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História Misfit - O Segredo De Seus Olhos


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


Oiee gente!

Desculpa de vdd por ontem, não sei se voces me acompanham pelo tt, na vdd nem sei se vcs leem essas notais iniciais, só queria avisar que Moon está com dengue e teve que passar o dia de ontem inteiro no hospital, tomando soro e morrendo.

Mas calma! Vcs ainda não se livraram de mim ;) e eu estou vivinha da silva e oq decidi fazer primeiro? Sim, postar Misfit pq né, só falta eu me atrasar par REPOSTAR, como vou ficar de repouso em casa agr e nao vou para a escola, vou tentar corrigir todos os caps, ou pelo menos o max q eu pude, e é claro, fazer as capas.

ALIAS ANJOS! se vcs tiverem alguma sujestao de musica pra Misfit, podem mandar que eu vejo se coloco na capa ^^'

Sem mais delongas, boa leitura!

Musica- Price Tag- Jessie J

Capítulo 5 - O Segredo De Seus Olhos


Fanfic / Fanfiction Misfit - O Segredo De Seus Olhos

 

 

Capítulo 5- O Segredo De Seus Olhos

 

 

"Não sei que sentido tem essa viagem que fui obrigado a fazer, entre uma noite e outra, na companhia do universo inteiro" - Fernando Pessoa.

 

 

 

 

 

 

Eu não via Chanyeol há exatos dois meses.

 

 Sim, eu estava contando.

 

Contava, pois era sempre o mesmo sentimento de vazio e enfarto quando meus pés pisavam naquela sala, e meus olhos, naturalmente, procuravam pelos dele.

 

E nada encontravam.

 

 Aquele meu segundo ano do colegial findara-se e eu pude, enfim, ir para casa.

 

 Quinze dias de férias divididos em atividades que eu não queria fazer e pensamentos que eu não queria ter.

 

Férias sempre deveriam ser vistas como um “finalmente”, mas não sei, sempre estranhei o fato de que, de alguma forma muito estranha, acabava por sentir certa saudade da escola.

 

Quero dizer, o que eu faria nas férias? Absolutamente o que eu já fazia todo dia, ou seja, comer e dormir, ou dormir enquanto comia.

 

Na verdade, não sentia saudade da escola, sentia saudade de um par de esferas prateadas.

 

Lembro-me que naquele fatídico “finalmente”, meus tios apareceram em casa, e, para a minha surpresa, e talvez, até para a deles, os mesmos não sabiam da morte de minha mãe.

 

 Acho que naquela época as informações não corriam tão bem como hoje.

 

 Mas acho também não havia motivos para correria.

 

Ninguém tinha pressa.

 

 Eu não tinha pressa.

 

 Às vezes, eu me deitava na cama.

 

 Às vezes, eu apenas caminhava pela casa.

 

 A verdade era que eu não sentia o chão abaixo de meus pés.

 

 Nem o sabor das maçãs com canela preparadas por minha avó.

 

 Às vezes eu também tentava, inutilmente, ligar meu celular.

 

 Todo dia eu repetia o processo.

 

 E todo dia ele permanecia desligado.

 

Naquela época eu nem sabia que horas eram.

 

 O tempo passava lento e eu não me importava com ele.

 

 Aliás, havia dias em que eu não me importava com nada.

 

 Havia dias que viravam noites.

 

 E noites que viravam dias.

 

 E sabe? Paro para recordar-me hoje, sobre as manhãs viradas em que observava os piarem matinais, entre bateres de asas frenéticas.

 

Sempre entre os mesmos galhos.

 

E perguntava “se os pássaros podem voar, por que permanecem no mesmo lugar?”.

 

E sabe mais? Acho que devia ter me questionado o mesmo.

 

"Come mais querido, não é todo dia que temos sardinha."

 

Era jantar, reunião de família, daquelas que acontecem três vezes por ano e você simplesmente deseja que não aconteçam nunca mais.

 

Pois se resumiam na mesma coisa, alguma tia que corria para lá e para cá, servindo aos convidados, um tio que provavelmente fumava mais que uma chaminé, e sua voz já soava rouca e feia, imagine então o cheiro. Havia também os velinhos, um pior que o outro, e as crianças, os primeiros sempre gostariam de me perguntar sobre minhas notas.

