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História Misfit - Além Do Horizonte


Escrita por: Doublefenix

Notas do Autor


Oieee!

~nasce das sombras~

Bom gente, estou me sentindo meio perdida :v dormi e só acordei agora uehuehuehuehueh tipo oi?

Enfim, acho que não tenho mtas coisas a falar sobre esse cap, particularmente, ele é um dos meus favoritos da fic ^____^

Espero que os leitores novos gostem e os antigos gostem pela segunda vez uehueheuheuhueheuheuheuhe aé, preciso responder os comentarios u.u

Alias, vcs são uns lindos! 570 favs! Agora só falta 200 e alguma coisa

Vi q vcs sugeriram musicas nos comentarios, eu estou com algumas em mente só, mas podem ter ctz q vou conferir todas e continuem mandando! Nao se esquecam, musicas sobre humanidade, amor, problemas, revolucao, não só musica de casal!

Sem mais delongas, boa leitura! ^^

Musica- Redemption Song- Bob Marley

Capítulo 6 - Além Do Horizonte


Fanfic / Fanfiction Misfit - Além Do Horizonte

 

 

 

 

 

 

Capítulo 6- Além Do Horizonte

 

 

"Alice: Quanto tempo dura o eterno?

Coelho: Às vezes, apenas um segundo."

 - Alice No País Das Maravilhas

 

 

 

 

 

Fora no inicio de março que o Sr. Kim voltou para sua Isolda.

 

 E eu e Chanyeol aproveitamos para pegar uma carona.

 

 Naquele tempo a picape vermelha havia sofrido algumas alterações e devido a uma lona, eu e meu amigo éramos obrigados a nos esconder embaixo de um toldo.

 

Eu odiava aquele toldo, pois ele cheirava mal e me deixava com falta de ar durante as viagens, estas, que preciso ressaltar, não sendo tão longas, porém carregadas de buracos e lombadas desagradáveis.

 

 Porém, naquele dia algo acontecera.

 

O trajeto de nosso professor resumia-se a duas paradas distintas, uma num posto de gasolina da cidade e outra na casa colorida da Isolda que não possuía cabelos dourados, mas era Isolda.

 

 Nunca me esquecerei do dia em que fizemos não uma, não duas.

 

 Mas três paradas.

 

 "Nome?" Uma voz desconhecida se fez presente.

 

 Meus olhos se estreitaram assustados à procura das íris prateadas, mas elas estavam ali, próximas do topo de minha cabeça.

    

Chanyeol também parecia desconfiado, e eu não preciso dizer que fora sem palavras que compreendi que ele desejava meu silêncio.

 

  "Kim Consoo."

 

Tentávamos ouvir a conversa entre nosso professor de química e alguém ao qual não sabíamos quem era.

 

Mas alguém que já possuíamos medo.

 

"Tem autorização para passar por aqui?"

 

O homem com voz desconhecida falava de uma forma que me deixava perturbado, como se fosse errado tudo aquilo.

 

 A verdade era que era mesmo.

 

"Sim, estou levando alguns papéis velhos da escola onde trabalho." ele respondeu firme.

 

Embora eu soubesse que o Sr. Kim tremia por dentro.

 

Conseguia notar, pois seu timbre não estava calmo como sempre, quando passava lições ou ditava fórmulas e formas de separar materiais.

 

E então aquilo.

 

"E aí atrás? O que está levando?"

 

 Chanyeol arregalou os olhos como eu.

 

 Céus! Se fôssemos pegos ali, estávamos realmente mortos, chicotadas seriam pouco a pagar.

 

 Aquilo não podia acontecer.

 

Não podia.

 

"Não tem nada aí atrás, sabe como é, esses dias tem chovido muito, decidi colocar a lona, meu chefe me deu como presente também, sabe como funciona né?"

 

Nem mesmo a risada forçada do nosso professor era capaz de me acalmar.

 

Meu coração batia forte no peito como nunca antes.

 

Nós seriamos pegos, nós seriamos pegos, era apenas isso que eu pensava.

 

"Hm, entendo" o desconhecido murmurou. "Bom... pode passar."

 

E então, a picape voltara a se mover, tão abrupta quanto havia parado.

 

Eu podia sentir os olhos do homem desconhecido encarando a traseira onde estávamos como se quisesse enxergar por debaixo do toldo.

 

Eu odiava aquele toldo fedido.

