História Misplaced - Acredite - p.o.v Mitchie

Quanto mais você caminha, mas suas pernas se acostumam com o cansaço.

Pelo menos é disso que eu tentava me convencer.

Andar sob o sol da manhã depois de uma noite mal dormida era a coisa mais próxima do inferno que eu já havia experimentado fazer. Posso estar sendo dramática? Posso. Mas era realmente insuportável.

De qualquer forma, caminhar era a nossa única opção. Meu dinheiro não conseguia pagar nenhum tipo de locomoção. Na verdade, duvido que aqueles quinze centavos paguem alguma coisa. Eu os achei no chão. Darren nem sequer trouxera dinheiro. Pois é. Caminhemos.

Não podia ser tão ruim. O Flash não precisava de veículos.

Claro que não. Ele é um velocista.

Achei melhor parar de pensar em coisas positivas. Eu sou uma péssima otimista.

Olhei para Darren atrás de mim. Ele parecia muito pior do que eu. Estava claramente cansado, seu rosto implorava por descanso. Provavelmente não dormira nada. Tentava se concentrar em seus passos, provavelmente mentalizando palavras de incentivo a si mesmo, assim como eu.

Por que diabos ele aceitou vir comigo?

Depois daquelas míseras vinte e quatro horas que eu passara viajando com Darren Hudson, minhas impressões sobre ele mudaram completamente. Sim, ele ainda era um idiota do time de futebol. Sim, ele ainda era um estúpido quando se tratava de garotas. Mas ele era mais do que isso.

Eu queria o odiar. Eu conseguiria facilmente. Mas eu não posso simplesmente ignorar as qualidades que percebi nele.

Darren não reclamava. Ele tentava parecer otimista sobre tudo que fazíamos nessa missão sem nenhum planejamento e ligeiramente suicida. Ele tentava passar confiança mesmo estando claramente desgastado. E se ele havia topado embarcar numa jornada ridícula (crianças, não façam isso em casa) comigo, tudo para retribuir o favor que Amy lhe fizera... Isso devia ser reconhecido. Ele pode ser estúpido, idiota e imbecil de diversas maneiras. Mas, pelo menos, lhe restava um pouco de nobreza em sua personalidade.

Me sentia mal de não deixá-lo a par de tudo da viagem. Eu não o contei que estávamos indo direto para uma colina isolada, no meio do nada, sem uma construção se quer. Tinha medo de que ele desistisse. Não faria sentido irmos para uma colina vazia.

Minha esperança é que a colina “vazia” tivesse alguma ligação com os poderes de Amy. E aí entramos em outro detalhe que ele não sabia.

Vê-lo se esforçando tanto me fazia me perguntar cada vez mais como Amy me mataria se eu o contasse sobre seus poderes. Se seria muito doloroso. Porque se fosse uma morte rápida, não vejo tanto problema assim.

- Está tudo bem? – ele perguntou, tirando-me de meus pensamentos.

- Sim. – respondi rápido. – Por que não estaria?

- Você ficou meio séria, não sei. – ele deu de ombros.

Respirei fundo. Eu precisava pensar na melhor desculpa para dar para Amy depois. Talvez uma como “EI, SE LIGA, EU SALVEI SUA VIDA!” pudesse funcionar.

- Ei, Darren... – eu diminuí um pouco o passo para que ficássemos lado a lado.

- Hm. – murmurou.

- Talvez eu não esteja sendo totalmente sincera com você sobre... Bem, sobre o que estamos fazendo.

Ele demorou um pouco para responder.

- Talvez?

- Tem algumas coisas que não te contei. – admiti.

- Conte. – ele pediu.

- Tá, tudo bem, mas... Preciso que acredite em mim. E não surte. Nem grite. Nem saia correndo, ou...

- Mitchie – ele me interrompeu -, eu não vou abandonar você aqui. Estamos nessa juntos, não é? - ele sorriu. – Eu prometo que vou ficar exatamente aqui do seu lado e te ouvirei até o final. Agora, pelos deuses, fala de uma vez.

