História Miss President - Capitulo 30

Uma semana depois:

As coisas não estavam fáceis para mim, ficar sem contato com o mundo externo era algo que me deixava um pouco ansiosa, mas estava sendo menos ruim do que eu pensava.

O lugar era afastado da cidade, então não tinha o som característico da grande cidade, tinha um ar puro que era revigorante. Ao contrario do que eu pensei, eles não me enfiavam remédios garganta a baixo ou tínhamos tratamento de choque, na verdade eramos tratado normalmente. Cada paciente tinha uma “casa”, isso me remeteu a um presidio na Suécia, nós cuidávamos das nossas coisas e se quiséssemos podíamos caminhar livremente por toda a área da clinica. A única coisa que estava sendo ruim era não ter noticias de nada, nem de ninguém.

- Joana, tem visita para você. – a psicóloga me avisa.

Eu estava observando o lago artificial e me assustei um pouco com a voz dela.

- Quem é? – pergunto.

As conversas diárias e inúmeras vezes por dia, me acalmaram e me fizeram entender que a minha reclusão era necessária.

- Sou eu. – uma voz masculina surge.

Reconhecendo ela, eu me viro para ter certeza de que se tratava dele.

- Eu vou deixar vocês a vontade, tenho certeza que vocês têm muito o que conversar. – a psicóloga fala.

Vejo Louise se afastar de nós e percebo que não tenho para onde correr, na verdade sigo o que ela me disse “colocar o que eu sinto para fora”.

- Você parece bem... até melhor do que antes. – Mats comenta.

- Obrigada. – digo e olho para ele.

Ele parecia um pouco nervoso e eu percebi que eu teria que dar o ponta pé inicial.

- Me desculpe pelas coisas que eu falei nos últimos tempos e também por ter te exposto daquela forma... eu... – ele me interrompe.

- Você só não estava bem e de alguma forma aquilo serviu para abrir os meus olhos. – ele fala.

- Mesmo assim Mats, eu agi de forma impensada e acabei ferindo pessoas que não tinham nada a ver com isso. Eu também reconheço que fui muito dura com você ao ficar remoendo atitudes passadas e... eu espero que você me desculpe. – digo sincera.

Aos poucos eu estou aprendendo a lidar com a perda do meu filho a anos atrás, estou tentando seguir em frente e recuperar Peter.

Mats sorri.

- Como eu seria capaz de não te desculpar? Foram meia dúzia de palavras que eu mereci ouvir. Eu fui muito imaturo e covarde com você e cada palavra daquela serviu para me fazer perceber isso. – ele diz.

- Então está tudo certo. – digo.

Apesar de ter pedido desculpas e está aprendendo a lidar com tudo, eu ainda não me sentia cem porcento a vontade com ele.

- Seus pais querem saber se podem vir te ver. – Mats solta.

Olho para ele e acho estranho.

- Você está tendo contato com eles? – pergunto.

- Sim, acabei me aproximando da sua mãe no dia em que você veio para cá e foi com a permissão deles que eu vim. – ele explica.

- Ok. Eles podem vir, mas os avise que não espere muito de mim... apesar de saber que era para o meu bem, eu não estou contente com a atitude deles. – digo a verdade.

Talvez com um bom dialogo eles conseguissem me convencer a procurar ajuda.

Ele suspira.

Eu estava com vontade de perguntar sobre Bastian mais estava na duvida se fazia isso ou não.

- Ele está bem... relativamente bem. Vai aos treinos, está focado nos treinos, nas competições... mas não é o mesmo cara de antes. – Mats diz como se tivesse lido os meus pensamentos.

Por isso da minha duvida, eu tinha medo de ouvir que ele estava muito bem sem mim ou de ouvir que ele não está bem por minha culpa.

- Por que falou dele mesmo sem eu perguntar? – o questiono.

- Porque você sempre morde o lábio e olha para baixo quando está na duvida sobre perguntar algo ou não. – ele diz e sorri.

Arregalo os meus olhos surpresa.

- Você reparou nisso? – pergunto.

Ele meneia com a cabeça.

- Alguns hábitos permanecem e esse parece um que você não vai conseguir se livrar. – ele comenta.

Dou risada.

- Meu Deus... algumas pessoas já haviam me falado que eu faço isso, mais eu nunca prestei atenção. – digo rindo um pouco.

- Você faz isso sempre, por isso que eu sempre respondia as coisas sem você perguntar... e não sexto sentindo como você falava. – ele diz.

- Eu não acredito que era por isso. – digo e dou risada.

Ele ri e balança a cabeça positivamente.

- Sempre que tínhamos uma conversa um pouco mais séria, você fazia isso, então eu só respondia o que achava que você queria perguntar. – ele diz.

Mats era muito observador.

Vejo a expressão de Mats ficar um pouco mais séria e o seu olhar se concentrar atrás de mim. Curiosa, eu olho para trás e vejo Bastian parado. Ele e Mats se olhavam.

- Bastian. – chamo.

Ele acorda daquele “transe”.

- Desculpe se atrapalhei algo... eu estou de saída. – Bastian fala.

- Não. Espera. – peço.

Talvez tenha soado um pouco desesperado, mais eu não me importava.

- Vocês pareciam entretidos na conversa, eu realmente não quero atrapalhar. – Bastian insiste.

- Por favor, Basti... fica. – eu praticamente imploro.

- Eu já vou... posso voltar depois? – Mats fala.

Me viro para ele.

- Pode. – afirmo.

- Até breve. – ele diz e deixa um beijo na minha testa.

Quando passa por Bastian eles não se cumprimentam.

- Podemos ir para a minha “casa”... – digo a Bastian.

- É... pode ser. – ele concorda.

Caminhamos para o meu lar, provisoriamente, e em momento algum ele fala alguma coisa. Quando enfim entramos em casa, ficamos sem jeito um com o outro, estávamos tensos.

- Eu aprendi a fazer algumas coisas sem toda a tecnologia da minha casa... quer se arriscar? – pergunto.

A casa que eu estava vivendo era bem simples, não tinha cafeteira, micro-ondas e tantos aparelhos que facilitam nossa vida na cozinha, então eu estava aprendendo a me virar.

- Não, obrigado. – Bastian recusa.

Seus olhos não tinham aquele brilho característico e eu senti uma vontade enorme de abraçar ele e tentar faze-lo entender o meu lado ou apenas ser capaz de me perdoar.

- Nós precisamos conversar... – ele diz.