar o rolo de fotos do aparelho, depois de quase meia hora para encontra-lo, aquele aparelhos eram difíceis!

 

 Dei risada da primeira foto.

 

 Minha avó estava sentada em sua cadeira de balanço dando boas risadas do programa "Peterson, O Ratinho Comedor De Queijo.”

 

 A segunda foto era de meu pai, lendo o jornal enquanto comia uma maçã, suas feições eram sempre sérias, por isso nunca lhe achei muito parecido comigo.

 

 Na terceira foto eu podia ver Taeyeon, ela sorria enquanto olhava um pôster do ator Kim Dongwan, a mais nova estrela de seu seriado favorito, aquele que passava a mesma história todo ano, apenas com atores diferentes.

 

 A quarta foto era o Sr. Kim, descendo para o estacionamento, ele possuía um singelo sorriso nos lábios.

 

 Eu fiquei feliz, pois sabia o motivo de seu sorriso.

 

 Sr. Kim estava indo ver a sua Isolda.

 

 Na quinta foto era eu mesmo, fazendo uma careta e com o nariz quase que enfiado na câmera, nessa foto eu havia aberto a frontal sem querer.

 

 Lembro que ri alto e logo em seguida calei-­me com medo de ter acordado alguém em casa, passando o cobertor sob meus cabelos.

 

 Quando fui passar para a sexta foto, algo me impediu.

 

 "Bateria em 1%"

 

 Arregalei os olhos com aquilo, mas não tive tempo de fazer nada, pois a tela tornou-se azul e mandou­-me a seguinte mensagem:

 

 "Samsung" e então, apagou­-se.

 

 "Mas o que foi isso...?" falei baixinho, mexendo nas teclas do aparelho, mas nada acontecera.

 

 Depois de tentar, de todas as formas, ligá­-lo, acabei por desistir.

 

 Suspirei e fui dormir pensando naquelas fotos.

 

 Queria tirar uma de Chanyeol.

 

 Não sabia se o ruivo havia me respondido ou não,e mesmo que fosse o caso, eu não poderia ver a resposta, já que Samsung estava me impedindo.

 

Lembrei-me de seu timbre de voz grave, na noite que me ligara.

 

 Eu gostava dele.

 

 Naquela noite choveu de novo, estava chovendo muito aqueles dias, para combinar com a aura melancólica de final de ano que me assombrava e a falta de um garoto de cabelos vermelhos.

 

 Recordo-me que sentei na cama e olhei para a lua, ela era tão cinza e brilhante quanto os olhos que eu não via há semanas.

 

 Eu também gostava dela.

 

 Naquela noite adormeci depois de chorar um pouco, bem pouco mesmo.

 

 Não havia problemas, era imune a infartos.

 

 Eu adormeci e pensei em onde Chanyeol estava.

 

 E se, de onde ele estava, ele pensava em mim.

 

 Eu não me importava se era algo errado, como diria o diretor.

 

 Que fosse errado então.

 

 Pensando errado ou pensando certo, o importante era que ele pensasse em mim.

 

 Porque eu pensava muito nele.

 

 

 

X

 

 

Lembro que naqueles sete dias seguintes, meu infarto parecia piorar, a dor era insuportável, uma falta, terrível, havia até mesmo faltado na escola, já não aguentava mais chegar e encontrar aquela carteira vazia, sem seu corpo grande esparramado, ou a picape solitária do lado direito. Já não aguentava mais não ver suas pernas tortas, já não aguentava mais não ver seus olhos prateados, seus cabelos vermelhos, já não aguentava mais não ver Chanyeol.

 

 A dor era tamanha que até cheguei a falar com a minha avó, disse para ela que doía muito e que qualquer dia eu cairia morto por ai, iriam pegar meu corpo e jogar numa vala, ou dar mais chicotadas em minha pessoa desfalecida.

 

Ela falou que eu só dizia bobagens e me mandou ir estudar, por mais que eu sempre tirasse notas azuis.

 

 Desde a morte de minha mãe seus olhos haviam se tornado mais gelados, os de meu pai também, eles pareciam me evitar, e estavam mais negros do que nunca.

 

 Os olhos de Taeyeon brilhavam, mas não era por mim.

 

 Nem a picape vermelha podia me servir de refugio naquela época, pois um dia, sem querer, disparei seu alarme, fiquei tão cagado de medo de levar mais chicotadas que nunca mais voltei ali.

 

 Passava o intervalo rondando a escola, indo para lá e para cá, sempre os mesmos corredores pragmáticos, sempre os mesmo locais.

 

 Todos olhavam para mim, mas ao mesmo tempo não olhavam, seus olhos ultrapassavam os meus como se eu fosse invisível, como se eu nem existisse.

 

 Eu não sabia se todos haviam começado a ter olhos frios por algum motivo desconhecido.

 

 Ou se eles sempre tinham sido assim e eu que apenas me toquei disso quando conheci o calor daqueles olhos prateados.

 

 Atualmente, tenho me acostumado a ser invisível, tenho me acostumado a andar sozinho por corredores, por lugares já conhecidos em demasia.