 

Mas depois daquele dia, passei a ama-lo.

 

 

X

 

 

Naquela tarde, Chanyeol e eu caminhamos muito mais do que da última vez em que havíamos fugido.

 

 Nossos pais não sabiam e eu imaginava que pouco se questionavam onde poderíamos estar, quero dizer, minha avó provavelmente estaria assistindo Peterson e meu pai trabalhando, pois como ele gostava de dizer “tem que trabalhar para ter dinheiro”.

 

E tinha que ter dinheiro para comprar maçãs e mingau.

 

E tinha que ter maçãs para bem...eu não sabia.

 

Chanyeol disse que queria me mostrar algo.

 

Eu achei ser bem precioso, digo, o momento. Eram raríssimas as vezes que os cabelos vermelhos decidiam por frequentar novas terras tendo-me como objetivo.

 

Na verdade, até hoje, duvido muito que ele já tivera-me como objetivo.

 

Aconteceu por acontecer.

 

"Se ainda estiver de pé, fica logo ali." Apontava para o longe.

 

Eu seguia o ruivo por entre o mato alto e mal cortado, com medo de que algo me mordesse.

 

Naquela época eu ainda não conseguia entender do que se tratava toda aquela civilização abandonada por detrás das altas grades da fronteira.

 

O porquê de aquele lugar ser mantido em sigilo.

 

Mas sabe? Nunca o questionei, sentia que as respostas, por mais suas que fossem, não eram realmente dele.

 

E no final, o máximo que receberia seria um eco de meu próprio questionamento.

 

 "Ali!"

 

Chanyeol saíra correndo na frente e eu lembro que tentei acompanha-lo, da forma que meu corpo sedentário de quem dormia e comia o dia todo, permitira-me.

 

 Logo após os altos arbustos secos pude ver um campo de folhagens amarelas, que se balançavam contra o vento, a forma que cada grama mal cortada insistia em dançar contra a outra, era encantadora.

 

No meio da extensão florestal havia restos de casas, coloridas como as do Sr. Kim, apenas restos, havia pedaços quebrados, inícios de chão e de vida.

 

 E eu me perguntava o porquê daquela sociedade abandonada ser colorida, feita em tantas camadas de azul, vermelho, verde...

 

Enquanto a nossa era preenchida por preto e branco.

 

Entre os escombros, eu podia ver seus interiores como quem via a mente de alguém ou as artérias de um coração, e haviam tantos objetos....tantas fotografias, tanto...

 

Havia tanto.

  

"Vem."

 

Chanyeol pegou em meu braço rapidamente, me puxando, quase que me impedindo de ver as casas destruídas.

 

Seguimos por entre os destroços empoeirados, meu olhar que variava entre todas as casas, até que ele finalmente parou.

 

"Aqui." Sorrira de leve.

 

Lembro que olhei para o local em frente aos meus olhos, havia diversos brinquedos coloridos os quais eu não sabia o nome, todos enferrujados e velhos.

 

"É um parquinho de diversões." Chanyeol me disse enquanto ia em direção deles.

 

 Eu ri porque, veja bem, ele tinha o mesmo nome do que significava o mesmo que o circo.

 

 Aliás, lembro que perguntei ao ruivo se podia chama-lo de "cirquinho".

 

 Mas ele me respondeu que não e que a palavra "cirquinho" não existia.

 

 Eu fiquei um pouco chateado e pensei no porque daquilo.

 

 Por que não podemos criar palavras?

 

 "De onde você conhece esse lugar?” Lembro que lhe questionei.

 

 "Eu vinha aqui com os meus pais."

 

 Os pais de Chanyeol, eu não os conhecia.

 

 Mas quando fui perguntar sobre eles, o ruivo já estava longe.

 

 E eu? Eu desisti de lhe perguntar sobre aquilo.

 

Chanyeol também me explicou o que era cada brinquedo ali, como funcionavam e para que serviam.

 

 Lembro-me de um em especial, chamado balanço, era alto, extenso e possuía dois banquinhos, dos quais, um, já estava sem apoios.

 

 Ele me mandou sentar ali e segurar nas correntes altas.

 

Fui aos poucos, acomodando com cuidado e medo meu corpo ali, ainda sob seus olhares avaliativos.

 

 Quando já estava completamente sentado, Chanyeol andou a passos rápidos para trás de mim, e então, ele me empurrou.

