- Pequena putinha, aprende de uma vez por todas que nunca na vida me apanharás. Tenho mais que fazer e tu só me atrapalhas os planos. Era tão, mas tão, mas tão mais simples se ficasses quietinha ao invés de mexeres com quem não devias. Agora olha para ti... - ele olhou-me de cima a baixo, rindo - Estás presa a uma maca, completamente imóvel e drogada. Dependente das minhas decisões. - ele pendeu a cabeça para o lado o lançou um suspiro - Vê só. Se eu quiser que tu morras, tu morres. Se eu quiser matar-te amanhã, tu morres amanhã! Então...a minha pergunta é...o que haverei de fazer contigo, pequena puta?
Um ódio e pavor apoderaram-se de mim. Abanei-me, tentando debater-me contra as cordas que me prendiam àquele horrível local. Senti que suor caía da minha testa e que as minhas mãos começavam a doer devido ao material áspero que as cordas eram feitas. A esperança de sair daquele sítio viva era quase nula. Sabia que, de alguma forma, ele iria acabar com a minha existência. Eu era a peça que lhe faltava para completar o puzzle, ou seja, era eu que faltava ele achar da minha falecida família. Eu era a única peça perdida.
- Acaba logo comigo! - gritei, desistindo involuntariamente.
- Mas já? - ele arregalou a sobrancelhas e completou a expressão com um satisfatório sorriso - Queres desistir já? Mas ainda nem começámos! - escusado dizer que sorriu com satisfação da minha fraqueza.
Desviei a cara para o sentido oposto de seus olhares e inspirei fundo, inalando um ar ruim e com cheiro a gasolina que provinha da sala podre. Eu só queria acabar logo com aquilo, com o pesadelo de saber que foi ele quem ganhou e que desiludi tanto aos meus pais como a mim mesma.
- Acaba logo com tudo. Não era a mim que procuravas? - falei, calmamente e sem forças para me exaltar mais.
- Não propriamente. Nem foi preciso tal coisa. Não foi preciso procurar-te pois tu entregaste-te tão facilmente que até dá dó. - ele falou, num tom de troça, contornando a maca e olhando-me de esguelha com um maldito sorriso encaixado nos maliciosos mas apetecíveis lábios carnudos.
De qualquer forma ele tinha razão. Eu fui a burra que me entreguei. Eu sou uma completa vergonha para todos que depositam confiança em mim. E como se não bastasse, falho uma outra vez. A vez que não deveria falhar, eu falho como sempre. Desistirei...
- Então se te fiz esse favor porque não me matas logo? Tens prazer em ver-me sofrer, não é? - falei, encurvando os olhos e cerrando-os levemente em sua direção, com um ar coberto de raiva e nojo.
- Bem, digamos que adoro ver essa expressão de desespero na cara das minhas vítimas, especialmente na tua. Nunca esperei em reencontrar a filha da mãezinha super protetora depois de tantos anos. Eu sabia que tu havias te escondido no andar de cima. Tiveste sorte que eu não tive mais tempo para fazer-te o mesmo que fiz à tua querida mãe. - ele zombou e eu cerrei os punhos, pressionei os lábios para não explodir naquele mesmo momento.
- Como ainda és capaz de fazer troça da minha mãe desse jeito? - falei entre os dentes cerrados de tanta raiva - Tu és um porco! Parvalhão! - gritei - Sabes o que é crescer sem ter uma mãe! Sabes o que é crescer rodeada de gente egoísta que nem tu?! Sabes?! Seu idiota inútil!? - gritei e gritei, explodindo com tudo e quase desmoronando-me em lágrimas.
Ele parou de sorrir no momento em que gritei e disse aquelas palavras amassadoras. Aquelas palavras vindas do meu passado e interior poderiam de alguma maneira afetá-lo psicologicamente e fazê-lo perceber que o motivo da minha desgraça era ele. Penso que poderei transmitir-lhe um pouco da minha dor se o acusar desta maneira. Sei que agora acusar e insultar não vai trazer a minha mãe de volta. Aliás, nada desta vingança vai trazer o que o passado me levou. De alguma forma, eu sinto-me inútil, ignorada e humilhada, como sempre senti.