 

E nem notavam que lhes respondia sempre a mesma coisa.

 

Minha avó tentava me empurrar o prato com o peixe ao qual eu já reconhecia até o cheiro, enquanto meu tio conversava sobre algo animadamente com meu pai.

 

 "A gente comeu isso ontem." Murmurei baixo, pois sabia que ia levar bronca se falasse alto.

 

 É engraçado pensar que existem certas falas na vida, que por mais verdadeiras eu sejam, você vai deixar de falar.

 

 Porque não devem ser ditas.

 

 Não naquele momento.

 

 Não naquela hora.

 

 E eu entendia isso.

 

 "Não se estresse Sra. Byun." Minha tia sussurrou, entre os lábios manchados de vermelho.

 

"Ah querida, não se preocupe, ele ta assim porque um amigo dele ia vir aqui, mas não sei o que deu que o jovem não veio” Ria “Sabe como são essas crianças né?"

 

 Minha avó não. Ela não entendia.

 

 E eu não sabia o que era pior.

 

 Ter que ouvir a velha falar de coisas que ela não tinha conhecimento.

 

 Ou saber que ela apenas falava a verdade.

 

 E a verdade doía.

 

 Enxergar o que quer que fosse, mas especialmente, o que sempre esteve abaixo de nossos narizes, doía.

 

Porque, naquela época, eu não queria admitir que Chanyeol fizesse pouco caso de minha existência.

 

 Acho que ninguém deseja isso, independente das pessoas, dos momentos.

 

 Ser negligenciado sempre nos causou esse caos interno que eu não conseguia entender ou arrumar como arrumava minha cama.

 

 Ele era muito mais complexo que qualquer edredom seria.

 

 Ele não me protegia do frio, muito pelo contrário, me afundava nele.

 

 "Ah sim, quando eu tinha essa idade, ah, tempo dos sonhos." Minha tia brilhava os olhos negros.

 

 Eu não entendia, não naquela época, porque todos os adultos insistiam em ser tão iguais e dizerem sempre a mesma coisa.

 

 Para mim, era como se carregassem um caderno com dizeres prontos que ele poderiam simplesmente utilizar conforme lhes era favorável.

 

Como assim “tempo dos sonhos”? Quer dizer que, sei lá, após os trinta, você não possuía mais sonhos? Era isso?

 

Eram tardes obrigadas, onde você gastava seu tempo se acabando e dizendo que é um “sem sonhos” para seus sobrinhos?

 

 Naquela época eu desejava ser igual a eles, pois assim, poderia não sofrer daquela angústia sem motivos que insistia em me assombrar.

 

 Hoje, fico feliz que esse desejo não tenha se realizado.

 

 Eu tinha medo de que, sem Chanyeol, eu nunca mais pudesse ir a um circo.

 

Ou trocar mensagens à noite, no escuro, enquanto ninguém olhava.

 

 Eu tinha medo que meus dedos nunca mais sentissem as folhas de um livro, a textura de um papel.

 

Ou o bailar de uma borboleta.

 

 Eu tinha medo de morrer antes de ver o par de coturnos novamente.

 

 "Mas não fique triste querido, às vezes as pessoas não gostam da gente e aí negam sair conosco, é assim mesmo."

 

 Alguns pedaços de peixe voavam em mim enquanto minha vó falava com pressa.

 

 "Seu avô fazia isso direto comigo e eu nunca me importei, vai ver que esse garoto não vale a pena" Ela deu de ombros "Ou quem sabe você encheu o saco dele e-"

 

 Lembro-me de arrastar a cadeira no chão com força.

 

 Todos na mesa calaram-se e olharam intrigados para mim.

 

 Eu olhava com desgosto para minha avó.

 

 Como se pudesse queima-la viva ali mesmo.

 

 Porque era isso que eu queria.

 

 Para mim ela não sabia de nada, ela nem ao menos sabia quem era Chanyeol.

 

 Eu sim, eu sabia.

                            

 Eu sabia seu nome.

 

 Sua idade.

 

 Seu livro favorito.

 

 E sabia que ele tinha cabelos vermelhos.

 

 Eu sabia até mesmo seu numero de celular.

 

 Ela nunca havia visto aqueles olhos prateados como eu tivera o prazer de ver.

 

 E se dependesse de mim, ela nunca os veria.