 

 No começo eu me assustei, e muito, colocando os pés no chão e quase caindo com o ato.

 

 Mas logo duas mãos levemente grandes me seguraram pelos ombros, mantendo-me fixo no lugar.

 

 "Seu idiota! Nunca pare assim." Rira.

 

 Concordei com ele e deixei com que me empurrasse novamente.

 

 Chanyeol foi me erguendo devagar e impulsionou-me uma segunda vez.

 

E uma terceira.

 

E uma quarta.

 

Aos poucos e cada vez mais rápido.

 

 Cada vez mais alto.

 

 "E-espera Chanyeol!!" Eu tentava se segurar nas laterais do balanço que ia cada vez mais próximo do céu.

 

 Meu estômago estava embrulhado e eu sentia que ia cair, sério, vocês são incapazes de imaginar o medo que sentia.

 

 "Relaxa Baek, não vai acontecer nada!" Suas mãos batiam novamente contra minhas costas, me empurrando ainda mais alto.

 

 Se é que isso era possível.

 

 "Feche os olhos!!"

 

 E então eu não senti mais suas mãos, Chanyeol apareceu em minha frente, a certa distância.

 

 "E-eu vou cair Chany!!" gritei, sentindo um nó na garganta.

 

 Mas ele deu risada, deixando com que seus cabelos vermelhos se bagunçassem no vento quente que nos atingia.

 

O sol se punha no horizonte distante, deixando o céu em tons rosados e amarelos, tão lindo e tão diferente do “sempre”.

 

 "Vai nada! Confia em mim, feche os olhos!"

 

 Ele gritava de onde estava e meus gritos saiam desafinados conforme o balanço se movimentava.

 

 "Não!!" Mais gritinhos desafinados.

 

 "Baek, você confia em mim?!"

 

 Lembro que os segundos passaram-se lentos quando ele me questionou aquilo.

 

 Olhei para sua face sorridente.

 

 E pensei em como meu mundo todo cabia ali.

 

 Em seus olhos prateados.

 

 E naquele momento eu confiei em Chanyeol.

 

 Deixei com que meus medos escapassem pelas gaiolas de meu coração.

 

 E como pássaros eles voaram.

 

 Como pássaros, eu voei.

 

 Fechei os olhos e pude ver, através de minhas pálpebras, a grande esfera laranja ao longe.

 

 Perguntava-me se o balanço era capaz de me fazer voar até lá.

 

 Em direção aonde o sol se esconde e a lua nasce.

 

 Eu podia vê-lo.

 

 Mas poderia eu, alcançar o horizonte?

 

 Ouvi um riso baixo, abrindo apenas uma fresta em meus orbes e pude ver Chanyeol me encarando.

 

 Mas encarando tão profundamente que acho que nunca havia visto encarar-me de tal forma naqueles quase dois anos.

 

Seus olhos pareciam brancos em meio ao calor que emanava o ar, tão transparentes mas tão impedidos e inacessíveis.

 

Tão...tão.

 

 Ele sorria de leve e eu senti minhas bochechas queimarem com aquilo, enquanto meus lábios abriam-se de leve, surpresos.

 

 Fora rápido.

 

 Tão rápido que nem consigo descrever.

 

 Desconcentrei-me em meio aquele olhar platinado...

 

 E caí.

 

 Chanyeol tentou me segurar, após voltar para a realidade, e eu acabei por cair meio em cima dele, meio no chão.

 

Não sei.

 

 Só sei que tive de tossir, pois uma nuvem de poeira se fez ao nosso redor.

 

 "Tá tudo bem, Baek?!" Ele me segurava pela cintura, preocupado, enquanto nossas pernas emaranhadas lutavam para se separar.

 

 Logo a tosse tornou-se riso.

 

 "Foi a coisa mais legal que eu já fiz na vida!!"

 

 Segurei em seus ombros, encarando sua face meio embasbacada, o abraçando logo em seguida.

 

 Recordo-me com perfeita precisão de como seu peito tocou o meu e meus braços envolveram seu pescoço.

 

Ou de como minha bochecha relou na sua e meus dedos sentiram a maciez de seus fios, mesmo que só um pouquinho.

 

Recordo-me com perfeita precisão.

 

"Obrigado." Sussurrei contra seus ouvidos.

 

 Lembro-me de sentir seu coração junto ao meu e as pulsações rápidas.

 

 Não sabia se eram as minhas.

 

 Se eram as dele.