- Se matei foi por algum motivo, com certeza. Não penses que mato porque me convém. - ele disse, um pouco mais sério e confiante em suas palavras e eu, como resposta, revirei os olhos pois não acreditei.
- Tu matas até a tua própria família se preciso. Como ainda tens coragem de dizer que não és o mau da fita? Não tens noção do que fazes? - resmunguei, com raiva e sem medir palavras.
Ele parou um pouco e pareceu refletir no que eu havia dito. Será que se tocou? Será que a ficha caiu?
- Tu não conheces nada sobre mim então não fiques tirando falsos juízos sobre a minha pessoa a torto e direito. E, para além do mais, foste tu quem me veio procurar então, acho que quem começou e incomodar foste tu. - ele ripostou, sério e firme. A firmeza era tal que me fez perder argumentos.
Pensei com coesão em tudo. Desde o início até à atualidade da minha vida. Sim, era eu quem estava ali, a pedir luta e a "chatear". Mas acho que isso seria lógico até porque foi ele quem matou a minha mãe!
- Eu só te procurei para me vingar. Quê?!...Achas que ficaria de braços cruzados e ver o muro desmoronar-se cada vez mais à minha volta? Não. Eu não sou desse tipo de pessoas, desculpa se pensas-te assim. - falei, calmamente e altamente que acabou por surgir um efeito de eco nas minhas últimas palavras.
Zeaven tirou a cara de sério e deu um riso falso e anasalado. Um certo nojo cresceu dentro de mim de ver tal expressão de gozo.
- Sabes, vingança não é tudo putinha. Aprende de uma vez por todas que nem sempre dá para vingar. E mesmo que desse, para que isso serviria? Nada do que tu fizesses iria trazer a tua mãe de volta. Lamento informar. - ele proferiu, com um sorriso nos lábios. Um sorriso que não transmitia nenhuma expressão ou sensação. Um sorriso fechado e frio.
Parei e pensei bem naquelas palavras que confundiam demais a minha cabeça. Era tudo verdade. Para que me serve a vingança?
- Mesmo que te vingues, mesmo que tu te sintas bem depois de o fazeres, nunca irás trazer o que perdes-te. Uma realidade que todos conhecem mas poucos conseguem aceitá-la.
Algumas lágrimas queriam rolar pela minha cara involuntariamente. Eu esperava ouvir isto algum dia mas não da pessoa que eu mais odiava. Talvez isto seja alguma lição que a própria vida me esteja a dar.
Nenhuma palavra saía da minha boca mesmo que eu fizesse por isso. Simplesmente fiquei sem saber o que dizer. Seria ainda mais humilhante se eu tentasse me supervalorizar sobre esta situação.
- Então qual é o teu objetivo? O que vais fazer comigo agora? Torturar-me? - perguntei, deixando tudo um pouco voltado.
- Parabéns pela originalidade, mas não. Não tenho intenções de perder o meu tempo contigo. Talvez, se te comportares, devolver-te-ei à mãe natureza. Tudo depende de ti, pequena putinha.
- És um ser tão desprezível que preferes ver-me a sofrer do que acabar com esta palhaçada aqui e agora. - disse, entre os dentes.
- Meu bem, não está dentro das minhas opções matar-te. Mas, se quiseres, poderei fazer com que tudo acabe aqui e agora, bem rapidinho, tal como queres.
Pensando bem, será que quero morrer assim? Entregar-me tão facilmente ao tentador doce destino da morte? Sem vingança? Sem batalhas? Pensando bem... Será que realmente desejo a morte? Será que é a morte que me chama? Ou será que eu chamo pela morte?
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