 

 "Baekhyun?" Meu pai quebrou o silêncio.

 

 "Por que vocês são assim....?" Eu perguntei baixinho.

 

 Quase que para mim mesmo, por que talvez, só talvez, eu precisasse buscar a resposta em meu âmago.

 

"Por que vocês agem assim?"

 

 Todos me olhavam com leves sorrisos nos rostos.

 

 E eu queria queima-los.

 

 Porque tudo me parecia terrivelmente errado.

 

 Eles eram felizes.

 

 Estranhamente felizes.

 

 "Crianças são uma graça não são?" Minha tia sorriu para minha avó.

 

Traguei saliva, zonzo.

 

 "Minha mãe não era como vocês!!"

 

Lembro que gritei.

 

 Nunca, em hipótese alguma, eu já havia gritado com meus pais, mas naquele momento, parecia certo.

 

 Todos me encararam, mas nenhum de fato parecia bravo.

 

 "Sua mãe era uma ótima pessoa querido." Minha avó se servia novamente da sardinha em conserva "Pena que morreu cedo, que deus a tenha."

 

 "Eu já havia comprado até o presente para ela."

 

 Meu tio riu de leve, dando mais um gole em seu suco de maçã.

 

 "Ainda bem que sua tia usa o mesmo número."

 

 Naquele momento lhe olhei nos olhos.

 

 A imagem estava borrada.

 

 Porque eu chorava.

 

 Embora soubesse que não era coisa de homem.

 

 E todos sorriam.

 

 Todos.

 

 Por quê?!

 

 Era isso que eu queria saber.

 

  Todos sorriam.

 

  Hoje, já não sorriem mais.

 

"S-seus monstros!" Gritei com o fio de voz que ainda me sobrava.

 

Lembro que corri até as escadas, subindo aos tropeços, batendo o joelho no último degrau.

 

Nem sentira a dor.

 

Tranquei-me no quarto e me deixei deslizar pela porta branca.

 

Branco.

 

Branco.

 

Havia branco para todo o lado.

 

E eu nunca havia percebido aquilo.

 

Eu ainda podia ver os pedaços de sardinha em minha blusa.

 

Naquele momento lembrei-me de minha mãe.

 

Ela não comia sardinha.

 

Olhei para a lua, minha fiel companheira até os dias de hoje, e deixei que aquele ódio saísse pelos olhos.

 

Fui-me engatinhando pelo cômodo de luzes apagadas, no escuro eu era incapaz de enxergar todo aquele níveo, subindo em minha cama.

 

Olhei para o ursinho sujo e rasgado que Chanyeol havia me dado.

 

"Por quê?" Solucei.

 

Agarrei a pelúcia em meio às lágrimas.

 

"Só me diz o porquê." Olhei para o céu noturno coberto por estrelas.

 

Será que falava com elas? Questionava constelações?

 

Será que elas seriam capazes de brilhar nas partes mais negras de mim?

 

Eu sentia uma falta de Chanyeol que eu não conseguia explicar.

 

Talvez apenas tivesse me apegado demais, convivido demais, sido “O” garoto aleatório demais.

 

E no final, notando que era apenas isso mesmo que eu era “demais” e ao mesmo tempo tão insuficiente. Para mim e para ele.

 

Sentia-me a colecionar estrelas sem ter um céu onde encaixa-las.

 

Naquele momento eu notei que minha mãe não estaria ali para me abraçar como fazia quando eu era pequeno.

 

E eu chorei mais, sentindo o cheiro de chuva e mofo do ursinho velho.

 

Lembro que me escondi entre os edredons como se pudesse me esconder de mim mesmo.

 

Porque naquele momento eu entendi.

 

Que ninguém estaria ali para limpar minhas lágrimas.

 

Eu mesmo teria que fazer isso por mim.

 

Será que era isso que significava ser adulto?

 

Hoje, sinto falta do que eu era há anos atrás.

 

É estranho como as pessoas podem mudar.

 

A cada esquina somos outros e havia tantas ruas durante minha adolescência.

 

Chega a ser triste, se você parar para prestar atenção.

 

E hoje...

 

Quem sabe eu seja uma pessoa talvez menos feliz.

 

Talvez até uma pessoa pior.

 

Mas era um desejo e reflexão inconstante e frenética, tão desesperadora e sufocante, sobre “mudanças”.