 

 Se eram ambas juntas.

 

 Talvez nossos tipos sanguíneos não corressem na mesma veia, mas misturassem-se no mesmo abraço.

 

 No mesmo cheiro.

 

 Na mesma fala.

 

 No mesmo bater de asas.

 

 No mesmo horizonte.

 

Seus braços compridos me envolveram depois de certa reluta, sim, e fora tão lentamente.

 

Não quero que pensem que detalhe demais, que lembro demais, que falo demais, mas é que....é necessário, tudo parecia necessário e ao mesmo tempo tão trivial em todas as vezes que me encontrava entre o calor de seu corpo e não sei, seu cheiro era suave.

 

Seu cheiro era algo que eu aprendi a gostar com facilidade e tão rápido e tão abruptamente e tão de montão que preferia morrer afogado ali mesmo, no seu embalo.

 

E pela primeira vez Chanyeol me abraçou.

 

Sem meias palavras.

 

Sem meios gestos.

 

Ele apenas deixou com que seu calor fosse passado para mim durante alguns minutos.

 

E eu fiz igual.

 

Apertei-lhe mais firmemente, escondendo meu rosto contra seu pescoço.

 

Ele fez o mesmo, fazendo com que eu não me preocupasse com o tempo ou com minha família.

 

Com que eu não me preocupasse com mundo.

 

Mais forte, eu lembro de meus dedos que relavam tão de levinho em sua nuca.

 

Mais apertado, e eu não sabia se assim como os meus, seus olhos estavam fechados.

 

Mas acredito que sim.

 

Mais e mais.

 

Será que eu queria trava-lo ali? Tranca-lo em mim? Ou será que eu apenas desejava que ele notasse que eu precisava de um lugar.

 

Mas que ele também precisava de um lugar.

 

E sabe, desejava que ele notasse também, em meio aquele abraço, que eu queria ser este lugar, um lugar que ele pudesse chamar de casa.

 

E por último, que notasse que me pertencia.

 

Pois Chanyeol não era meu.

 

Mas assim como o terraço, parecia que sim.

 

Eram em momentos como aquele que eu sabia que a eternidade era algo tão pequeno que cabia em meros segundos.

 

Sentia seu cheiro.

 

 Sabendo que Chanyeol sentia o meu.

 

 Queria guardá-lo em mim embora eu soubesse que era impossível, porque, só talvez, ele não quisesse ser meu.

 

 Então apenas o guardei em algum lugar.

 

 Não sei onde.

 

 Mas sei que guardei.

 

 Pois hoje sinto seu perfume nos mais banais momentos.

 

 Lembro-me e agora conto a vocês, que tirei meu rosto da curva de seu pescoço e vi sua face em frente a minha.

 

Tão extremamente próxima. O rosto de feições já decoradas e sempre novas.

 

 Meus orbes eram impedidos de lhe enxergarem com clareza, pois o vento bagunçava meus cabelos e as madeixas vermelhas também caíam sobre seus olhos prateados.

 

Mágico.

 

 Ele me observava tão profundamente que eu podia ver meu próprio reflexo em seu brilho.

 

 Seu nariz que quase se relava ao meu, iluminados pela luz morna do sol.

 

 Ah, eu me lembraria daquilo eternamente.

 

 Não sei dizer bem o que me deu quando levei minhas mãos até sua face.

 

Meus dedos deslizaram calmos, como se cada digital pudesse sentir a textura de tez proporcionada por seu pescoço, arrepiando os pelinhos invisíveis presentes ali.

 

 Fitei-lhe profundamente, dedicando um tempo para...eu não saberia dizer.

 

E ele tragou saliva, mas estava tão impedido quanto eu de quebrar a troca, a junção dos orbes.

 

Por quanto tempo já estávamos daquela forma?

 

Meus dedos que seguravam entre a curva de seu pescoço e sua mandíbula não tão desenvolvida, e os seus, que ainda estavam fixos em meus quadris.

 

E era improvável dizer que a gravidade parecia aplicar-se de maneira diferente para mim e para ele naquele momento.

 

 Mordi os lábios uma última vez, antes de deixar com que meus olhos se fechassem.

 

 Aproximei meu rosto do seu lentamente, pois sabia que ele não escaparia entre os vazios de meus dedos.

 

Mas ele escapou.

 

 "Vamos voltar."