Eu respirei fundo. Contei-lhe tudo que sabia.Não se por quanto tempo fiquei falando, talvez dez minutos, sem parar. Tentei não olhá-lo nos olhos com medo de sua reação. Quando terminei aquela história que parecia ser tão longa, fez-se silêncio.

- Uau. – foi o que ele disse, depois de longos segundos quietos. – Isso é... Bastante... Caramba. É muita coisa para digerir.

- Eu sei. – concordei. – Demorei para entender tudo, também. – continuamos andando num silêncio constrangedor. – Você acredita em mim.

Ele deu uma risadinha baixa.

- Sabe, em circunstâncias normais, eu diria que você é louca.

Eu ri.

- Mas eu sou louca.

- Sei disso. Mas diria que você é louca além do normal Mitchie Torres de ser. – eu ri. – Mas, sabe... acho que ninguém seria criativo o suficiente para inventar tudo isso. Nem mesmo você. E... Se estamos nessa... Hm, missão maluca... Imagino que seja algo sério.

- Então você acredita? – perguntei.

- Acho que é a única explicação plausível para a estranheza de Amy Blanchard, não é?

Assenti, rindo.

- Se ela souber que te contei vai me matar.

- Amy pode ser estranha e tudo mais, mas aposto que ela não mataria você.

Andamos mais um pouco, sentindo o sol queimar sobre nossas nucas e as pernas doerem até a alma.

- Obrigada. – falei. – Por não duvidar de mim.

- Eu não duvidaria de você. – ele sorriu.

O sol estava realmente quente demais, então decidimos parar um pouco sob a sombra de uma árvore e comer o que Darren trouxera. Não podíamos ficar muito tempo descansando, mas era necessário.

- Então. Você disse que estamos indo para uma colina. – disse ele.

- Sim. – afirmei.

- Não vejo nenhuma colina por aqui. – ele olhou ao redor. – Digo, se estamos falando de uma colina, ela deveria ser alta o bastante para ser vista a certa distância, não é? Não podemos estar muito longe. Só temos uma semana antes de nossas mães mandarem a polícia e essas coisas.

- Pode ser que seja uma colina baixa. – Tentei me convencer. – Está no final da cidade. Não acho que seja tão longe assim. Precisaremos andar mais algumas horas.

- Ok. Ponto dois. – ele disse como se seguisse uma pauta de dúvidas. – Você disse que é uma colina vazia. Não tem nada lá. E você disse que esperava que tivesse algo a ver com... Essa magia estranha da Amy. O eu você espera que aconteça? Que, tipo, o chão se abra e nos dê uma direção?

- Não sei. – admiti. – Não temos muitas informações. Só espero que essa colina tenha algum segredo que nos ajude.

- E se não tiver? – ele disse, com o olhar fixado nas nuvens. – E se nós não descobrirmos?

Abracei meus joelhos.

- Precisamos descobrir. – suspirei. – É a vida da Amy que está em jogo, Darren. Ela é a minha melhor amiga.

Ele suspirou também.

- Eu sei. E vamos fazer de tudo para encontrá-la.

Ficamos quietos. Na verdade, nenhum dos dois tinha certeza sobre nada que poderia acontecer naquela missão. Não tínhamos um planejamento. Não éramos habilidosos em investigação. Não tínhamos paciência. Éramos os dois alunos mais impulsivos de toda a escola. Provavelmente não seria inteligente nos confiar uma missão tão importante. Mas lá estávamos.

- Bem, me parece que vamos ficar um bom tempo juntos nesta semana. – Ele disse, cortando o silêncio. – Tenho uma proposta para nos conhecermos melhor.

- Estou ouvindo.

- Me fale sobre seus cortes e eu te falarei um segredo meu.

Meus cortes.

Ele sabia.