 

E por pior, ou melhor, que estas fossem, sinto que preferia mudar para pior, escolher entre ser um demônio ou o próprio diabo...do que não mudar, de fato.

 

Mas eu diria que se trata de uma história muito antiga, essa repleta de questionamentos.

 

Muito mais antiga que Tristão e Isolda. Ou que a minha própria.

 

A mais antiga do mundo.

 

Chama-se "Vida".

 

E no final dessa história, a gente morre.

 

A lua velou meu sono daquela noite que eu não sabia se era noite.

 

E foi a única, a saber, sobre a falta que sentia.

 

O pior tipo falta que eu poderia um dia sentir.

 

Maior que a falta que Chanyeol causava.

 

Falta “de mim”.

 

Pois pior que a saudade que se sente de quem se ama.

 

Só a saudade que se sente de quem se era.

 

 

 

X

 

 

 

"Onde você esteve?!"

 

Era a frase que marcaria aquela quinta feira fria, após três meses sem ver Chanyeol.

 

Ele estava encostado na parede do terraço.

 

Os mesmos coturnos.

 

A mesma jaqueta negra.

 

Bem ali.

 

A apenas uns passos de mim.

 

Não parecia surpreso em me ver, muito pelo contrário, suas feições mostravam-se calmas.

 

Diferente de mim, que sentia como se meu mundo fosse desabar ali mesmo.

 

Ele ergueu a face pálida, onde um olho manchado de roxo quebrava a tonalidade branca como as nuvens que encobriam o céu.

 

Olhou-me nos orbes, e céus! Como eu havia sentido falta de suas íris prateadas!

 

Silêncio.

 

E eu senti ser o errado ali.

 

O errado de estar cobrando algo dele.

 

"Me-me res-ponde Chanyeol!!" Senti minha voz falhar, temerosa em sair da garganta.

 

Os olhos cinzas me olharam dos pés à cabeça, vendo através de minha alma.

 

E os fios vermelhos que eu tivera o desprazer de ver em meus sonhos, balançavam-se contra o vento frio.

 

Bonitos.

 

O céu estava tão nublado quanto meus pensamentos.

 

E eu tentava, inutilmente, transformar essas nuvens cheias de água, em tempestade.

 

Embora eu soubesse que só era capaz de fazer garoas.

 

Os poucos metros que nos separavam naquele terraço monocromático e de piso desgastado, eram maiores que oceanos.

 

E eu podia sentir a altura de suas ondas acumularem-se nas laterais de meus orbes, queimando as beiradas da alma.

 

"Merda Chanyeol!"

 

Foi a única coisa que pude dizer.

 

E até hoje não me arrependo de minhas palavras.

 

Ele não me respondeu.

 

Seu rosto permanecia baixo, fitando o chão, como se ali existisse algo interessante, algo que eu era incapaz de identificar.

 

Chanyeol não me encarava mais.

 

Chanyeol não me enxergava mais.

 

E eu esperei.

 

E esperei.

 

Por longos segundos.

 

Por infinitos minutos.

 

E eu poderia esperar por horas.

 

Por dias.

 

Que tudo que eu receberia do garoto de madeixas vermelhas e olhos prateados, seria o silêncio.

 

E ali, com apenas o som do toque de recolher soando ao longe, eu tomei sua falta de palavras como a pior e mais improvável resposta.

 

"Nunca mais fale comigo." Disse-lhe seco.

 

Cheio de ódio nas palavras.

 

E de fato, era ódio.

 

Mas era ódio e algo mais.

 

Era ódio e saudade.

 

Saudade de algo que eu nem sabia o que era.

 

Saudade daquilo que nem havia chegado a acontecer.

 

Saudade daquilo que eu desejava que tivesse acontecido.

 

Lembro que fui com pressa até a porta enferrujada do terraço, correndo entre supetões.

 

Mas sua mão fora mais rápida que eu.

 

Envolveu-me o braço.

 

Queimou-me o pulso.

 

Tremeu- me as pernas.

 

Secou-me a garganta.

 

Embrulhou-me o estômago.

 

E balançou-me o coração.

 

Parei onde estava e olhei para ele.

 

Seu braço tremia, segurando o meu.

 

E ainda assim, seus olhos estavam distantes.

 

"Que que você quer!?" Tentei me soltar.

