História Miss You - Capítulo Único

O homem andava pelas ruas escuras da cidade, sentindo o frio da noite de inverno lhe tocar o rosto, sem se importar muito com a pele gelada.

Era véspera de Natal.

E todo ano era assim. Sempre, naquele mesmo dia, tudo que ele era capaz de fazer era andar pela cidade sem rumo algum, sem vontade alguma. Todo ano, naquele dia, ele se lembrava do motivo de sua vida ser o que era. Fria, sem amor, sem felicidade alguma.

Ele não vivia mais. Era como se sua vida tivesse acabado há anos. Ele trabalhava sistematicamente, apenas porque precisava de dinheiro. Não tinha mais amigos, simplesmente porque nenhum deles foi forte o suficiente para ficar ao seu lado e aguentar tudo que ele havia se tornado. Ninguém foi capaz de lhe ajudar, até porque ele mesmo não queria ser ajudado. Porque ele sabia que, depois daquele dia, nada mais fazia sentindo para si.

Quem não o conhecia, poderia dizer que ele era alguém feliz. Poderia dizer que havia sinceridade nos sorrisos que ele lançava para as pessoas. Poderia dizer que ele se sentia realizado, tendo o bom emprego que tinha.

Mas o fato é que ninguém o conhecia de verdade.

Ninguém sabia do pesadelo que era viver sua vida, dia após dia, carregando a dor que carregava. Ninguém sabia o que era conviver com a solidão, com a culpa. Ninguém tinha ideia do que era voltar para aquele apartamento, todos os dias, e se lembrar afundar em todas as lembranças que ele possuía.

Ninguém sabia. Ninguém entendia.

Mas nem sempre foi assim. Nem sempre foi tão dolorido. Nem sempre ele teve vontade de sumir.

Kim Mingyu já tinha sido feliz, em um tempo muito distante. Ele já havia tido uma boa vida. Ele já havia sorrido de verdade, ele já havia tido vontade de viver, ele já havia feito planos para o futuro. Tudo porque, antes, ele tinha uma luz. Uma luz que guiava todo o seu ser, uma luz que lhe mostrava que caminho seguir, que lhe ensinava o que era ser feliz, o que era amar.

Jeon Wonwoo era sua luz.

Ah, e como ele brilhava. Mingyu se lembrava muito bem disso. Ele se lembrava de tudo, desde o início. Ele se lembrava da primeira vez que o viu, quieto, sentado sozinho na cantina da escola. Foi como se algo em sua mente se clareasse e lhe dissesse que, a partir daquele momento, nada mais seria igual. E não foi mesmo. Ele não foi capaz de se esquecer do coração acelerado em seu peito quando o viu sorrir para a moça que servia o almoço da escola. Era o sorriso mais bonito que ele já tinha visto até então, e seguiria sendo o mais bonito dos sorrisos para sempre.

Depois daquele dia, tudo que ele era capaz de fazer era olhar para aquele rosto lindo, e se encantar a cada nova expressão que se formava ali. Nem percebeu quando se viu apaixonado por aquele garoto, que nem ao menos sabia o nome. Foi tão rápido, mas, ao mesmo tempo, tão sutil, que ele não teve como prever que aquele sentimento tomaria conta de si. Ele não sabia como deveria agir diante daquilo. Era tão forte, tão puro e tão novo, que ele sentia medo. Ele só queria falar com o garoto, mas a possibilidade de ser rejeitado o deixava apavorado.

Qual não foi a sua surpresa quando, durante um evento qualquer do colégio, o dono de todos os seus pensamentos se aproximou de si. Ele se lembrava muito bem daquilo também. De como se sentiu, absurdamente, nervoso quando o notou tão perto. E quando ouviu a voz dele pela primeira vez… Ah, foi como uma sinfonia em seus ouvidos. Era tão única. Tudo nele era único, ele descobriria depois. A sintonia dos dois foi instantânea. Não demorou nada para que eles se tornassem melhores amigos, realmente inseparáveis.

Mas demorou bastante para que os dois tivessem coragem de admitir um para o outro que se amavam.