 

 Lembro que sua mão me empurrou um pouco para trás e ele tentou me tirar de cima de si, encarando o chão, constrangido.

 

 Pisquei por alguns instantes e logo voltei à realidade.

 

 Olhei para seus lábios bonitos, comprimidos como sempre fazia quando ficava envergonhado e pensei no que eu queria ter feito.

 

 "Chama-se beijo." As palavras ditas meses antes voltaram apressadas a minha mente.

 

 Chanyeol me fitou levemente incomodado e eu logo saí de seu colo.

 

 O ruivo não pegou mais em minhas mãos.

 

Não sorriu mais para mim.

 

E não me empurrou mais contra o balanço.

 

Embora eu seguisse seus passos entre as casinhas abandonadas.

 

Lembro que naquele momento o único pensamento que reinava em minha mente era sobre o quase beijo que eu teria dado em Chanyeol.

 

Hoje penso que ele era como um passarinho que raras vezes cantava.

 

E eu um, caçador que compraria todas as gaiolas do mundo para ouvi-lo cantar novamente.

 

 Nem que fosse pela última vez.

 

 

 

X

 

 

E fora o cheiro de cimento velho inundando minhas narinas que me fizera, por alguns instantes, parar de pensar no acontecimento entre eu e meu melhor amigo.

 

Voltei meus olhos para as casas coloridas, novamente tão opostas a tudo visto antes, e até me permiti entrar em algumas.

 

Chanyeol também as fitava, parado em meio delas, e estava sério, pensativo.

 

 Não lhe questionei nada.

 

Meus pés sentiam os pedaços das paredes tombadas, toda a sujeira e poeira no chão.

 

 A tarde já havia caído e não existia mais sol no céu, apenas a nova noite que emendava cada costura do tecido estrelado.

 

Guiei-me por entre uma das moradias baldias, de tonalidade laranja e amarela, a casa era tão pequena que eu não entendia como alguém fora capaz de morar ali.

 

Se é que alguém havia morado ali.

 

Havia restos de móveis, como um fogão enferrujado, os pés de um sofá, algumas prateleiras.

 

Nos armários restavam embalagens vazias e podres, todas fora de validade, congeladas no tempo, assim como todo o cenário.

 

Lembro que me abaixei, pegando um vidro em minhas mãos e vendo algo verde, mais parecido com um pepino, só que menor, imerso em uma água suja e pútrida.

 

Olhei para os lados à procura de Chanyeol para findar-me a dúvida, mas não o achei em lugar algum.

 

Larguei o pote ali e continuei a andar pelos destroços da casa.

 

O banheiro estava tão sujo que eu não ousei entrar, atordoado pelo mal cheiro.

 

Havia apenas um quarto.

 

Meu peito se comprimiu quando eu entrei ali, e o peso de uma dor avassaladora tomou conta de mim.

 

Era um cômodo tão pequeno.

 

O quarto era do tamanho do meu banheiro no máximo.

 

Pensei comigo mesmo que alguém morara sozinho ali.

 

E no futuro descobriria que eu estava certo.

 

O papel de parede azul claro, coberto de bichinhos, estava rasgado, como se próprias unhas humanas o tivessem tirado dali.

 

Havia os mesmos cortes no chão do lugar.

 

O lugar me passava um sentimento tão ruim que me lembro de ter ficado tonto.

 

 Eu não entendia.

 

 Hoje entendo.

 

 E hoje choro toda vez que me lembro disso.

 

Porque...Po-porque é difícil.

 

 Recordo-me que segui até o único colchão ali.

 

 Ele estava rasgado e com as molas para fora.

 

 Sob si, apenas um lençol pequeno e retalhado.

 

E o cheiro era horrível, atordoante, tinha cheiro de morte.

 

Havia um pequeno ursinho ali.

 

Congelei no momento que vi a pelúcia e meus lábios abriram-se lentamente, embasbacados.

 

“Não pode ser..."

 

Lembro-me das palavras baixas saírem murmuradas de meus lábios.

 

"Uma criança..."

 

Estiquei o braço, pegando o ursinho.

 

Ele não possuía olhos, mas havia uma pequena fitinha azul em seu braço.

 

Afaguei-o nas mãos sentindo seu pelo velho e manchado, tão sujinho...

 

Meu coração doeu.

 

Alguma criança havia morado ali.

 

Vivido ali, dormido ali, brincado ali, crescido ali.

 

Como? Eu só queria saber como.