 

Mas nem adiantara.

 

Não havia vontade em meu ato.

 

Porque a vontade mesmo era de se jogar nos braços de Chanyeol.

 

Sentir o calor que sentira no dia do Circo, perguntar sobre o fim do livro.

 

E sobre borboletas.

 

"Me-me solta!" Algumas lágrimas já escorriam geladas pelas laterais de meu rosto.

 

E eu lembro que precisei respirar fundo, tentando mandar oxigênio para meus sentimentos.

 

Aqueles que eu negava sentir.

 

"Desculpa."

 

Suas palavras saíram tão rápidas que lembro que precisei raciocinar por uns instantes.

 

"Desculpa?" Ri de leve. "É só isso que você tem pra me falar?!"

 

Quem ele pensava que era para sumir durante três meses e voltar assim, todo pomposo, com “desculpa”?

 

Eu tinha certeza que ele se calaria novamente, mas ao invés disso, suas palavras vieram firmes.

 

"Você quer que eu fale o quê?!"

 

"O que eu quero que você fale?!" Começara gritar no terraço. "O que será Chanyeol?!"

 

Ele ficou quieto, apenas observando minha petulância em falar consigo naquele tom de voz.

 

Petulância sim, nunca havia falado desse jeito.

 

"Talvez eu queira que você me fale onde esteve durante esses três meses!"

 

Precisava me controlar, pois quanto mais eu falava, mais eu chorava.

 

E ai eu tinha medo de me afogar em meu próprio choro e ser impedido de contar o que sentia à Chanyeol.

 

"Ou o porque de não ter me respondido! Ou quem sabe...."

 

Meus lábios tremiam, e eu sabia que não era pelo frio, enquanto cada lágrima escorria.

 

"Quem sabe que você falasse..."

 

Respirei fundo.

 

"Que sentiu minha falta..."

 

Seus olhos encaravam qualquer lugar, menos meus semelhantes, e ele parecia como um cachorrinho perdido.

 

"Eu já pedi desculpas por isso, o resto não te interessa." fechou o pulso em nervoso.

 

"Não me interessa?!” Lhe fitei, incrédulo "Você tem noção do que fez pra mim?"

 

"Ai que está, Baekhyun, você está exagerando-"

 

"Eu não-"

 

"Cala a boca que eu não terminei de falar.” Ele apontou o indicador para mim, enquanto se aproximava, irritado.

 

Traguei saliva, levemente assustado, notando que nosso terraço parecia levemente menor, enquanto seu corpo alto chegava perto do meu.

 

"Eu não te fiz nada, não consta em nenhum lugar que eu tenho que te dar satisfações da minha vida!"

 

Minha boca se entreabriu diversas vezes e eu não soube o que falar.

 

Porque ele tinha razão.

 

Chanyeol não me devia nada.

 

"Ma-mas e dai? Somos amigos, não somos?! Então....temos que falar sobre a nossa vida um para o outro, você não pode sumir assim do-"

 

“Não vem jogar os problemas dessa sua vida ruim em cima de mim”!

 

Franzi o cenho.

 

Minha vida não era ruim.

 

E mesmo que fosse, quem era ele para dizer isso?

 

"O quê?" Falei baixo.

 

"Se sua vida fosse boa, você não estaria interessado na minha."

 

Eu lhe fitei surpreso e naquele momento, explodi.

 

E pode ter certeza.

 

Fora a melhor explosão que já pude ser.

 

"Eu estou interessado porque eu gosto de você Chanyeol!!"

 

Gritei aquilo tão alto que a cidade inteira apenas não ouviu pelo fato de que seus prédios cinza e sombrios, ecoavam e abafavam qualquer tipo de som. Qualquer tipo de protesto.

 

Seus olhos se arregalaram.

 

Ele soltou meu braço bem lentamente, deslizando a pontinha dos dedos por meu pulso descoberto, e me encarou com seus planetas prateados.

 

Aqueles que apareciam todos os dias em meus sonhos, aqueles planetas que desejava entrar e não escapar nunca mais.

 

"Eu estou interessado porque você é meu melhor amigo, eu estou interessado porque eu me importo com você, estou interessado desde no jeito que você me olha até em como pinta esse seu cabelo de vermelho!"

 

"Baek-"

 

"Não, agora cala a sua boca que eu to falando!"