Foi tudo tão rápido que eles nem ao menos entenderam o que aconteceu. Durante a festa de formatura de Wonwoo, que fez questão que o outro estivesse presente, eles simplesmente se beijaram. Por algum motivo, enquanto se falavam, próximos o suficiente para sobrepor suas vozes à música alta, os lábios alheios se movimentando pareceram criar uma espécie de ímã, como uma magia que os ligava, e não havia outra coisa a fazer além de se beijarem, do jeito como eles queriam há muito tempo.

Mingyu se lembrava, nitidamente, do toque dos lábios macios do outro. Ele se lembrava bem do sabor doce daquela boca, do coração batendo tão rápido que poderia sair de seu peito a qualquer momento. E cada um dos outros beijos que trocaram depois, cada um deles, ficou guardado em sua memória, assim como o primeiro.

Logo os dois estavam juntos, vivendo aquela história que, no futuro, ficaria petrificada em toda a existência do Kim.

Foi uma história linda. De amor, paixão, e muita sinceridade. Cada pequeno momento que os dois tiveram juntos, cada plano que eles fizeram para suas vidas, tudo ainda estava muito nítido em Kim Mingyu.

A primeira vez que ele pôde tocar o corpo do outro era, talvez, o momento que se fazia mais presente em sua mente. O calor, a maciez da pele, as juras de amor trocadas, tudo ainda estava vivo em si. Não só aquela noite mágica, mas todas as outras. Todos aqueles momentos, de cumplicidade e de união, tudo estava guardado em si. Estava tudo vivo, ali em seu peito.

Tão vivo, que o machucava.

O machucava porque havia chegado ao fim. Em uma noite de véspera de Natal, assim como aquela em que ele se encontrava ali na rua escura, olhando para o posto de luz fraca. O mesmo poste de luz que tirou toda e qualquer alegria que existia em sua vida no passado. O poste que tirou o amor da sua vida.

Assim como todos os momentos felizes, ele também se lembrava claramente da noite em que eles brigaram. Mas o mais curioso de tudo é que, apesar de se lembrar de tudo sobre o outro, ele simplesmente não se lembrava do motivo pelo qual eles haviam brigado. Ele não conseguia. A única coisa que ele se lembrava daquele instante era da última frase que ele havia dito para o homem que ele amava.

“Eu queria nunca ter te conhecido.”

Não havia mentira maior no mundo do que aquilo. Porque Wonwoo era tudo que Mingyu tinha. E ele nunca deveria ter deixado que ele saísse de casa naquela noite. Ele nunca deveria ter deixado que Wonwoo saísse de carro. Ah, se ele soubesse que aquela seria a última vez que ele veria o rosto daquele que era a razão da sua vida, ele teria impedido que ele fosse embora. Ele teria feito com que ele ficasse.

Mas ele deixou que ele fosse. E ele nem ao menos pôde se despedir. Nem ao menos pôde dizer o quanto ele o amava, o quanto ele era importante para si. Ele se foi, e levou consigo tudo que Mingyu tinha de melhor. Levou sua alegria. Levou sua paz.

No início, as pessoas costumavam dizer que a dor passaria logo, que ele iria seguir em frente. Mas aquilo nunca aconteceu. Nunca passou, nunca sequer melhorou. Ele sabia que o amor que ele tinha pelo outro era maior que tudo, e que não havia nada que fosse capaz de fazer com que ele o esquecesse. Ele sabia que um dia, os dois se encontrariam e poderiam viver aquele amor que eles tinham.

E era só por isso que ele suportava viver.

A falta que ele sentia do outro era enorme, e o corroeu de tal forma que, nem se quisesse, ele seria capaz de seguir em frente. Ele não seria capaz de amar outra pessoa, porque só havia uma pessoa que ele poderia amar. Os anos se passaram, e nem um só dia ele deixou de pensar naquele homem. Nem por um segundo sequer ele se esqueceu dele.

E naquela noite de inverno, exatamente no mesmo lugar em que o outro havia partido, Mingyu prometeu a mesma coisa que ele prometia todos os anos, desde que aquilo aconteceu.

“Eu vou te amar, Wonwoo, pelo resto da minha vida.”