 

 Na época, quando me dei conta de que naqueles meus dezesseis anos de vida eu sempre havia sido invisível, algo dentro de mim se quebrou.

 

 Como um enfarte no corpo todo.

 

 Ninguém gosta de notar que, de fato, não faz falta alguma e eu era como Chanyeol, ninguém importaria-se caso eu faltasse ou morresse, literalmente desaparecesse da escola. Questionei-me se o ruivo sentiria minha falta, mas conclui que não...acho que ele também não ligava.

 

 Lembro-me de um episódio em especial, algo que nunca me esqueceria, eu andava pelos corredores da escola, como sempre fazia até que esbarrei em alguém.

 

 Alguém bem mais alto que eu.

 

 E com coturnos negros.

 

 "Chany–"

 

 Mas minha boca calou-se quando vi um garoto loiro, acompanhado de outros meninos, daqueles grupinhos que quando passavam por mim, ficavam cochichando baixo, mal encarados, eles me fitaram por um tempo e depois deram de ombros, indo embora.

 

 E eu fiquei ali.

 

De cabeça baixa enquanto ouvia suas palavras ao longe.

 

 "Vocês sabem quem é aquele ali?"

 

 "Eu não sei."

 

 "Não é o encrenqueiro que anda com aquele ruivo esquisito?"

 

 "É ele sim."

 

 "Ele é patético."

 

 Ah, e então, suas risadas.

 

 Doeu.

 

 Doeu muito.

 

 Não sei o que eles falaram depois, apenas sei que me puis a caminhar em passos rápidos até o final do corredor.

 

 Pois eu sabia o que estava por vir.

 

 Crescia dentro de mim.

 

 Subia por meu corpo.

 

 E vazava pelos olhos.

 

 Tranquei-me no banheiro da escola, sentando sob a tampa da privada.

 

 E chorei.

 

 Chorei muito.

 

 "Que merda, eu te odeio!!" Chutava a porta.

 

 Eu não queria ver Chanyeol nunca mais na minha frente.

 

 "Idiota! Idiota! Idiota!" eu gritava sem parar, tossindo vez ou outra entre minhas lágrimas.

 

 Também fiz uma nota mental de perguntar para minha avó se infartos faziam a gente chorar tanto, pois quanto mais eu deixava toda a água escorrer pelos meus olhos, mais doído se tornava meu peito.

 

 Minhas pernas tremiam de leve e doía, pois eu sentia os cortes da semana passada mancharem minha calça branca com sangue vermelho.

 

Recordo-me de respirar com dificuldade quando a porta fora aberta, de supetão, e um inspetor olhou fundo nos meus olhos.

 

 Eu lhe fitei de volta, vendo sua imagem toda borrada pela água que escapava de meus orbes.

 

 Naquele momento eu não me importei se iria levar chicotadas ou não.

 

 Elas doíam menos do que eu sentia.

 

 Eu lhe segui pelo corredor de braços cruzados, e chorando sem parar.

 

 No final, ele me levou para sua sala, e me deu um prato de mingau.

 

 Lembro que quando eu olhei para todo aquele mingau eu chorei mais ainda.

 

 Ele não entendeu, mas não tinha problema, ele não entenderia mesmo que eu explicasse.

 

 "Eu to enfartando." Olhei em seus olhos.

 

 Ele riu baixo, e sua voz era feia e rouca.

 

 "Pare de falar asneiras, garoto, engole essa porcaria e volta pra sua sala."

 

 Seus olhos eram verdes.

 

 Mas me atravessaram como todos e quaisquer outros.

 

 No caminho para casa eu vomitei o mingau num beco qualquer.

 

 Sentei-me ali e chorei mais.

 

 O frio queimava minhas narinas, mas eu não me importava.

 

 Lembro­-me que permaneci derrubando minhas lágrimas sobre aquele vômito branco.

 

 O mingau era feio, mas eu era mais.

 

 Eu era invisível.

 

 E ninguém gostava de mim.

 

 Não havia orbes que me enxergassem.

 

 Apenas um.

 

 Um pequeno par de esferas prateadas.

 

 A segunda quarta de novembro serviu para eu pensar em quanto eu odiava do fundo da alma mingau.

 

E no quanto eu sentia falta dos olhos cinza de Chanyeol.

 

 Seus olhos eram a parte que eu mais gostava nele.

 

 Não pelo jeito que eram.

 

 Mas pelo jeito que viam.

 

 

 

X

 

 

"Quando eu era pequeno, minha mãe sempre me falou que felicidade era a chave da vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse, então eu respondi: "Feliz". Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu disse que eles não entendiam a vida"

-John Lennon


Notas Finais


eai? gostaram?

Fico mto feliz que saber que existem leitores novos tbm ^____^ espero que estejam se dando bem com a historia <3

Desculpa a dmr para postar, vou ficar pelo cel agora e responder os comentarios, ou minha mae me mata uehuehuehehuehuh

Até o proximo e mto obrigada a todos voces pelo apoio!


~Moon


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...