 

Tive de erguer meu rosto devido nossa diferença de altura, e Chanyeol parecia se afastar, assustado.

 

"Eu quero ser seu amigo e eu não ligo se você não quer ser meu!"

 

Recordo-me que me aproximei dele.

 

E ele tentou fugir.

 

Mas o encurralei, segurando no colarinho de sua jaqueta preta, e empurrando seu corpo grande contra a parede atrás de nós, batendo suas costas no cimento cinza e sem graça.

 

Ele murmurou pela dor, mas logo baixou o rosto, ficando finalmente de cara-a-cara comigo, e droga! Eu não queria que meu discurso falhasse porque seus olhos pareciam travar qualquer movimento que eu poderia tentar ser.

 

"Se é pelo jeito que eu me visto, se são pelas coisas que eu falo, sério, Chanyeol, me diz, me diz que eu mudo!" Gritava, colando os corpos.

 

Sentindo aquele calor nostálgico.

 

“E-eu mudo.”

 

Eu mudaria desde o jeito em que descascava minhas maçãs até a quantidade de vezes que piscava em um minuto, apenas por Park Chanyeol.

 

"Não é nada disso!" Ele segurou em meus ombros, tentando me afastar.

 

Tentando.

 

"Então o que é?" Sussurrei, contaminando minha fala com a fumaça fria da primeira semana de aula.

 

Ele olhou para alto, e eu sentia o gostinho de ter uma altura próxima a sua, enquanto me mantinha nas pontas dos pés.

 

Procurou palavras no vazio que era o céu, mas não saberia dizê-las nem com todos os dicionários do mundo.

 

Ah, eu nunca iria me esquecer do rosto levemente corado de Park Chanyeol.

 

"Você tem certeza?" Questionou baixinho, para que apenas eu lhe ouvisse, e eu senti o vento de sua respiração contra meu rosto.

 

"De quê?" Encarava seus olhos, variando meu olhar entre eles e seus lábios próximos aos meus.

 

Tão lentamente.

 

"De quê quer isso?” Sua voz baixa era quente, embora tudo que Chanyeol causasse em mim fosse gelado.

 

Tão lentamente.

 

"Porque eu não teria?” Respondi-lhe, vendo seus olhos prateados tão lindos, tão próximos.

 

As pontinhas dos narizes que se relavam.

 

"Por nada, eu só estou dizendo que eu sou um idiota, ranzinza, pessimista e pé no chão, que nunca vai assumir responsabilidades na vida ou seguir regras, e que você vai ter que lidar com o meu mau humor, com a minha cara fechada e com minhas reclamações todos os dias.” Fechou os olhos “Porque é isso que eu sou Baekhyun, e disso eu sei que você não precisa."

 

Eu olhei para Chanyeol e ele parecia que iria chorar a qualquer momento.

 

Era estranho ver que o garoto ao qual eu colocara tantas expectativas em cima, agora se mostrava tão frágil, bem ali, na frente dos meus olhos não prateados.

 

Mas acho que eu sabia exatamente o que fazer, enquanto ele me observava naquela expectativa.

 

"Seu idiota." lhe dei um tapa forte no ombro.

 

O puxando para um abraço logo em seguida.

 

Chanyeol não retribuiu, nem após meus braços passarem por cima de seus ombros e eu precisar, literalmente, sair um pouco do chão.

 

Mas não tinha problema.

 

Eu faria minha parte.

 

Seu corpo era quente, ah, eu gostava daquele calor característico de Chanyeol.

 

"Eu sei o que eu quero e eu sei o que preciso." Sussurrei em seu ouvido aquela confissão.

 

Que, na época, eu não sabia que tratava-se de uma confissão.

 

Pois, na época, eu era muito ingênuo e homem já é muito burro por natureza.

 

"E eu não ligo pra o que você pensa, de verdade, eu não ligo, e eu vou esperar Chanyeol, eu vou esperar nessa merda de terraço, independente de quanto tempo se passar, eu vou esperar, desde que você prometa que um dia você volta."

 

Minhas lágrimas já finalizadas, ainda escorriam secas sob seu ombro, enquanto apoiava minha face ali.

 

Naquele momento eu me senti bem.

 

Pois eram palavras verdadeiras.

 

E que eu não precisava guardar para mim.