 

Abaixo de meus pés, vi algumas folhas rasgadas, agachando e pegando-as em meus dedos magros, separei-as com cuidado, notando alguns desenhos feitos a giz colorido.

 

Olhei ao redor e logo pude vê-los, quebrados próximos à parede.

 

Fui juntando os papéis que iam aos poucos me contando uma história.

 

Eu podia ver uma criança com seus pais.

 

Um solzinho com sorriso brilhava no canto superior da folha.

 

Todos pareciam felizes.

 

Depois no desenho seguinte apareciam outros dois bonecos.

 

Eles seguravam os pais da criança.

 

Ninguém sorria mais.

 

No terceiro desenho só havia um boneco ali.

 

E ele chorava segurando um ursinho.

 

Lembro que minhas lágrimas atingiram rápidas as folhas, fora impossível de controlar, os pingos que escorriam enquanto meus lábios tremiam afoitos, e os soluços manifestavam-se descompassados.

 

Larguei os papéis ali e engatinhei até a cama baixa e destruída, ajoelhando-me no colchão, fitando a parede.

 

Havia centenas de cortes ali, todos em fileiras, sempre no mesmo formato.

 

Quatro cortes verticais e um bem no meio, os cortando, formando cinco.

 

Depois ao lado mais quatro cortados.

 

 Ao lado mais e mais.

 

 Quanto mais eu olhava para aquele canto abandonado da casa mais marcas eu via.

 

 Elas cobriam as paredes.

 

 Algumas estavam mais fortes que outras.

 

 Eu não sabia o que era aquilo.

 

 Hoje eu sei.

 

 Lembro que deixei com que meus dedos deslizassem pela parede cheia de traços, até ver uma frase ali e meu cenho franziu-se automaticamente.

 

A caligrafia era torta e algumas letras estavam invertidas.

 

Era difícil, mas eu consegui ler.

 

"Enquanto tiverem estrelinhas no céu, vai ter um sorriso no meu rosto."

 

Meus lábios tremiam pelo choro e eu não sabia porque chorava.

 

Era uma criança desconhecida, afinal.

 

Mas era inimaginável, para mim, ver uma casa daquelas e pensar em uma criança ali. Em uma vida ali.

 

Olhei novamente para o ursinho em minhas mãos, tão judiado pelo tempo.

 

Mas tão lindo.

 

"O nome dele é Tim."

 

Fui tirado de meus devaneios quando a voz de Chanyeol atingiu meus ouvidos.

 

Virei-me assustado, vendo o ruivo encostado no batente da porta.

 

Ele me fitava sério e as madeixas já crescidas escorriam por seus olhos impactantes.

 

Estes, fixos apenas em mim, como se ignorassem a cena ao meu redor.

 

"Ah, sim..." Limpei as lágrimas, não querendo que Chanyeol me visse chorando por aquilo.

 

Funguei uma última vez, abrindo um sorriso falso.

 

"Aqui tem bastante poeira né? Eu sou meio alérgico."

 

Larguei o ursinho ali e fui em direção à porta, atordoado até mesmo para andar.

 

Passei por meu amigo rapidamente, pois eu sentia que ia chorar mais se continuasse naquele quarto.

 

E talvez.

 

Só talvez.

 

Se naquela época eu não estivesse tão focado em esconder meu pranto, eu notasse.

 

Notasse que Chanyeol conhecia aquele ursinho.

 

Chanyeol sabia que seu nome era Tim.

 

 

 

X

 

“Amanhã fico triste,

Amanhã.

Hoje não.

Hoje fico alegre.

E todos os dias,

Por mais amargos que sejam,

Eu digo:

Amanhã fico triste,

Hoje não.

Para Hoje e todos os outros dias!”

-Encontrado na parede de um dormitório de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz.

 

 

 


Notas Finais


eai? gostaram? ^_____^

Desculpa para quem achava que ia ter beijo nesse cap euheuheuheuhe misfit é uma historia bem lenta, entao ainda vai dar uma demoradinha

De qualquer forma, hoje eu respondo todos os comentarios u.u prometo!

Vcs são incriveis! Acho que independente de quanto eu fique flaando aqui, nunca vou ser capaz de agradecer verdadeiramente todo esse carinho!

Quem sabe fazendo mais fanfics? uehuehuehueheuheuhe

Não esquecam de sugerir musicas e até o proximo > <

~Moon


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