 

Fingir que não as pensei.

 

"Por que tudo isso?" Suas palavras frigidas soaram contra meus tímpanos e eu apenas desejei ouvir aquela voz desafinada eternamente.

 

"Eu vou esperar Chanyeol, porque, honestamente, eu não estou interessado em mais ninguém."

 

 

 

X

 

 

 

Chanyeol não faltou mais.

 

Também não me contou o motivo de suas faltas.

 

"Eu queria saber o que acontecia no final do livro."

 

Murmurei naquela tarde em um dia perdido no começo de fevereiro.

 

Eu e ele nos encontrávamos sentados no terraço, como era costume, mas dessa vez, o som reinava alto em seu império no céu, pela primeira vez, claro e aquecido.

 

Aquecido.

 

"Qual parte você parou?" Sua voz não parecia entediada.

 

O ruivo estava sentado ao meu lado e eu mantinha minha cabeça apoiada em seu ombro, permitindo que meus cabelos castanhos ficassem mais bagunçados contra as tachas de sua jaqueta.

 

"Na poção do amor."

 

"Ah, sim..." suspirou.

 

E eu sabia que ele não falaria mais naquele dia.

 

Eu sabia. Eu sabia cada vez mais sobre ele. Eu sabia.

 

"Eu fiz uma poção do amor pra gente Chanyeol."

 

Seus olhos antes fechados se arregalaram repentinamente, me fitando assustados.

 

"O que você disse?!" Abriu os lábios, incrédulo.

 

"Exatamente o que você ouviu." Lembro que lhe sorri sapeca.

 

Porque, bom, eu não sabia o que falava.

 

"Fiz com maçã e água...” Ri de leve "Mas ai os inspetores quebraram ela...amanhã eu faço outra."

 

E eu possuía a doce inocência e expectativa de que o amor seria daquela forma, que poderia ser criado todo dia. Quando eu bem desejasse.

 

Acredito até hoje que ele é criado todo dia, apenas acho que não obedece nossos desejos.

 

Ele parecia pensativo, enquanto me encarava.

 

"Por que você fez isso?"

 

Encarei-lhe de volta e justifiquei da forma mais simples que poderia eu, aos quinze anos justificar.

 

"Ninguém sabia o que era amor, então eu decidi fazer uma poção para todos descobrirem."

 

Ele sorriu de uma forma leve e eu percebi naquele momento o quanto eu achava Chanyeol lindo.

 

"E você vai tomar também?" Ele me questionou.

 

 E depois de pensar por um tempo, lhe respondi em palavras concretas.

 

"Lógico, eu não sei o que é amor."

 

Eu fiquei um pouco envergonhado então logo me deitei mais contra seu ombro, escondendo meu rosto entre o cachecol listrado que havia ganhado no natal passado.

 

Antes de fechar meus olhos, consigo me lembrar de que suas bochechas ficaram rosadas.

 

Ele me sorriu de uma forma misteriosa.

 

Mas eu não prestei muita atenção, pois logo tentei deixar meu sono preguiçoso me consumir.

 

Se eu tivesse tentado decifrar o segredo que os olhos do ruivo me guardavam, talvez eu tivesse fugido, ao descobri-lo.

 

Pois a verdade era que Chanyeol sabia de tudo.

 

Chanyeol sabia que já era amor.

 

E hoje eu sei que já era amor.

 

Era amor errado, mas já era amor.

 

Era amor apressado, mas já era amor.

 

Era amor triste, mas já era amor.

 

Já era amor muito tempo antes de ser amor.

 

 

X

 

"Quando tudo parece dar errado, acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo" - Renato Russo.

 

 


Notas Finais


eai? gostaram?

espero que sim <3

obrigada por todos os favoritos! vcs sao INCRIVEIS! espero poder responder todos os comentarios e q minha dengue nao me mate.

imagina, eu morro e vcs n sabem do final de misfit? UHEUHEUHEUHEUHEUHEUHEUHEUEHUHE mas isso n vai acontecer, eu espero ^____^

De qqr forma, cuidem-se e não esquecam de sugerir musicas para as capas de misfit! Procuro musicas que falem sobre sociedade/humanidade/amor, não só romancinho, ok? ehuehuehuehueh

Até o proximo e obrigada por tudo!

> <

~Moon


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